tag:blogger.com,1999:blog-25144122370397473772024-03-13T08:11:54.597-07:00A História no JornalPor: Fernando Henriques GonçalvesFernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.comBlogger51125tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-85198589065393250992008-12-13T16:39:00.000-08:002011-06-12T12:30:24.477-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoOak-mtpwpRRLQ_1f_1mnZTjNe2vwkZ9fR1YsUHSTCJ7cJUgyncPXVF6KzXr0voj5lwfyb_UgXmnaZoogamoSZ7dVn1CTrPk7Cigtn1ZoEsbQ6jqm8AIMTRf96m8GgPGGs42C3h3SDlU/s1600-h/euclides1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5279439247166229442" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 360px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoOak-mtpwpRRLQ_1f_1mnZTjNe2vwkZ9fR1YsUHSTCJ7cJUgyncPXVF6KzXr0voj5lwfyb_UgXmnaZoogamoSZ7dVn1CTrPk7Cigtn1ZoEsbQ6jqm8AIMTRf96m8GgPGGs42C3h3SDlU/s400/euclides1.jpg" border="0" /></a><br />A Resistência *<br />Canudos (1896-97)<br /><br /><br /><br /><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">A República de Floriano, não mais que “meia ração de glória”<br /></span><br />Entre os novos críticos de Euclides da Cunha e sua obra documental, Os Sertões, nota-se vez e outra uma sôfrega preocupação de lançar dúvidas à veracidade de registros feitos por aquele autor na cobertura jornalística do episódio de Canudos, além de reinterpretá-lo ao sabor da conveniência dos dias atuais. Há como que uma ação orquestrada no sentido de deseuclidizar o sertão de Antônio Conselheiro e sua antítese, o latifúndio, quando o próprio Euclides, ao compor a tríade sarmientiana “o Homem, a Terra, a Luta”, procurou e conseguiu, até onde lhe foi permitido avançar, impessoalizar-se na medida e nos momentos em que o puro e cru desenrolar dos fatos o exigia, embora chocando-se ao primeiro toque, às vezes, já transpostos ao papel, com o testemunho que ele daria no remate do livro.<br />Logo, as personagens deste romance vivo e epopéico de certo período da História brasileira que são Os Sertões têm luz própria. Umas, bruxuleante, outras, de uma luminosidade copada. As oscilações vão à custa da estrutura feudal de uma época visceralmente ainda bem próxima da que se vive agora no Brasil e, de roldão, por outros países de uma América pobre porque saqueada nos moldes da diplomacia, inclusive de canhoneiras, ao correr dos dados narco e/ou anarcocapitalistas.<br />Atiradores do sertão e de caserna, rosários de coco e pentes de chumbo, o clavinote à bandoleira.talhado a canivete (cada talho, uma, vida fechada) e o canhão Withworth 32, que viera adrede para lhe derrubar os muros, da igreja nova de Canudos, sem no entanto a atingir, visto que “as balas passavam-lhe, silvando, sobre a cumeeira”, tudo isto a entrelaçar-se numa engenharia singular, instigadora, derivada da visão ..quase a um tempo impulsiva e serena de Euclides acerca dos acontecimentos que deram à República mal começada, de 1896 a 97, não mais que “meia ração de glória”.<br />Hoje, discute-se não a campanha de Canudos, pelo lado das sucessivas expedições batidas em confronto com a “guerrilha sertaneja”, culminando com o tresloucado assalto a uma “Jerusalém de taipa”, mas a resistência de Canudos, que tombou sem render-se. E o Conselheiro, guia dos rebelados sem eira nem beira contra algo, para eles, com o peso de cangalha tributária jogada aos seus lombos pelo novo regime, estava morto, após dias de sofrimento, atingido que fora por estilhaços de granada.<br />Em solo rebelde, presunçosamente tomado pelas forças legais, ferira-se um diálogo laminar entre Antônio Beato, o altareiro do arraial conflagrado, e um general de brigada. O fiel seguidor do já então finado Conselheiro nos ofícios de acolitá-lo nas avemarias e de acionar o bacamarte, escudeiro descrito por Euclides da Cunha como um mulato claro e alto, sobranceiro, vestindo camisa de azulão e a corrupiar pelos dedos um gorro azul, de linho, esperou que o general principiasse.<br />“Quem é você?”, perguntou-lhe enfim, e o provavelmente ardiloso emissário do que sobrara da resistência, uns poucos guerrilheiros, porém dispostos ao combate até o último homem, tirante o ajuntamento de inválidos e crianças a aguardar recolhimento – tinha pronta a resposta:<br />“Saiba o seu doutor general que sou Antônio Beato, e eu mesmo vim por meu pé me entregar porque a gente não tem mais opinião”...<br />Queria dizer: munição. E convenhamos: opinião deste calibre é o que jamais faltou aos opressores, do passado e do presente. Para determo-nos no século XX e no raio latino-americano: a partir de 1903, contra o Panamá; de 1908, Nicarágua, de 1914, México e Haiti, de 1916, República Dominicana; em 1954, Guatemala; em 1961, Cuba; em 1973, Chile, e em 1983 com a invasão da pequenina ilha de Granada. O agressor: Estados Unidos da América do Norte, que a par dessa listagem de agressões armadas e além das intervenções camufladas no Paraguai e no Brasil, em 1954, outra vez no Brasil, em 1964, no Uruguai, em 1973, e na Argentina em 1976, para implantação da ditadura do capital , não negaram apoio logístico à guerra da OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, via Londres, no Atlântico Sul, em 1982. Contra a República Argentina, a fim de garantir pelo último argumento dos reis, que é a força bruta, a pretensa e impudente soberania britânica sobre as ilhas nomeadas Malouines, em 1620, por marinheiros franceses, de Saint-Malo, soberania conquistada a botas de vândalos, em 3 de janeiro de 1833, primeiro estágio do mais ambicioso sonho do imperialismo que é exercer pleno e total controle sobre a Antártida.<br />Todavia, Canudos também teve opinião e, com todo o efeito naquele seu espaço, soube usá-la. Ou descarregá-la pelas mãos de gente que dominava coisas nativas, segredos marciais de raiz. Invejados e, sobretudo, odiados nas fileiras regulares, não tanto pelo fato de se terem revelado hábeis estrategistas, mas por sua simples, positiva, astuta condição de matutos. Tinham a seu favor as incríveis ciladas naturais, que a natureza, rude, à volta armava e contrapunha aos passos que lhe fossem estranhos.<br />Entrecruzavam-se, assim, o homem da caatinga e o próprio meio hostil ao homem da civilização, qual seja, naquela circunstância, o dos quartéis – oficiais e praças de unidades do Exército nacional baseadas na Bahia, Pernambuco, Amazonas, Pará, Sergipe, Alagoas, São Paulo, em todos os quadrantes do país, mobilizados para defenderem a República de fantasmas da Monarquia encarnados pelo Conselheiro e seus homens e para as reverências de estilo à lápide de Floriano Peixoto, cognominado o Marechal de Ferro.<br />O tenente Euclides da Cunha (com os cursos de Estado- Maior e de Engenharia Militar, da Escola Superior de Guerra), a cuja formação militar – apesar do gesto, na época, de indisciplina, quando cadete republicano no ocaso da Monarquia, de atirar o sabre aos pés do ministro da Guerra, Tomás Coelho -, pode ser atribuída, em grande parte, a disciplina na construção de Os Sertões, viu nas caatingas “um aliado incorruptível do sertanejo em revolta.” E não perdeu um só detalhe: “Entram também (as caatingas) de certo modo na luta. Armam-se para o combate, agridem. Trançam-se, impenetráveis, ante o forasteiro, mas abrem se em trilhas multívias, para o matuto que ali nasceu e cresceu. E o jagunço faz-se o guerrilheiro-thug, intangível.<br />Envolvente a “guerra das caatingas” tal como a apresenta Euclides:<br />- “E os soldados, devassando com as vistas o matagal sem folhas, nem pensam no inimigo. (...) E lá se vão,marchando, tranqüilamente, heróicos... De repente, pelos seus flancos, estoura, perto, um tiro... A bala passa, rechinante, ou estende, morto, em terra, um homem. Sucedem-se, pausadas, outras, passando sobre as tropas, em sibilos longos. Cem, duzentos olhos, mil olhos perscrutadores, volvem-se, impacientes, em roda. Nada vêem. (...) As seções (da expedição) precipitam-se para os pontos onde estalam os estampidos e estacam ante uma barreira flexível, mas impenetrável, de juremas. Enredam-se no cipoal que as aguilhoa, que lhes arrebata das mãos as armas, e não vingam transpô-lo. Contornam-no. Volvem aos lados. Vê-se um como rastilho de queimada: uma linha de baionetas enfiando pelos gravetos secos. Lampeja por momentos entre o raios do sol joeirados pelas árvores sem folhas, e parte-se, falseando, adiante, dispersa, batendo contra espessos renques de xiquexiques, unidos como quadrados cheios, de falanges, intransponíveis, fervilhando espinhos...<br />“Circulam-nos, estonteadamente, os soldados. Espalham-se, correm, à-toa, num labirinto de galhos. Caem, presos pelos laços corredios dos quipés reptantes; ou estacam, pernas imobilizadas por fortíssimos tentáculos. Debatem-se desesperadamente até deixarem em pedaços as fardas entre as garras felinas de acúleos recurvos das macambiras...<br />“Impotentes estadeiam, imprecando, o desapontamento e a raiva, agitando-se furiosos e inúteis. Por fim a ordem dispersa do combate: faz-se a dispersão do tumulto. Atiram a esmo, sem pontaria, numa indisciplina de fogo que vitima os próprios companheiros. Seguem reforços. Os mesmos transes reproduzem-se maiores, acrescidas a confusão e a desordem – enquanto em torno, circulando-os, rítmicos, fulminantes, seguros, terríveis, bem apontados, caem inflexivelmente os projéteis do adversário.<br />De repente, cessam. Desaparece o inimigo que ninguém viu.” (...)<br />São passagens como esta que irritam os catadores de sutilezas nas aparas do livro maior de Euclides, empenhados que estão em falsear a verdade de Canudos, em cobrir com o manto linearmente messiânico o conceito de guerrilha enristado nas páginas de Os Sertões por um engenheiro militar; o escritor e político Mario Vargas Llosa tentou consagrar a escamoteação com o seu romance A Guerra do Fim do Mundo. Quando não, em proceder à maneira do historiador baiano José Calasans, para quem Canudos foi o “último quilombo do Brasil” (O Estado de S. Paulo, 1987, pág. 16). Nos achados do professor Calasans sobreleva a revelação- resultado de 36 anos de laudáveis buscas em documentos oficiais mas nem sempre acreditados – de que a população de Belo-Monte, nome original de Canudos, se constituía basicamente de ex-escravos. A documentos produzidos em cartórios do latifúndio, o bom-senso recomenda inclinarmo-nos pelo que registrou esse grande repórter que foi Euclides da Cunha, testemunha ocular de acontecimentos que abalaram a nação por fins do século XIX, e O Estado de S.Paulo deve ter-se arrependido mil vezes de havê-lo designado seu enviado especial ao front sertanejo. O Estado não fugiu à regra ventral da imprensa brasileira que imputara à colméia humana de Canudos o estigma de massa de manobra monarquista para derruir uma República mal saída do cueiro. Uma República que, a bem da verdade, manejava as mesmas armas da Monarquia, que a gerara. E os remanescentes do cativeiro, comprovados à lâmina em função de uma cultura religiosa peculiaríssima, sem nenhuma afinidade com o catolicismo estampado na “ bandeira do Divino” se predominavam no reino de Antônio Conselheiro, nascido Antônio Vicente Mendes Maciel, como quer o esforçado historiador baiano, teriam então desempenhado papéis secundaríssimos sob o fogo da campanha republicana e o comando da resistência, este entregue ao pulso firme e decidido de todo um produto de milagrosa convergência: cangaceiros e jagunços. Alguns, quem sabe, a se penitenciarem até de terem servido ao escravagismo pegando na chibata contra cada amarrado ao tronco ou acertando a tiros fujões estropiados para os afazeres do eito.<br />De qualquer forma, sob a “bandeira do Divino” transformam-se todos, “mestiços de toda a sorte, variando, díspares, na índole e na cor, em audazes guerrilheiros: o qualificativo preciso que se há de conferir a uma turba, paradoxalmente, disciplinada que revida com flama e destreza, com bravura, a fuzilaria e as bombas expedidas em nome e honra da lei e da ordem estabelecidas. A lei e a ordem, contudo, que o governo da República suava para impor na comarca de Monte-Santo. Uma ordem econômica com a qual não concordava Antônio Conselheiro. Este pregava, segundo Euclides, “a comunidade absoluta da terra, das pastagens e dos rebanhos”... Certo, ia ao paroxismo no distanciamento de valores normais da vida em sociedade, ou civilizada, ao tolerar a “promiscuidade de um hetairismo infrene” sob o argumento de que todas as donzelas pastavam, inexoravelmente, “por baixo da árvore do bem e do mal”, sendo-lhes admitido fazer a opção.<br />E nem podia ser diferente, pois o Conselheiro era o gnóstico bronco fora do sertão e, enquanto não passasse à imortalidade, só lá dentro, um revolucionário autêntico.<br />Os paralelos, entretanto, não o deixariam a salvo da rotulagem, de agente de Moscou se a explosão de Canudos, com o mesmo elenco, acontecesse mais à frente, após a Revolução (russa) de 1917. Governo e imprensa logo cairiam em cima de Antônio Conselheiro com acusações como a de pretender semear pelo Nordeste do Brasil a ditadura... do campesinato.<br />Quimera que transporta despertados.<br /><br />· <span style="font-size:78%;">Correio do Ilac, órgão do Instituto Latino-Americano de Cultura, Rio, Ano III, nº 15; por Fernando Henriques Gonçalves<br /></span></div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-22557103262172969722010-10-09T15:06:00.000-07:002011-06-06T17:05:41.135-07:00Polícia, escola de ‘cobras criadas’<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi574cae93slixkYi62UZoHse9jG72FRLJ71W05XY9yNFT2l_o0BgrB8LVGqh2HC4DtfocQY6SGOOws1vHQ7bA_AVp9GgL1QndO20VeRFMs4nu8WsbBVYxltTRqeKn7GwaBqOh-xtZ2j_s/s1600/jornaleiro%5B1%5D.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5526171316138125314" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 120px; CURSOR: hand; HEIGHT: 270px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi574cae93slixkYi62UZoHse9jG72FRLJ71W05XY9yNFT2l_o0BgrB8LVGqh2HC4DtfocQY6SGOOws1vHQ7bA_AVp9GgL1QndO20VeRFMs4nu8WsbBVYxltTRqeKn7GwaBqOh-xtZ2j_s/s400/jornaleiro%5B1%5D.gif" border="0" /></a>Já ouviram falar em Amado Ribeiro? Um dos maiores repórteres de polícia que conheci. Profissional dos mais competentes e arrojados, cria do vespertino A Noite - uma das empresas incorporadas ao patrimônio da União, ao lado do Jornal do Commercio. Do tempo em que novos jornalistas eram avaliados na reportagem de polícia, passando pelo crivo de veteranos, de ‘cobras criadas’ – na gíria da imprensa, aqueles mais experientes, calejados - e cujo desempenho e argúcia o secretário de redação ou o chefe de reportagem observavam atentamente a fim de opinarem em reunião com um dos diretores do jornal no final da semana.<br />A seleção, contudo, nem sempre se dava desta forma. Às vezes, o diretor Carvalho Netto, de A Noite, chamava o candidato a repórter cuja presença na redação já era habitual e lhe entregava a pauta invariavelmente com um assunto de polícia. Quem a rigor passava a Carvalho Netto os assuntos que deveriam constar na pauta era o ‘cobra’ Lincoln Massena, que à sua mesa, sem nada a fazer que não fosse cortar a gilete, do Jornal do Commercio, notícias e anúncios curiosos como sugestões de pauta, debruçava-se em aparas de papel trazidas das oficinas e sobre as quais se punha a desenhar figuras humanas e de bichos até o despertarem, quando desce os óculos à mesa e olha para cima.<br />Começava o ritual do iniciante. Um repórter fotográfico, dos mais antigos no jornal, acompanhava o foca até o carro da reportagem e de lá partiam para a apuração da notícia.<br />A caminho, ante um ajuntamento de curiosos misturados a embarcados em algum veículo acidentado, o motorista do jornal se antecede ao fotógrafo, faz uma parada para ir logo orientando o novo repórter nas anotações de praxe: as placas dos carros envolvidos no acidente e outras informações eventuais. Quando chega a viatura da polícia e, em pouco, se dissolve a aglomeração, os policiais ordenando que se afastassem... Ouve-se a sirene da ambulância, reagrupam-se curiosos, saem dois enfermeiros com uma maca, sobre a qual estendem o ferido... Nada grave, nada grave! Um policial aos berros, vão se afastando, vão se afastando... No geral, conhecia cada repórter de polícia. Assim, suas ordens eram dirigidas apenas aos curiosos. O policial, contanto que não o comprometessem, estava sempre à espera de fotos dele em ação publicadas.<br />Eu, que entrara para A Noite dias antes de Amado Ribeiro, por conta de uma reportagem que havia publicado em A Noite Ilustrada, semanário então dirigido por André Carrazone, e que nada tinha que ver com coisas da polícia, amassava o pão de cada dia na reportagem geral – denominação que na linguagem jornalística se dava, ou ainda se dá, às matérias sobre assuntos diversos. Neste caso, o repórter correspondia, de passagem, ao clínico geral, incluindo-se a apuração junto aos distritos policiais. Assim como a Medicina tem as suas especialidades, na Imprensa há quem se especialize em repórter esportivo, repórter político etc. Detalhe bastante curioso se refere ao repórter de polícia quando se faz criador, dentro de sua especialidade, de verdadeira escola de jornalismo. Algo parecido a escola recorrente de jornalismo.<br />Ao contrário de Amado Ribeiro, foram-me oferecidas poucas chances de mostrar alguma aptidão para cobertura de um facto policial ou de um desses mistérios envolventes, mais adequados a um ‘Sherlock Holmes’ ou ‘Hercule Poirot’.<br />Amado demonstrava ter essa aptidão. Do jornal de Samuel Wainer, Ultima Hora, onde Pinheiro Júnior já havia marcado sua carreira de repórter com uma série de audaciosas reportagens sobre ‘Juventude Transviada’, para isso infiltrando-se num grupo de lambretistas de ‘pegas’ nas pistas da Zona Sul do Rio, Amado Ribeiro salta para a fama da dramaturgia – não como autor, nem como ator, e sim na condição de personagem de uma telenovela escrita por Nelson Rodrigues, que por muitos anos manteve em UH o folhetim, de grande sucesso, A Vida Como Ela É. A novela tendo Amado Ribeiro como um dos personagens principais, levada ao cinema repetiu o êxito obtido no teatro.<br />De minha parte, foi através de uma entrevista com o poeta Jacy Pacheco (já falecido e que era primo de Noel Rosa, também o seu maior biógrafo) que entrei para A Noite. Jacy Pacheco, recebendo-me em sua casa, derrama sobre a mesa farto material iconográfico do ‘poeta da Vila’, fornece-me algumas fotos dele para a entrevista, que acaba saindo em A Noite Ilustrada após haver cumprido sua ‘via crucis’ por várias publicações, no Rio, todas deixando-a na gaveta por sete a quinze dias ‘para exame’, diziam. Uma delas, a Revista do Rádio, através do seu chefe de reportagem, decorrido o prazo que me fora dado para ‘exame’, justificou sua recusa dizendo que Noel já estava mumificado, podendo interessar agora àquela revista – exemplificou – seriam uns suspiros, que fossem, da Emilinha, Emilinha Borba, a quem eu viria a conhecer pessoalmente mais tarde, num dos estúdios da Rádio Nacional já como repórter de A Noite, passando a admirá-la por sua simpatia, pelo seu carisma.<br />Lavei a alma ao dar com a matéria de Noel pendurada ao meio de A Noite Ilustrada nas bancas da Avenida Rio Branco a partir da Praça Mauá. E fui, sentindo-me vitorioso, à caixa do jornal-revista semanal receber o que me era devido. Não demorou, admitiam-me no diário A Noite, de saudosa memória; relevem-me o lugar comum. Petronilha Pimentel, Arina de Carvalho... Vocês ainda estão neste planeta? Lembra-se, Arina, de quando você me levou ao ‘Clube da Avenca’, na Avenida Mem de Sá, para conhecer a Liu? E faz tempo que Ledo Ivo é Imortal, sabiam? Não creio, mas falam que ele teria adquirido na Academia Brasileira de Letras, com seus direitos autorais, passaporte para um planeta menos poluído... Quanto a você, Petronilha, bem que merecia o resgate de Rainha da Petrobras. Não é justo que a Petrobras fique sem a sua rainha.<br />Outro ‘cobra criada’, Manuel Abrantes, que com o fechamento de A Noite, a que se seguiu o do Dário da Noite, vim encontrá-lo n’O Dia na chefia da Reportagem daquele matutino de Chagas Freitas.<br />Abrantes reocupava, em outro jornal mas sentindo-se em casa, um posto conquistado em A Noite a duras penas – expressão aqui usada no sentido de que o cavara com muita garra, durante anos, tendo-se iniciado como contínuo. Os mais antigos diziam que ele fez, praticamente, o curso primário na Redação, aprendendo a ler e escrever, inclusive à máquina, com os plantonistas de Polícia após o ‘fechamento’de cada edição. Quando já sabia, pelo menos, ‘catar milho’ na máquina de escrever, o plantonista lhe passava a tarefa da ronda pelos distritos policiais, e Abrantes dela se desincumbia aos garranchos que entanto davam para ele entender o suficiente a fim de bater à máquina, com firmeza, a apuração, deixando-a depois, com um peso, sobre a mesa.<br />Mais um tempo, Abrantes ganha altura, física e mental, e ei-lo a dactilografar ligeiro as suas matérias, além de responder a memorandos de departamentos do jornal e de dar ordens a repórteres com um sorriso maroto de quem estava de bem com a vida.<br />Manuel Abrantes vai para O Dia e lá permanece por longo período. Recordo-me de que um dos contínuos teve atenção especial de Abrantes, que queria ajudá-lo a galgar melhor situação dentro ou fora da empresa. Mas ele parecia cabeça dura. Abrantes irritava-se: ‘Quer ser contínuo para o resto da vida?’ Faltou completar: ‘Como eu fui e aqui estou?’<br />Eu editava a página de Política da Ultima Hora, então funcionando atrás da Rodoviária Novo Rio, já em seu ocaso, quando nos chega a notícia do falecimento de Manuel Abrantes. Pensei, incontinenti: ‘Ele morreu amargurado’. Eu soube que, ultimamente, logo após sua demissão de ‘o novo’ O Dia pela ‘tropa de choque’, de oposição, vinda do Jornal do Brasil, destacada para varrer os quadros do ex-jornal de Chagas, Abrantes ficava horas, o dia inteiro na rua, debaixo da marquise d’O Dia, à espera de algum sobrevivente do vendaval que zunira por aqueles lados - a fim de conversarem.<br />E que teria sido feito do Pequeno Jornaleiro, que esculpido em bronze para a Praça Mauá, por ocasião da construção do Edifício A Noite, na década de 30, de lá desapareceu misteriosamente? Sobre a simpática estatueta escreveu Graciliano Ramos, autor de Vidas Secas, sua obra principal: ‘Não é somente o jornalista que explora vantajosamente os crimes – ele o garoto endiabrado também sabe tirar partido das mais insignificantes perturbações da ordem, revestindo todos os fatos de acessórios que lhes dão proporções extraordinárias. Parece que tem o dom de pôr um grande vidro de aumento em cima dos acontecimentos. Enfim, sob certos pontos de vista, o pequeno vendedor de jornais é uma espécie de jornalista em miniatura’...<br />Esvoaçam-se os anos, some o bronze do Pequeno Jornaleiro e, no primeiro dia de governo de Fernando Henrique Cardoso, extingue-se a Fundação Darcy Vargas, que mantinha a modelar LBA, a cobrir todo o país, escalpelada no governo anterior, de Fernando Collor de Mello.<br />a</div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-633584319936791502010-10-27T17:07:00.000-07:002010-10-27T17:23:36.811-07:00O jogo das parecenças<div align="justify"><br /></div><div align="justify">Já na Guerra do Paraguai (1864-70) se falava em armas biológicas, e o assunto virou polêmica à época. Enfim, as guerras se sucedem, dos bacamartes aos mísseis que vimos ainda no século xx pela tevê – explodir impiedosos sobre Bagdá, sobre a História da Humanidade. Uma ‘noite de São Bartolomeu’ acionada em computadores... Antes, porém, o presidente George W. Bush sendo penteado por trás pelo câmera a fim de apresentar-se aos telespectadores com o cabelo em boa forma e com a presunção, diga-se pelo caminho, de assemelhar-se a Robert Taylor na co-produção EUA-URSS Canção da Rússia ainda que uma vez na vida. Mas ninguém poderia imaginar que aquele filme fosse tornar-se prenúncio de uma Guerra Fria tocada a manivela com fole pelo senador Joseph McCarthy e suas implicações em Sing-Sing, com a execução dos cientistas Julius e Ethel Rosenberg na cadeira elétrica, acusados de passar segredos nucleares a Moscou.<br />Joga-se damas na praça da Cruz Vermelha, xadrez, bombas inteligentes em círculos pelos céus do Oriente Próximo, o Sou Eu – mais apropriado a moças em noite de chuva no Engenho do Mato, o jôgo da velha, o do encouraçado, bisca, o jogo de malha em terreiro de antigas fazendas de café, e por aí vai. Esqueceram-se foi do jogo das parecenças.<br />E em que consiste este jogo? Muito simples: pega-se, para começar, duas figuras de combatentes, com ou sem estrelas nos ombros, ou mesmo duas peças de qualquer coisa que as representem, só não valendo caroços de feijão ou de milho, que podem<br />escorregar para debaixo da mesa.<br />Feito isso, inicia-se o jogo, dele participando de duas a seis pessoas – dependendo da capacidade da mesa. E o objetivo é avaliar os conhecimentos de cada uma delas em guerras mundiais. A partir da II Grande Guerra – a guerra de países aliados ocidentais contra a Alemanha nazis, a Itália de Mussoline, o Japão de Hiroíto, e o conflito baseado em Moscou, paralelo ao das tropas sob o comando de Eisenhower, ou seja, o nomeado por Stalin como a Grande Guerra Patriótica. Ironicamente, ou sem nenhuma ironia, a primeira a atingir solo do Reichstag, quando faz a troca da Suástica pela bandeira da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, nela pontificando a foice e o martelo – símbolo de um mundo em construção.<br />Querem um exemplo de como se joga o parecenças/ Vamos lá. Inicia-se, cada jogador, fazendo de conta estar formando cartas de um mesmo naipe, abertas para seu rosto, às escondidas, portanto, do adversário. As cartas irreais são figurinhas de combatentes de guerra, oficiais de cavalaria, marechais de campo, tropas de elite das SS etc, cotejados com militares de Norteamérica do século XXI cuja altivez se reflete em suas minúsculas lentes oculares, o toque de elegância de oficiais da Gestapo, De resto, será só comparar a figura de um Donald Rumsfeld, secretário da Defesa dos Estados Unidos na gestão do presidente George W. Bush a algum dos oficiais das SS. Bush cobriu de elogios a Rumsfeld, terminada a 2ª ou 3ª Guerra do Golfo (houve tantas guerras assim no Golfo Pérsico ou as inventaram? a ponto de aquele presidente dizer que<br />até pelos olhos ele, Rumsfeld, irradiava confiança e simpatia... De todo modo, um figuraço a cair como uma luva para o jogo das parecenças; não acham?</div><div align="justify"><br /></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5532885257667374098" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 220px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiw9xMQPoRNhykQs5LTlCBdmb8doB7bj6oN_TlJ5AdJwCioowFCCh5HTmZf21D629da-RwsjHn28Qhr7P2AIWM1pfywncnNWVgUGJxGuCWuasm-n_8IWSYwJU6bBZVUBZcc9h3VunxfHBc/s400/Nestor_Kirchner_Cristina_Fernandez_450x247.jpg" border="0" /><br /><div align="justify"></div><p align="justify"><br />*plis plas<br />O Brasil guarda luto por três dias juntamente com os demais países da América Latina, irmanados no clima de consternação que baixou inesperadamene sobre nosso continente Sul pelo falecimento do ex- presidente da República Argentina, Néstor Kirshner, uma voz que se cala em defesa inflexível do projeto de integração latino-americana. E que se fará ouvir, em pensamento, sempre que dela necessitarem os povos irmãos ibero-americanos.<br /><br />*O Instituto Latino-Americano de Cultura Ilac-Brasil, entidade civil sem fins lucrativos, com sede no Rio de Janeiro, fundado em 25 de outubro de 1985 sob a presidência de honra do general e historiador Nelson Werneck Sodré, tendo como patrono o poeta Pablo Neruda, associa-se às homenagens que estão sendo prestadas de todas as partes do mundo à memória de Néstor Kirshner.<br /><br />O Ilac-Brasil vem, ainda, solicitar ao gabinete civil da Casa Rosada que faça chegar à Senhora Presidenta Cristina Fernández de Kirshner as mais sentidas manifestações de pesar pelo vazio que se abre no cenário político intercontinental.<br /><br />Néstor Kirshner morre aos 60 anos. Advogado, abandonou a banca para dedicar-se à política, e o fez como se lhe tivesse o eleitorado conferido uma honraria. Pautava seus atos nos princípios do Direito. Por este diapasão, acolheram-no com as honras de um estadista voltado aos interesses de s eu povo e da agremiação política que escolhera e à qual manteve-se fiel em seus dias. Casado com Cristina Fernández, agora na chefia do governo da Argentina, a quem conheceu em um comício político dos peronistas, a partir daí estavam sempre juntos dentro e fora do palanque.<br /></p><div align="justify"></div><br /><br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2JndrjY3VcsdAx0Ah62sRXfi-_wGV1CtD7YDBuHhk5UO6Onw6p0D-G6YN3aGa4MTSGNG-gGZkqR2Zijp5Zh4f9wkMXhSFjOmLtSBbzJqrl8rdrzpOVb2IfpFhvcb86NCkjI032iTvvXw/s1600/Nestor_Kirchner_Cristina_Fernandez_450x247.jpg"></a>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-70909703770491357972010-10-16T17:46:00.000-07:002010-10-16T17:48:45.056-07:00Presidenta, não tenha medo dos gurkas!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsRcwuBwTQ9Gl6PPlO3-e4klM-PweXXccIqF0awrf4_rDUXIMCBsQ2a1AjGhCLpMKv40HDhNS8u_XwuNZe5Fp5hIXglCrwRm0RoPRSR1lfqulzGTMjFsxFtDkA2L66ZrAvJMATVyqPMpk/s1600/saint-malo.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5528810356732738834" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 270px; CURSOR: hand; HEIGHT: 185px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsRcwuBwTQ9Gl6PPlO3-e4klM-PweXXccIqF0awrf4_rDUXIMCBsQ2a1AjGhCLpMKv40HDhNS8u_XwuNZe5Fp5hIXglCrwRm0RoPRSR1lfqulzGTMjFsxFtDkA2L66ZrAvJMATVyqPMpk/s400/saint-malo.gif" border="0" /></a><br /><div align="justify">Em 20 de junho de 1820 morre em Buenos Aires o general Manuel Belgrano, herói nacional, quem criou a bandeira da República Argentina, a ‘celeste y blanca’, que viria tremular no arquipélago das Malvinas de 2 de abril a 13 de junho de l982. Em verdade, porém, a data de 2 de abril assinala, não propriamente o início da guerra e sim a reocupação militar platense – sem tiros ou troca de tiros, o que não configura, obviamente, um confronto de tropas - das ilhas descobertas pelo navegador italiano Américo Vespucio nada menos de l86 anos antes de o britânico John Strong, predador de faunas marinhas, ter anunciado sua passagem por lá. Foi Strong o autor da chancela de Falklands posta sobre aquelas ilhas - localizadas a uma distância praticamente imensurável de Londres, e não o avô do poeta Lord Byron, John Byron, a quem as Letras jurídicas impropriamente atribuem tal feito.<br />Assim, o conflito no Atlântico Sul iniciou-se dias após ter a primeira ministra Margaret Thatcher formalizado a declaração de guerra à Argentina ao subir à tribuna do parlamento já anunciando o envio de uma força-tarefa da Royal Navy, uma das unidades mais bem armadas da OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte , ao arquipélago retomado pelos platenses sob o comando do tenente-general Leopoldo Galtieri, último militar a assumir o governo da Argentina logo após o golpe assestado nas instituições pelo tenente-general Jorge Rafael Videla, que apeara do poder Isabelita Perón.<br />A biografia de Isabel Martinez, que após casar-se com Juan Domingo Perón, além de acrescentar ao seu nome o dele, passou a chamar-se Isabelita nos círculos sociais e, de certo modo, também oficiais, teve uma vida bastante atribulada, fruto de sua inexperiência menos política do que de governabilidade. Como ex-atriz de teatro, não lhe foi difícil representar aos olhos, à percepção apressada de muitos até certo ponto, na vida real, a primeira mulher de Perón, Evita. Mas estava longe de parecer-se com ela. Esvaíra-se a época em que o peronismo, designativo emanado do Partido Justicialista, que foi fundado por Perón, havia conquistado as ruas, com Evita: uma nuvem a carregar uma estrela de brilho intenso, que passara.<br /><br />Evita falava por ela mesma, influía nas decisões políticas e administrativas do presidente Perón. Por isso mesmo, era amada pelo povo, que a ela apunha toda sua confiança. Já Isabel, que concorrera às eleições de setembro de 1973 secundando a chapa encabeçada por Juan Domingo Perón, o qual morreria quase um ano depois, assumindo então o governo Isabelita, era como sombra do ministro do Bem Estar Social, José López Rega, que recebera o codinome ‘El Brujo’.<br />Em 1974, Maria Estela Martinez de Perón, sob a influência de ‘El Brujo’, nomeia o tenente general Jorge Rafael Videla comandante em chefe do Exército. Dava-lhe carta branca para fazer o que bem lhe aprouvesse. E Videla aplica o golpe de Estado dois anos depois. A partir daí, escurece o tempo na Argentina...<br />O país experimenta o mais sangrento terrorismo de Estado de que se teve notícia na América Latina e o Caribe, batendo o Brasil com sua longa ditadura da História recente em desaparecimentos políticos, sendo de mencionar “la noche de los lapices’, em que foram lançados de helicóptero ao mar estudantes secundaristas acusados de promover reuniões ‘subversivas’ na antiga Escola União, da cidade de La Plata, dos quais Pablo Diaz, único sobrevivente, testemunhou em juízo, mais tarde, o massacre.<br />Formavam a tríade do terror que empunhou ‘las riendas’ da Argentina naquele período o tenente general Videla, o almirante Emílio Massera e o brigadeiro Orlando Agosti. Sucedeu aos três, por assim dizer leões da neoarena romana o moderado, em relação àqueles, tenente general Leopoldo Galtieri, cujo ‘crime’ maior foi ter pretendido entrar para a História como quem houvesse resgatado a soberania da República Argentina sobre as ilhas originalmente chamadas Malouines, nome que lhes deram marinheiros franceses de Saint Malo, hoje uma das cidades turísticas mais visitadas da França e que no passado distante de ‘piratería’ britânica, expressão cunhada pela Real Academia de Espanha, foi a ‘pia batismal’ das ilhas Malvinas, que o reino de Elizabeth II teima agora em fazer, de novo, frente à Argentina na questão da soberania sobre o arquipélago austral.<br />Anglófilos do Brasil, seguindo a mesma linha de fascinação do argentino Martinez de Hoz, ministro da Economia na ‘guerra suja’ do pampa portenho, pela Grã-Bretanha, escreveram em colunas assinadas da imprensa louvores às ações da carcomida e bolorenta ‘rainha dos mares’ no Atlântico Sul. ‘Guisado’ de nações e etnias coloniais, a Grã-Bretanha não esqueceu de levar nesta sua vilegiatura bélica, como costumeiramente fazia em seu tempo de franca pirataria, uma guarnição de ‘gurkas’, africanos treinados especificamente para a degola de prisioneiros de guerra ou ‘inimigos’ nos confrontos corpo a corpo.<br />Assinando uma coluna semanal em Zero Hora, RS, o jurista, político, diplomata, membro da Academia Brasileira de Letras Afonso Arinos de Melo Franco defendeu durante a Guerra das Malvinas o direito ‘jus naturale’ inequívoco de ficarem aquelas ilhas sob bandeira platense. Ele se baseava, aprioristicamente, em factos e circunstâncias que cercavam as Malvinas desde sua origem – franco-espanhola. Lembrava, sobretudo, que a Grã-Bretanha remoia pretensões de domínio não apenas do petróleo existente nas Malvinas como também sobre a própria Antártida, situada a cavaleiro das ‘Isles Malouines’.<br />Isto posto, não há por que negar à Argentina retornar as vistas às ilhas que, de direito, lhe pertencem.<br />Cícero já dizia que os homens nasceram para a Justiça e que é na própria Natureza, não no arbítrio, que se funda o Direito.<br /><br />Plis plas<br />· A presidenta Cristina Kirchner espera por uma resolução do Comitê das Nações Unidas de Descolonização sobre a velha questão das ilhas Malvinas, cujas raízes se aprofundam cada vez mais na Corte (histórica) de Paris. São mínimas as probabilidades de a ONU acolher o recurso platino, por ser este organismo internacional dominado pelo’guisado’ britânico cujo poder de veto é infalível.<br />· Da vez passada, supõe-se que até o martelo da Justiça – representada pela ONU - tenha desaparecido das mãos do magistrado. Por artes de berliques e berloques.<br />· Em 1764 a França inaugura uma base naval nas ‘Isles Malouines’, julgando estar garantindo seu domínio sobre elas. E não é que já no ano seguinte os piratas de SM a Rainha da Inglaterra vão lá e instalam a sua base? <br />· Presidenta, não tenha medo dos gurkas! Também eles precisam ser descolonizados...<br />· Os kelpers, quer dizer algas marinhas, como são chamados os habitantes das Malvinas, só deixaram de ser ‘cidadãos de segunda classe’ depois de terem os ingleses saído vitoriosos do conflito em nosso Atlântico.<br />· Somente desse modo puderam os kelpers subir um grau na hierarquia britânica. Foram a súditos da Rainha Elizabeth II.<br />· De Lord Byron: ‘O melhor profeta do mundo é o passado’.</div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-32963265631683521352010-09-24T16:45:00.000-07:002010-09-24T16:49:14.116-07:00Caiu o novo chefe narco<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOjxbljuX0zYy9G-aod1gtwZz4_BrWvce1upkGnHOa4r6_PUgvYLuIXiCM2kKAyh02c9K6MVOmv8Va4jtiJbjbM0lhYw_2enCWN3Kt1PCWRgdGuxQnY2khZ90eRh5UH1YREQ70n0E1dmk/s1600/Mono_Jojoy.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5520630885750317090" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 268px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOjxbljuX0zYy9G-aod1gtwZz4_BrWvce1upkGnHOa4r6_PUgvYLuIXiCM2kKAyh02c9K6MVOmv8Va4jtiJbjbM0lhYw_2enCWN3Kt1PCWRgdGuxQnY2khZ90eRh5UH1YREQ70n0E1dmk/s400/Mono_Jojoy.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:85%;">‘Mono’ Jojoy</span></div><p><span style="font-size:85%;"></span></p><p align="justify">Em 1964, quando se ouviu falar pela primeira vez nas FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) descerrava-se entre nós o ciclo ditatorial com o marechal Humberto de Alencar Castello Branco sendo o primeiro a exercer a presidência da República nesse período. Entrementes, não havia a menor ligação séria de esquerdas brasileiras com aquele exército paralelo ao colombiano regular. A guerrilha no Brasil se feria praticamente à distância das FARC ou de qualquer outro movimento de insurgência paramilitar ao regime aqui instaurado.<br />Até os brasileiros que partiram para o exílio o fizeram mais em busca de trabalho, alguns, também, de estudo, de acordo com o pé de meia de cada um, do que de ‘ordens unidas’ preparatórias para insurgência ou contrainsurgência a governos totalitários como os que se instalaram durante décadas no país.<br />Lembro-me, já na ‘era digital’, pouco antes de ingressarmos no ano 2000, deixando-me levar pelas ondas corredias da Internet entro acidentalmente numa página que parecia ter sido inserida no periódico argentino La Nación, por artes de berliques e berloques, e qual não foi minha surpresa ao verificar na telinha que estava diante de uma concentração de guerrilheiros das FARC, alguns dos quais, naturalmente em ‘parejas’, dançavam bem animados. Em 2008, as FARC perdem seu segundo chefe, Raúl Reyes, em confronto com as forças legalistas, no governo de Álvaro Uribe Vélez. Ingrid Bettancourt, ex-candidata à presidência da Colômbia, caíra nas mãos da guerrilha, que a leva para a selva como refém, sendo libertada seis anos e meio depois e graças à intervenção dos presidentes da Venezuela, Hugo Cháves, e da França, Nicolas Sardozy.<br />Deito a cabeça no travesseiro e me ponho a refletir sobre o quebra - cabeças em que se transformava, às vezes, a política não apenas entre países de uma mesma região como também de regiões distintas: França e Venezuela, o caso: aproximavam-se por razões de segurança interna mescladas com algum interesse econômico, direcionado ao petróleo venezuelano.<br />Agora, em 2010, sem mais espaço para atuar e sem nenhum apoio de políticos da região, as mãos tisnadas no narcotráfico, as FARC sofrem a maior derrota desde sua criação. Juan Manuel Santos, que sucede a Uribe na presidência da Colômbia, ergue o punho da vitória, exclamando: “Cai mais um símbolo narco!”. Não é outro senão Jorge Briceño, o Mono Jojoy. Desta vez, o Exército colombiano utilizou 30 aviões e 27 helicópteros, tendo vasculhado toda a área até então dominada pelo narcotráfico, que insiste na afirmativa de que se abastece do crack, derivado da cocaína com vistas aos consumidores com poucos recursos, na ponte México-Norteamérica.<br />Mono Jojoy, assim chamado por ser louro, usava vários nomes, como Victor Julio Suárez Rojas e Jorge Briceño, que se acredita seja o verdadeiro. O corpo foi identificado através de um relógio e umas pastilhas para o diabetes, de que ele sofria. Dizem uns ter ele nascido em Boyacá e outros em Cundinamauca, América Central. Tudo faz crer ter sido ele criado, com o irmão Germán, na selva colombiana, que conhecia na palma da mão. Fala-se que Germán se acha hoje escondido na selva da Venezuela. Jorge Briceño, ou Mono Jojoy, encerrou sua carreira de narcotraficante aos 57 anos.<br />O novo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, põe fim a uma guerra de 40 anos contra o tráfico de drogas.<br /></p><div align="center"><br /></div><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div><div align="center"><br /></div><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div><div align="center"><br /></div><div align="center"></div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-1412795399763112042010-09-22T20:15:00.001-07:002010-09-22T21:14:02.058-07:00Estados Unidos executam débil mental<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsQlL7F6ujnEQSRLlYLcyfFOEDslZWCirIatFBLG0JKz-WzplkLr1lIn5OImdhlyB3n_-W1vwBnZaZi4739oETBp72JW9OwuY7bHpbeFPvhTcnNzB58X_7oG5pP6sBgC-zpXQREak7kpg/s1600/teresa.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5519942405169847698" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsQlL7F6ujnEQSRLlYLcyfFOEDslZWCirIatFBLG0JKz-WzplkLr1lIn5OImdhlyB3n_-W1vwBnZaZi4739oETBp72JW9OwuY7bHpbeFPvhTcnNzB58X_7oG5pP6sBgC-zpXQREak7kpg/s400/teresa.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Nesta quinta-feira, 23 de setembro de 2010, ‘dia de Júpiter’ na mitologia greco-romana, às 9 da noite (horário de Washington), se a Suprema Corte dos Estados Unidos mantiver sua recusa de clemência para Teresa Lewis, 41 anos, acusada de cumplicidade em duplo homicídio, será executada com injeção letal na prisão ‘correcional’ de Greensville.<br />Lewis confessou-se culpada pela morte de dois homens, um deles que teria sido seu amante e o filho dele, facto ocorrido em 2002 e que se reveste de maior dramaticidade com o agravante de a condenada se achar no limite da debilidade mental, desconhecendo mesmo, em seu fraco, ou nulo, juízo, por que está encerrada em Greensville.<br />De nove magistrados, apenas dois acataram a petição da defesa, de paralisação da sentença por atraso mental da condenada; por sinal, duas das três juízas que faziam parte da banca: Ruth Ginsburg e Sonia Sotomayor. Acrescente-se que se for realmente cumprida a sentença, polêmica no caso em pauta – pelo processo mental degenerativo que sofre a ré, será a décima segunda execução de mulheres no país desde que se reinstaurou ali a pena máxima.<br />Sessenta e uma mulheres estão à espera de sua hora no ‘corredor da morte’ no Estado da Virgínia. Ou de quem as ouça com ouvidos limpos e a alma pura.<br />De passagem pelos Estados Unidos, o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, teceu duras críticas ao governo estadunidense dizendo que sua mídia silencia quando se trata da aplicação pelos seus juízes de penas de morte em até deficientes mentais. Frisou que a Justiça americana carrega por anos, ao parecer, sem fim, por sua história enlameada de conquistas empreendidas sem nenhuma base legal continentes em fora. Quanto a Sakineh Mohammad, frisou ser um caso encerrado, suspensa a pena que lhe fora imposta. E que falecem coragem e dignidade aos norte-americanos para tomarem decisões que venham ao encontro de uma justa concepção de vida moral, espiritual e material.</div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-55509408913107176622010-09-18T11:26:00.000-07:002010-09-18T11:28:44.451-07:00Ciganos vão à Corte de Estrasburgo<div align="justify"><span style="font-size:85%;"></span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIL2ndCeFBdTaUnnyj2KuwHlmxpDj_ni0PETpJoxmheVkzy_j_PKfq3YjnXOJ55p6r-80DViHCiSN_WGlKWrrF88f-_4UzKn2EeIU5vmVh8oxr6T3tOCkV86FMQI2T7Sm8wpnSfl4srUI/s1600/ciganos.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5518321997219031394" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIL2ndCeFBdTaUnnyj2KuwHlmxpDj_ni0PETpJoxmheVkzy_j_PKfq3YjnXOJ55p6r-80DViHCiSN_WGlKWrrF88f-_4UzKn2EeIU5vmVh8oxr6T3tOCkV86FMQI2T7Sm8wpnSfl4srUI/s400/ciganos.jpg" border="0" /></a><br /><div align="center"><span style="font-size:85%;">Nos sentimos David contra Golias</span></div><br /><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div><br /><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div>Um buraco negro parece ter-se aberto, com o entrechoque de argumentos a favor e contra a permanência de ciganos em território francês, ao som, diria, interminável e doce de um violino a vir de muito longe, quem sabe – das estrelas da România ou da Bulgária ou da Bósnia. A impressão que se tem é de que o Eliseu, se lhe fosse dado o poder de manifestar-se por si mesmo, cerraria portas e janelas pelo tempo que fosse necessário enquanto durassem as discussões tolas sobre uma crise étnica estranhamente singular, inconcebível; inacreditável, por assim dizer.<br />O imbróglio envolve França, Espanha, Luxemburgo, Itália, agora também a Grã-Bretanha e outras praças da Europa, só não alcançando, em outro meridiano, os Estados Unidos da América por se acharem estes fora de órbita por razões cambiais, que os obrigam a apertar o cinto; e, ainda, o Brasil, impropriamente considerado emergente pela ONU, por ser, talvez, um dos raríssimos países a ostentarem uma economia em franco crescimento, de causar inveja e espanto aos norte-americanos, por exemplo, que sofrem quedas preocupantes nos ativos financeiros, aumentando lá, a cada dia, o contingente de cidadãos na linha da pobreza.<br />O clima esquentou para todos os lados, sem que a Comissão Européia mova uma palha a fim de serenar os ânimos entre os contendores e encontrar uma solução pelo menos conciliatória para o fosso que se abriu à primeira vista irremediavelmente entre as nações querelantes.<br />O presidente da França, Nicholas Sardozy, se mostra inflexível em seus delírios persecutórios quando investe de forma claramente desalmada contra a comunidade cigana, extensivamente rumana. Contudo, sempre que isto ocorre, aparece alguém para rebater-lhe as idiossincrasias. O poeta português, ou universal, Fernando Pessoa já dizia: ...”Entre o sono e o sonho / entre mim e o que em mim / é que eu me suponho; corre um rio sem fim”.<br />Assim, Nikolas Sardozy, como a puxar do fraque uma eurodeputada de sua estima partidária, dá-lhe a palavra para dela ouvir e passar à frente que os ciganos rumanos “provocam os mesmos problemas na França e na Espanha”. Idiossincrasia pura e delituosa...<br />Nada, entretanto, que surpreenda. Sarkozy é de uma direita a mais extremada. Em Paris mesmo já há quem o compare aos nazi-fascistas da II Guerra Mundial. Ainda em termos comparativos, fala-se que as atuais deportações de ciganos da França têm sido feitas à imagem e semelhança daquelas de judeus da Alemanha no conflito com o III Reich. E das investidas nazis na batalha de Stalingrado (1942-43), ali encontrando a heróica resistência dos soviéticos, cujas baixas nas fileiras da Grande Guerra Patriótica, que correu paralela à das forças aliadas, comandadas de automóvel conversível por Eisenhower, e que resultou na vitória inegável, contundente, de Moscou sobre Berlim, superaram de duas a três vezes mais as vítimas do Holocausto. Os combates nas trincheiras soviético-alemães, enquanto o povo americano se divertia em seu próprio território inteiramente a salvo de bombardeios e outros ‘pesadelos’, a não ser os mostrados nas telas cinematográficas, ceifaram pelo longo e doloroso caminho trilhado até Berlim, em números oficiais, durante 1418 dias e noites, numa frente de 3000 a 6200 quilômetros, uma média de nove a dez vidas soviéticas por minuto, ou seja, cerca de 600 por hora – um total superior a 20 milhões, isto é, 2/5 de todos os mortos em<br />combate na II Guerra Mundial. Além disso, a URSS teve um prejuízo material estimado de 485 trilhões de dólares, ao preço dos anos 40. Em razão do praticamente imensurável número de baixas nas frentes russas, milhares de soldados e oficiais tiveram de ser substituídos por mulheres nos tratores e outras máquinas em Moscou e cidades do interior onde mais requeria sua presença. Foi quando criaram no Ocidente a imagem torpe da russa masculinizada. A mulher dirigindo um trator, no imaginário de tio Sam, já pelos começos da ‘guerra fria’ dava lugar a uma outra invencionice e muito pior: os americanos fotografaram em Moscou umas crianças brincando com a neve, abriram uma legenda informando que elas disputavam alimentos caídos ao chão, tiraram um sem-número de cópias da foto, distribuindo-as entre as agências de notícias ocidentais, do então chamado “mundo livre”. Era o tempo do macartismo nos Estados Unidos, do ‘pega para capar”, da cadeira elétrica para o casal Rosenberg, em nome da democracia...<br />Também em nome da democracia, agora na França, a França da resistência à invasão nazi na década de 40, acampamentos de rumanos são varridos por Sardozy e seus cupinchas, pelo ‘crime’ de serem ciganos?<br />Na Espanha existem em torno de 30 mil a 50 mil ciganos, a grande maioria rumanos,<br /><br /><br /><br />seguindo-se os búlgaros e, de resto, os bósnios. Vivem em assentamentos, salvo alguns grupos ingleses e franceses.<br />O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, frisando não ser do seu feitio meter-se em querelas de etnia, mas que se tratava de assunto de sua alçada, declarou que é demais comparar as atuais deportações às da II Grande Guerra. O primeiro ministro italiano, Sílvio Berloscono, fala em “panos quentes” enquanto aqueles que falam pelo povo cigano detectam claras “conotações nazis” em todo este processo de deportações. Dizem que o povo cigano europeu assiste indignado a esta política e perplexo ante as “trifucas verbais” ouvidas nos salões oficiais. Estão, agora, decididos a atuar de forma enérgica, indo ao foro competente, que é o Tribunal de Estrasburgo, ante as iniciativas do presidente francês, Nikolas Sardozy. A União Rumana espanhola já preparou toda a documentação necessária à demanda junto àquela Corte, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, contra a intolerância do Eliseu. O presidente da União România foi enfático ao tratar do assunto: “Nos sentimos David contra Golias. Não queremos ficar de braços cruzados enquanto membros de nossa comunidade são expulsos cruel e maciçamente”. <br /><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div><br /><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div><br /><div align="justify"></div></div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-17534804914210314902010-09-15T21:44:00.000-07:002010-09-15T21:47:58.417-07:00O mundo tauromáquico<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilJSxB-ROBdM-TOsS4tapNrzDrfl66lIyQ-FYLmgAKvKHc5uGJOu_DSWrmQP8tYL4EYJNRiIL29Cie9zy-CIGHN2Pr3QNbQhG0-qWzMh5BlQj1-qOWw0XmXFowd5gDWKf_2mzEX9441SI/s1600/touro.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5517368299684794642" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 321px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilJSxB-ROBdM-TOsS4tapNrzDrfl66lIyQ-FYLmgAKvKHc5uGJOu_DSWrmQP8tYL4EYJNRiIL29Cie9zy-CIGHN2Pr3QNbQhG0-qWzMh5BlQj1-qOWw0XmXFowd5gDWKf_2mzEX9441SI/s400/touro.jpg" border="0" /></a><br /><div align="center"><span style="font-size:85%;">A revolta do touro</span></div><br /><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div><br /><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div>No mesmo dia em que o parlamento francês anunciava seu veto ao burka – o transpirável e tênue véu que encobre, ou encobria pelas ruas de Paris, o rosto de imigrantes muçulmanas – como a preservar a tradição de capital da elegância, ou do bem vestir, no mundo, cai à ponta de lanças arremessadas por um jovem de 26 anos, Marcos Rodriguez, em Tordesilhas, Espanha. “El Toro de la Vega”, famoso por ter feito carreira ‘gloriosa’ ao ser desafiado durante bom tempo por alguns dos maiores toureadores do país.<br />Foi pela manhã da última quinta feira (l3 de setembro de 2010), quando ao último suspiro de “El Toro de la Vega” – as banderilhas o ferindo profundamente – desabavam aplausos junto ao cercado da arena, a tocarem o coração dos ambientalistas, que não deixavam de protestar contra “semelhante barbárie” num país conhecido fora da Europa como dos mais religiosos e civilizados de nosso planeta.<br />Entre os ambientalistas, não faltaram as lágrimas dos mais indignados com a “cena brutal, macabra” a que haviam assistido. Pelos arredores da praça de touros em Tordesilhas se viam cartazes de protesto contra a imolação de “El Toro de la Vega”. Um deles dizia: “Transcende ao mundo imaginado por Orson Welles e seu inspirador, H.G. Wells”. Wells, autor de A Máquina do Tempo e de Guerra dos Mundos, livro no qual o novelista de rádio Orson Welles se baseou para levar ao ar nos Estados Unidos, como se fora um longo, instigante e tenso noticiário a cobrir praticamente todos os horários de programas do dia, somente interrompidos alternadamente em questão de minutos com momentos de baile ironicamente relaxantes, rodados nos discos pelos operadores dos estúdios da rádio. Isso, no corpo de um programa de noticiário de ficção apresentado por Orson Welles, a transpirar seriedade, com sua voz grave, às vezes trêmula, para fins de convencimento dos ouvintes, a cada hora em que dizia aproximar-se estranha criatura que, para ele, só podia ser extraterrrestre, “claro que sim! –exclama, justificando: “a nave espacial já reduz... mais, mais! a distância de nós”.<br />E o radionovelista não deixava por menos: passara a se comunicar diretamente com a Casa Branca. Falava ao telefone com o Presidente, o qual lhe passava instruções e uma mensagem para que fosse levada ao ar, dirigida aos concidadãos, a recomendar-lhes calma “porque podem ser de índole pacífica, sem outro intuito que não seja colaborar conosco”.<br />Alguém liga para a emissora indagando sobre o partido da simpatia desses visitantes, o Republicano ou o Democrata?A pergunta, felizmente, não chegou ao éter, logo cortada pelos operadores, que desconfiaram a tempo de evitar que o ouvinte ‘engraçadinho’ empurrasse as vacas para o brejo...<br />E o programa foi em frente com um pelotão de extraterrestres armados de espécie de lança-chamas, sem que os tirasse das cintas, o que deixou um pouco tranqüilos aqueles que a tudo acompanhavam pelo rádio e que cheirava a pólvora interplanetária, pela sensibilidade não só das massas, também dos políticos e empresários norte-americanos, que procuravam olhar pelas frestas dos edifícios de onde vinha toda aquela movimentação transmitida pelo rádio. Estabelecera-se verdadeiro pandemônio, principalmente em Nova Yorque, além de Washington, o Presidente pedindo que ninguém saísse de suas casas ou do trabalho, exceto as guarnições do Exército e da Marinha, dos quartéis e que, pelo noticiário radiofônico, se dividiram estrategicamente por vários rincões do país, instruídas a entrarem em ação somente no caso de virem a ser atacadas. “e isso esperamos que não venha acontecer; temos um pastor ao nosso lado orando por todos nós”. E os operadores emendam à mensagem presidencial números de jazz afrolatino com Xavier Cugat e sua orquestra. Repentinamente, cessa todo o deslocamento de tropas, de carros de combate e de passeio, estes, poucos; silenciam as sirenes, reabrem-se as janelas, Cugat retoma o programa normal de baile e multidões se abraçam nas ruas, aliviadas. “Ainda não viram nada...”, dizia e repetia um pau d’água à porta da emissora. Não pensem que era o radionovelista. Orson Welles saíra pela porta dos fundos. O Presidente, ainda que ele próprio tenha caído no conto da guerra interestelar, aproveitou a ocasião para criar uma versão do que havia acontecido, qual seja que fora realizada e com sucesso uma simulação de ataque extraterrestre.<br />Na praça de touros de Tordesilhas não houve simulação quanto ao trágico destino que tinham reservado para “El Toro de la Vega”, algo como “celebração da vida e da morte”, a um tempo, contrapondo-se aos aficionados de rituais da tauromaquia aqueles que se batem em defesa dos direitos animais tanto quanto dos direitos humanos.<br />Num mundo tauromáquico como esse, o ex-presidente espanhol Felipe Gonzalez já expressa seu pessimismo diante do futuro da Europa.<br /><br /><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div><br /><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div><br /><div align="center"></div></div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-57725697163013327312010-09-13T19:29:00.000-07:002010-09-13T19:58:45.554-07:00Barack Obama alinha sua defesa<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaECnV0TH3zdydhJdzZ-aU3GqaOaI64djtul-0NBD72tywwL5efS-rqMffyPGI6vgRdaf-xkIiCqKpZABvoE7AMBCFaXapaNwB22fsYBgesa6RysbkUoSG_-S5aUyWSMQ8z8cu1PYtVBk/s1600/obama+dan%C3%A7ando.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5516591089578473090" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaECnV0TH3zdydhJdzZ-aU3GqaOaI64djtul-0NBD72tywwL5efS-rqMffyPGI6vgRdaf-xkIiCqKpZABvoE7AMBCFaXapaNwB22fsYBgesa6RysbkUoSG_-S5aUyWSMQ8z8cu1PYtVBk/s400/obama+dan%C3%A7ando.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:85%;">O Presidente e a Primeira Dama</span></div><p align="justify">O 11 de Setembro nos Estados Unidos transcorreu num clima bastante agitado, de confrontos seguidos que pareciam não ter fim, entre adeptos dos mais variados credos religiosos. O que seria uma homenagem tranqüila em memória dos 2.752 mortos do World Trade Center, em números oficiais, transformou-se, à medida que chegavam caravanas de todos os pontos do país em verdadeiro entrecruzamento de fiéis levando cartazes, contra e a favor da construção de uma mesquita no marco zero das Torres Gêmeas, além de bíblias, crucifixos, velas e exemplares do Alcorão. Vendedores ambulantes com suas barracas desmontáveis não faltavam: a Bíblia ao lado do Alcorão, em coexistência pacífica, indiferentes a alguns sopapos trocados em meio às discussões fora das vistas da polícia, mais preocupada em garantir a livre manifestação dos fiéis nos limites da permissibilidade constitucional.<br />O presidente Barack Obama compareceu com sua mulher, Michelle Obama, a uma cerimônia realizada no Pentágono em honra das vítimas da queda das Torres Gêmeas. Michelle estava, também, acompanhada da ex-primeira Dama, Laura Bush. O presidente aparentava certa frustração por não ter ainda conseguido a concórdia plena em seu governo, mas esperava chegar a um consenso em curto espaço de tempo, embora as eleições parlamentares estejam bem póximas. Analistas políticos dos próprios Estados Unidos prevêem dias difíceis para o presidente, embora o disfarce dê às vezes a impressão de achar-se deslocado no meio político em que vive. No ato solene do Pentágono, expressou-se com relação ao 11 de Setembro como sendo “um dia de reflexão e de recordação”, e acrescentou: “E espero que seja também um dia de unidade”.<br />Obama anda preocupado com o divisionismo que ele sente de perto ranger na estrutura da administração pública estadunidense. Hillary Clinton seria de todo confiável na condução da política de Estado? Não teria metido os pés pelas mãos nas questões internacionais em que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, foi chamado a colaborar na arbitragem? Teria havido um entrechoque de interpretações de um dito não se sabe se irônico ou de inocente bom-humor, qual seja “o Cara”, como Obama se referiu a Lula ao recebê-lo na Casa Branca logo após haver assumido o Governo?<br />Barack Obama talvez não tivesse a medida exata dos problemas menos específicos da nacionalidade do que os propriamente políticos que iria enfrentar, quando preparava-se para assumir um poder não poucas vezes manchado por disputas interpartidárias, por escândalos do tipo Watergate, que afastou Richard Nixon (o poeta chileno Pablo Neruda classificou em versos essa era de nixonicídio), inclusive com o sangue de Jonh Kennedy, derramado em Dallas.<br />Já se fala nos corredores de Washington em divisão de poder na crista do enxame de membros dos partidos Democrata e Republicano, a rigor uma só legenda partidária mas que no frigir de ovos respinga sérias divergências no Salão Oval da Casa Branca e no Congresso. Em todo caso, é a democracia tal como a ensinam seus arautos a países qualificados como emergentes. De resto, o que se conclui é que as próximas eleições parlamentares norte-americanas estariam reservando a Barack Obama para seu segundo mandato – se houver – algumas surpresas desagradáveis, notadamente a recuperação de votos pelo Partido Republicano, o partido de George W. Bush e família, sua família política de triste memória.<br />Qual um guerreiro que pegasse sua lança e escudo, paramentando-se adequadamente para a guerra que já dá sinais de aproximar-se dele, o primeiro presidente negro americano interrompeu já em fins de agosto (2010) as férias de um republicano de peso, Ben Bernanke, numa ilha do Estado de Massachusets trazendo-o para a chefia do Federal Reserve. Assim, vai alinhando sua defesa contra possíveis intempéries nessas eleições, que podem obrigá-lo a uma mudança de rumo, se for de facto reeleito, conforme espera, acredita-se, a maioria dos americanos. Contudo, o sistema eleitoral de lá não é tão democrático como o brasileiro, por exemplo.</p><div align="center"><br /></div><div align="center"></div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-58927212796345591912010-09-11T18:48:00.000-07:002010-09-13T19:33:22.249-07:00Mídia americana se dá mal com Fidel<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimwOy7xSp0joQ-m5qOzIyO5ukktNGjGNSpUPfCfAa3QWfEqfoKxthd1P0MsAxcuJn-J1HPaQ-1xASEXm5vMBtLOhn-Q6PP4_yyE1rIZWW6_gYJU96ZT5i6feI2UvMLkxke5R6gGAOT82U/s1600/fidel.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5515838224137016738" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 311px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimwOy7xSp0joQ-m5qOzIyO5ukktNGjGNSpUPfCfAa3QWfEqfoKxthd1P0MsAxcuJn-J1HPaQ-1xASEXm5vMBtLOhn-Q6PP4_yyE1rIZWW6_gYJU96ZT5i6feI2UvMLkxke5R6gGAOT82U/s400/fidel.bmp" border="0" /></a> Nove anos de 11-S</div><br /><div align="center"></div><br /><div align="center"></div><br /><div align="center"></div><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyYADOt-4BjNLQOhBwqTlN3HDQNX5Bsk9QK0xs7929Ut3H4I1fd_5TudeAxjyEROyZnLKF9UiPrCXoa4EY-Ml_8MXskn1HNryptS9McDTtmn5rr6pyab_-X-b7VLT6wQ0n429D4bwJn6Y/s1600/480px-Rumsfeld1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5515838518811465202" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyYADOt-4BjNLQOhBwqTlN3HDQNX5Bsk9QK0xs7929Ut3H4I1fd_5TudeAxjyEROyZnLKF9UiPrCXoa4EY-Ml_8MXskn1HNryptS9McDTtmn5rr6pyab_-X-b7VLT6wQ0n429D4bwJn6Y/s400/480px-Rumsfeld1.jpg" border="0" /> <p align="justify"></a><br /><br /><br />A interpretação enviesada de declarações feitas dia 9, de 20010, pelo comandante Fidel Castro do alto de seus 84 anos em boa forma (física e mental) agitou por um dia a comunidade anticastrista arranchada principalmente em Miami, levando-a a acreditar haver chegado a hora de preparar-se de facto para descer de paraquedas, em segurança, sobre Cuba. Certamente pensavam que botes, agora, são coisa do imaginário de ‘los cochinos’...<br />A entrevista de Fidel alcançou em minutos, entregue à mídia em inglês, o que facilitou sua difusão mundo em fora, enorme repercussão – somente contida com a interveniência do ex-presidente cubano.<br />E ele, apressando-se na retificação do que lhe haviam atribuído talvez por desconhecimento de algumas construções em língua hispânica, imaginou-se, dir-se-ia diante de um quadro negro, a pegar num giz e escrever: Onde se lê... O modelo cubano já não serve mais a Cuba, como poderíamos exportá-lo? Leia-se que o modelo capitalista é que não nos serve. E seria o caso, então, de responder inclusive que a ilha caribenha, enfim, por não ser de modelo capitalista, de bom grado poderia recomendar, a quem interessar pudesse, importá-lo dos Estados Unidos, apesar de tal produto, ao parecer, achar-se em final de estoque.<br />A julgar pelo que também se vê largamente publicado nos Estados Unidos, para consumo interno e exportação, Osama bin Laden tornou-se após, naturalmente, a destruição do World Trade Center o mais recente mito da crendice estadunidense. Isto, em meio a suas andanças de alma penada por montanhas islâmicas, aonde dizia-se que se refugiara, além de um tour que fizera pelo Oriente Médio e o Mundo Árabe, justamente numa hora em que só faltou ao governo de George W. Bush disseminar palmo a palmo pelas paredes de Norteamérica cartazes com a foto de Osama, a procurá-lo vivo ou morto mediante gorda recompensa. Ao contrário disso, entretanto, do que se teve conhecimento foi que Osama bin Ladem encontrara-se às furtivas com ministros de Bush, reconhecidamente de ultradireita, na Arábia Saudita e em Dubai, por exemplo, ajustando problemas de saúde e de logística. Runsfeld e Cheney, que passaram pelo ministério da Defesa do governo de George W. Bush, estiveram envolvidos na trama para a derrubada do World Trade Center. Tratava-se, para eles, de uma ação semelhante à de Pearl Arbor, que precedera as bombas de Hiroshima e Nagazaki. Uma ação costurada dentro do “projeto para um novo século”, sobre o qual já falamos numa série de artigos publicados neste blog, A História no Jornal”, titulada El 11-S y Sus Raíces. </p>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-6153456348084485522010-08-24T17:03:00.001-07:002010-08-24T17:20:08.310-07:00A Guerra das Malvinas<div style="text-align: center; font-style: italic;"><span style="font-size:130%;">Um reino visto dos aposentos
<br /></span></div>
<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO9gZvpqqicdJhDqC7jldD2fJpgjq67Anbi1ckpwkkAxstEnFGV8ecYGKqRXqMEpzjumAeFBm31JEVmWq32Nt0dBUR3eT5aiqJQff61cZBg64BDCRCJpooPHFLR7B_CQp5364qElEGct0/s1600/margareth+e+Ronald.JPG"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 308px; height: 360px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO9gZvpqqicdJhDqC7jldD2fJpgjq67Anbi1ckpwkkAxstEnFGV8ecYGKqRXqMEpzjumAeFBm31JEVmWq32Nt0dBUR3eT5aiqJQff61cZBg64BDCRCJpooPHFLR7B_CQp5364qElEGct0/s400/margareth+e+Ronald.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5509135266005834562" border="0" /></a>
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<br /></div>
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<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi953y-bh7XxQsOmOIafq-w5trZZ1Qianed443rcHsjMiefcY8SS8cPbGTAVcbj5xSHrz_0PT7Z9_OLU7MqKxdwPmwZoaf1m-4P7Hskj7qY1-mHnXID-22z29uyqucu1Rf7ShGcBCu5D0o/s1600/Leopoldo+Galtieri.JPG"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 217px; height: 297px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi953y-bh7XxQsOmOIafq-w5trZZ1Qianed443rcHsjMiefcY8SS8cPbGTAVcbj5xSHrz_0PT7Z9_OLU7MqKxdwPmwZoaf1m-4P7Hskj7qY1-mHnXID-22z29uyqucu1Rf7ShGcBCu5D0o/s400/Leopoldo+Galtieri.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5509134509068334098" border="0" /></a>
<br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:10pt;"><span style="font-size:78%;">“No habrá paz definitiva si se vueve al status colonial” – Leopoldo Galtieri.<o:p></o:p></span></span> <meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 11"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 11"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CNICA%7E1%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--></div><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size:78%;"><o:p></o:p></span></p><meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 11"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 11"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--><div style="text-align: center;">
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<br /></div><meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 11"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 11"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if !mso]><object classid="clsid:38481807-CA0E-42D2-BF39-B33AF135CC4D" id="ieooui"></object> <style> st1\:*{behavior:url(#ieooui) } </style> <![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Esperava-se que em setembro de <st1:metricconverter productid="1982, a" st="on">1982, a</st1:metricconverter> quatro meses do sesquicentenário da ocupação das Malvinas e seus departamentos – as Geórgias e as Sanduich do Sul – por piratas antevitorianos e que não faria muito sentido celebrar, tendo estas ilhas voltado para domínio platense por um período embora curto: de 2 de abril até 13 de junho, véspera de nova troca de bandeira, a República Argentina conseguisse a inclusão proposta pelo México de ‘vieja querella’ com o Reino Unido em mais uma rodada de trabalhos da Assembléia Geral da ONU. Ainda que sabendo-se que dali por diante a Argentina, recém-saída de uma derrota militar, pelo menos por algum tempo teria praticamente reduzidas a zero as possibilidades de um desfecho em tal instância que correspondesse de facto aos interesses de seu povo e, extensivamente, das demais nações latino-americanas.<o:p></o:p></span></div> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">A circunstância de ter aquela ação no Atlântico Sul partido de um sistema castrense então mal das pernas, sabidamente lesivo a direitos humanos – tortura, extermínio, desaparecimentos políticos – facilitou a muitos articulistas e/ou editorialistas uma inclinação ostensiva, alienada, alienante, na imprensa brasileira, para o lado europeu, o colonialista, tido como o civilizado, para uma “velha aliança” em assuntos de guerra e de petróleo – anglo-norte-americana.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Ainda no governo platense do general Jorge Rafael Videla, seguindo instruções ou diretrizes traçadas pelo grande latifundiário e anglófilo Martinez de Hoz, foram feitas discretas concessões a uma transnacional para exploração de lençóis de petróleo na plataforma marítima da Argentina. E pouco antes de rebentar o conflito com a Grã-Bretanha um advogado especialista em assuntos energéticos, Adolfo Silenzi de Stagni, lançava o seu livro Las Malvinas y el Petróleo, ed. El Cid, nele denunciando a iminência da entrega das riquezas sedimentares platenses aos ingleses e seus aliados naturais, a começar pela privatização da Yacimientos Petrolíferos Fiscales (equivalente à Petrobras) em troca do direito de a ‘celeste y blanca’ tremular sobre as Falklands. Isto, para kelper ver. Não demorou, o tenente-general Leopoldo Galtieri entornava o caldo... <span style=""> </span>Pela primeira vez na história da repressão argentina a Coroa britânica, fora dos aposentos da Rainha, quer dizer, publicamente, passa a considerá-lo um déspota.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Acontece a I Guerra das Malvinas: os ingleses no ataque, o submarino atômico Conqueror, sob o comando de Christopher Brown, acertando em cheio e à margem da zona de guerra<span style=""> </span> o cruzador Belgrano; os argentinos no contra-ataque, na defensiva. E decorridos cinco dias da rendição das tropas do general Menéndez a uma das forças-tarefas da OTAN, a da Royal Navy, na capital das ilhas (por imposição das armas, de novo Falklands), ou seja, às 14 horas de 19 de junho, helicópteros britânicos atacavam e tomavam a estação científica Corveta Uruguai, assim denominada em honra dos tripulantes da embarcação utilizada para o resgate do sueco Otto Nordenskijold, um dos expedicionários de nacionalidades várias, a maioria predadores da fauna marinha, tendo sido este o caso de muitos ingleses e norte-americanos a passarem por lá, a desafiarem o clima e a topografia hostis, a terminarem dando-se por vencidos - no ponto culminante do Arco Antilhano Austral.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">É, ou foi, uma base de observações e pesquisas para fins pacíficos, de preferência na área meteorológica, que a República Argentina inaugurava oficialmente a 18 de março de1977 (instalara-a em 1976) numa ilhota por nome Morell, uma das três do grupo Thule, de um total de onze de que se compõe o acidentadíssimo arquipélago das Sanduich do Sul, isso, quase 1 ano após a deposição de Isabelita Perón e do conseqüente advento de um regime triunviral, com substituições de anéis no seu fluxo cronológico, até à retirada também dos dedos (exceto o da CIA), já em razão da queda do presidente Leopoldo Galtieri cujas causas não estão bem esclarecidas: sabe-se que o general rebelde, ou aventureiro, perdeu a guerra, ou algumas batalhas, no Atlântico Sul, porém o facto que mais pesou na balança foi o de ter ele perdido para sempre a confiança de Washington. Pragmaticamente, fizera-se nacionalista. Para a CIA, para o Pentágono, a mesma coisa que ser comunista. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Do confortável ainda que não de todo relaxante nº 10 de Downing Street, a um tempo residência da primeira-ministra e QG do governo do Reino<span style=""> </span>Unido, Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, manda notificar os terceiro-mundistas de que os argentinos de Thule do Sul não ofereceram qualquer tipo de resistência. O comunicado britânico sobre mais essa operação somente não mencionou entrega de armas pelo ‘inimigo’ a fim de constar no inventário do ‘espólio de guerra’ das Malvinas, o qual incluiria mísseis Exocet (segundo Londres) e outros engenhos de igual ou menor valor – utilizáveis em futuras incursões e até então camuflados pela resistência platense. Os dez ou onze homens da estação científica Corveta Uruguai estavam desarmados; o que empunhavam eram bandeiras com pombas de Picasso...<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Entrementes, logo a técnica da desinformação, que dá o inteligente respaldo à diplomacia do ‘big stick’, foi mais uma vez aplicada em nosso continente, com a divulgação de que aqueles que se achavam a postos em Thule do Sul eram militares, e ponto final. Uma forma de insinuação de que seriam não técnicos em assuntos de meteorologia e/ou hidrográficos – a quase totalidade viera da Marinha, um da Força Aérea, nenhum do Exército, e sim uma parcela recuada do efetivo que estivera subordinado ao general Menéndez, como o grosso da tropa, sem outra missão que não fosse defender palmo a palmo das forças colonialistas aquelas ilhas enquanto em poder dos argentinos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Igual técnica funcionou de modo a atribuir a fontes militares de Buenos Aires e com o intuito óbvio, não de comprometer o reino de Elizabeth mas de expor ao ridículo uma república sul-americana, versões como a de que os ingleses que tomaram as Sandwich do Sul, desembarcando em Morell, o fizeram atirando nos argentinos em serviço nessa ilha, quando o comunicado emitido dia 20 pelo Estado-Maior conjunto indicava que vinte minutos após terem sobrevoado a estação “helicópteros britânicos iniciaram um ataque com metralhadoras”, sem especificar alvos. Dava, contudo, a entender que o ataque, como não poderia deixar de ser, fora para intimidar. Sem que impusesse o sacrifício de vidas humanas, para evacuar o local – espécie de capital do terceiro arquipélago (re)conquistado para uma Coroa distante 15 mil Km do teatro de operações do Atlântico Sul e reproclamado Departamento das Ilhas Falklands, como as Geórgias, pela sra. Thatcher.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Tecnicamente e a nível já de terrorismo, a guerra prosseguiu, com a retenção de oficiais argentinos na virtual condição de reféns, objetivando em princípio algo mais que uma suspensão de hostilidades. Acrescente-se a capitulação da Argentina na batalha diplomática pela soberania sobre as <span style=""> </span>Ilhas Malvinas (Saint Malo, nome original das ilhas, dado por marinheiros franceses séculos antes de os ingleses<span style=""> </span>velejarem por lá), há muitos anos ferindo-se no marco das Nações Unidas e tão ou mais desleal que a que sepultou jovens dos dois lados em águas e terras atlânticas, é dizer, das antigas Províncias Unidas do rio da Prata. Como não estava sendo fácil alimentar algumas centenas <span style=""> </span>de prisioneiros, tanto mais por serem eles oficiais, a briosa Inglaterra, com milhões de desempregados como o plebeu que foi dar com os costados nos aposentos da Rainha, teve o seu repente de lucicez ao libertar os reféns para que comessem em casa – às custas de uma república mergulhada na pior crise de sua história, porém auto-suficiente em grãos, carne e petróleo, ao contrário do reino de Elizabeth, cuja auto-suficiência resume-se nas libras da burra de seus banqueiros.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Nem ao governo brasileiro os artífices da desinformação pouparam.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Desinformação é...<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Entende-se por ato de copidescar (de copy desk) textos à mão – a.i, ao tempo da máquina de escrever, da linotipo e, bem atrás, <span style=""> </span>das caixas de tipógrafo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Em nota distribuída pelo Itamaraty dois dias após a rendição de facto e formal argentina no arquipélago conflagrado e que, pelos termos claros, precisos e incisivos, dispensava o copy, tanto mais por encerrar,<span style=""> </span>ou esgotar, a própria notícia, acabou sendo esvaziada, deliberada ou irrefletidamente, por boa parte de nossa imprensa: alguns órgãos, tidos como incondicionalmente voltados para os superiores interesses de nosso país surpreenderam pela parcialidade do material que divulgaram acerca do conflito no Atlântico Sul colocando-se durante todo o seu desdobrar à sombra e do lado da Union Jack, aquela mesma desfraldada por duas vezes em nossa pacata Ilha de Trindade, com a proverbial arrogância que cunhara a idade de ouro da pirataria – o arreio do ‘seahorse’ do Partido Conservador britânico.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">C r o no l o g i a<span style=""> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">1. Em 1767, um ano depois de estabelecer (clandestinamente) Port Egmont no lado ocidental das Malouines, tal como os primeiros exploradores das ilhas em questão, os franceses, as tinham nomeado ao se fixarem na parte oriental, isso em <st1:metricconverter productid="1764, a" st="on">1764, a</st1:metricconverter> Inglaterra, que ameaçava, então, assenhorear-se do arquipélago, é interceptada pela Espanha. Esta, já com os seus direitos reconhecidos pela Corte de Paris sobre o porto fundado por Louis de Boungainville e de quem recebera o nome. Tratava-se de Port Louis, na ilha que os espanhóis denominaram Soledad.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">2. Em <st1:metricconverter productid="1771 a" st="on">1771 a</st1:metricconverter> Espanha restitui Port Egmont (suas instalações) aos fundadores desse terminal de comércio e navegação, ante os reclamos de pequena colônia que se formara nos arredores. Passam-se, porém, três anos e, tendo-se convencido de que nem árvore que desse madeira para cachimbo crescia por aqueles fins de mundo, a Inglaterra abandona o lugar, sai de cena. Cai o pano mas não tardou a subir de novo, dessa vez para um longo ato, que se estenderia por 34 anos, com 19 espanhóis sucedendo-se no papel principal, o de governador das Malvinas. Dentro desse período, em <st1:metricconverter productid="1806, a" st="on">1806, a</st1:metricconverter> Inglaterra lança um ataque sobre Buenos Aires, e coube a um francês, Santiago de Liniers, comandar a expulsão da turba invasora. Outros sacos de pipocas estouram na platéia até se organizarem as Províncias Unidas do rio da Prata, que afirmam seus direitos legítimos, provenientes de uma herança espanhola, sobre as Malvinas, com a entrada em cena, em 1820, de uma fragata chamada Heroína. Assim foi que nesse mesmo ano assumia o primeiro governador platense daquelas ilhas: Daniel Jewitt, que já no ano seguinte era substituído por Guilhermo Mason.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">3. Em 31 de dezembro de <st1:metricconverter productid="1831 a" st="on">1831 a</st1:metricconverter> corveta norte-americana Lexington aportava do lado oriental das Malvinas, com bandeira francesa para despistar. O comandante, Silas Ducan, com seus homens, logo depois de render o destacamento local passou a destruir, a incendiar tudo que encontrava pela frente, inclusive residências de civis. Queria a cabeça do argentino Luis Vernett, acusado de fazer o mesmo que os ingleses faziam e oficialmente: pirataria, e que sucedera na década anterior a Pablo Araguati no cargo de governador das ilhas, tendo-se destacado como defensor da preservação dos leões marinhos e de outras espécies ameaçadas por navegadores piratas. Ducan acaba arrastando para sua corveta um punhado de colonos e outro de escravos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;"><st1:metricconverter productid="4. A" st="on">4. A</st1:metricconverter></span><span style="font-size:100%;"> 3 de janeiro de 1833, valendo-se do que os norte-americanos haviam feito<span style=""> </span>lá dois anos atrás, os ingleses tomam de assalto o arquipélago, descem a ‘celeste y blanca’ e destituem José Piñedo, sexto governador das antigas Malouines; Falklands é pura invenção de descobridores daquilo que fora descoberto por Américo Vespucio 186 anos antes da descoberta por John Strong. De parceiros já no ocaso do século XX da direita estadunidense, no governo de Ronald Reagan. Acrescente-se que a Guerra das Malvinas foi declarada em 1982 por Margaret Thatcher, a ‘Dama de Ferro’, da tribuna do parlamento britânico, indignada com a ocupação das ilhas de frente para a Antártida por tropas do tenente-general Leopoldo Galtieri. A inglaterra contou com o apoio logístico dos Estados Unidos e do Chile de Pinochet, além da OTAN, que lhe deu todo o suporte de que necessitava para vencer um país da América Latina que surpreendeu com os seus Exocet, adquiridos na França. Ainda hoje, não têm sido poucos os brasileiros e outros cidadãos da própria América Latina que, por ignorância na interpretação de factos históricos, atribuem ao último dos presidentes a fechar o ciclo ditatorial na Argentina a culpa pela guerra no Atlântico Sul. Começam por ignorar, quem sabe deliberadamente, o dedo, não da CIA mas da TFP (Tradição, Família e Propriedade) no petróleo que motivara o conflito austral de 82. Periódicos argentinos, entre eles o <st1:personname productid="La Nacin" st="on">La Nación</st1:personname>,” publicaram como matéria paga extensos artigos da TFP portenha dirigidos a Galtieri fazendo-lhe ver o “mal supremo” que seria chegar ao comunismo através de uma escalada de valores patrióticos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">5. Em <st1:metricconverter productid="1965, a" st="on">1965, a</st1:metricconverter> Assembléia Geral das Nações Unidas cria o Comitê de Descolonização, alcançando as Falklands/Malvinas; a Grã-Bretanha empina o nariz e, seis anos depois, inicia missões especiais de reconhecimento das riquezas da plataforma marítima do arquipélago, sobre as quais o Foreigh Office procurava, se não guardar certo sigilo, espalhar pelo mundo de comum acordo com a comunidade de informação dos Estados Unidos, que seria leviandade pretender-se extrair petróleo em quantidades, por exemplo, <span style=""> </span>que compensassem investimento de lordes numa cadeia de 12 mil quilômetros quadrados de brejos e rochas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;"><st1:metricconverter productid="6. A" st="on">6. A</st1:metricconverter></span><span style="font-size:100%;"> 2 de abril de <st1:metricconverter productid="1982 a" st="on">1982 a</st1:metricconverter> Argentina resgata as suas Malvinas, não por meio pacífico, visto que por este meio haviam fracassado todas as tentativas de um justo consenso no foro competente, o da ONU, a Inglaterra a brandir sempre o seu poder de veto e de persuasão, além de gestões diplomáticas anteriores a 1965, mas recorrendo às armas, recurso idêntico ao utilizado pelo Reino Unido para tomar,<span style=""> </span>149 anos atrás, as ilhas dos platenses, aquelas que à luz ainda que bruxuleante do Direito Internacional lhes pertenciam. Acrescente-se que o destacamento inglês dito de elite encontrava-se <st1:personname productid="em Port Stanley" st="on">em Port Stanley</st1:personname>, que viria a chamar-se depois Puerto Argentino. Tal destacamento, em relação à superioridade numérica dos portenhos, antes de render-se à evidência cristalina de uma reconquista, abria fogo em nome da Rainha, causando a única baixa do 2 de Abril de que se teve notícia entre os desembarcados, e deixando <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">alguns feridos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">7. E enquanto os ingleses tentavam por todos os meios e modos quebrar a resistência dos argentinos, usando até bombas de fragmentação – guerra suja <st1:personname productid="em Goose Green" st="on">em Goose Green</st1:personname>: aviões anfíbios estadunidenses decolavam do nosso Amazonas carregados de ouro e outros minérios desviados das minas exploradas pela Companhia Paranapanema. A denúncia partiu da Câmara Municipal de novoAirão e teve grande repercussão, à época, na Amazônia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;"><o:p> </o:p></span></p> <span style="font-size:100%;">
<br /></span>
<br />Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-41397789351006219292010-08-19T17:21:00.000-07:002010-08-19T17:26:40.804-07:00Fantasia do terror: a nova ideologia<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5XBttMF-2qkP9K_GpptqDIpYGuWSJXWoAQP75WVvbKYb_4SJMnZj_c84nvl9snH5x4GzT6AW6jXFa-JIkxab8Nl8c9-rYXWZQ5W53BjwI9WKlQeZYe0ERh26-appJfNoQZ2VESD49ffw/s1600/480px-Rumsfeld1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5507281308143848626" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5XBttMF-2qkP9K_GpptqDIpYGuWSJXWoAQP75WVvbKYb_4SJMnZj_c84nvl9snH5x4GzT6AW6jXFa-JIkxab8Nl8c9-rYXWZQ5W53BjwI9WKlQeZYe0ERh26-appJfNoQZ2VESD49ffw/s400/480px-Rumsfeld1.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Donald Rumsfeld, ex-Secretário de Defesa, inclusive contra a gripe das aves e a suína</span></div><p align="justify"><span style="font-size:78%;"><span style="font-size:130%;">Sete anos após o presidente George W. Bush lançar o seu ultimato a Saddam Hussein para abandonar terras islâmicas, e de ter uma conversa reservada com Deus, de quem ouviu, o presidente contava depois – ‘George, entre com suas tropas em marcha batida no Iraque! (Foi o que informou a BBC de Londres na ocasião) – Estados Unidos e Reino Unido, carne e unha, iniciaram sua ofensiva com mísseis, acompanhados em telinhas de cinema-verdade instaladas no QG atapetado de veludo das operações por controle remoto, e despejados sobre Bagdá. Já no dia 1° de abril (2003) Bush declarava cumprida a missão que lhe reservara, só podia ser, não Deus mas o arrais da Barca do Inferno, auto de 1516 do dramaturgo português Gil Vicente!<br />Anos 80, uma das estrelas do firmamento estadunidense, numa época de vendaval na Casa Branca e seus serviços de Inteligência, Donald Humsfeld, que viria a ocupar de 2001 a 2006 o cargo de secretário de Defesa, se incumbia de traçar as linhas mestras do que se conhece hoje por “projeto para um novo século”. Como já devem saber, por outro artigo, em espanhol, deste meu blog, A História no Jornal), não se tratava de outra coisa senão de derrubada do World Trade Center: um projeto de logística destinado a provocar comoção planetária, se assim se pode defini-lo de acordo com a régua e o compasso de estrategistas do “massacre de Halloween”, uma fantasia de terror em baile de gala a que não falta, para aliviar tensões, passos a la Michael Jackson. Pelo olhar sereno da História, a chamada ‘guerra fria’ não se acabara sob o foco dos escombros produzidos do World Trade Center. E as festas de Halloween, a julgar pelas transcrições de atas das reuniões a portas fechadas das comissões técnicas do parlamento, em especial a da Igreja: a mais ativa na medida em que espocavam os escândalos, ironicamente expressavam “a raiva de todos os contribuintes norte-americanos” contra o statu quo. A fantasia do terror foi mencionada no Congresso, em memorando a respeito de escândalos como Watergate e Koreagate, da prática de operações encobertas referentes a assassinatos, inclusive o de Omar Torrijos, no Panamá, morto em ‘acidente aéreo’ intencional, de líderes estrangeiros, lá pelo ano de 1975, tudo isso refletindo-se acintosamente na face de um parlamento em que Jack Murtha Jr. era uma dessas raras figuras a se levantarem contra a política de tempos tão conturbados e libidinosos, sem olvidar-se o caso da estagiária a desabotoar as calças de um presidente em seu gabinete. Além do mais, sem que precisassem consultar o Decameron. E Jack Murtha, falecido agora em fevereiro de 2010, era do Partido Democrata, representava 12 parlamentares da Pennsylvania, tendo sido reeleito sucessivamente a cada dois anos, a partir de 1974. Uma figura, pois, de respeito para os americanos e invejável prestígio.<br />Em 13 de dezembro de 2003 o Exército americano descobre Saddam, escondido num grotão próximo a Tilkrit, capital da província de Sallad Ad-Din, impondo-lhe estranha e humilhante rendição, não de vencido numa guerra, que não houve, posto que o Iraque não tinha mais como oferecer-lhe resistência, uma vez ocupado por adversários naturais do regime husseiniano,<br />e sim de uma só força bélica, a estadunidense, com o apoio do reino de Elizabeth II com os seus gurkas (africanos experts em decapitação, levados, entre outras guerras, à das Malvinas; mas não confundir gurka com burka, que é o véu usual entre mulheres islâmicas).<br />Em 30 de dezembro de 2006, os Estados Unidos da América levam o estadista árabe ao patíbulo dentro de seu próprio país, o Iraque. Saddam Hussein entrega-se de cabeça erguida a seus algozes. Anos 80, aos 69 anos cai ele, enforcado, no catafalso, o semblante aparentemente tranqüilo, os olhos desvendados, após haver balbuciado uma oração. Que só Deus ouviria.<br />Em junho de 2004 o governo interino de Alauí se alça ao poder no Iraque e, decorridos seis meses, realizavam-se eleições, seguindo-se a aprovação ad referendum, em 15 de outubro de 2005, de nova Constituição, que viria substituir a deixada por Saddam. Em dezembro do mesmo ano são convocadas novas eleições legislativas e em maio de 2006 Chii nuri al Malik compõe seu governo.<br />Quanto a George W. Bush, o arrais da Barca do Inferno deve estar a esperá-lo...<br />E vale refletir em que George W.Bush, depois de tudo que fizera, não pôde resistir aos impulsos de um ‘mea culpa’ que deve ter calado fundo em suas entranhas. As fotos de Abu Ghraib, que correram mundo através da imprensa e da Internet, especialmente pelas mãos de milhões de internautas, ficaram como um triste legado para futuras reflexões sobre até que ponto chega a baixeza de uma correlação de forças do mal. Permanecem as palavras de Abdel-Bari Atwan, à época, editor do jornal, rodado em Londres, Al-Quds al-Arabi em entrevista ao canal de tevê Al Jazeera: “A opinião pública árabe se pergunta quem deve ser julgado e justiçado: Saddam Hussein, que preservou a unidade do Iraque, sua identidade árabe e muçulmana e a coexistência de comunidades étnicas como a dos xiitas e a dos sunitas ou aqueles que mergulharam o país numa sangrenta guerra civil!”.<br />Saddam já havia sido executado, sem que nenhum dos juízes aprovados por Washington o impedisse – dois outros acolhiam o voto dos advogados de defesa e estes acabaram sendo eliminados – quando Bush surpreende olhando-se no espelho. Simplesmente, se dá conta de que Saddam Hussein caíra numa armadilha, montada não se sabe por quem, se pelo próprio Bush ou por Humsfeld, que falava e, às vezes, também agia pelo presidente. De todo modo, Bush desabafa ou finge desabafar, já com Saddam no estrado da morte. Diz ter sido ele assassinado, por vingança, o que não foi bem digerido pelos guardiães do petróleo árabe. </span></p><div align="center"><br /></div></span><div align="center"></div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-79911202078815420652010-08-09T13:42:00.000-07:002010-08-09T13:44:21.239-07:00Bloqueio até a Bangladesh<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLHwXsDrazBqWCZ63Q_cQT7Y0x-uxWcXWZR6qdr9T_n9c_qRfP50UakxgRUzrwMVJijDCBZpZi3E_xDWwl7wOJiMEJYaGM8hyphenhyphenULkzU_Pp9d2GdEFKx62xhQyZPLF1_I-_ldvgSRxbLpsA/s1600/Stalingrado.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5503513371423559474" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 170px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLHwXsDrazBqWCZ63Q_cQT7Y0x-uxWcXWZR6qdr9T_n9c_qRfP50UakxgRUzrwMVJijDCBZpZi3E_xDWwl7wOJiMEJYaGM8hyphenhyphenULkzU_Pp9d2GdEFKx62xhQyZPLF1_I-_ldvgSRxbLpsA/s400/Stalingrado.jpg" border="0" /></a> <strong><span style="font-size:85%;"> Batalha de Stalingrado – marco da Vitória soviética sobre as linhas alemãs</span></strong><br /><br /><br /><div align="justify">Mal deram fim à União Soviética e os sobreviventes das cinzas daquele gigante asiático logo cuidaram de separar os seus ossos para a formação de novos países, o que, por sinal, já era esperado face à iminência da Guerra Fria. Deve-se reconhecer que o que houve antes da Guerra Fria foram dois conflitos com um mesmo inimigo: o Eixo, este constituído pela Alemanha Nazista, o Império do Japão e a Itália de Mussoline. Em suma, a ll Guerra Mundial, ou Grande Guerra, se dividira em dois blocos distintos: as Forças Aliadas, capitaneadas pelos Estados Unidos da América, e as Forças Patrióticas, da União Soviética, assim designadas por Moscou e que foram as primeiras a pisar solo alemão cumprindo-se, desta maneira, a troca de bandeira no alto do imponente edifício do Reichstag, ou seja, descia a bandeira Nazi e subia a da URSS.<br />Os americanos não se deram por vencidos nessa inusitada corrida dir-se-ia ao “pau de sebo” do Palácio do Reishstag... Fizeram foi lançar-se febrilmente à produção de toneladas de fitas cinematográficas mostrando ardilosamente terem sido eles e não os russos os vencedores da II Guerra Mundial. Quem dos anos 40\50, por aí, não se lembra de pretensos filmes heróicos de mocinhos que, nos telões, sempre ganhavam no corpo-a-corpo, inclusive, ou principalmente, dos nipônicos! Isto, sem recuar-se ao tempo das diligências, dos faroestes, dos revólveres fumegantes - indígenas derrubados de seus cavalos a trotes da civilização como para reproduzir a conquista do Oeste, séculos adiante, nas Olimpíadas de Los Angeles. A única exceção neste imbróglio, pelo que se depreende dos factos de um breve período de relax, foi Canção da Rússia, com o americano Robert Taylor contracenando com uma soviética, a selar, para Winston Churchill ver, uma política de boa vizinhança entre as duas superpotências. Enfim, a Paz, pensava-se. A Paz, entanto, pelo que nos pareceu, não chega a durar metade das projeções de Canção da Rússia.<br />O senador republicano Joseph McCarthy empoleira-se à tribuna do parlamento americano e seu nome se estende a macarthysmo, o mais negro ou um dos mais negros períodos da História dos Estados Unidos. Quando atores e atrizes de cinema, televisão, rádio, artistas de modo geral, incluindo-se novelistas, todos acusados de ligações com o comunismo internacional, em destaque a dramaturga judia Lillian Hellman, que não teve medo de McCarthy, enfrentando-o de peito aberto. E Taylor, ao contrário, praticamente se penitenciava de ter sido o galã de Canção da Rússia. Fez pior: passou a dedurar meio mundo em Hollywood. Como paga, McCarthy o libera.<br />Começara a Guerra Fria, com o casal de judeus Ethel e Julius Rosenberg, ambos cientistas americanos, que acusados, sem provas, de vazar segredos atômicos dos Estados Unidos para a União Soviética, são sumariamente executados na cadeira elétrica de Sing Sing, malgrado os pedidos de clemência que chegavam de todos os lados à Casa Branca.<br />À Guerra Fria seguiu-se uma seqüência de acontecimentos puxados pelo episódio oficialmente mal contado da derrubada do Word Trade Center, bastando o depoimento do porteiro da Torre Norte do WTC (não levado a termo por razões óbvias) em que afirmava ter ouvido explosões de dinamite no complexo de edifícios, como outras pessoas também disseram ter ouvido, mas logo forçadas a calar-se - para se chegar aos criminosos: altas patentes militares do Governo Bush.<br />O simples chamuscamento do Pentágono, com o sacrifício de uma legião de imigrantes, legais e ilegais: os hispanos, que incluem tanto cidadãos de língua espanhola como, ainda, de língua portuguesa, e que formavam a maioria, pelo que se sabe, daqueles que trabalhavam ou transitavam diariamente dentro do World Trade Center. As duas variáveis se traduziam no arquétipo do “Projeto para um novo Século”, matriz estratégica de futuras ações militares dos Governos Bush, pai e filho. Tal projeto consistia basicamente em provocar dentro dos próprios Estados Unidos uma tragédia de tal magnitude que pudesse sensibilizar a opinião pública mundial, em especial das nações com o pires na mão, girando qual borboletas em redor da luz.<br />A autoria, pois, da tragédia acaba sendo lançada aos ombros do “terrorismo islâmico”, que pela agenda da Casa Branca sucedia à figura pleonástica de Guerra Fria.<br />(Para maior compreensão do Projeto para um novo Século, recomendo a leitura em A História no Jornal, de outro texto meu, originalmente redigido em espanhol, por título El 11-S y sus raíces, dividido em 5 partes).<br /> ***<br />Outras ocorrências no mundo, como a chuva de mísseis sobre Bagdá, varrendo grande parte da própria história da Humanidade, e o covarde enforcamento de Sadam Hussein, entre outros crimes brutais do Império americano, deram continuidade ao Projeto de um novo Século.<br /> O que virá agora? Mais derramamento de óleo de um petroleiro no Golfo do México, a espraiar-se sobre a flora e a fauna de uma região embora ligada não por laços afetivos aos Estados Unidos, único país do mundo a negar colaboração com outras potências para a saúde do universo!? Assiste-se a um levante da Natureza contra a mortandade de peixes, o fogo a crepitar nas matas em verdadeira devastação florestal à conta dos abates desenfreados para o mercado aberto de madeira; agora, até na Rússia made in USA, uma vez desmembrada a antiga União Soviética pelo capitalismo internacional e sem nenhum critério de proporcionalidade territorial e demográfica em relação às nações emancipadas. Em Gaza, que é uma mancha no Oriente Médio, vivem pouco mais de 1 milhão e meio de palestinos, dos quais cerca de 1 milhão são refugiados. Devido ao bloqueio imposto por Israel à faixa de Gaza, lá não entram alimentos, material de construção e nem combustível. Israel endureceu o bloqueio de víveres a partir do seqüestro de um de seus soldados pelo exército de Hamás. <br />E Bangladesh? Em pele e osso, ainda.</div><br /></div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-60343751449605384112010-07-24T17:45:00.000-07:002010-07-24T17:50:48.280-07:00Os camaleões do "trust"<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgEGjS3Chf3lTDSpbVW-M85x4btwYCeT_cFOdE3tTv0C888llAF_b2zoIu9VkLuAhzx-B4ApPrVDead7zj3P0Uk86m3oSLwsIq018BiP85Zt1Y4imdn9OiJ9LjTpnBWZ8vdFRI0zvlkwo/s1600/Imagem+002.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5497638762389023778" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 382px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgEGjS3Chf3lTDSpbVW-M85x4btwYCeT_cFOdE3tTv0C888llAF_b2zoIu9VkLuAhzx-B4ApPrVDead7zj3P0Uk86m3oSLwsIq018BiP85Zt1Y4imdn9OiJ9LjTpnBWZ8vdFRI0zvlkwo/s400/Imagem+002.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Os camaleões do ‘trust’<br /></span><br />Aqueles que pensam que serviço de espionagem é privilégio de um James Bomd dentro e fora das telas cinematográficas, quer dizer o do cinema, – ao parecer, já aposentado engana-se Tirante o James Bond com sua bengala de fazer mágica debaixo de uma lona de circo, tivemos muito atrás, na I Guerra Mundial, a holandesa Mata Hari, cujo nome verdadeiro era Margaretha Geertruida Macleod, capturada pelos alemães em princípios do século XX. Alinha-se, entanto, como a central de inteligência mais profícua a soviética KGB, hoje aos cuidados de Putin, com os já célebres mísseis, por via das dúvidas, apontados para o Ocidente, e seguindo-se a tão orquestrada Central de Inteligência dos Estados Unidos da América, a CIA.<br />E sabiam que na Cidade Maravilhosa, anos antes da mudança da capital para o cerrado do Planalto Central, já funcionou um serviço se bem que menos de espionagem do que de contra-espionagem? E o inusitado é que esse serviço operava 100% diuturnamente em defesa dos interesses brasileiros. Outra curiosidade é que ele se achava instalado praticamente dentro da Embaixada Americana!<br />O chefe desse serviço era um grande e corajoso jornalista, sisudo, de poucas palavras, um dos editores de A Noite, prestigioso órgão da imprensa brasileira que fazia parte das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União. O jornalista, impecável em seus ternos feitos, tudo indicava, sob medida, alto, sapatos luzindo, a olhar sobranceiro por cima dos ombros de quem estivessse à sua frente, chamava a atenção pelo seu porte de militar em desfile pela data nacional da Independência americana. Um tipo escrito de gringo típico de Washington. Falava a língua inglesa com muita fluidez e seguia uma rotina no edifício de A Noite: apanhava um exemplar na mesa do contínuo, que o guardava para ele, e se dirigia ao elevador, descendo no piso da Rádio Nacional, onde normalmente ficava não mais que meia hora. Às vezes, entretanto, esticava um pouco mais, para uma troca de tapinhas com Heron Domingues, que fazia o Repórter Esso na Nacional sem que tivesse qualquer ligação com o “trust” do petróleo. (Tanto assim era que a morte do presidente Vargas foi muito sentida por Heron, a ponto do famoso locutor, que a noticiara com a voz trêmula de emoção, dias depois sofria um infarto fulminante).<br />E em dependências da Embaixada Americana o personagem misterioso passara meses a reproduzir o material que lhe interessava para compor um dossiê completo sobre as atividades escusas da Shell no Brasil. Tratava-se, portanto, daquilo que se conhece por contra-espionagem.<br />“E não usa chapéu”, uma vez, pensei com estranheza e certa desconfiança. “Nem cachimbo inclinado como o de Sherlock Holmes...” Era isso! Um detetive, pode ser. Daqueles a esvoaçarem pelas brumas de uma Londres com seus pesados capotes.<br />O tipo era mesmo de detetive, investigador, algo assim. Muito embora o nome dele, verdadeiro, pudesse ser o de algum personagem que Conan Doyle houvesse esquecido numa gaveta do seu escritório ou tendo-se já esgotado sua passagem genealógica pelo mundo.<br />Epitácio Caó, o jornalista investigativo (como se o definiria hoje) nome de personagem ou de escritor de ficção policial, viu o trust por dentro.<br />As artimanhas da Shell chegaram através dele em forma de libelo ao Congresso Nacional - como uma bomba. E logo se constituiu naquele poder uma Comissão Parlamentar de Inquérito a fim de apurar as gravíssimas denúncias de Caó, muito bem fundamentadas, documentadas, irretocáveis.<br />Com o selo de Panfleto, uma revista e editora de esquerda, quando Vargas já havia dado o seu tiro no peito - para evitar que o Brasil fosse envolvido pelos tentáculos do imperialismo, publicava-se sob grande expectativa o livro-bomba de Epitácio Caó, provocando a instalação de uma CPI no Congresso, e que logo nas primeiras linhas o Autor o justificava:<br />‘Aos que não me conhecem e aos que desavisadamente lerem este trabalho devo uma explicação sobre minha atitude em relação ao “trust” do petróleo.<br />É que, tendo eu trabalhado para os dois maiores grupos - Esso e Shell – neste último durante quase sete anos, e tendo me afastado de ambos, poderia ser mal interpretado o meu gesto’.<br />Enfatiza que “a verdade pura e simples, porém, é que nunca pensei em fazer carreira no ‘trust’. E que logo nos primeiros instantes sentiu que ‘todo aquele ambiente se chocava com os meus ideais de brasileiro, embora não deixasse de ser um interessante campo de estudo e observação para um repórter. Acrescentando: ‘À proporção que me aproximava, então, cada vez mais, dos elementos de primeira grandeza da administração do “trust”, conhecendo seu caráter, sua mentalidade e sua conduta, pela natureza de minhas funções, maior era o meu sentimento de brasilidade”. Caó afirma ter entrado para o ‘trust’ já se preparando para dele sair. E que a prova disto são fatos e documentos deste seu livro, que datam mais ou menos do seu ingresso no ‘trust’.<br />“Eu vi o ‘trust’ por dentro”, título do livro, saiu três anos após a morte de Getúlio Vargas e em meio à tramitação da CPI do petróleo instituída no Congresso para apurar a denúncia das atividades sorrateiras da Shell e da Esso em nosso país.<br />Epitácio Caó trabalhava na Shell como um dos redatores da revista deste ‘trust’ – por sinal, palavra proibida em sua Redação. Preocupava-se o ‘trust’ em ser simpático à classe militar brasileira. Na legenda de uma foto da revista, lê-se que “as classes armadas são o esteio de toda a estabilidade política do país”. E que, “por isso, é preciso penetrar nelas, e um dos meios excelentes para tal fim são os aparentemente inofensivos ‘house magazines’; a legenda, então, mostra, a reprodução de capas das duas revistas com motivos militares, ou seja: Batalhão de Guardas e Polícias Militares.<br />Nosso personagem dir-se-ia ‘sherlockeano’ fala no sacrifício de heróis de uma batalha que, no Brasil, impulsou Vargas à renúncia à própria vida como um passo decidido rumo a uma verdadeira independência econômica nacional. Sem deixar de rememorar episódios da Guerra Fria – “incentivada desde que o petróleo deixou de ser assunto proibido. Sim, porque houve época em que a tranqüilidade dos ‘trusts’ era absoluta, pois ninguém poderia falar sobre petróleo sem arriscar-se a ir para a cadeia”...<br />O grupo Shell em nada difere da Esso, segundo o Autor, “quanto ao seu extraordinário interesse pela conquista do petróleo brasileiro, empenhando-se a fundo por consegui-lo, embora usando de outras armas e artimanhas’... Comenta que “quando se fala em ‘trust’ do petróleo e se lhe procura combater a ação quem aparece sempre em foco é a Standart (Esso), enquanto a Shell permanece esquecida, como se estivesse alheia à situação, apenas vivamente empenhada em contribuir para o desenvolvimento de nosso país, fornecendo-lhe os derivados do petróleo de que este tanto necessita... “E este curioso fato é muito comentado nas altas esferas da administração da Shell, como sendo uma das grandes vitórias dos seus métodos de ação em nosso país, rigorosamente como convém ao estilo frio e calculado de toda espécie de capitalismo ‘colonizador’ inglês”.<br />A fim de saber-se em que deu aquela CPI, o caminho natural seria uma consulta aos Anais do Congresso, se é que ainda existam lá transcrições plenárias sobre um assunto que manteve de pé os parlamentares da época em que encostaram à parede, ou pensaram haver encostado, os camaleões do ‘trust’. Desconhece-se, porém, se entre aquela época e a atual, em face do interregno imposto pelo ciclo ditatorial recente, algum parlamentar tenha ao menos pensado em revolver o que se passou pela tribuna e nos gabinetes da Casa.<br />Outro aspecto da infiltração do ‘trust’ na vida social do brasileiro refere-se, pelo que nos passa o Autor, a uma aparente disputa de liderança entre a Esso e o ‘trust’ anglo-holandês, isto é, a Shell. Conta que sob o “pomposo rótulo de ‘Filmoteca Cultural Shell’, o ‘trust’, que não gosta da palavra ‘nacional’ organizou um serviço de exibição de filmes a domicílio - leia-se estabelecimentos de ensino, quartéis, departamentos do governo, etc – que dispõe de uma centena de películas, com várias cópias, 90% das quais tecnicamente produzidas para levar ao espectador da maneira mais sutil e inteligente a mensagem de propaganda do ‘trust’.<br />Ocupa-se também o Autor da discriminação racial que havia nos escritórios da Shell e da Esso, não sendo admitidos funcionários que não fossem brancos, “embora nas páginas dos variados ‘staff magazines’, isto é, nas publicações destinadas aos empregados daquelas companhias estrangeiras de petróleo aparecessem constantemente “fotografias de negros”. (Vale considerar tais observações de Epitácio Caó de quando estava escrevendo o seu livro).<br />O livro vem prefaciado, provavelmente, pela ininteligibilidade parcial da assinatura (lê-se claramente abaixo do prefácio, a finalizar os caracteres iniciais, o nome Vargas, e levando-se em conta o talhe de letras e o estilo de redação), por Alzira Vargas.<br />Alzira Vargas, autora de “Getúlio Vargas, Meu Pai”, no prefácio de “Eu vi o ‘trust’ por dentro” recomendava a leitura deste livro como um ato de brasilidade. Sublinhava tratar-se de “um libelo realmente sério e honesto”. Referindo-se ao Autor como um “moço intrépido e destemido que decidiu correr os riscos de dizer a verdade, somente a verdade, denunciando, documentadamente, a sabotagem contra o Brasil promovida pelos senhores do monopólio mundial de combustíveis líquidos (...). E que ele estava “ante uma atraente oportunidade para localizar um dos ângulos mais expressivos da obra de Getúlio Vargas e de sua luta pela emancipação econômica do país”. Dizia mais: “Meu pai se antecipou a outro qualquer estadista brasileiro na perfeita compreensão do que vale a ideologia do desenvolvimento, isto é, o Nacionalismo, num ‘país subdesenvolvido’ – eufemismo sob o qual se oculta a exploração colonialista”...<br /><br />Em tempo:<br />Nacionalismo e, mesmo, nacional, segundo o Autor de Eu Vi o ‘Trust’ Por Dentro, eram termos rigorosamente proibidos na Redação.<br /><br /><br /><br /><br /><br /></div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-25735803960650354782010-07-19T14:42:00.000-07:002010-07-19T15:32:59.694-07:00A ponte Havana-Madri<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqsda47bcdTwU-q8JqazSXByBDWPDVlJ-gRZwaNgK1C-wtcUCTLFAIRMalYXEsSFtJfJe-pqgmCzZdxdPrI_M0JeKTUPg1qp1Mm_MEnDMo1DRQfO-x2iXka8oNzjm79xIOhOqyKAH5wpI/s1600/mapa-cuba.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5495736093258700994" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 314px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqsda47bcdTwU-q8JqazSXByBDWPDVlJ-gRZwaNgK1C-wtcUCTLFAIRMalYXEsSFtJfJe-pqgmCzZdxdPrI_M0JeKTUPg1qp1Mm_MEnDMo1DRQfO-x2iXka8oNzjm79xIOhOqyKAH5wpI/s400/mapa-cuba.jpg" border="0" /></a><span style="font-size:78%;"> A ponte Havana-Madri</span><br />Os irmãos Castro estão esvaziando de dissidentes os cárceres de La Habana em cumprimento a acordo firmado com a Igreja Católica e o governo de Espanha, pelo qual esses presos políticos seriam postos em liberdade, como, de facto, já o estão sendo, por etapas, a fim de viverem em terra espanhola. Acompanhados de suas mulheres, as Damas de Branco, que experimentaram lampejos de fama durante o breve período em que desfilaram por “calles” de Cuba com cartazes clamando pela luz do dia para seus familiares encarcerados, uns por crimes comuns e outros por atentados à segurança do Estado. Desnecessário acrescentar as ações sediciosas praticadas por antepassados seus na ilha caribenha, sob o guante de Fulgêncio Batista, que se cercara de mafiosos de todos os talantes em redor do pano verde de um cassino que funcionava em um hotel, presentes, às vezes, para fazerem a sua ‘fezinha’, artistas de Hollywood e, inclusive, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill com o seu inapartável charuto – de boa folha.<br />Os cubanos que estão deixando a ilha em vôos oferecidos pelo governo espanhol tiveram suas penas revistas com a interferência do Vaticano, integrando um grupo de 75 opositores ao regime castrista. Alguns chegaram à greve de fome, tendo um deles ido ao extremo de recusar alimentos até morrer por inanição, daí aparecerem nas ruas as chamadas “Damas de Branco”, sem a repercussão que esperavam ter da imprensa.<br />Tudo começou na primavera de 2003, quando a Revolução Cubana vinha se sentindo ameaçada, como de outras vezes, a partir do episódio da fracassada invasão de Cuba através da “Bahia de Los Cochinos’, próximo ao balneário de Playa Girón. Anticastristas aboletados em Miami, armados e treinados do lado oculto do governo norte-americano, se lançaram ao mar àquela época, com os seus botes, e ao tocarem a costa caribenha, em Playa Girón, encontram forte resistência, avassaladora, que ficou na memória de cada cubano orgulhoso de sua Revolução várias vezes objeto de sabotagens por parte da CIA e da Máfia lá instalada desde o governo de Fulgêncio Batista, um escroque agalardoado pelos ianques, que lhe permitiam a exploração de cassinos e da prostituição. Cite-se neste particular o ponto mais popular da época, conhecido como “Calle de las Virtudes”.<br />Em 1º de janeiro de 1959 caía Fulgêncio Batista. Dava-se algo como uma explosão nuclear no mundo ocidental e que se traduzia por Revolução Cubana, acionada por uma tríade de heróis: Fidel Castro, que assumiria o governo com a orientação de seu irmão – Raúl Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos. Toda a imprensa se mobilizou para cobrir o feito histórico. Talvez a maioria dos órgãos de comunicação do Ocidente, porém, olhasse com certo desdém aquele movimento revolucionário, que feria contundentemente uma tradição da qual os Estados Unidos, principalmente, não abririam mão com facilidade: o imperialismo, seguido do neocolonialismo. De todo modo, estavam lançados os dados.<br />Do Rio de Janeiro, quando capital da República, o Diário da Noite, órgão dos Diários e Emissoras Associados, de Assis Chateaubriand, enviava ao Caribe o repórter gaúcho José Silveira mais para observar (puxando a brasa para a sardinha dos interesses ocidentais) o movimento encabeçado por Fidel e Che do que, propriamente, para dar-lhe cobertura, fosse com relativa neutralidade.<br />Umas duas semanas depois voltava José Silveira acompanhado de um repórter fotográfico, trazendo farto material sobre os primeiros novos dias cubanos, tendo-nos ele confidenciado, contudo, no retorno, que se achava impedido de publicá-lo como desejava, por ordem superior mas de fora do jornal. A reportagem, fiel ao que os repórteres testemunharam (já não me lembro quem fez as fotos) saiu, mas tendo-se tirado uns dez exemplares, apenas, como comprovação perante a tesouraria de que fora realizada, acabando por sua publicação normal ser vetada pela alta direção do vespertino da rua Sacadura Cabral e cuja redação ficava alguns andares abaixo de um dos muitos restaurantes do Saps espalhados pelo país - um dos frutos da boa política social de Getúlio Vargas. Pelo menos dois exemplares da edição interrompida a tempo na impressora passaram de mão em mão dentro das oficinas, os gráficos com a primazia da primeira leitura sobre a derrubada de Fulgêncio e seus asseclas. Chateaubriand, ao que parecia, nada tinha que ver com a edição que não chegou a rodar; tampouco Orlando Motta, editor-chefe do DN, jornal que vinha caindo dia a dia, até alguns luminares terem a idéia de argentinilizá-lo no formato, de tablóide, tomando como modelo El Clarín, de Buenos Aires. E trouxeram do pampa portenho um técnico em tablóides para a transformação do Diário da Noite, do Rio. Veio também Alberto Dines, incumbido de executar o projeto, que teoricamente tinha por base a suposição de que o que vendia mesmo jornal eram excelentes colunistas e não o noticiário em si.<br />Fez-se a transformação, baldeando de Ultima Hora para o Diário da Noite A Vida Como Ela É, de Nelson Rodrigues e a nata do colunismo social de outros jornais.<br />O resultado não podia ser pior. O Diário da Noite entra em declínio. Em Ultima Hora, que perdera A Vida Como Ela É, logo se apresentou um de seus redatores com uma coluna similar à de Nelson. E tudo foi se acomodando, sem o menor prejuízo para o noticiário geral. Exceto no Diário da Noite, que acabou amanhecendo, dias depois, com o cadeado na porta. Mania de modernidade...<br />Correm os anos, estamos em outra lua<br />. Reacende-se um movimento, desatado da Flórida e com o fole da Casa Branca, visando ao derruimento da Revolução Cubana.<br />Ao que se sabe e por fontes da dissidência castrista, dois dos presos políticos, agora em liberdade, recusaram o vôo humanitário para a Espanha, preferindo ficar em Cuba. </div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-73885062250149839872009-04-16T09:38:00.000-07:002010-05-22T17:59:58.471-07:00O Fantasma de Fulgencio<div align="justify">O FANTASMA DE FULGENCIO<br /><br />Enquanto se realizava em Córdoba, Argentina, a XXX Cúpula do Mercosul, Mercado Comum do Sul, da qual participaram os presidentes Néstor Kirchner, o anfitrião, Luís Inácio Lula da Silva, do Brasil, Tabaré Vasquez, Uruguai, Nicanor Duarte, Paraguai, Hugo Chávez, Venezuela, Evo Morales, Bolívia, Michelle Bachelet, Chile, e Fidel Castro, pela primeira vez em uma reunião do bloco regional, o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Carlos Gutiérrez, após um encontro em Miami com exilados cubanos mandou o seguinte recado de Washington para Havana:<br />“Os Estados Unidos já se comprometeram a garantir ao povo cubano total controle sobre o seu destino, no processo de transição política de Cuba (referindo-se a quando Fidel Castro não estiver mais no poder). Vamos evitar a intervenção de terceira parte...).<br />O recado não era propriamente para Havana, mas para Caracas. Gutiérrez teria respondido a uma pergunta sobre o que fariam os Estados Unidos no caso de a Venezuela interferir, chegada a hora, na sucessão presidencial de Cuba, em face da aliança, já consolidada, Castro-Chávez.<br />O secretário de Comércio norte-americano quis dizer, obviamente, que havia apenas duas partes competentes para conduzir o processo de sucessão presidencial na ilha caribenha: uma delas, os Estados Unidos; a outra, os anticastristas treinados nos pântanos da Flórida.<br />Pelo menos até alguns anos atrás, John Ellis ‘Jeb’ Bush, governador da Flórida e irmão do presidente George W. Bush, treinava-os por aqueles pântanos para, quando chegasse a hora, empreenderem a tomada de Cuba - reconduzindo, por assim dizer, ao poder o f a n t a s m a do coronel Fulgencio Batista, que em outubro de 1933, a bordo (!) de um cruzador norte-americano fundeado na baía de Havana, empossava-se no cargo de presidente.<br />Isso, a 26 anos da vitória da revolução comandada por Fidel Castro, que logo começava a varrer daquela área do Caribe o paraíso da droga, da jogatina, do trottoir na Calle de las Virtudes, tudo administrado a disparos de metralhadora Thompson por uma máfia de mãos dadas, e terno italiano, com os subterrâneos dos Estados Unidos. O curioso mas não tão estranho como possa parecer é que o coronel Fulgencio Batista, ao tempo em que ainda era sargento-telegrafista, aliara-se ao gangster americano Meyer Lansky, um grau a menos que Lucky Luciano à testa da máfia novaiorquina, ou ítalo-americana, para plantar seu governo em Cuba. E partilhar dos negócios fechados no Hotel Nacional, freqüentado por turistas americanos e europeus, entre os quais celebridades como Frank Sinatra, Ava Gardner, Errol Flynn, Steven Spielberg, outros astros e estrelas de Hollywood; até o estadista britânico Winston Churchill.</div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-26565696261842094252009-04-29T16:48:00.000-07:002010-05-22T17:59:21.754-07:00O dia em que o país quebrou numa entrevista de tevê<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhkRNacohqC1B5xt3CwJkfJYup9PlgAEC3UsJvt4duMDVmuEferUNYaN6XoZdQAcM6cOwLFAvJF8bCClBNhSoYbmaOIDPyFBESV4iHF35qQycW9vPwvhV_UM1GVmOCMgp841rnP1Hi0Ao/s1600-h/bussolas_para_o_brasil2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330265853422059826" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 202px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhkRNacohqC1B5xt3CwJkfJYup9PlgAEC3UsJvt4duMDVmuEferUNYaN6XoZdQAcM6cOwLFAvJF8bCClBNhSoYbmaOIDPyFBESV4iHF35qQycW9vPwvhV_UM1GVmOCMgp841rnP1Hi0Ao/s400/bussolas_para_o_brasil2.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br />O dia em que o país quebrou numa entrevista de tevê*<br />1988. Discutia-se ‘ empresa nacional ‘<br />Já cheio, o entrevistador:<br />- É aquela que está aqui (no Brasil) e pronto!<br /><br />Quem ainda não ouviu falar em possidonio? Uma figura de elenco romano, revivida na forma substantiva, tão supostamente fora de moda que talvez para pouparem naftalina – entre nós, dispensável a esse verbete – Aurélio Buarque de Holanda e sua equipe, distraídos, tenham preferido ignorar.<br />É o pretenso salvador da pátria, aquele que pensa, ou procura fazer incauto pensar, estar solucionando todos os problemas pelas entranhas com épicos cortes nos gastos públicos tipo 650 bilhões de cruzeiros a menos no livro-caixa da União, um dos mais recentes “enxugamentos” na atual administração da 5ª República (1964 ...). A mesma coisa que reduzir a massa de pobres com rajadas típicas de máfia na crença de que isso facilitasse a distribuição da renda nacional.<br />Um “Dorian Gray” que Milton & Rose Friedman tivessem produzido sobre a face de uma tela sul-americana ouvindo James Brown – óculos de cor de burro quando foge – eleitor confesso de George Bush - e que, pela lógica do original de Oscar Wilde, aceitasse o risco de desencantar-se ao impacto de um rombo no retrato: fonte parapictórica da economia de eterna mocidade, ou seja, de paralisação no tempo e no espaço.<br />Espécime de origem canhestra mas que acaba por aprender boas maneiras depois de entrar para a família dos caras-de-pau, reprodutor emérito, já em trânsito com muito garbo pelas veredas de “nuestra America”.<br />A prole, ou clã, em foco ocupa com frequência colunas de jornais e revistas de altas tiragens, e espaço na televisão, no Brasil, na Argentina e outros países do continente, a fim de passar ao público falsos conhecimentos de poderes ou direitos, conforme for o caso, e obrigações de Estado e de empresa privada.<br />Economia de mercado é o fundo do quadro, e as posições radicalizam-se entre estatistas e privatistas, como entendem os argentinos, estando os primeiros em franca e clamorosa desvantagem, por constituírem minoria - não escapando à regra: oprimida. Na Assembléia Nacional Constituinte (de 1988) pontificam os segundos, parte dos quais a se movimentar debaixo do pano e a outra às escâncaras, sem o menor escrúpulo. Assume a concepção de Estado democrático-burguês ou, na melhor hipótese, de ama-de-leite da iniciativa privada.<br />As discussões em Brasília para definição de empresa nacional seriam folhas de outono, ou mera satisfação parlamentar ao distinto eleitorado, a dar-se crédito à antecipação de voto consensual pelo comentarista Paulo Henrique Amorim no jornal-coruja da Rede Globo, nestes termos: “Empresa nacional é aquela que está aqui (no Brasil) e pronto!”.<br />Alguns exemplos num cineminha que não passa na TV Pirata do “Planeta Diário”: General Eletric com a lâmpada e o gênio para trazer o refrigerador, o televisor, a escuta FM (notícia não interessa, comercial... vá lá); enfim, o tão masturbado aparelho de som, isto quando a Philco ou sua coirmã a Philco Amazônia não chega primeiro, e a aspirina da Bayer se o alemão duvidar; Colgate-Palmolive e Gillette do Brasil, com um erro de grafia, no reservado, Johnson & Johnson para a higiene do bebê, a Avon a domicílio para a mamãe sair, sem esquecer o papai; a Ford conduzindo ao posto mais próximo da Shell, da Esso, da Texaco; a Goodyear e Firestone trocam os pneus, cenas no retrovisor da Petrobras; a Coca-Cola a contracenar com a Kibon na paisagem costurada pela Singer, a inglezinha Corrente a tiracolo abastecendo de resto os empinadores de pipas, nação de amanhã... isola! Que cresce à base do pó da Fleischmann Royal. Inclusivemente.<br />(De graça, além da receita do bolo de banana da Royal, as camisinhas distribuídas à farta, não é de hoje, no Nordeste brasileiro para o controle da natalidade, não propriamente da Aids. Lá, de soprar, “que nordestino tem mais é que reproduzir”, já dizia o pau-de-arara Heber Maranhão, um dos engenheiros da Revolução Sandinista, da Nicarágua.<br />Empresas nacionais? Como a Ref. de Milho Brasil, tão norte-americana quanto a IBM e a Xerox? Ou como a Alcan Nordeste – a baiana do Canadá?! Muitos constituintes, brandindo sufrágios de povo brasileiro, acham que o são. E mais: clamam pela privatização sumária da economia nacional. Um passo de “gigante adormecido” nesta direção já foi dado por ato presidencial criando o Conselho da Desestatização.<br />E o sr. Francisco Dornelles, ex-ministro da Fazenda, agora deputado constituinte (71.592 votos), entrevistado na TV Manchete, não se deu por satisfeito em suas premonições. Como assistindo a um apocalipse made in Lincoln Heighis, conhecido centro de venda e consumo de tóxicos encastelado em Washington, nos arredores da Casa Branca, foi textual, referindo-se, é claro, ao Brasil: “O país quebrou. E por que quebrou? Porque se criou um Estado tão grande, um Estado empresário tão gigante que hoje ele opera com déficit ( ...) Eu teria logo eliminado o subsídio do que pudesse, eu teria (sic, pausadamente) pri-va-ti-za-do imediatamente empresas estatais. (...) Eu não acredito hoje em sucesso de qualquer política econômica que não seja baseada em dois pontos: descentralização e desestatização (...) Uma porção de órgãos da União fazendo a mesma coisa! Você (dirigindo-se ao entrevistador e também, naturalmente, ao telespectador) tem que enxugar a máquina da administração direta”. (Com fraldas Johnson?)<br />Mais: “Eu não acredito no sucesso de uma política econômica que insiste em manter um Estado empresário deste tamanho. Hoje (sem revisão do entrevistado) ninguém pode como falar: Vamos manter o Banco do Brasil! Vamos manter aí o... o... a Vasp. E, agora, por que vamos manter a empresa siderúrgica?!”<br />Corta! Não seria o caso?<br /><br />Transcrito do jornal “Tribuna de Imprensa”, do Rio de Janeiro, 4ª pág., edição de 27 de abril de 1988, ao início da votação na Constituinte, de Brasília, do capítulo referente à Ordem Econômica da nova Constituição brasileira. Reproduzido no Correio do Ilac, ano II, nº 9, órgão do Instituto Latino-Americano de Cultura, sob o título original A traição ao Estado. Revisto pelo autor: Fernando Henriques Gonçalves.<br />______________________________________________________________________</div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-55361891802970787782009-05-09T16:31:00.000-07:002010-05-22T17:58:53.570-07:00<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicW8kl10XpDz2H4nQ8U2kHJkDxA1-dehY7Ic4sCaaq5Qfj2B5rpoJ5SBrbBnOzbZL4z6K55xsNQVAJIvOePyW6QAPQyzhtWv8agF3q8ZTjjCAQaky_IOZJQSlBr_Zz5_HpwiGHxUESu60/s1600-h/Jeff_Halper_color.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5333975417887446130" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 266px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicW8kl10XpDz2H4nQ8U2kHJkDxA1-dehY7Ic4sCaaq5Qfj2B5rpoJ5SBrbBnOzbZL4z6K55xsNQVAJIvOePyW6QAPQyzhtWv8agF3q8ZTjjCAQaky_IOZJQSlBr_Zz5_HpwiGHxUESu60/s400/Jeff_Halper_color.jpg" border="0" /></a> Jeff Halper<br /><br />Um muro tão alto e mais largo que o de Berlim<br /><br /><br />Jeff Halper é um israelense igual a muitos outros espalhados pelo mundo, mas que, à diferença daqueles que pegam em armas contra palestinos, sempre à sombra de Washington, que não lhe nega cobertura (embora, às vezes, como agora com Barack Obama na presidência dos Estados Unidos, oposto a George W. Bush, ao menos aparentemente), Halper exsurge como ativista dos mais conceituados, respeitados e sensatos de que se tem notícia no fio de uma sangrenta queda de braços a que se assiste no Oriente Médio ao correr da História.<br />Candidato ao Prêmio Nobel da Paz desde o ano de 2006, diretor do Comitê Israelense contra a Demolição de Casas nos Territórios Palestinos Ocupados, Halper observa que Israel erigiu um “regime repressivo para negar permanentemente aos palestinos a autodeterminação, a cidadania, os direitos humanos e civis fundamentais”. Lembra terem sido construídos uns 250 assentamentos judeus e demolidas em torno de 24 mil casas palestinas, incorporando-se nesse cenário sombrio o bloqueio econômico e a construção de “um muro tão alto como o que havia em Berlim, e cinco vezes mais largo, a confinar a população palestina em 70 enclaves sem conexão entre si”.<br />- Como pode um país soberano viver nessas condições? É a pergunta que ele se faz. Os palestinos – acrescenta – têm sido definidos como um povo que não necessita de um Estado; que pode ser controlado para sempre.<br />Segundo Halper, Gaza foi “um exercício de guerra urbana: uma oportunidade para provar sobre o terreno as novas armas e as táticas de contrainsurgência em ambientes densamente povoados”.<br />Ainda pelas informações do ativista candidato ao Nobel da Paz, 60% das exportações israelenses são de material bélico ou artigos relacionados à Segurança, “mais uma demonstração de que os territórios palestinos ocupados se têm convertido em laboratório de provas do Exército de Israel”.<br />Halper não tergiversa em suas considerações; toca o mérito da questão com a destreza e consciência de um autêntico paladino da justiça. Sem meias palavras:”A lógica econômica e militar do capitalismo global impede uma solução pacífica para o conflito no Oriente Médio (...) Israel amealha réditos políticos e econômicos através das incursões israelenses na Palestina”, afirma Halper, que obteve a cidadania palestina após romper o bloqueio de Gaza, em agosto de 2008.<br />Israel, diz ele, dissimula a ocupação e retrata os palestinos como uma população que resiste a uma “adequada administração”: israelense. “Quando se sublevam contra a ocupação, como fizeram nas Intifadas, as operações militares israelenses são apresentadas sob o guarda-chuva da autodefesa”, diz o ativista e aspirante ao Nobel da Paz.<br />Não é de hoje que Tel-Aviv bombardeia alvos palestinos de tal modo a atingir instalações da ONU, acidentalmente - como procura justificar-se perante o mundo. Mas o facto é que o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, diante das evidências das ofensivas de dezembro de 2008 e janeiro de 2009, não teve dúvidas em responsabilizar Israel pelo sangue derramado na região, deixando um saldo de 1.400 mortos e 5 mil feridos.<br />Informe extraído de um sumário de extenso documento em mãos do secretário geral da ONU dá conta de que as bombas que alcançaram suas instalações destruíram escolas, uma clínica médica e a secretaria de uma agência em Gaza das Nações Unidas, supondo-se que os atiradores tenham usado, inclusive, “fósforo branco” que é condenado por convenção internacional.<br />Por tudo isso, a ONU exigiu de Israel a reparação dos danos que lhe causou e, bem assim, aos palestinos, tendo arbitrado uma indenização no valor de 7,8 milhões de euros, equivalente a 5 milhões de dólares.<br /><br /><em></em></div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-37044526509907159182009-05-22T19:13:00.000-07:002010-05-22T17:58:16.851-07:00Estado palestino, eis a questão<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjasnlOoJ1D86B-8gJuI-HebU2VCOQO0WAFNArZImDLa4fIwNvDY3VB6Tmngf2ICT5InA75_4dPO_PaR2x8lczUmcI_I3X49DO1dxtGToP_tFt-r0qHsWi-STdSn3D-RzRd9goHFl95o6A/s1600-h/familia+palestina.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5338842236639300882" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 302px; CURSOR: hand; HEIGHT: 206px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjasnlOoJ1D86B-8gJuI-HebU2VCOQO0WAFNArZImDLa4fIwNvDY3VB6Tmngf2ICT5InA75_4dPO_PaR2x8lczUmcI_I3X49DO1dxtGToP_tFt-r0qHsWi-STdSn3D-RzRd9goHFl95o6A/s400/familia+palestina.jpg" border="0" /></a><br /><br />Sob a mira da ocupação<br /><br /><br /><br />Até estas horas não se sabe ao certo a que veio o novo presidente dos Estados Unidos que pudesse dar um outro rumo à Humanidade, menos acidentado, sendo ele, ou se presumindo, numa interpretação histórica dos factos, o atual imperador do mundo ocidental. A não ser – o que mais,? – a fim de trocar amabilidades em encontros internacionais e, às vezes, como na V Cúpula das Américas, a “cúpula do calypso” na feliz expressão de um jornalista de Madrid, salpicando-os com pitadas de humor. O presidente do Brasil. Luiz Inácio Lula da Silva, que se tornou conhecido por algumas luas nos bastidores da política transoceânica como “O Cara” ouviu de Barack Obama, como ouviram, também, outros mandatários, enternecedores gestos de amizade. Literalmente, o dizer português (ou inglês) popular: “Quero ser seu amigo”; faltando só, entre nós – brasileiros, o complemento: hein, meu chapa!<br />Barack Obama, seguindo a tradição da diplomacia imperial de Norte América, e a guardar as idéias de seu antecessor, George W. Bush, para pô-las em prática na hora precisa, aterrissara em Porto de Espanha pisando em ovos, mas fazendo-se en passant o anfitrião de “La Cumbre del Calypso”. E logo retribuindo com uma alfinetada em Hugo Chávez, presidente da Venezuela, que acabara de presenteá-lo com a obra maior de Eduardo Galeano, com a bíblia das esquerdas latino-americanas – “As Veias Abertas da América Latina”. Ao ver o livro passar às suas mãos. Barack Obama não perdeu tempo, sentindo-se, naturalmente, espirituoso: “Pensei que fosse um dos livros do Chávez; já ia lhe dar um dos meus”.<br />Faltou quem lhe puxasse o fraque para perguntar-lhe de quais livros era ele autor.<br />Já nas portadas de sua administração, Obama respondia ao caos do governo Bush com medidas chamadas - ao correr da pena - humanitárias; de todo modo, palatáveis, numa dosagem razoável para que merecesse elogios da opinião pública. Medidas voltadas, principalmente, a Guantánamo e outros cárceres políticos semeados mundo afora para manter o neoliberalismo econômico e, por consequência, a armadura hegemônica do Império Americano. Além de ter acenado com flexibilidade nas relações EUA-Cuba sem chegar ao ponto de mudar os planos de Washington para a ilha visando a subjugá-la após atraí-la à órbita do imperialismo.<br />Mas a opinião pública não cai assim tão fácil numa esparrela. Viu o presidente dos Estados Unidos pegar na pena e ordenar a reabertura dos tribunais militares de Bush para julgamento de encarcerados em Guantánamo. Raúl Castro, ao perceber a astúcia de Obama – em quem não se podia confiar – pensara, certamente – preferiu a quietude da discrição a comprometer suas divisas e a própria continuidade da Revolução Cubana.<br />Dias antes, as decisões do novo presidente americano foram, ao contrário das mais recentes, no sentido de se dar divulgação às atrocidades da administração anterior tanto no “território caribenho ocupado” (Guantánamo, pois é), como no Oriente Médio.<br />Um passo adiante, um passo atrás... É como parece andar o novo ocupante da Casa Branca.<br />As cíclicas e conceituais divergências dir-se-ia em família não o impedem de caminhar nem sempre lado a lado com Israel, mas numa só direção: a do interesse mútuo, que acaba traduzindo-se numa mútua dependência. Isto significa que Israel associa, como na questão, em pauta, dos ”territórios ocupados”, um Estado palestino a um presumido crepitar de terrorismo, ao passo que os Estados Unidos de Obama já não veem nisso ameaça alguma ao Império americano-judaico. Pelo menos, é o que pensa, ou deve estar pensando, o sucessor de Bush no limiar de seu governo. E é bom não esquecer que a Agência Central de Inteligência e o Pentágono abrem sombra a qualquer um que se alce à presidência dos Estados Unidos, seja do Partido Republicano, seja do Partido Democrata. (A propósito, cabe aqui a leitura de “Crimes de Guerra do Vietnã”, do filósofo Bertrand Russel).<br />No encontro de maio de 2009, em Washington, do premier israelense Benjamin Netanyahu com o presidente estadunidense, este bateu na tecla de um Estado palestino e considerou imprudência tentar forçar o Irã a desistir de armas nucleares. Netanyahu, ainda assediado por fantasmas do terror, continuou discordando da tese defendida por seu par, de um Estado palestino como uma necessidade estratégica para se alcançar a paz no Oriente Médio.<br />Contudo, os apertos de mão entre os dois são sinceros, não há por que duvidar disso. Está-se diante de uma longa trajetória percorrida por ambos os “tarzans” e havendo ainda muito que percorrer. Acrescente-se que a segurança do Estado judeu se acha nas mãos dos Estados Unidos da América. Por isso mesmo, Benjamin Netanyahu não se poupou de dar uma puxadinha de orelha em Barack Obama, alertando-o para a hipótese de um Irã civilizadamente armado, no estilo Século XXI. Apesar de discordar, em tese, de seu colega no equacionamento do separatismo de judeus e palestinos, Obama disse concordar com ele em que “o Irã com armas nucleares é sempre motivo de preocupação, não só para Israel e EUA, senão para toda a comunidade internacional”.<br />O presidente estadunidense, em suma, fez ver a Netanyahu que o melhor caminho para se chegar a um consenso sobre o problema das armas nucleares seria a negociação com o regime de Teerã. E pesa na balança o facto de que 70 por cento, ou mais, dos judeus norte-americanos votaram em Barack Obama.</div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-63615170112026595302009-05-24T14:15:00.000-07:002010-05-22T17:57:51.663-07:00El 11 - S y sus raíces<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhukP6-hLAInmFVQKrXYcWcRWsYgrtVl5uzP16LdsyXcdq4FkauquvC8s7etfimiz80CD-koH-1TbUsVxKZkW7F_TSz6Qh8OGluE0V9pTbGodjYBNzVJdNuXxQaURia2XQ3bLnWo48Q78Y/s1600-h/Drag%C3%A3o.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5340695917632396898" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 277px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhukP6-hLAInmFVQKrXYcWcRWsYgrtVl5uzP16LdsyXcdq4FkauquvC8s7etfimiz80CD-koH-1TbUsVxKZkW7F_TSz6Qh8OGluE0V9pTbGodjYBNzVJdNuXxQaURia2XQ3bLnWo48Q78Y/s400/Drag%C3%A3o.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><br /><br />El 11-S y sus raíces -I<br /><br /><br />En el traspaso de mando de la Fuerza Internacional de Asistencia a la Seguridad, de la OTAN, en Afganistán, de Gran Bretaña para EE UU en febrero de 2007, informóse de que mientras corría el 2006 las muertes por consecuencia de insurrección y contrainsurrección en la tierra de los talibanes sumaron unas 4.000 personas, parte de ellas civiles. En sus nueve meses al frente de la tropa, compuesta de 33.000 hombres, el teniente general David Richards, del ejército británico, dio su testimonio, en otras palabras, de la matanza desenfrenada de insurgentes e inobedientes -o de apacibles ciudadanos- delante del régimen de las botas extranjeras.<br /><br />Ha reconocido que por el tiempo en que la Fuerza de la OTAN estuvo bajo su comando puede presenciar derramamientos de sangre sin precedente desde la invasión estadounidense llevada a cabo en el 2001: el año del 11-S o mejor dicho, por extenso, del derrumbe de las torres gemelas de Estados Unidos.<br /><br />De esto se sigue que comienza, entonces, la caza de supuestos terroristas islámicos en cuyas espaldas pusieron la culpa del estrellón de dos de cuatro aviones Boeing 767 en contra el complejo de edificios del World Trade Center; uno de ellos yendose estrellar junto al Pentágono, sin daño de barras, como dicho sea de paso esperabase. Pongamos que esto haya mismo ocurrido: los arquitectos de una, en principio, fantasiosa demolición del WTC no podrían dejar de incluir en su Proyecto para un nuevo siglo americano¹ la necesidad de al menos chamuscar el corazón de la defensa estadounidense que es el Pentágono, a fin de que el arquetipo de la tragedia pareciera convincente a medio mundo. Y algunos testigos -hasta que los obligaran a callarse- dijeron haber oído explosiones de dinamita en la ocasión, inclusivamente el portero de la torre Norte del World Trade Center, Guillermo Rodríguez, más conocido como William.<br /><br />El escritor y periodista Horacio Garetto (hgaretto@wilnet.com.ar) se ha debruzado en el rompecabezas como, apropiadamente, señaló a las informaciones oficiales respecto al suceso del 11 de Septiembre de 2001 -¡hay quién se lo diga!- con sobrada imaginación. Pero ¿cómo explicar la resurrección, por decirlo así, de cinco de los suicidas del Boeing 767? Son ellos: Abdulazis Alomari, Mohand Alsehehri, Saaed Alghamdi, Salem Alhazmi y Waleed Alsheri, que todavía deben de continuar viviendo en Arabia Saudita, sino que la CIA o alguna otra agencia de servicios secretos de EE UU -por ejemplo la NED, The National Endowment for Democracy (Fundación Nacional por la Democracia), una de las creaciones del gobierno del presidente Ronald Reagan- los tenga hecho desaparecer, una vez cesada su utilidad al sistema stay behind, que se puede traducir por estar detrás u oculto.<br /><br />El 11-S y sus raíces - II<br /><br />El stay behind, según documento divulgado por el Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR), de Chile -bajo su exclusiva responsabilidad- “es una red de agentes ocultos en diferentes países y organizaciones, tales como: prensa, radio, televisión, policía, fuerzas armadas, aparatos de seguridad, partidos políticos, etc”. En Italia, véase en esto documento, se lo conoce como “gladio, en Francia y gran parte de los países de la OTAN (Organización del Tratado del Atlántico Norte) como misión 48, arcoiris y también como rosa de los vientos; en nuestro país (Chile) la versión es conocida como tizona y colada”.<br /><br />Ha recordado que en Bolonia, Italia, “en el año 1980 los agentes de gladio hicieron explotar bombas en estaciones de tren, idénticas a las de Madrid y Londres”: 80 personas han muerto “y se culpó al comunismo internacional y por lo tanto el gobierno debía aplicar mano dura, sin embargo en el juicio los detenidos confesaron ser neo fascistas y contratados por la CIA” (…)<br /><br />En el mismo documento se pregunta a quien benefician las acciones de Al Qaeda y Osama Bin Laden: “¿no es acaso a las transnacionales de armas, las petroleras, las de servicio y las financieras de los Estados Unidos?, o acaso, ¿las acciones no conducen al recrudecimiento de la represión contra los pueblos del mundo?”.<br /><br />De su parte, Horacio Garetto registra el internamiento, noticiado por el diario francés Le Figaro, de Osama Bin Laden en el hospital norteamericano de Dubai, capital de Los Emiratos Arabes Unidos, dos meses y siete días antes del 11-S, para una diálisis de riñon, habiendo sido el tratamiento suministrado por el urólogo canadiense Terry Calloway.<br /><br />En la víspera del 11-S, Bin Laden es nuevamente internado, pero en el hospital militar de Rawalpindi, en Pakistán. Y en el 12 de septiembre de aquel mismo año el secretario de Estado norteamericano Colin Powell empieza conversaciones con el gobierno pakistanés “con vista al arresto y extradición de Bin Laden”, subraya Garetto.<br /><br />¿Quién habría de convenir que el ejército estadounidense desconociera el lugar adonde se encontraba Osama Bin Laden? Y se lo sabía ¿por que los servicios de inteligencia lo dejaron alejarse de sus ojos?<br /><br />El 11-S y sus raíces - III<br /><br />Y¿las cajas negras de los aviones utilizados en el derrumbe del World Trade Center? Hasta hoy, ¡quedaronse desaparecidas como en una paráfrasis al cuento célebre de Perrault, Caperucita Roja, en lo cual se halla basado el soneto antológico de Villaespesa, pudiendose pues decir, a propósito de las cajas negras, que el “lobo malvado” se las comió!<br />No es necesario ahora detenerse en hipótesis como la de que los edificios del WTC, mencionada por Horacio Garetto en su trabajo, hubo sido “diseñados a prueba de impacto de aviones”, por ejemplo, según Hyman Brown, responsable por la administración de aquel gigante architetónico, tras la resurrección de los suicidas del Boeing 767. Esto ya es suficiente para la pulga aterrizar atrás de la oreja…<br /><br />Y ¿que decir de documentos como aquel que Donald Rumsfeld, Dick Cheney y otros ases de la derecha de EE UU redactaron en septiembre del año 2000 sugiriendo “algún evento del tipo Pearl Harbour” que sirviera para “indignar y poner a la opinión pública americana a favor de una agenda de guerra”?<br />1. Para el gobierno norteamericano, sea ello republicano o demócrata, nada es inalcanzable. En su concepto, debe de creer que Dios allase con la moneda de su mercado.<br /><br />Es en todo y por todo oportuno rebuscar en la Historia hechos como lo sucedido por el año 1898, cuando EE UU ha explotado en la Bahía de La Habana, en Cuba, el acorazado Maine con 354 marinos a bordo y lanzado la culpa de esto acto extremamente depreciable a la España a fim de declararle la guerra y de ganarla, como en efecto ha triunfado y así, por debajo del paño, lograba la conquista de Cuba, Puerto Rico, las Filipinas y de la Isla de Guam. En el Archipiélago de Filipinas, los yanquis ya del ocaso del siglo XIX barrían de aquella cultura a la lengua española.<br />En resumen, produjeron con el hundimiento del buque de Mac Kinley el casus belli que juzgaban indispensable a sus asomos de dominación y avasallamiento sin fronteras. A 5 de abril de 1898, el Diario de Avisos de Santa Cruz de Tenerife habia divulgado ser “imposible enterarse de la farsa representada con motivo del informe yanqui relativo a la explosión del Maine, sin embargo dice que no lo hará cuestión de gabinete, pues lo considera como un hecho fortuito. De todas maneras buscará otro pretexto” (…)<br /><br />El 11-S y sus raíces - IV<br /><br />En artículo publicado en la Revista Latina de Comunicación Social (La Laguna, Tenerife, septiembre de 1998, nº 9) Enrique Rodríguez López subraya que “el apasionamiento patriótico se reaviva cuando surgen rumores más o menos confirmados sobre la posible invasión americana de las islas” (…)<br /><br />El encorazado en visita -decíase de cordialidad- a la isla caribeña se vá por los aires, sin la presencia del capitán Charles D.Sigsbee, su comandante, que extrañamente ausentarase de bordo; hallabase en aquel momento cerca de Florida y mientras tanto hubo llegado al puerto a tiempo de comunicarse por telégrafo con el secretario de Marina de su país:<br /><br />“Maine explotó en puerto de La Habana a veintiuna y cuarenta y destruído. Muchos heridos y muchos más muertos. Heridos y ilesos a bordo de buque de guerra español y vapor de la Ward Line”.<br /><br />La prensa amarilla, que en rigor concentrabase en Norteamérica, no lo hizo otra cosa sino perfilarse con el gobierno. William Randolph Hearst, que ya en aquel tiempo poníase al servicio de causas de las cuales pudiese sacar algun provecho sucio, dio la más amplia divulgación a los hechos conformemente al pensamiento, esto és, al arsenal de doctrinas de Washington.<br /><br />Así, el 16 de febrero de 1898, el New York Journal, de Hearst, salió a las calles bramando el siguiente titular: “El barco de guerra Maine partido por la mitad por una artefacto infernal secreto del enemigo”.<br /><br />España ¡el enemigo! En pocas palabras, el periodista Yoel Cordoví Núñez ha trazado con claridad meridiana el retrato de cuerpo entero de Norteamérica al largo de la Bahía habanera: “Al mismo tiempo que se hundía el Maine en aguas caribeñas, emergía un símbolo, bandera de los sueños imperiales prontos a materializarse en suelo cubano”.<br /><br />En efecto, el 21 de abril de 1898 estallaba la guerra que señalaría la materialización jingoísta de estos “sueños imperiales”, de la cual EE UU saldría triunfante merced a la participación, al arrojo de los cubanos que cayeron en el cuento del independentismo. (La geografía política de Cuba en aquello período de indefiniciones se dividia entre independentistas y españolistas).<br /><br />El 11-S y sus raíces - V<br /><br />Documentos y notas -de buena origen- que se há recogido con el propósito de entender sobremanera lo sucedido a las 21: 40 de 15 de febrero de 1898 apuntan a una “maniobra intimidatoria y de provocación hacia España, que se mantenía firme en el rechazo de la propuesta de compra realizada por los Estados Unidos sobre Cuba y Puerto Rico.” (Guerra Hispano-Estadounidense, El hundimiento del Maine -De Wikipedia, la enciclopedia libre).<br /><br />Es muy curioso que la explosión del Maine se hubiera dado prácticamente durante recepción ofrecida a la oficialidad del buque por las autoridades españolas locales. Los españoles creeron en la supuesta cordialidad norteamericana expresa por el presidente William Mc Kinley al explicar la visita del aparatoso barco de guerra a la Bahía de La Habana como “un gesto de amistad” con España.<br /><br />En artículo titulado Conducta bélica estadounidense -debate y controversia (Jubilatas.com), el historiador y analista político Miguel Leal Cruz sostiene que aquella tragedia “fue previamente preparada, probablemente, por personal al servicio de los mismos Estados Unidos, en su desesperado intento de participar en la guerra cubana, a favor de sus muchos intereses en la isla” (…)<br /><br />Pero dirán los más cautelosos que llevar al sacrificio 266 marineros de la propia pátria de Mc Kinley ¿no sería caer en contradicción con todos los preceptos de la lógica?<br /><br />La lógica -pongase el dedo en la herida- de ¿aquel naciente imperio, que se fundaba a precio de traición, de bajeza, del embuste, de indignidad, del llamado “destino manifiesto” o “predestinación divina”? Cargaron la cabeza del pueblo con peroratas de que Norteamérica estaba predestinada a ponerse a caballero sobre todo el planeta. Profanación sin límite de Dios usarlo serviéndose del demonismo para el vuelo ciego de sus impúdicas ambiciones.<br /><br />“Sedientos de tierras” -como habrá dicho el presidente Theodore Roosevelt el 1906 a través de su representante en la III Conferencia Internacional Americana, el secretario de Estado Elihu Root, en la cual el gobierno, que había ocupado Cuba tras la explosión del Maine aún bajo la presidencia de Mc Kinley (asesinado en su segundo mandato), le llega la vez de echar los perros a las naciones de América Española: “¡No se tiene otra salida que no sea la intervención!”.</div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-55660435515379761652009-06-03T22:03:00.000-07:002010-05-22T17:57:23.853-07:00Fidel: OEA abre as portas do Cavalo de Troia<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjckokwEJVBa_-7X_yqOudyyea6PPtIzfKsKgUUn2-b4VO4x2z2oDuadLd2Czhudo-F_OYhLMnZHypzWOktsa0XpGT0oBKFnh1cEF2cgihivokBNeS_t4WsSj3p_72tjPxL10l_4zNk2PM/s1600-h/cavalodetroia.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5343334955632110914" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 290px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjckokwEJVBa_-7X_yqOudyyea6PPtIzfKsKgUUn2-b4VO4x2z2oDuadLd2Czhudo-F_OYhLMnZHypzWOktsa0XpGT0oBKFnh1cEF2cgihivokBNeS_t4WsSj3p_72tjPxL10l_4zNk2PM/s320/cavalodetroia.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br />Fidel: A OEA abre as portas do Cavalo de Troia<br /><br />O Império Americano fracassou de novo, repetindo-se o fiasco na 5ª edição da Cúpula das Américas – realizada em abril deste ano, 2009, em Trinidad e Tobago - na tentativa de dobrar a América Latina em favor de seus interesses. Em pauta, um documento já assinado por 33 países-membros da OEA, Organização dos Estados Americanos, pelo qual chegava-se a um consenso visando à derrogação do impedimento a Cuba de fazer parte da OEA. A ilha de Fidel se acha fora daquela organização desde 1962.<br />A OEA compõe-se de 34 cadeiras. Em uma delas, mal se sentou, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que se esperava fosse acompanhar seus pares numa resolução consensual que reabriria as portas da organização à ilha caribenha, sem que o tivesse feito – sem maiores explicações – pegou o primeiro voo de regresso à Casa Branca.<br />Os ministros de Exterior que participam da XXXIX Assembléia Geral da OEA, à exceção do norte-americano, acordaram por consenso levantar a suspensão a Cuba, mas, para isso, as condições impostas pelos Estados Unidos levariam a Revolução Cubana para as mãos de um Fulgéncio Batista ressurrecto, na visão, principalmente, da Venezuela, Equador, Nicarágua, Bolívia e Brasil, além da própria república de Fidel,os quais têm sido os mais inflexíveis na preservação da soberania e dos valores de La Habana.<br />Ao lado de se irmão e sucessor Raúl Castro, o ex-presidente Fidel Castro disse que “Cuba tem demonstrado que se pode resistir ao bloqueio e avançar em todos os campos e, inclusive, cooperar com outros países. Citou observação feita pelo presidente equatoriano Rafael Correa ao desembarcar em Honduras: “Não é possível que os problemas da região sejam discutidos em Washington, construamos algo próprio, sem países distantes de nossa cultura, de nossos valores”.<br />E o ex-presidente Fidel Castro, agora praticamente na chefia vitalícia de Cuba, principal assessor e conselheiro de Raúl Castro, sublinhou que “a totalidade dos países da América Latina foi vítima, ao longo dos anos, de intervenções e agressões políticas e econômicas. Agora,“a OEA abre as portas do Cavalo de Troia”...</div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-2838985783135635472009-06-21T18:06:00.000-07:002010-05-22T17:56:58.167-07:00Do desembarque na Normandia ao mistério do "mar de lama"<div align="justify"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1TIhonmIM7Uw4soA8dl2AD6dlbcOLADToVJ0d3WxOqzbUFUfMAgnK9ns8gBDRC8c8V-5K10Ahz711_rUYKH98KBG-bipppqI3sTWRokx_OGAcjqIEvdZieZHcfh43lp3Dxi-ucG4GdUc/s1600-h/getulio.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5354098250512029346" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 285px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1TIhonmIM7Uw4soA8dl2AD6dlbcOLADToVJ0d3WxOqzbUFUfMAgnK9ns8gBDRC8c8V-5K10Ahz711_rUYKH98KBG-bipppqI3sTWRokx_OGAcjqIEvdZieZHcfh43lp3Dxi-ucG4GdUc/s320/getulio.JPG" border="0" /></a><br />Bico de pena de J. C. Heitor<br /><br /><br />parte II<br />Lá por 1930 é semeado em partes da Europa o nazismo, pretensiosamente apresentando-se sob a capa de nacional-socialismo no propósito, é de supor, de tornar a suástica algo atraente ou que fosse assimilável a um povo em que a religiosidade sempre fora um traço marcante em suas caminhadas na História. A ideologia nazis se alastra rapidamente, Adolf Hitler, já em cena, se alça ao poder na Alemanha. Tinha-se passado um decênio da celebração do Tratado de Versalhes, terminada a I Guerra Mundial. Por força do Tratado, a Alemanha, derrotada, entrega Alsácia Lorena à França mais outros antigos domínios a vários países, como à Bélgica. O Führer do Terceiro Reich acalenta a miragem de uma “nova ordem” sobre a Europa a fim de mostrar ao mundo, assim imaginava, a “superioridade” germânica.<br />Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha invade a Polônia. A França e a Comunidade das Nações respondem com declarações de guerra. E o jogo principiava... A América a desempenhar o papel de espécie de árbitro de futebol, a salvo de contusões, com o livro-caixa em mãos e o revólver de John Wayne a fumegar no Velho Oeste – derrubando índios aos trotes para deleite de cinéfilos ocidentais.<br />Na América do Sul, no pampa gaúcho, um mestre das cavalgadas que, no mínimo de sua capacidade perceptiva, parecia saber muito mais além de nossa dimensão – ler, por exemplo, bolas de cristal – a estudantada nas ruas aos gritos de ‘guerra! guerra!” nas cercanias do Palácio do Catete, a exigir a presença do Brasil no front Aliado, bem provável que se perguntasse, afinal: “O que podemos ganhar indo a essa guerra senão algumas medalhas?”<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBiHOYAiudcl4BuqzWPdxqPS3W230jlEPa18EkFN-xuq2ZuHeU3u2sNt3ajz0Mc98kv7JkXuqMmoCnKfZ0sJjlRhufsKnZpecTjfNhzarGxvn_P90y_8BxTOCcoRg-pOstOUSp0GSfsHs/s1600-h/um+dia+seremos+n%C3%B3s.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5349952680994995138" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 379px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBiHOYAiudcl4BuqzWPdxqPS3W230jlEPa18EkFN-xuq2ZuHeU3u2sNt3ajz0Mc98kv7JkXuqMmoCnKfZ0sJjlRhufsKnZpecTjfNhzarGxvn_P90y_8BxTOCcoRg-pOstOUSp0GSfsHs/s400/um+dia+seremos+n%C3%B3s.JPG" border="0" /></a><br />Era o presidente Getúlio Dornelles Vargas, preocupado com a indigência do Brasil em indústria pesada, ao tempo em que, abrindo-se um livro escolar, se lia, invariavelmente, como sendo uma de suas principais atividades econômicas, na Velha Província, a do bicho da seda! Foi daí que os nazis, através de emissários devidamente agalardoados, se abalam até Vargas, oferecendo-se para construir sua siderúrgica, em troca de apoio estratégico à Alemanha.<br />Vargas discursa como em um palco na forma de um tabuleiro de jogo de xadrez, ele já um lendário cavaleiro dos pampas de Sudamérica. De sorte que não lhe foi difícil distrair os alemães com alegres noitadas em teatros da Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, às quais não faltaram as mais recém-chegadas mademoiselles de Paris, enquanto os norte-americanos contavam e recontavam os dólares disponíveis para a implantação da siderurgia brasileira, sem que chegassem ao fim das contas...<br />Em Washington, sopram aos ouvidos de Eisenhower o tititicado “namoro” entre Vargas e Hitler, inclusive que a fábrica Krupp, alemã, já se preparava para erguer o que deveria ser a menina-dos-olhos de Vargas.<br />Num estalar de dedos, o governo americano desce em terras brasílicas com todo um aparato industrial-militar e firma o compromisso de erguer a usina de Volta Redonda. Os alemães se retiram, não sem terem deixado a suástica gravada em portas de milhares de casas localizadas em zonas rurais da Velha Província. Na região de Cantagalo, Centro-Norte do Estado do Rio, há muitos anos, veio às mãos do autor deste pequeno ensaio a foto de larga suástica estampada à testa de uma dessas casas, de colonos brasileiros, de uma fazenda nas proximidades da divisa com Minas Gerais. Se bem que a imigração germânica enraizara-se mais para o Sul.<br />E só nas condições ajustadas com o governo americano, cedendo a Base Aérea de Natal, Rio Grande do Norte, às Forças Aliadas, uma vez garantida a construção da siderúrgica, o Brasil declara, finalmente, guerra à Alemanha.<br />Em meio aos bombardeios distantes e às notícias contraditórias provindas do front europeu, estressados por vararem noites em claro ouvindo grilos e esmagando borrachudos a sopapo, os americanos desembarcados em Natal não encontram outro meio de espairecer senão acompanhar os passos do rala-bucho, à época uma dança campestre bem típica do Norte e Nordeste do país. Para eles, tornava-se muito mais fácil designar a dança por uma expressão extra-caserna: “for all”, quer dizer “para todos”. Mas “for all” acaba popularizando-se, em bom português, malgrado a corruptela de origem, como forró.<br />Dos alicerces à “corrida do aço” – parecendo-me acordes de O Guarani de Carlos Gomes -- a Companhia Siderúrgica Nacional, a entrar em operações em 1946 após 5 anos em obras, logo se constituiu em motivo de justo orgulho para o povo brasileiro, durante décadas, até ser lançada à roda de privatizações impulsada nos entreatos dos governos Fernando Collor de Melo e Itamar Franco, dentro do Programa Nacional de Desestatização. Um programa tisnado com o sangue de três baixas de operários siderúrgicos em confronto com guardas de serviço na usina entregue por doação – como se expressava Hélio Fernandes em sua Tribuna da Imprensa -- à iniciativa privada. Fernando Henrique Cardoso emergia ministro da Fazenda. Era o cérebro do desmantelamento das empresas nacionais; seu feito mais notável, ou repulsivo, neste particular foi a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Recorda-se que, ao se despedir do Senado a fim de assumir a presidência da República, Cardoso usou a tribuna para proclamar com a empáfia que lhe era peculiar “o fim da era Vargas”. Em seus delírios neronianos, chegou a maquinar a revogação sumária das Leis Trabalhistas, a pretexto de terem sido elas inspiradas em legislação de Benito Mussolini, aliado do Führer e do imperador Hiroíto. Ora! Seria o caso, então, de vetar-se aos quatro ventos toda a música legada por Wagner à sensibilidade de gregos e troianos...Sabendo-se que esse compositor alemão era o preferido de Adolf.<br />Ruminara também (!) a privatização do Banco do Brasil; seria por funcionar o clube do Bola Preta num sobrado em cima da agência central do banco, se bem que diferindo dela no expediente e com a entrada do lado?<br />Assim como procedera com os alemães e os estadunidenses, levando-os a um tabuleiro diplomático, para forjar o progresso nacional através de Volta Redonda, Getúlio Vargas negocia a derrogação de velhas concessões dadas, antes dele, à Inglaterra para exploração de ricos lençóis de minérios a se estenderem pelo vale do rio Doce. Derrogadas as concessões e, por consequência, restabelecido ao Brasil o direito natural de exploração de imensurável riqueza estratégica, até então em mãos estrangeiras, Vargas assina o decreto de criação da estatal Companhia Vale do Rio Doce, que muitos anos depois viria a sofrer o xeque-mate sobre as cinzas do mítico caudilho do pampa.<br />Os incidentes relacionados às vacilações de Vargas diante do problema das divisões territoriais já então projetadas para o pós-guerra, intuindo o presidente trabalhista que do conflito o Brasil pouco ou nenhum proveito teria, a não ser o cintilar do ardor patriótico, com todo o seu desvelo cívico e engajamento às forças das potências ocidentais que, pelo menos, se diziam democráticas, não o afastaram da convicção do cumprimento do dever de defender o Estado brasileiro e a democracia no mundo.<br />Criou-se a Força Expedicionária Brasileira (FEB) com o dístico “A cobra vai fumar”, vivo motivo de incentivo aos pracinhas. A “cobra’ salta às ruas numa marchinha carnavalesca cujo sabor era o dos morros cariocas: “Olha a cobra fumando, olha a cobra fumando... Olha a cobra, pessoal...!”<br />Vargas e seu inseparável havana no Catete e em sua fazenda no Rio Grande, em Itu, o chimarrão compartilhado numa roda de políticos e campeiros, e mais quem quisesse achegar-se, de cujos beiços, às vezes, deitavam histórias como a da mula-sem-cabeça, nas noites frias do “sur”. De um radinho de pilha escorria, entre uma e outra notícia da guerra, com Alvarenga & Ranchinho e seu violão: “Eu tenho uma mula preta... com sete palmos de altura”...<br />A glória das bombachas e do selim no auto-exílio de Itu, consolidada com o retorno triunfal ao governo da República através das eleições da década de 50, livres e democráticas. Subira ao palanque de campanha de Vargas, a seu lado, dando-lhe ardoroso e petriótico apoio, Luiz Carlos Prestes, por entender o “Cavaleiro da Esperança” que não havia outro candidato capaz de derrotar nas urnas as forças mais reacionárias e retrógadas em ebulição no país. Porém, o mais surpreendente, ou o inusitado, é que Getúlio Vargas, além de eleger-se presidente nessa ocasião, também se elegeu, dir-se-ia com o transbordo de votos, senador da República por várias unidades da Federação. O suficiente para credenciá-lo a levar avante o seu projeto de coroamento de uma luta que incluía todas as forças reconhecidas de esquerda, inclusive algumas de centro, ou de centro-esquerda, nacionalistas. Tratava-se do monopólio estatal do petróleo, em estudo, como base para a criação da Petrobras. Apesar da maioria acachapante de sufrágios obtida por Vargas nessas eleições, tendo derrotado o brigadeiro Eduardo Gomes, seu principal opositor no marco de toda a história eleitoral brasileira, forças externas começaram a pressioná-lo utilizando Carlos Lacerda, político de grande penetração popular, especialmente entre madames, as chamadas mal-amadas, afastado ainda moço dos quadros do Partido Comunista Brasileiro, para que o presidente recuasse de seus propósitos nacionalistas<br />A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial data de agosto de 1942. Em fevereiro de 45, Vargas pede urgência nos prazos para eleições gerais no país. Em 18 de janeiro de 1951, vitorioso nas urnas pelos trâmites democráticos, é proclamado presidente da República. Juntamente com Café Filho na vice-presidência. Mal envia mensagem ao Congresso visando atender ao clamor popular de que “o petróleo é nosso”, tem início a sua via-crucis. Não bastara o empenho do governo anterior, o do presidente Eurico Gaspar Dutra, em abrir alas no parlamento a um Estatuto do Petróleo que, se aprovado, iria permitir a exploração de lençóis petrolíferos nacionais por um oligopólio, o das conhecidas nos círculos diplomáticos e da imprensa especializada como “sete irmãs”, todas, companhias estrangeiras, cinco delas norte-americanas. O projeto desse estatuto não prosperou, no entanto, sendo torpedeado de chapa no Congresso.<br />Ainda em meio à polêmica sobre o estatuto que Dutra quis impor à nação, tendo carreado para o parlamento, na cauda de sua curiosa eleição, a nata, e alguns antônimos, do entreguismo nacional, graças ao apoio dado pelas costas à sua candidatura por Vargas, que se recolhera em Itu a fim de costurar a pretendida volta por cima ao poder, apoio logo transferido a partidos da oposição, a UDN em primeiro plano, a União Nacional dos Estudantes, a UNE, empunha a bandeira da campanha “O Petróleo é nosso”.<br />Formava-se o cerco aos partidários da flexibilização da política do petróleo no Brasil.<br />As forças externas eram poderosíssimas; à frente, a Standard Oil. Mas Vargas não se intimida: submete ao Congresso Nacional projeto de lei instituindo o monopólio estatal da pesquisa, lavra e refino do petróleo extraído de jazidas brasileiras e criando uma companhia 100% nacional para administrá-lo. O texto do velho caudilho agora carregado pelo povo recebe uma chusma de emendas parlamentares, porém só um substitutivo, ironicamente apresentado por um respeitável e vigilante prócer do udenismo, Bilac Pinto, integrante de um grupo parlamentar que desfilava na imprensa como “banda de música da UDN”, é acolhido no Congresso. E de bom grado. Inclusive, ou principalmente, no Catete: O presidente via a contribuição de um udenista do porte de Bilac Pinto como essencial ao aprimoramento e fechamento da proposição, sem que deixasse uma só porta aberta à gula de qualquer das “sete irmãs”.<br /><br />A campanha pela efetiva emancipação do país, orientada do Clube Militar, próximo ao Senado Federal e à Cinelândia, e da Associação Brasileira de Imprensa, ABI, na rua Araújo Porto Alegre, com a decidida participação da UNE, da antiga ABDE, Associação Brasileira de Escritores, e de outras instituições liberais, políticas e ideológicas, ganha as ruas, de pronto, com entusiamo e fervor patriótico.<br />Por essa época, em São Paulo, assediado por um repórter do “Diário da Manhã”, Getúlio Vargas vaticinava que não chegaria ao término do seu mandato. Muitos anos após a morte de Vargas, a sua sobrinha Yara Vargas, já como deputada pelo PDT à Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, lia da tribuna aquela entrevista, que deve estar constando nos Anais do Palácio Tiradentes.<br />Em 3 de outubro de 1945, ele sancionava a famosa Lei 2004. Criava, deste modo, a Petróleo Brasileiro S/A – Petrobrás (à época, levava acento), empresa de propriedade e controle inteiramente nacionais, com participação majoritária da União, para exploração de todas as etapas de nossa indústria petrolífera, exceto a distribuição. Ouve-se pelo rádio, em todos os quadrantes do país, a declaração pausada de Vargas: “Constituída com capital, técnica e trabalho exclusivamente brasileiros, a Petrobras resulta de uma firme política nacionalista no terreno econômico. (...) É, portanto, com satisfação e orgulho que hoje sanciono o texto que, aprovado pelo poder legislativo, constitui novo marco de nossa independência econômica”. O marco anterior expressara-se na criação da Companhia Siderúrgica Nacional, seguindo-se a da Companhia Vale do Rio Doce, garroteada no governo Cardoso.<br />A Standard Oil sentiu-se ferida no seu interesse em explorar o petróleo brasileiro, dando-nos, não raro, a impressão de estar ela e não Vargas à frente do governo. Ccntrapondo a sua política assentada na Constituição da República à exercida sorrateiramente pela Standard Oil, o presidente lança petardos sucessivos, em discursos inflamados, contra o rolo compressor movido pelos aproveitadores internos e externos. Na prática, ele se faz oposição dentro do próprio contexto em que fora eleito. Prega o trabalhismo em último grau. Declara-se socialista. Prepara um governo para os trabalhadores. Num de seus discursos da época, ante a virulência cada vez maior da reação, disse textualmente em tom convocatório, dirigindo-se às classes trabalhadoras: “Amanhã, sereis o governo!”.<br />Acontece Toneleros, rua de Copacabana onde um major da Aeronáutica é morto a tiro, supostamente, no lugar do jornalista Carlos Lacerda, que estava a seu lado; o major Vaz achava-se fora do expediente normal no quartel. Um caso da competência da polícia civil mas que os inimigos do presidente preferiram entregar à justiça militar. Vargas, apesar do cheiro de pólvora de uma cilada que tinham armado para ele e que impregnara o Catete, se diz, ao que lhe parecia, cercado de “um mar de lama”. Este seu desabafo acaba sendo considerado pelos inimigos como importante peça processual capaz de “pendurá-lo”, de deixá-lo (sic) “apodrecer”, como era do desejo declarado de Lacerda, na alcunhada “república do Galeão” Gregório Fortunato, chefe da guarda do Catete, o “anjo negro”, companheiro de infância de Vargas, que o trouxera do Rio Grande, foi logo acusado de mandante do crime de Toneleros. David Nasser, repórter famoso por décadas, sempre escrevendo na revista O Cruzeiro, dos Diários e Emissoras Associados, a principal do país, também autor de um livro titulado Só o Meu Sangue é Alemão, procurou insistentemente tomar o depoimento de Gregório, que, acreditava-se, morreria se abrisse a boca. Pensava-se em revelações que, defendendo-se Gregório e a Vargas, envolveriam gente muito ligada a Lacerda, inclusive da Embaixada Americana, e ele próprio, caricaturado O Corvo no jornal Ultima Hora, de Samuel Wayner. E o “anjo negro” cai morto na prisão, assassinado, sem que tivesse aberto a boca. Perdurando até hoje o mistério do “mar de lama”.<br /><br />Vargas já havia redigido a sua Carta-Testamento, nas vésperas da reunião ministerial da madrugada de 24 de agosto de 1954, no Palácio do Catete, quando foi acordado em seus aposentos pelo irmão Benjamin para informá-lo de que estava deposto. O irmão se retira e o presidente, então, dá um tiro no peito.<br />Consumara-se o vaticínio?<br />Eu despertara com a notícia que me chegava através do rádio de um vizinho, transmitida por Heron Domingues, o Repórter Esso da Rádio Nacional, a puxar a voz embargada de emoção, pondo toda sua ênfase à leitura da Carta-Testamento, origem de um infarto fulminante que teria ele um pouco mais tarde, segundo amigos.<br />A morte de Vargas levantava a nação. Na rua do Passeio, defronte ao cinema Metro, eu sobraçava alguns jornais do dia quando passa pela minha cabeça um verso alexandrino da mitologia grega que, a meu ver, bem expressava o avanço devastador de Getúlio Vargas sobre a linha inimiga, de volta ao campo de batalha, com a lança de Aquiles e sua nova armadura – mandada fundir pela mãe Tétis, a deusa do mar: “...como um vento impetuoso que revolve as chamas”. Ele vencera a batalha, dir-se-ia em outro extremo da Vida.<br />Ouve-se o Hino Nacional. Entoado pelo caudal de estudantes, trabalhadores e profissionais liberais que, partindo da Candelária, toma toda a Avenida Rio Branco. Param na esquina com rua Santa Luzia. Alguém grita: “Onde fica a Embaixada Americana?!<br />“Lá!!” – apontam em direção de Santa Luzia, Calógeras e, finalmente, a Presidente Wilson. Marcham para lá. Em questão de minutos, o que se ouve da Cinelândia é uma azoada de balas disparadas de dentro da Embaixada dos Estados Unidos. Houve correria e não fiquei para trás. Estava sem a armadura de Aquiles. Nem dei conta de que os jornais que sobraçava haviam caído ao chão. Segui em frente pela rua do Passeio, sem destino, até deparar-me com um hotel a cerrar as portas, mas ainda a tempo de enfiar-me por baixo. Respirei. Um elevador se abriu, dele saindo, tranquila, serelepe, uma senhora com vistoso chapéu, alinhada nos padrões de refinada elegância... de Saint-Germain-de-Près ou de outra parte de Paris? – sabe-se lá de qual, com cantante sotaque francês.<br />Da recepção do hotel, advertem-na: “Não saia agora, madame! Estão dissolvendo a balas de metralhadora manifestação pelo presidente morto”. Ao que ela, dando de ombros, pede que lhe abrissem caminho porque já estava acostumada a revoluções.<br />Em casa, abro um dos jornais que comprei em substituição àqueles que despencaram dos braços na hora da correria, e estala-me a idéia de pôr em versos a Carta de Getúlio. Passo a noite queimando pestanas nesse trabalho, que concluo aos primeiros cantos de galos pelos lados do outeiro do Valonguinho, em Niterói. Faço-lhe cuidadosa revisão, o dactilografo, releio o texto já pronto para o linotipista compor – ele, invariavelmente, com o latão de leite por perto e que era seu escudo contra possível infecção pulmonar pelo antimônio. Pego uma barca da Cantareira, adormeço sentado em um de seus degraus, um sono reparador face àquele serão que havia feito. Acordo com o apito da chegada à Praça XV, àquele tempo, sem mergulhões. Caminho pela rua São José, corto a Rio Branco, antiga Avenida Central; mais alguns passos, vejo-me diante da fachada de O Radical, jornal trabalhista dirigido por Georges Galvão, quem eu não conhecia, então, pessoalmente. Respiro fundo e subo as escadas. O primeiro a aparecer à minha frente, logo na entrada, era justamente, e eu só viria a saber depois, o diretor do jornal. Ele indaga: “Deseja alguma coisa?”. Com umas laudas na mão, comecei a explicar-me meio sem jeito: “Fiz uma carta em versos..” Num ímpeto, arrebatou de minha mão, assim me pareceu, a tal carta, leu-a atentamente e em silêncio, agita-se: “Vai à 1ª página de O Radical!” Estremeço.<br />.<br />O diretor pega em meu braço, leva-me até seu gabinete... “Sente-se”. Abre gavetas, apanha jornais e revistas, uma delas - edição especial da Revista do Globo, de Porto Alegre, com farto e rico material sobre a vida de Getúlio até o seu retiro em Itu, uma vez afastado temporariamente do governo, período que aproveita para o seu retorno ao Catete, que ele já dava como certo, em 1951. Eram memórias, parciais porém autênticas, ditadas a repórteres na fazenda de Itu com o auxílio de sua filha e secretária Alzirinha (Alzira Vargas), revisadas do próprio punho por Vargas. E Georges Galvão confiou-me todo esse material para que eu retratasse, em versos, a vida tumultuada, e gloriosa, daquele presidente. Sinto não ter podido me debruçar nos versos esperados pelo diretor de O Radical. Impediu-me de fazê-lo o lufa-lufa do jornalismo, trabalhando, às vezes, em vários órgãos da imprensa, inclusive em jornais falado e televisado, e por um tempo numa agência de notícias, além da revisão do Diário da Assembléia Legislativa, até alta hora, na Imprensa Oficial do Estado. Por pouco não batendo o incansável e competente Mário Curvello, mestre na titulação de matérias, entre outros méritos, o qual rompia ao alvorecer na redação do vespertino da Praça Mauá, para o fechamento de suas páginas, e, de lá, partindo para outros jornais, praticamente a virar a noite na vagarosa e romântica barca, a princípio da Cantareira, antes e depois do fogo ateado à Estação da Praça Araribóia por causa de aumentos de passagem, pelo que se sabia, com algum ingrediente político. O memorável e tradicional Restaurante Miramar, colado à estação e que nada tinha a ver com a história, foi também devorado pelas chamas.<br />Sempre que me encontrava com Curvello na barca da travessia Rio-Niterói, eu lhe perguntava pela casa que ele estava construindo no Saco de São Francisco – agora, somente São Francisco, sem o sinônimo de enseada, devido ao preconceito ou coisa similar de um vereador da Velha Província -- tijolo por tijolo, escoados os anos mais de torcida que da minha natural curiosidade. De volta de um fim de semana em minha terra, Boa Sorte, distrito de Cantagalo, dei com A Noite fechada a cadeado e meu coração pula; o que fazer? Contudo, em menos de um mês, pelas mãos do mineiro Clemente Luz, autor de Infância Humilde dos Grandes Homens, estava empregado no Diário da Noite, que me encaminhara ao Ministério do Trabalho para o devido registro de jornalista profissional, qualificando-me, inicialmente, nas funções de repórter.<br />E fiquei sem contacto com aquele companheiro de barca e de jornal, que espero tenha construído uma mansão... no Saco, posto que bem merecia. Em A Noite, que no meu tempo era dirigido por Carvalho Netto (sisudo e de boa sombra), órgão das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União, como a Rádio Nacional, recebíamos através de folhas assinadas, sem carteira de trabalho mas com aquela expedida pelo próprio vespertino, que já nos credenciava à militância normal.<br />Após certificar-me de que fora publicada na 1ª página de O Radical a Carta em versos, que também A Noite publicou, logo a seguir, com destaque, numa página interna, tendo-a reproduzido de O Radical, levo-a, redactilografada, à revistinha, de grande circulação, A Modinha Popular, do outro lado da Cinelândia, na direção dos Arcos da Lapa. A redação cabia numa mesa de escritório e as oficinas ocupavam todo o espaço nos fundos. Recebeu-me Joaquim Luchesi, proprietário e diretor da Modinha. Mal lê minha adaptação da Carta de Getúlio Vargas, vira-se para os fundos do pequeno prédio, grita: “Parem as máquinas! Tem aqui uma Carta melhor, vamos dar essa!”.<br />Parecia um galo italiano. E fez questão de acertar logo as contas, não me deixando falar. Abre uma gaveta, retira um maço de dinheiro, já não me lembro quanto – “trabalho assim” – e encerra a conversa: “Pago-lhe agora por 200 mil exemplares. Satisfeito?”<br /><br /><br /><br />A Carta em versos<br /><br /><br />Mais uma vez, as forças contra o povo<br />e os interesses contra o povo, enfim,<br />coordenaram-se, ríspidos; de novo,<br />desencadeiam-se por sobre mim.<br /><br />Não me acusam, me insultam com rudeza;<br />não me combatem, caluniam. Hora atroz!<br />Não me dão o direito de defesa,<br />precisam sufocar a minha voz.<br /><br />Precisam impedir a minha ação<br />para que eu não defenda nunca mais<br />o povo, e não combata a espoliação<br />dos fortes grupos internacionais.<br /><br />Sigo o destino que me é imposto.<br />Após decênios de dominação<br />dos mesmos grupos, levantei o rosto<br />e fiz-me chefe de Revolução.<br /><br />Tenho lutado pela Liberdade<br />mês a mês, dia dia, hora a hora,<br />resistindo à pressão e â falsidade,<br />suportando-o em silêncio até agora.<br /><br />Tudo esquecendo, renunciando a tudo,<br />a mim mesmo, em defesa do meu povo ingente,<br />que se queda nesta hora, sem escudo,<br />pois não querem que o povo seja independente.<br /><br />Nada vos posso dar mais a não ser meu sangue.<br />Se as aves de rapina querem por bebida,<br />querem sugar ainda mais o povo exangue,<br />eu ofereço em holocausto a minha vida.<br /><br />Eu escolho este meio de estar sempre vivo.<br />Quando vos humilharem,sentireis minhalma<br />convosco e sempre lutarei convosco, altivo,<br />quando a fome levar à vossa porta a palma.<br /><br />Unidos vos trará meu sacrifício<br />e meu sangue será vossa bandeira,<br />a bandeira de luta - frontispício<br />da redenção da terra brasileira.<br /><br />Era escravo do povo, humilde e bravo,<br />e agora me liberto para o Além,<br />mas este povo de quem fui escravo<br />não mais será escravo de ninguém!<br /><br /><br /><br /><br />E a Carta poética de Getúlio corta cidades e cidades, em trem de ferro, levada pelas mãos de jornaleiros, no Estado do Rio, revezando-se nas vendas o gordo Max e o magro José, e seguindo para outras regiões do país. Os jornaleiros se reabastecendo na Modinha Popular e... piuí... lá ia o trem: única coisa boa que os ingleses nos deixaram, dizia Vargas, certa vez, após haver discursado numa das paradas, em Cachoeiras de Macacu.<br />Meses decorridos, encontro o jornalista nordestino Armando Pacheco na redação de A Noite. Muito amigo do pintor marinhista cearense J. Carvalho, que construiu boa casa no bairro niteroiense de Santa Rosa valendo-se dos quadros que vendia sem molduras, levando as telas aos clientes, um desses clientes, Fernando Segismundo, debaixo do braço, Armando Pacheco a saudar-me:<br />“Sim senhor, hein! A sua adaptação poética da Carta de Getúlio está fazendo sucesso no Nordeste. Em Sobral, passava uma procissão entoando a Carta em versos na linha melódica do Queremos Deus...”<br />Mais algum tempo, sem um só exemplar da Carta em minha estante, volto à Modinha na esperança de conseguir algum. Lá encontro não Joaquim Luchesi mas o seu gráfico, e aperto-lhe a mão: “Está me reconhecendo?”. “O da Carta de Getúlio”, responde. Olha-me de frente, cofia o bigode, vai direto ao assunto: “Luchesi morreu. Ficou lhe devendo alguma coisa?”. “Não, ou parece que não”, voltei-me ao gráfico, pesaroso e aguardando o que de facto sucedera. E ele, a cofiar o bigode mais uma vez: “Luchesi caiu do alto do sobrado dos Tenentes”. Tenentes do Diabo, um dos clubes carnavalescos mais famosos do passado no Rio. Observa-se um instante de silêncio, ele limpa a garganta: “Mas a Carta... saiu toda! Luchesi chegou a tirar, além dos 200 mil, mais 100 mil exemplares!. Valeu”.<br />Com o fim da II Guerra Mundial, retornam dos campos da Itália os pracinhas brasileiros, cujo feito mais notável fora a tomada de Monte Castelo. Assisto da calçada oposta à do Diário Carioca, na Avenida Rio Branco, à passagem do cortejo dos esquifes com os despojos daqueles que tombaram em batalha. Olho para os lados e vejo homens, mulheres e até crianças com a mão sobre o peito. Sigo-os na reverência.<br />Corre o tempo; já no Diário da Noite sou escalado, juntamente com outro repórter, para a cobertura do desfile militar do 7 de Setembro na Avenida Presidente Vargas, quando um “cobra criada” do jornal chama-me a um canto e me dá a dica de como cobrir a parada sem fazer esforço. Segui as instruções dele. Eu alugava de uma inglesa um amplo quarto de frente para a rua Mariz e Barros, num agradável sobradinho, em Icaraí, a uma quadra da praia. A inglesa, dona Geniva, deliciava-se com a leitura de trechos de um romance que eu estava escrevendo sobre as noites nos dancings e cabarés do Rio. “Muito bom, senhor Fernando”, e procurando disfarçar os risinhos: “gostei...”.<br />A pouco do desfile, encontro tempo para pequena caminhada pela areia da praia e um mergulho. Volto para casa, uma chuveirada e eis-me trazendo bloco de papel e caneta diante de Oduvaldo Cozzi na tevê em preto e branco, Cozzi a moderar a voz em respeito à data cívica, tonitroante nas locuções esportivas.<br />Atravesso a baía de Guanabara, chego à rua Sacadura Cabral, entro na redação, dactilografo a matéria, surrando as teclas da máquina de escrever como quase sempre fazia – porque trocar as fitas era sempre sinal de chuva em qualquer jornal. E dou com o companheiro também escalado para cobrir o desfile já a meu lado, certificando-se do que eu escrevera, ali parado como um poste. “Mas não o vi no palanque!”, disse ele. “Mas é uma matéria a quatro mãos, assinada também por você, como vê lá no alto”, respondi. E ele, já que foi assim, a lamentar não ter aproveitado a manhã para uma esticada à praia...</div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-5406591987268403872009-07-02T19:26:00.000-07:002010-05-22T17:56:06.384-07:00"Armistice? ! Non!" "Capitulation?!" Oui !"<div align="justify"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5bEdAYQmJ7XtsiTcpGKi5GWhLfQ2M6yL42xgZRf2NMlXfD7KkPSfaWPgO0Ws7l7QpAUNIscogaO1Bd-QZztyXolnOjNx32O91P5OkvNW7D61MspXQg-Ymp2oVYkAnb8OgRTaShlUGVvA/s1600-h/gra%C3%A7a+aranha.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5354071464428533858" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 262px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5bEdAYQmJ7XtsiTcpGKi5GWhLfQ2M6yL42xgZRf2NMlXfD7KkPSfaWPgO0Ws7l7QpAUNIscogaO1Bd-QZztyXolnOjNx32O91P5OkvNW7D61MspXQg-Ymp2oVYkAnb8OgRTaShlUGVvA/s320/gra%C3%A7a+aranha.jpg" border="0" /></a><br /><br />Graça Aranha em Paris<br /><br /><br />I n t e r m e z z o<br /><br />“Armistice?! Non!” "Capitulation?! Oui!"<br /><br /><br />Ao término da I Guerra Mundial (1914-1918), Graça Aranha, autor de Canaã, membro da Academia Brasileira de Letras e que era, então, embaixador do Brasil na Holanda, encontra-se em Paris com Maurício de Medeiros (1885-1966), ensaísta, jornalista e psiquiatra, que entre outras obras deixou Idéias, Homens e Fatos, publicada em 1934, ano do falecimento do seu irmão, o refinado poeta pernambucano Medeiros e Albuquerque, e Inconsciente Diabólico. Maurício de Medeiros era carioca da gema. Foi ministro da Saúde em dois governos: de Nereu Ramos e de Juscelino Kubitschek.<br />Transpirava elegância, o testemunho de quantos com ele conviveram. Em seu discurso de posse na Academia, ocupando a cadeira nº 38, patronímica de Tobias Barreto, Maurício de Medeiros abre seu discurso rendendo sentida homenagem à memória de Medeiros e Albuquerque, irmão quase um pai, dizia. Maurício de Medeiros especializou-se em medicina psiquiátrica na França de 1906 a 1907.<br />Em Paris, outubro de 1918 desfolhava-se, a Prússia do Kaiser Guilherme II a descansar armas, e entre as forças aliadas corriam rumores de armistício em curto espaço de tempo. Os franceses, com os belgas, primando pela tradição de sempre perseguirem a vitória até o fim, forçam a retirada dos alemães de suas fronteiras.<br />Maurício de Medeiros, no ardor do discurso pronunciado na Casa de Machado de Assis, conta que, achando-se também Delgado de Carvalho, nessa ocasião, em Paris e por cultivar devotadamente a língua francesa para sair-se bem em sua cátedra e nas animadas e inteligentes papotages dos sofisticados cafés parisienses, a escrever em francês a la pata llana, como diriam os vizinhos madrilhenhos, esmerando-se, por igual, na pronúncia, descobre Graça Aranha a dobrar uma rua. Aranha era sua vítima preferida de pilhérias por causa do mal francês que ele falava, ao passo que escrevia nesse idioma com toda correção, o que gerava um enigma na ponta da orelha ferinamente atenta de Delgado.<br />Em 1916 saía em Paris um livro titulado O Plano Germanista Desmascarado, com prefácio no tom e tinta de Vive la France!... de Graça Aranha e que já no ano seguinte chegava, em português, às livrarias brasileiras.<br />E estava o autor de Canaã parlateando numa roda de conhecidos da Europa a respeito da Liga da Paz, a intelectualidade brasileira a manifestar-se por esse diapasão, com algumas ressalvas como Capistrano de Abreu, que se inclinava pela Alemanha do Kaiser, e o que poderia vir depois. Viria a Liga das Nações, no umbigo da II Grande Guerra.<br />Despede-se, pois, Delgado dos conhecidos sem saber que, discretamente, Aranha o estivera escutando atrás de uma árvore ou de algum outro obstáculo. Até que Delgado dele se aproxima, abrindo os braços: “Graça Aranha! Como você está falando bem o francês!” O diplomata Graça Aranha encolhe-se em sua timidez: “Mas eu estava falando era em holandês...”<br />E pensar que, na véspera, em discurso que ele principiara pausadamente, o fechava com firmes e empunhadas palavras de ordem:<br />“Armistice? Non! Capitulation? Oui!!”<br />Os franceses vão ao delírio, numa ovação que se prolongou por quase uma hora.</div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-57731433478676207232009-07-02T19:36:00.000-07:002010-05-22T17:55:28.800-07:00Do desembarque na Normandia ao mistério do "mar de lama"<div align="justify"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_vnBj1n8qmt0l_S79Kl301IF9_YGZs9-rbqk5BDhUQLGXyBm5a-NDB5mh1YAHtoc67fohnLaasoN7Cyk3PjJEdv4PBhj6AMnvlMyR-DkTM7gtnnIt1igf9YPvuRCCnQQOh3Kdeg-2oZA/s1600-h/moldura+soldados5.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5354096083640073490" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 239px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_vnBj1n8qmt0l_S79Kl301IF9_YGZs9-rbqk5BDhUQLGXyBm5a-NDB5mh1YAHtoc67fohnLaasoN7Cyk3PjJEdv4PBhj6AMnvlMyR-DkTM7gtnnIt1igf9YPvuRCCnQQOh3Kdeg-2oZA/s320/moldura+soldados5.jpg" border="0" /></a><br />in memoriam<br />Gilda Braga Linhares<br />Nelson Werneck Sodré<br />Tarcísio Tupinambá<br /><br />parte I<br /><br /><br />Em junho de 2009, Estados Unidos, Inglaterra e Canadá comemoravam junto ao Monumento e Cemitério de Colleville-sur-Mer o 65º aniversário de um facto histórico levado ao ar e às impressoras do mundo ocidental, além das linhas de telégrafo, nas barras dos anos 40, como Dia D. Era o desembarque anglo-norte-americano e canadense na Normandia, que na visão de estrategistas do Leste Europeu fora precipitado. De todo modo, o Dia D entrou para a História militar do Ocidente como epicentro da Segunda Grande Guerra.<br /><br />Ao discursar na cerimônia em memória dos mortos na Batalha da Normandia, ao Norte de Paris, o presidente Barack Obama demonstrou vivo reconhecimento pelo que esse conflito teria trazido para ambos os lados do Atlântico: o progresso ao longo do Século XX. Em verdade, o progresso para os países ricos, visto que os pobres, do lado Sul do Atlântico, consumando-se a predição ou intuição de Getúlio Vargas, então presidente do Estado Novo brasileiro, ficaram ao deus-dará na divisão dos espólios de guerra entre as potências vitoriosas.<br />O Brasil só deslanchou no pós-guerra à custa de arrastadas negociações, pouco éticas, por sinal, com os norte-americanos e os ingleses (ver parte II de Do desembarque na Normandia...), sem que lhe aparecesse outra alternativa, coerente com suas melhores tradições, para seguir em frente - fosse marcando passo - na retaguarda da civilização. Antes do Ciclo Vargas, o Brasil vivia ainda na Idade do Bicho da Seda.<br />E a versão que mais se aproxima da exatidão dos acontecimentos que se seguiram à ocupação de parte da França pelos nazis na década de 40 é a que sugere uma divisão de poderes em Paris entre a Alemanha, propriamente, e o regime de Vichy, a colaborar com os invasores. Estes, apoiados pela ultradireitista Accion Française de Charles Maurras, cujo lema era Família, Trabalho, Pátria. Numa projeção para o futuro, no Brasil seria, nos “anos de sufoco” da década de 60, a ultraconservadora TFP, sigla de Tradição, Família e Propriedade, a acobertar grandes latifundiários de pé contra trabalhadores rurais acusados de comunistas por reclamarem terras para plantarem. Ganharam os tefepistas, por isso, cadeiras no Congresso Nacional. Tendo avançado raízes a terras portenhas, a TFP se pôs do lado da Coroa britânica e seu apoio logístico – os Estados Unidos da América – na Guerra das Malvinas, publicando sucessivas matérias, pagas a peso de ouro, em periódicos argentinos, a classificar de comunistas os partidários da campanha “las Malvinas son argentinas”. Uma guerra patrocinada e abastecida pela OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, com a colaboração, nas sombras, do Chile de Pinochet, contra a soberania da República Argentina sobre as ilhas descobertas por marujos franceses. E muito antes de navegarem por lá os piratas de S.M. a Rainha dos Mares, ao contrário do que derrama a literatura anglo-estadunidense mundo em fora.<br />Em Colleville-sur-Mer, vem à tona a situação no Oriente Médio, tendo-se notado estreita afinidade de pensamentos entre Barack Obama e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, em que “um Irã com armas nucleares é motivo de preocupação, não só para Israel e Estados Unidos, senão para toda a comunidade internacional”. Obama observou, porém, que sua administração queria “abordar esse problema mediante negociação com o regime de Teherã”. O presidente americano viu os frutos da II Grande Guerra em boa colheita, em sintonia com os anseios da Humanidade, sublinhando que o confronto de seis de junho de 1944 “por um pedaço de praia de só sete quilômetros de largura por três de extensão” fora determinante para que o mundo despertasse de um longo e extenuante pesadelo, o mais sombrio de todos os tempos. Verdade se diga, já quando as forças nazistas haviam deposto suas armas, rendendo-se aos soviéticos em Berlim.<br />A data de 6 de junho assinala, ademais, a chuva de jovens paraquedistas de um front ocidental improvisado, a cair sobre praias com seus botes, em águas gélidas da Normandia e na linha de fogo intermitente do inimigo, misturando-se às névoas desprendidas do espaço aéreo de uma Paris ocupada.<br />Acrescente-se que quando se deu o desembarque na Normandia as forças soviéticas reagiam estoicas, em seu próprio território, ao avanço dir-se-ia, contraditório em princípio, de feras acuadas, até as baterem, uma a uma, em sangrentos combates. Lê-se na Wikipédia, a Enciclopédia Livre, que a Batalha da Normandia “foi uma grande jogada política para manter a hegemonia ocidental na Europa, tendo em vista a iminente derrota alemã para o Exército Vermelho, que vinha derrotando os nazistas sucessivamente desde a famosa Batalha de Stalingrado”.<br />Portanto, bem à diferença do que a mídia norte-americana vem passando à opinião pública décadas a fio, a Batalha da Normandia pouco influiu na solução do conflito, servindo apenas como ponte referencial no episódio da libertação de Paris, inclusive pelo facto de o marechal Petain parecer mandar tanto ou mais que os titulares da ocupação de uma cidade praticamente dividida, ou repartida. E note-se que Hitler entrou em Paris como para emoldurar-se com o Arco do Triunfo.<br />O triunfo, entretanto, desenhava-se era nas neves russas que já se prenunciavam quando os generais do Fuhrer preparavam suas divisões para uma investida pretensamente conclusiva no verão. Quando as neves caíram como uma bênção e às avalanches sobre o front gigantesco que, margeando o rio Volga, as recebia quais reforços de tropas, soviéticas, muito bem treinadas e, sobretudo, acostumadas a duras intempéries.<br />Os alemães, enfiados em “simples uniformes de algodão”, conforme relatos apressados mas de todo confiáveis, extremamente dramáticos, feitos nos diários de guerra dos oficiais nazistas, entre eles von Friedrich Paulus (1890-1957), que comandou o 6º Exército do Terceiro Reich na Batalha de Stalingrado, a enfrentarem, centenas e centenas estirando-se congelados sobre neves glaciais, quedas de temperatura aproximadas dos 45 graus abaixo de zero!<br />Vem agora o presidente norte-americano declarar na celebração de Colleville-sur-Mer que “nenhum homem que tenha derramado seu sangue ou que tenha perdido um irmão pode dizer que a guerra é boa, porém todos sabemos que essa guerra foi essencial” (in El País, es.(6-6-2009). Refere-se, naturalmente, à guerra levada pelos Aliados do Ocidente até à metade do percurso mapeado a percevejos niquelados , até ao lançamento, pelos Estados Unidos, das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, em resposta (!) ao ataque da aviação japonesa à base aérea estadunidense de Pearl Harbour.<br />Porque a chamada Grande Guerra Patriótica, a impulsada do Leste Europeu, culmina<br />com a rendição dos alemães aos soviéticos no coração de Berlim, seguida do hasteamento, no alto do imponente edifício do Reichtag, da bandeira a tremular com os símbolos da foice e do martelo. O sonho às avessas de Adolf Hitler, que sofria da miragem de lhe estenderem tapetes para sua entrada triunfal no Kremlin. Em linha doutrinária que, desatada de Washinton, à mira dos fortes Apache da logística do Pentágono, acaba afinando-se ao sonho americano de derrotar a URSS a socos de heróis de celulóide revelados pela Guerra Fria. Ou, expressamente, de infiltrações persistentes no sistema russo, a mesma tática adotada, em vários momentos da História, em países da América Latina e o Caribe. Sem falarmos nos horrendos crimes praticados no Vietnã, em outras insânias do imperialismo ocidental, na covarde destruição de Bagdá, um dos mais ricos acervos arquitetônicos e documentais da História da Humanidade, motivo de instigante e irretocável artigo de Mansour Challita publicado no Globo, do Rio de Janeiro, em 24 de fevereiro de 1991, tendo por título “Bagdá, a bela”.<br />Premiem-se, por instantes, com um passeio por este texto de Challita: (...)“Bagdá foi fundada em 762 nas duas margens do rio Tigre, a 450 quilômetros do Golfo Pérsico. Mas antes dela, a terra onde ela se situa já era palco de grandes civilizações, notadamente a Assíria e a Caldéia. A civilização assíria, talvez a mais antiga de todas (dizem as lendas que Assur, seu fundador, era neto de Noah) destacou-se pela força e a organização. E também pela cultura. A biblioteca particular do rei continha mais de 4.000 manuscritos, redigidos em caracteres cuneiformes.<br />A civilização caldéia distinguiu-se pelo seu culto à alegria de viver. Sua capital, Babilônia, é chamada a Paris do mundo antigo, porque, como Paris, era um centro de diletantismo e de divertimento. A mulher babilônica era a mais emancipada do Oriente. A rainha partilhava com o rei os encargos do governo. Vênus, adorada também lá, era representada sob a forma de uma mulher em pé sobre dois leões: a força submetida à beleza.<br />Quando Bagdá foi fundada pelo califa Al-Mansur herdava aquelas tradições. Sob o califa Harun Al-Rachid (768- 809) ela se tornou uma cidade única no mundo. Capital do império árabe e da cultura árabe, era ao mesmo tempo uma cidade rica, poderosa, culta, emancipada, alegre. Lá eram concentradas as mulheres mais lindas e os tesouros mais preciosos do mundo, e também os maiores poetas, escritores, músicos, arquitetos, matemáticos, médicos, astrônomos, tradutores.<br />Os califas eram protetores generosos das artes e das ciências. A primeira tradução de Aristóteles foi paga, seu peso, em diamantes. ‘As mil e uma noites’, cujo ambiente principal era a Bagdá de Harun Al-Rachid – refletiam nas suas histórias cheias de feiticeiros que descobrem em toda parte montes de ouro, prata, diamantes, pérolas - o luxo insuperável daquela metrópole” (...)<br /><br />Descerrado todo um quadro de esplendor, num texto digno de figurar nas melhores antologias, sem omitir os períodos de invasões pelos bárbaros saqueadores a partir do Século XIII até chegar à Primeira Guerra Mundial, Mansour Challita passa às estrepolias do império da modernidade:<br />(...) “Desde então, e após uma época de colonização britânica (1917-1932) Bagdá tem tentado readquirir algo de seu antigo esplendor. Incentivou o artesanato de tapetes coloridos, que evocam a vida alegre de ‘As mil e uma noites’. Aproveitou suas riquezas petrolíferas para criar uma economia próspera. Edificou três universidades. Cuidou de seus museus onde as glórias do passado sonham com glórias futuras. Quis também ser uma potência militar e invadir seus vizinhos (esquecendo que isto não é permitido a todos).<br />Bagdá foi submetida dia e noite a uma chuva ininterrupta de bombas destrutivas que nem os mais macabros contos de terror anteciparam. Será dito um dia que o que os tártaros, mongóis e turcomanos não conseguiram destruir da bela Bagdá foi destruído pela maior democracia do Século XX em nome da justiça e da liberdade?”.<br /><br />Em dezembro de 2006, Saddan Hussein é levado à forca no Iraque pelos Estados Unidos da América, que se mostravam dispostos a assenhorear-se até a última gota e a qualquer preço, como sempre foi do seu feitio agir, do petróleo no Oriente Médio. Uma execução estúpida, de uma covardia sem par, na qual o líder iraqueano dispensou a venda nos olhos, mirando de frente o carrasco. Ele reclamava julgamento, imparcial, num tribunal internacional, de que os Estados Unidos haviam logrado escapar, pelos crimes cometidos no Vietnã, os maiores de todos os tempos, apesar dos incansáveis esforços de Bertrand Russell para que ‘a maior democracia do Século XX’ fosse encaminhada ao banco de criminosos de guerra.<br />E, assim, se formou o Império Americano. Esquecendo-se apenas de pendurar o retrato de Adolf no Salão Oval da Casa Branca.<br />Não existindo mais União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, nem o Muro de Berlim, nem se tendo constituído uma nova potência, ou superpotência, mundial em condições de fazer face a um império emergido de um passado recente, a China a cumprir sua destinação enigmática, que diferença faria se descendentes ideológicos do Fuhrer se pusessem agora em marcha batida rumo a um sítio ideal? Talvez por isso a Rússia de Putin mantém os mísseis da antiga URSS não desativados mas, ao contrário, apontados para os nódulos nevrálgicos do Ocidente.<br />Estendam na parede do quartel-general o mapa do mundo, preguem alfinetes niquelados nas zonas de progressão castrense. Observem que em 1941 a Alemanha já havia tomado a Polônia e que suas presas subsequentes seriam a Tchecoslováquia, a Bélgica, a Holanda, a Dinamarca, a Noruega e a França, nesta ordem.<br />E, “apesar da derrota (para os russos, já em Berlim), os círculos militares da Alemanha não abdicaram dos seus sonhos doentios de conquista e domínio mundial (A Batalha de Stalingrado, Edições da Agência de Imprensa Novosti, Moscou). Os governos da Inglaterra, França e Estados Unidos acalentavam tais sonhos, pois consideravam o militarismo alemão como principal força de choque contra a União Soviética. Somente entre 1923 e 1929 a Alemanha recebeu cerca de 4 bilhões de dólares de empréstimos estrangeiros, dos quais mais da metade – 2,5 bilhões de dólares – foram obtidos nos Estados Unidos.(...) Estes elevados montantes permitiram aos militaristas alemães reerguer a sua indústria bélica e formar um vasto exército equipado segundo a última palavra da técnica”.<br /><br />Isto significa que, caso os alemães tivessem chegado ao término da guerra com a força que lhes atribuía a Norteamerica, capaz de bater os russos, Washington e a Berlim do Terceiro Reich se teriam unido no combate, não ao terrorismo de após Guerra Fria - das brumas do Oriente Médio - mas ao comunismo, ou socialismo - tanto faz..<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixCtlAHd090P1q5leYxbHhlrF4vnD_Fe63zOWpH-uR_D8I0142iIvAMoOiYmggBf9axSGgFqCMX688Tw3vUbO7aM1n2TAHa9kjXIoxus1yv26FcsdqmxIxDr6Tp3KOjS6LhFDI1J3sK7k/s1600-h/Lillian+Hellman10.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355091944542357042" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixCtlAHd090P1q5leYxbHhlrF4vnD_Fe63zOWpH-uR_D8I0142iIvAMoOiYmggBf9axSGgFqCMX688Tw3vUbO7aM1n2TAHa9kjXIoxus1yv26FcsdqmxIxDr6Tp3KOjS6LhFDI1J3sK7k/s400/Lillian+Hellman10.jpg" border="0" /></a><br />Os Estados Unidos mostraram, mais uma vez, as suas unhas fascistas no regime terrivelmente caricato do macarthismo, criado pelo senador republicano Joseph McCarthy e denominado pela grande e corajosa dramaturga judia Lillian Hellman de ‘a caça às bruxas’, título de um de um de seus livros, assim traduzido no Brasil do original Scoundrel Time, no qual ela relata, sem meias palavras, pífias acusações de agentes do comunismo internacional assacadas contra autores e artistas de Hollywood, a intelectuais de um modo geral da pátria de Lincoln. Lillian foi quem enfrentou cara a cara os inquisidores da Casa Branca. Não houve fogueira, mas cadeira elétrica na prisão de Sing-Sing para o casal Rosenberg, os judeus Julius e Ethel, acusados sem provas de passar segredos nucleares aos soviéticos.<br />E Lillian Hellman, cujas peças, várias premiadas, foram reunidas num volume por título The Collected Plays, escolhida por críticos de arte a Mulher do Ano em 1973, Medalha de Ouro para Drama, concedida pelo National Institute of Arts and Letters, entre muitas outras distinções, acaba camareira num hotel de Nova York.</div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2514412237039747377.post-73213286988758863752009-09-16T19:24:00.000-07:002010-05-22T17:54:58.131-07:00Algumas cenas<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi08lVB9d0P255k9_HYx47NfVGVCQh6K788CrmhHscIyc-rdppI_MGmkhVMAKq3NDANJ_KATtnp9QGK6nzDEaN-QtwjreDKEACLVDhJKKUQUiOHriTgjlIGOOf8V08V8OaUeCctzMC8S9M/s1600-h/Moldura+irmas.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5388861419241082274" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 217px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi08lVB9d0P255k9_HYx47NfVGVCQh6K788CrmhHscIyc-rdppI_MGmkhVMAKq3NDANJ_KATtnp9QGK6nzDEaN-QtwjreDKEACLVDhJKKUQUiOHriTgjlIGOOf8V08V8OaUeCctzMC8S9M/s400/Moldura+irmas.jpg" border="0" /></a><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgi0lOFc_ZQW7nB9H1Bp4L5ekpbqkfkpULYU1REEhOdyDWetGJnL376gHLz_wf-4buWvdYiILcfo0tUQEccl7UzEUJEV-hFMVXJVomPUP-1APlsBaNyfpvUd6IEyy0dEvxfVLO15MuyYXc/s1600-h/moldura+pom+e+bel.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5388861272740873602" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 217px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgi0lOFc_ZQW7nB9H1Bp4L5ekpbqkfkpULYU1REEhOdyDWetGJnL376gHLz_wf-4buWvdYiILcfo0tUQEccl7UzEUJEV-hFMVXJVomPUP-1APlsBaNyfpvUd6IEyy0dEvxfVLO15MuyYXc/s400/moldura+pom+e+bel.jpg" border="0" /></a><br />1. As irmãs<br /><br />Cearense típica do agreste, Ana Guerra comprara uma casa na Baixada Fluminense, pelos lados de São João de Meriti, já encontrando como inquilino um gato e sem que lhe faltasse companheira à meia luz<br />Surge a ninhada. Chamam a atenção de Ana Guerra dois filhotes branquinhos, os olhos de uma perfeição aureolada a pincel de um Leonardo Da Vinci. Passasse alguém perguntando quanto era cada filhote, respondia invariavelmente com toda firmeza: “Nenhum deles está à venda”. Consigo mesma, murmurava: “Muito menos as duas irmãs; o tempo da escravidão já passou, as sinhás que aguardem uma outra oportunidade...”<br />Finalmente, entra em contato conosco em Niterói, após pensar maduramente a quem deveria confiar aquelas gatas, pois queria garantir um bom futuro para elas, sem vassourada, na certeza de que teriam um tratamento de seres da Natureza. Assim, ajeitou-as numa confortável gaiola e as trouxe.<br />“Por que duas?”, pergunto. E Ana Guerra: “Uma fará companhia à outra” Recomendou-nos que pingássemos, somente aquela vez, à chegada, um colírio nas gatas, uma gota em cada vista. Pinguei o colírio de euphrasia."Tanto faz... - disse ela. Pusemos, depois, no<br />chão dois pires com leite para as irmãs, que acabaram se lambendo, uma lambendo a outra.<br />E uma passou a se chamar Shana; a outra, Meg.<br />Não havia como não distinguir uma da outra, porque Shana ganhava corpo, crescendo mais que Meg, que se mantinha delgada, levando, às vezes, uns cascudos da irmã, da mesma idade, para que tomasse tenência, a fim de que seguisse franciscanamente as normas que o novo ambiente impunha. Uma vez, Meg resolveu aventurar-se a um – ainda bem que – breve passeio pelo telhado. Em baixo, ao vê-la seguir em frente, gritei: “Meg! Meg!”. Ela virou-se e me olhou longamente. Então, recuei para trás de uma parede como se a deixasse fazer o que quisesse.. Não demorou, sem que eu a visse descer, ali estava ela, de novo, ao meu lado. Não faça mais isto! - a repreendi. Não sei se ouviu, ou entendeu. O facto é que nunca mais repetiu a aventura de pisar no que chamam aí fora de mundo-cão.<br />Falece minha primeira mulher e as gatas ajudaram-me a superar o vazio. Ao fim do dia saía minha empregada, eu voltando à noite do trabalho, Shana e Meg sempre à minha espera. Se eu ficasse até mais tarde escrevendo no computador, as duas logo puxavam minhas calças como avisando-me: “É hora de ir dormir".<br />E eu obedecia.<br />Caso-me de novo e minha nova mulher toma a frente das obras de reforma do prédio construído com óleo de baleia segundo os mais antigos do Ponto Cem Réis de Santana, as quais de há muito eu vinha adiando. Chega o Pom, o gato deixado por minha mulher em sua residência no Rio. Ela soubera que o Pom andava muito caído, doente, e que, segundo o seu veterinário, se ela o conservasse no Rio o gato acabaria morrendo de tédio. Em Niterói, Dra. Maria da Glória e seu marido, também veterinário, Dr. Murad, fizeram um tratamento intensivo no Pom e ele se restabelece, inclusive após a extração de cinco dentes. E vem Bellynha, escolhida de uma ninhada que alguém largara dentro de uma caixa de sapatos à porta de casa, tendo os demais filhotes sido distribuídos via Internet a vários interessados, por doação. Completara-se a família felina, Bellynha a juntar cacarecos a um canto da casa para brincar à noite. Ah! Quanto a Shana e a Meg, Ana Guerra presume serem elas da raça ou descendência angorá, devido ao pêlo farto.<br /><br /><br />2.Água do Paraíba </div><div align="justify"><br />Espalharam a certa altura do governo Chagas Freitas que a água do rio Paraíba estava contaminada. E, além de váríos copos levados do Palácio Guanabara para quem quisesse usá-los na prova da água acompanhando o tão aguardado estalido de língua do governador do Rio de Janeiro, dirigiram-se para lá batalhões de fotógrafos, cinegrafistas e funcionários do gabinete de Chagas E o cercaram à espera de que ele mergulhasse o seu copo em tão mal faladas águas. Enfim, ouve-se dele um sonoro gole. E Chagas sorri: “Estão vendo? A água é boa!”<br />De plantão por perto, uma ambulância. Para a eventualidade de alguma turbulência...<br /><br /><br />3. O psicotécnico.<br /><br />Zé Grande, um dos repórteres mais conhecidos, e vistos, da região do Grande Rio, por guardar na ponta da língua praticamente todos os telefones dos distritos policiais, inclusive das delegacias do interior, nomes de ruas, praças, morros, localização de biroscas et caterva, e por sua altura olímpica – de salto a distância – era de toda confiança do governador Chagas Freitas.<br />Certa vez, no Departamento Social de O Dia, com o propósito de avaliar e melhorar o nível dos jornalistas decidiu-se contratar uma equipe especializada em teste psicotécnico E foram sendo chamados, um a um, os jornalistas para a avaliação, obedecendo-se, naturalmente, a uma agenda.<br />Encerrados os testes, chega à mesa de Manuel Abrantes, então na chefia de reportagem de polícia, um memorando, que ele lê entre risinhos proféticos. Convoca: “Zé Grande, compareça ao Departamento Social!”<br />E lá foi Zé Grande... Sem saber que iria receber as notas de reprovação no psicotécnico. No mesmo dia, chega a ordem de Chagas Freitas para que fosse dispensada dos serviços a equipe que ousara reprovar o Zé Grande.<br /><br /><br />4. Passarinho diz<br /><br />No Jornal do Brasil, onde fui repórter durante muitos anos, na Sucursal de Niterói, quando também trabalhava em O Fluminense, como redator, sem prejuízo de minhas funções de revisor do Diário da Assembléia Legislativa, funcionário deste poder, junto ao Diário Oficial do Estado, sou escalado, com o repórter fotográfico Braz Bezerra, para cobertura de um seminário do Ministério da Cultura em Volta Redonda. Fazia, ainda, o fechamento, ao cantar dos galos, de um noticiário radiofônico, o Jornal do Estado do Rio, de propriedade do radialista Zoelzer Poubel, que chegou a eleger-se deputado estadual por um mandato<br />(O Poubel dos ventiladores, aquele que, um dia, sem um níquel no bolso e muito menos no banco para pagar em espécie, metade que fosse, o salário de seus funcionários, não teve outra alternativa senão quitar-se conosco livrando-se dos ventiladores de teto que uma firma anunciante lhe deixara no valor do que lhe devia. Oriovaldo Rangel, secretário de redação, foi logo garantindo seus dois ou três ventiladores dentre os que cobriam todo o espaço da sala de um prédio cujo gabarito remontava às primeiras construções da Avenida Amaral Peixoto. Solução de judeu a do deputado Poubel e que,portanto, não deixou ninguém sem o que abanar-se...<br />Retomando a esticada à Cidade do Aço a serviço do Jornal do Brasil, O seminário seria realizado no amplo auditório da Companhia Siderúrgica Nacional, instalando-se pela manhã, com intervalo para almoço e, mais tarde, o encerramento.<br />O primeiro a discursar foi o ministro interino da Educação; o titular viajara ao exterior. E ele, mal inicia o seu discurso, já o diligente assessor de imprensa do ministro as Justiça, Jarbas Passarinho, que marcava presença naquele evento educacional distribuía cópias aos jornalistas do que Passarinho falaria em seguida. Peguei logo a minha e me dirigi sem perda de tempo à sala de comunicações da CSN. Como havia feito um breve mas proveitoso curso de digitação por telex na Avenida Brasil, dentro do programa de aprimoramento e especialização do pessoal de redação do JB, não me foi difícil transmitir em poucos instantes a matéria para a sede do jornal, sem que deixasse de registrar algumas palavras do ministro interino da Educação apanhadas no ar.<br />Eu e Braz Bezerra, mais o motorista do JB, nos recolhemos ao hotel com a consciência tranqüila de havermos cumprido mais uma missão como mandava o figurino...<br />De manhã, bem cedo, batem à porta do quarto. Braz Bezerra, que se barbeava, foi ver quem era. E virou-se para mim: “Estão lhe chamando lá em baixo. Parece ser urgente. Ih... Vem chuva, pelo falatório”.<br />“Já vou!”, respondo, acabando de aprontar-me.<br />E desço ao saguão, degrau a degrau. Esperava-me de pé o interino, o JB aberto bem na minha cara. Por pouco não esfrega o jornal da Condessa Pereira Carneiro nas minhas ventas. Lia pausadamente e com uma exclamação de sua autoria a manchetinha de página:<br />-Passarinho diz!”<br />O homem estava furioso. Achava que eu havia posto azeitona na empada do Ministro da Justiça, passando-lhe o chapéu de dono da festa na Siderúrgica. “Passarinho diz... Só o que faltava!”.<br />Volto ao auditório da Companhia Siderúrgica Nacional para o encerramento oficial do encontro. Lá me esperava, desta vez, o professor Luiz Gonzaga Malheiros, de quem fui aluno no Colégio Modelo, de Nova Friburgo. Malheiros fazia, agora, parte da comitiva do ministro da Educação a Volta Redonda. Escoada a tormenta, Malheiros aproxima-se: “Que papelão, hein, Gonçalves! Ele nem esperou pela leitura das resoluções... Saiu de fininho, quem sabe para se queixar ao Nascimento Britto...”<br /><br /><br /><br />5. um prédio ao fundo<br /><br />O trem da Leopoldina, no retorno de Portela – que era o fim da linha no ramal do Centro-Norte do Estado – entrava em Nova Friburgo pelo lado esquerdo da Praça Getúlio Vargas. Apitando e batendo o sino de alerta para a passagem de nível, logo adiante. Bem próximo a um sobrado onde eu morava em quarto de aluguel enquanto fazia o curso científico no Colégio Modelo, dirigido pelo professor Messias de Moraes Teixeira. A poucos passos dali se via um largo, ao fundo do qual notei que havia desaparecido como por encanto pequeno prédio que servira de sede dos escoteiros friburguenses durante anos e que fora, agora, desativado, face à construção, em outro local, de uma sede nova. Mas o velho prédio, até então, parecera-me ainda em boas condições. Tanto assim era que um dia o professor Malheiros trouxe para mim a chave daquilo que poderia servir-me como escritório para meus estudos e minhas produções literárias.<br />Ocorre que na véspera do desaparecimento daquele meu escritório, durante a noite, dormindo em minha casa em Boa Sorte, onde costumava passar o fim de semana com meus pais, presenciara em sonho o desabamento do prédio dos escoteiros.<br />A isto não se dá nome de premonição? Coisa que parece ter principiado quando ainda pequeno, em Boa Sorte, onde meu pai tinha um armazém de secos e molhados e meu quarto, sala de estar durante o dia, ficava a dois braços de uma parreira de uvas.<br />Meu pai frequentava uma loja maçônica em Cantagalo e certa noite sonhei, meu pai já em casa de volta pelo trem expresso, com três batidas na porta do armazém... “Seu Aristides! Telefonema de Itaocara!” Era a telefonista do posto de Boa Sorte. E meu pai foi atender, tendo sido avisado por um maçon de que minha tia, irmã de minha mãe, havia falecido. Com a notícia, associei as três batidas na porta de casa a sinais maçônicos.<br />Além disso, o sonho incluía um vestido preto em minha mãe.<br /><br /><br />6. Um velório Kafkiano<br /><br />Já soube de algum velório de pessoa comprovadamente viva? Tirantes os casos especificamente novelescos ou de catalepsia?! Pois assim aconteceu. Comigo<br />Uma queda acidental da cama durante o sono, tive o crânio fraturado, o sangue a escorrer pela testa, como se eu houvesse sido acometido de terrível pesadelo.Grito, e não me faltaram forças para ir ao espelho avaliar os ferimentos. Já minha mulher estava a meu lado, juntamente com minha cunhada e uma sobrinha. Sem perda de tempo, colocam-me dentro de meu carro, um Ford kA casualmente estacionado na calçada de minha casa e a cunhada foi dirigindo. Levam-me diretamente para o Setor de Emergência do HCN, Hospital das Clínicas de Niterói. Lá, submetem-me a vários exames, passando pela tomografia computadorizada e a ressonância magnética, após alguns curativos, tudo coberto pelo Ipalerj, o meu plano de saúde.<br />Nem imaginava que meu enteado mais novo, ao passar pelo Ponto Cem Réis e notar minha ausência por longas horas, descobrindo depois que eu me achava hospitalizado, pudesse entrar furtivamente no imóvel que custara meu suor de anos e apossar-se dele, trocando inclusive todas as chaves, não se sabe exatamente como – se chamando diretamente um chaveiro sem que provasse ser proprietário da casa ou através de uma ex-empregada minha que tenha levado a chave do portão por algum motivo.<br />Como se isso não bastasse, acompanhavam-me no HCN a minha mulher, a cunhada e minha irmã, freira da Ordem das Dorotéias, que viera de São Paulo, quando, inesperadamente, desata em redor do meu leito hospitalar uma nuvem de gente que havia invadido meu imóvel no Ponto Cem Réis e que, uma vez descoberto meu paradeiro, iniciava um plantão no HCN, à espera, tudo indicava, do meu desenlace. Minha mulher e minha irmã procuravam por todos os meios impedir que o enteado ou alguém a ele ligado chegasse até meu leito para informar-me que haviam ocupado o prédio do Fonseca e ali passado a morar. Minha família receava que eu sofresse um infarto ao ter conhecimento da ocupação. Assim, fui informado muito depois e por minha família, que me prepararam para isso.<br />Os exames a que me submeteram acusavam um hematoma gerado, do lado direito da cabeça, pela queda que levara, o que exigia o procedimento cirúrgico de uma drenagem do sangue acumulado. Entra em ação uma equipe cirúrgica de alta competência e especialização, chefiada pelo Dr. João Márcio. Antes que ele iniciasse a intervenção, o alertei: “Doutor! Não quero anestesia geral, por favor!” (Eu queria ver tudo, sentir tudo, por mais fortes que fossem as dores) Ele me respondeu: “Fique tranqüilo, vai ser anestesia local” Eu temia morrer anestesiado. O mesmo pedido eu fizera muitos anos atrás, ainda garoto, em Nova Friburgo, na Casa de Saúde do Dr. Mário Sertã, aonde meu pai me levara para uma operação do apêndice. O cirurgião era o próprio Dr. Mário Sertã, que me tranqüilizou: “Fique bem atento que vou lhe contar umas boas anedotas”. Logo à primeira, ele inflou as bochechas. Ao mandar-me para casa, recomendou todo cuidado para que nenhum ponto arrebentasse. Deixei passar uns dias e, com saudade da bicicleta, arrisquei-me a pedalar um pouco. Foi a conta: arrebentara-se um ponto. Entanto, sem maiores problemas. Lá estava, em Cantagalo, o meu tio Euclides (Euclides Santana Moreira) para fazer os curativos e, mais tarde, para retirar todos os pontos sem que houvesse necessidade de retornar ao Dr. Mário Sertã. Tio Euclides era um grande farmacêutico, que bem podia substituir eventualmente um médico, caso lhe fosse concedida pela autoridade competente a devida autorização. Criador de fórmulas para várias enfermidades, dir-se-ia milagrosas, cresceu no conceito dos cantagalenses de tal modo a justificar-se uma placa com o seu nome numa rua ou praça da Cidade dos Melros, que é Cantagalo.<br />De volta em pensamento ao Hospital das Clínicas de Niterói, eis-me diante do Dr. João Márcio, que acabara de receber, por sinal, justos elogios de um assistente por ter sido a cirurgia bem sucedida, ao que o cirurgião não se fez de rogado e abre um largo sorriso, orgulhando-se: “Eu sou eu!” Daí minha mulher tê-lo apelidado, em bom tom e hora, por gratidão pelo que fizera por mim, de Dr. Estrelinha, ao ouvi-lo gabar-se do sucesso da cirurgia. E com toda aquela gente sufocante ao meu redor, sem que arredasse pé, a tentar romper a barreira formada por minha irmã, a cunhada e minha segunda mulher, Franz Kafka talvez escrevesse que tinham montado um velório sem castiçais.<br /><br /><br />7. O cajado<br /><br />O mais curioso, estranho, inusitado é que, ao término das visitas aos internos, um grupo de evangélicos dizia ter visto, com os olhos bem abertos, à saída da UTI, um homem de idade avançada, cor branca, a balançar um cajado. ”O que quer você mais?”, bradava este homem, de pé na Recepção, para o enteado mais novo. “Você já roubou a casa dele e agora quer matá-lo?!”<br />Não conseguimos identificar este homem, cuja barba pendia muito branca, conforme a descrição feita pelos evangélicos, de cuja idoneidade não levanto a menor dúvida. Sou de formação católica e somos todos cristãos.<br /><br /><br /><br />8. As mãos<br /><br />Um dos assistentes do Dr. João Márcio impressionou-me sobremaneira pelo tamanho das mãos, porém em estrita proporcionalidade anatômica à sua altura, de um remanescente escrito de alguma das mais antigas civilizações da América Espanhola.<br />Assaltou-me de imediato o que fariam aquelas mãos em mim Mal não seria. Além do mais, aquele assistente cirúrgico era compatriota de Hugo Chaves, presidente da República Bolivariana da Venezuela, a quem sempre admirei por suas<br />posições antiimperialistas e de solidariedade com os povos irmãos do continente Sul das Américas.<br />Na véspera da retirada do dreno de minha cabeça rachada, o médico assistente venezuelano teve amável conversa comigo e comunicou-me, referindo-se à drenagem do hematoma: “Amanhã pela manhã vou livrá-lo dessa tortura”. A sangue frio, quer dizer, com anestesia local, como eu fazia questão que fosse. Amanhece e submeto-me, na sala de cirurgia, àquelas mãos enormes do venezuelano a puxarem a tortura com pulso firme e exemplar perícia. Com anestesia local, foi uma dor só; teria sido bem diferente, muito mais doloroso, acredito, se fosse geral...<br /><br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzCNLsQ7Mg_euiNocKjDMYYGBnG6qRmNyR8qahL_0uqk6DxWx1NbeH6-NMSbNkAHzumiqmJfiCgv7A46g-SBnUwBosHUfvsrw3f0ULSJR-hpWGkDZIdnUW0PAfqgB4G6OmxkEonmE1XSw/s1600-h/N1Y3-1Zp-1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5382986395682822498" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 288px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzCNLsQ7Mg_euiNocKjDMYYGBnG6qRmNyR8qahL_0uqk6DxWx1NbeH6-NMSbNkAHzumiqmJfiCgv7A46g-SBnUwBosHUfvsrw3f0ULSJR-hpWGkDZIdnUW0PAfqgB4G6OmxkEonmE1XSw/s400/N1Y3-1Zp-1.jpg" border="0" /></a><br />9 - Linha de fogo<br /><br />Aos primeiros relâmpagos já se abria um sem-número de guarda-chuvas, ouve-se um estrondo a um canto lúgubre do céu, que se acinzentara, uma carga de chuva desabava, trovões e relâmpagos entrecruzavam-se, cenário de fim dos tempos. De repente, traiçoeiro, um raio que se partira deitava por águas em fora à nossa frente. Tínhamos saído ainda há pouco de enorme barca da Cantareira que rangia no ancoradouro da Praça Araribóia.<br />A linha de fogo que se formara em baixo seguia seu curso assustador perseguindo passageiros no desembarque, a correr pelo meio-fio da calçada direita do Restauraante Miramar. Corríamos, todos, guarda-chuvas abandonados pelo chão, eu já sem saber por onde andava, até que me vi diante de uma porta de aço entreaberta. Ufh! Entro. Era o tradicional Café Santa Cruz. Eu emudecera completamente, não conseguia articular uma só palavra. O garçom esperou já pondo um copo sobre o balcão. Dirigi-me a ele por sinais com as mãos, mostrando-lhe na prateleira uma garrafa de vermute e outra, de cachaça. E fiz com os dedos o sinal do traçado com as duas bebidas bastante conciliáveis naquela situação.<br />Só assim voltei a falar.<br /><br /><br />10. - O necrológio<br /><br />Dificilmente se via um plenário tão cheio como nesse dia em que chegara a notícia de um acidente aéreo ocorrido, falava-se, próximo a Macaé, tendo como uma das vítimas um funcionário da Assembléia do antigo Estado do Rio, o qual trabalhava no setor de Segurança da Casa. Um negro simpático, alto, muito conhecido, que costumava acompanhar o deputado Vasconcelos Torres em suas andanças de campanha eleitora e, a exemplo de Vasconcelos, mudar um bom charuto de um canto a outro da boca, o que indicava uma ligação afetuosa entre os dois. Macaé era um dos redutos eleitorais preferidos de Vasconcelos Torres, que sempre quando lá ia, acompanhado do seu Segurança, não deixava de tomar uma talagada do uísque escocês que guardavam para ele no bar do Hotel Imbetiba - um hotel, pelo menos àquele tempo, pertencente ao Sesc e encravado numa pedreira que emergia de águas do Atlântico, coisa de cinema... parecia - juntamente com o seu fiel auxiliar, e, de lá, por vezes, partia para visitas a biroscas da região, onde acrescentava umas cachacinhas, acompanhado por fregueses desses estabelecimentos. Correligionários, a rigor, ou eleitores atraídos pela biritagem.<br />O plenário lotado, o deputado Vasconcelos Torres sobe à tribuna e faz o necrológio do funcionário com grande emoção, derramando-se em elogios a ele, a enxugar a todo instante, com um dos muitos lenços que lhe estendiam, as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto. ..."Um funcionário exemplar, com uma larga folha de serviços prestados à Assembléia, ao serviço público, sem que faltasse um dia ao trabalho"... E por aí seguiu o seu discurso emocionado.<br />De repente, um acotovelamento junto ao portão da Assembléia, seguindo-se o desmaio de dona Filhinha sobre o balcão do setor de Segurança. É que voltara o Segurança dado como morto na tragédia aérea de Macaé. Ele próprio carrega dona Filhinha até o gabinete médico para que fosse atendida. E dona Filhinha recupera os sentidos com uns tapinhas nas faces e umas gotas num pouco d'água para segurar as coronárias, os dois se abraçam e o Segurança a quém Dona Filhinha substituía nos atendimentos ao público em sua ausência relata o que havia de fato sucedido: perdera o seu vôo de retorno a Niterói, tomando, então, um outro.<br /><br /><br />11. - Primeira Dama<br /><br />Pelo testemunho insuspeito de Edmar Morel, insuspeito por tratar-se de um dos maiores repórteres que já teve o país, que foi perseguido, por lutar contra o Estado Novo, Getúlio Vargas foi um dos poucos homens públicos de que se pode orgulhar o Brasil em termos de honradez, honestidade, de lisura no trato da coisa pública. No Palácio do Catete, os filhos ainda pequenos, ele os mandava para a escola, de bonde, sob protestos da Primeira Dama dona Darcy Vargas, que replicava: “Assim é demais, Getúlio!” Julgava-o exceder-se na educação dos filhos não chamar um dos automóveis que lhe serviam no palácio para levar as crianças, ao que Getúlio justificava-se: “O exemplo deve vir de casa. E além de Edmar Morel que fechando uma reportagem histórica sobre Vargas revelava que o grande caudilho deixara todos os seus bens penhorados”, Barbosa Lima Sobrinho, que presidiu a Associação Brasileira de Imprensa por longos e profícuos períodos, outro velho adversário político de Getúlio, a certa altura de seus mandatos, irretocáveis, penitenciou-se dos ataques que fizera nos albores de sua vida pública a Getúlio Vargas, agora o reconhecendo um dos homens mais íntegros da história pátria.<br />Darcy Vargas, por sua vez tinha como menina de seus olhos a Casa do Pequeno Jornaleiro, uma de suas obras sociais que, ao lado da LBA, Legião Brasileira de Assistência fazia com que a Primeira Dama não esquecesse que era também uma dona de casa como outra qualquer, pelo amor como tratava os pequenos jornaleiros sob sua guarda, a ponto de nos fins de semana ir aquela instituição, que fica atrás da Praça Mauá, pegar na vassoura e num balde d’água, panos e outros apetrechos de limpeza, sem a menor cerimônia...<br />Passada a era Vargas, nenhuma outra Primeira Dama chega aos pés de Darcy Vargas, e o pior é que uma de suas sucessoras, Rosane Collor, Primeira Dama do governo Collor de Mello, encerrou as atividades da LBA, que se estendiam por todo o território nacional.<br />Os exemplos mencionados vêm a propósito da época em que vivemos após Vargas, João Goulart e Leonel Brizola. Uma época caracterizada pela maracutaia, venda de votos no Congresso Nacional e outras diatribes do sistema, como os escandalos na Previdência Social.<br /><br /><br />12 - O despachante<br /><br />Em redor de uma banca de jornais de Nova Friburgo, bem ao lado do Restaurante Atlantic, próximo ao qual se erguia o prédio-sede da Academia Friburguense de Letras, onde o acadêmico e médico Rudá Brandão Azambuja deixou versos condoreiros polêmicos, que alguns críticos consideravam coisa do passado, como “OH, esponsais do eterno!”, costumavam se reunir nos fins de tardes, além do Dr. Rudá, o também acadêmico e político Nelson Kemp e sua gravatinha borboleta à la Brício de Abreu, colunista de rádio no memorável Diário da Noite antes de encurtar para tablóide, Nelson Kemp sempre presente com um soneto na primeira página das edições dominicais do jornal A Paz, semanário udenista que se editava na cidade em oposição ao pessedista A Voz da Serra, de Américo Ventura,liberal. Havia também outro periódico local, de propriedade de Juvenal Margues e cujo nome foge-me agora. Na Voz da Serra eu escrevia semanalmente a Coluna do Parlamento. Era a coluna do Parlamento Estudantil de Nova Friburgo, um parlamento de estudantes, principalmente do Colégio Modelo, fundado há muitos anos por iniciativa de Élio Sólon de Pontes. Em meu tempo, era presidido por Fernando Ventura.<br />Um dos que paravam, também, para falar de política junto à banca de jornais da Praça Getúlio Vargas era um despachante muito conhecido na cidade cujos tiques nervosos chamavam a atenção de qualquer pessoa que por lá passasse. Um belo dia, o poeta condoreiro Rudá, que conciliava sua dedicação à lírica com a medicina, olhou fixamente para o despachante e, dando-lhe uns tapinhas no costado, descarregou: “Ainda vou lhe pôr curado destes tiques nojentos!”<br />E não foi mesmo? Passa-se o tempo, encontro-me no Rio com o despachante e ele se posta diante de mim; espera um pouco pela minha reação e indaga, feliz da vida: ”Não está notando nada diferente em mim?” Só fiz abraçá-lo.<br />E ele: “O Dr. Rudá me corrigiu, me curou”.<br /><br />13 - Cortado o mal<br /><br />Eu namorava uma moça que, em conversa amistosa desfiou um caso que o abstêmio acaba engolindo a contragosto. O irmão da moça, tendo ido à praia, pisara numa madeira com um prego enviesado. Não deu maior importância ao ferimento, limitando-se a um curativo de simples topada.<br />Tarde da noite, já deitado, sacudindo-se de calafrios, grita pela mãe. A irmã chega primeiro e já baixando o mercúrio do termômetro. Acomoda, então, o termômetro debaixo do braço do irmão, aguarda alguns instantes e vê que a febre estava em torno dos 40 graus. Levam-no imediatamente para um posto do SAMDU e o enfermeiro, para o médico plantonista, vai logo dizendo: “O paciente cheira a pinga, doutor!” A irmã do paciente não esconde que ele, a conselho de uma tia em visita à família, virara goela abaixo meio copo de uísque.<br />“Pois foi a sorte dele!” – disse o médico após medicá-lo adequadamente conforme os preceitos regulares da Medicina, providenciando sem perda de tempo a aplicação da antitetânica, seguida de outros procedimentos afins à enfermagem.<br /><br /><br />14 - A ferroada<br /><br />Num domingo desses em que o sol da Região dos Lagos chega a produzir à nossa frente algo como miríades de estrelas, se bem que temperadas por uma neutralizante e carinhosa brisa de mar, sentara-me num banco de pedra de uma parada de meio de estrada em Araruama, à espera de um ônibus de volta para Niterói. De súbito, a modorra a baixar-me lentamente as pestanas qual um paraguaio a relaxar após o almoço, com a diferença de que o paraguaio costuma estirar-se ao chão ou encostar-se numa árvore, por exemplo, e cobrir a cara com um chapéu de cantante sertanejo.<br />...E zás! Cai uma abelha por perto e ela, em vez de se erguer e continuar seu vôo de rotina, não! Crava uma ferroada em minha mão esquerda... Uui!<br />Um moço atrás de mim faz rapidamente a identificação: “É fêmea!”<br />Um mudo ao lado dele confirma balançando a cabeça. E empina o polegar em direção da boca, após agitá-lo para baixo. Repete o gesto. O seu companheiro assume o papel de intérprete: “Ele quer dizer que basta você molhar a mão com uma cachacinha que não sentirá mais dor”.<br />Corro até minha casa em Araruama, lembrara-me que havia lá uma garrafa de caninha do Norte, abro-a, entorno boa quantidade sobre a ferroada e retorno à parada de ônibus sem mais nenhuma dor.<br />Chega o ônibus, entro fazendo OK com o polegar, o mudo responde fazendo o mesmo. E seu companheiro - o ônibus já em movimento - levanta a voz: “Não esqueça de tomar umazinha depois que chegar!”.<br /><br /><br /><br />15 - O gramofone e a paródia<br /><br /><br />Quando não se tinha outra coisa a fazer: baile na Sociedade Esportiva Friburguense ou na Fábrica Ypu, onde por chegarem mais damas que cavalheiros tomavamn chá de cadeira belas garotas, descomprometidas, para enlaçar ao ritmo de um samba-canção ou de um bolero na voz de Lucho Gatica ou-- de Bievenido Granda –“o bigode que canta” - nos reuníamos, à noite, no Atlantic à espera de A Vida Como Ela É, coluna do dramaturgo Nelson Rodrigues no jornal Ultima Hora, que com a extinção da linha de trem passara a chegar de ônibus. A Vida Como Ela É era a única leitura nossa naquele jornal. Motivo, por vezes, de disputa acirrada quanto a quem leria primeiro. Mário Haiut quase sempre vencia a disputa arrebatando a página de Nelson Rodrigues com uma avidez de leitor de Boccaccio. Além de Mário Haiut, de Rachid Namen, o qual me apelidara de ”doutorzinho”, e o apelido acompanhou-me por muito tempo; de Worms, um colega também no Modelo, operário da Fábrica Ypu com vocação para líder sindical, paravam junto às nossas mesas no Atlantic, às vezes, o poeta Sertório Canedo Neto e Hélio Albano, que aproveitava as noites mais frias de Nova Friburgo para meter-se em pesados casacos glaciais e sair pelas ruas da cidade posando de Rasputin. Moço de uma inteligência invulgar, culto, estudioso, conhecedor profundo de Literatura russa, Hélio Albano pegava aos domingos, pela manhã, o seu gramofone de toda estimação, e alguns discos de clássicos da música russa, indo recolher-se a uma sala do Colégio Modelo, na Praça do Suspiro, estirando-se sobre um tapete para ouvir, monasticamente, as suas músicas preferidas.<br />Na Rádio Sociedade de Friburgo, o nosso Parlamento Estudantil, sob a presidência de Fernando Ventura, obtivera autorização do diretor da emissora, Aloysio Moura, para apresentação de um programa de variedades. Havia até radioteatro, e Hélio Albano era o autor principal dos scripts.<br />No Restaurante Atlantic, não deixávamos de jogar conversa fora, de cometer versos satíricos e outras tiradas irônicas sobre toda uma fauna política, extensivamente cultural. Uma noite, Mário Haiut teve a idéia de parodiarmos um sucesso carnavalesco de Emilinha Borba e que falava em falta d’água. Justamente numa hora em que Friburgo, repentinamente, ficou às escuras. Os assovios, de todos os lados, não se fizeram esperar. O sucesso de Emilinha dizia: “E lá em casa não tem água nem pra cozinhar”...<br />Haiut deu início à paródia em meio ao blecaute: “Há quanto tempo eu não sei como enxergar”. Emendei: “Não sei se saio de casa ou se vou me deitar”... Com a contribuição de cada um dos presentes às mesas que o garçon havia juntado, a paródia à queixa de Emilinha sobre a falta d’água prosseguiu: “Francamente, a viver nesse negrume/ eu preferia ter nascido vagalume/ Enquanto a taxa aumenta/ aumenta a escuridão/ O povo já não aguenta/ tamanha exploração./ E sofre a cidade / sem iluminação.../ Suspiro, Paissandu, Vila Nova e Bar Ypu”...<br /><br /><br /><br />16 - Os galos e Jânio<br /><br />Jânio Quadros era um cultor emérito, exemplar do vernáculo. Até as abobrinhas que soltava uma vez e outra dissimulavam certa elegância de estilo. Pronunciar o ”erre” tocando a língua na parte superior da boca, eis dele um característico bem marcante, talvez o principal. Nas conversas de calçadas, de corredores e de gabinetes do Congresso, citavam-no como “o homem da vassoura”, que se propunha a varrer do país as mazelas.<br />O galo de briga era-lhe o símbolo das vítimas indefesas. Condenava assim, as brigas de galos como sendo uma barbárie. E Jânio, de uma penada, baixa decreto proibindo terminantemente o funcionamento de rinha de galos em toda e qualquer parte do território nacional. Os galistas se alvoroçaram acusando o presidente de arbitrário, acusando-o de impedir, de obstaculizar a atividade econômica. O uso do broche da vassourinha era moda nos passeios públicos.<br />O Diário da Noite passara a tablóide e Alberto Dines, que assumira sua direção, em substituição a Orlando Motta, embalado por idéias modernizantes, na linha daqueles que sustentavam a tese de que eram os nomes de colunistas e não, propriamente, as notícias que vendiam jornal, cuidou logo de contratar os melhores, de maior renome, colunistas do Rio. O primeiro a fechar contrato com o Diário da Noite, foi Nelson Rodrigues, mas o antigo espaço de A Vida Como Ela É não demorou a ser ocupado por outra coluna, escrita por um repórter na mesma linha do dramaturgo, sem que a substituição houvesse levado o público, ou parte do público de Ultima Hora para o Diário da Noite<br />Com todas essas mudanças, fui mantido no jornal de Assis Chateaubriand. Dias antes da proibição, por decreto presidencial, de brigas de galos, sou chamado à chefia de reportagem a fazer a cobertura crítica, com um repórter fotográfico, do funcionamento de uma rinha. Eu e o fotógrafo subimos o Morro da Gamboa. Entramos discretamente, numa espécie de circo muito bem instalado e iluminado, ao qual não faltavam as arquibancadas e ao centro, circundando a rinha, cadeiras preferenciais da platéia. No alto, algo como tribuna, de onde ficava alguém ao microfone comandando a função. Vinham de todos os lados as apostas em um de dois galos a ciscarem dentro da rinha no formato de picadeiro. Um circo psicodélico escrito. Penas a voarem, galos se matando, sangue a escorrer de seus pescoços, soa a campainha, os apostadores vão se retirando, seguem a sua vida normal.<br />No dia seguinte, correm na redação rumores de que na cúpula do jornal não haviam ficado satisfeitos com a reportagem sobre as brigas de galos. É que um dos diretores do jornal era sócio na rinha. Calazans Fernandes, que era o chefe de reportagem, apressou-se a assumir, perante a alta diretoria, a responsabilidade pela publicação. Enquanto isso, o repórter fotográfico mangava: “De minha parte, as lentes não mentem jamais”.<br />E Jânio? Acaba enfadando-se de defender os galos, preferindo continuar dedicando-se à última flor do Lácio, inculta e bela”. E à política, um pé cá e o outro lá, sem perder Londres de vista e, bem assim, sua admiração pelo Che. Numa entrevista de televisão, como o repórter lhe perguntasse por que condecorara Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul, Jânio respondeu: “Um homem honrado, um sonhador, o Dom Quixote das Américas”.<br /><br /><br />17 . Capitão Chateau;<br /><br />A ser verdadeiro o que contavam jornaleiros da Praça Mauá e outras pessoas antigas que costumavam fazer ponto ali pelo Bar do Zica, Assis Chateaubriand pisou terra firme de frente para a Bahia de Guanabara como Cabral em 1500 neste país-continente. Sem Pero Vaz de Caminha para relatar o que Chateaubriand havia encontrado à sua vista e com os bolsos, por assim dizer, furados. Entrementes, encantou-se logo ao primeiro passo com a paisagem e os golfinhos acrobatas. Voltar para o Nordeste, agora que pisei solo que está me cheirando a tão promissor, nem pensar! – devia estar imaginando. Seus biógrafos passantes escreviam nas estrelas que ele começara, no Rio, engraxando sapatos. Da graxa se alça de degrau a degrau até a dono de um império jornalístico, incluindo emissoras de rádio e tevê.<br />Presenciei, um dia, uma cena curiosíssima ao lado de uma banca de jornais perto do Bar do Zica, quase à entrada do edifício do Diário da Noite, na rua Sacadura Cabral. Um homem aproximou-se da banca, pegou um exemplar de “O Jornal”, que era o mais importante do império chateaubriânico, e o abriu como se procurasse constatar se alguma notícia de especial interesse para ele havia saído publicada, recuou até um poste, com o seu guarda-chuva, o jornaleiro não deixava de olhá-lo mas por outra razão: faltava pagar o exemplar. E cobrou, sem saber que se tratava de Assis Chateaubriand em pessoa, que se virando para o jornaleiro sorriu amarelo:” O jornal é meu, meu filho, não está me reconhecendo?” O jornaleiro pediu-lhe mil desculpas após trocar de óculos para enxergar melhor, e o Dr. Assis lhe responde com uns tapinhas cordiais. Sem que lhe pagasse.<br />Numa loja de discos de esquina para a Avenida Rio Branco rodavam o Bat Masterson... “No Velho Oeste ele nasceu/ e entre bravos se criou/ uma grande lenda se tornou/ Bat Masterson”...<br />Braz Bezerra não perdeu a oportunidade de parodiar a musiquinha que se ouviu na Praça Mauá durante muito tempo: “Na Paraíba ele nasceu/ e aqui no Rio se criou/ no jornalismo enriqueceu/ capitão Chateau... capitão Chateau”.<br /><br />18 – A biografia e os braços abertos<br /><br />Nelson Rodrigues, em instigante artigo publicado no Correio da Manhã, relacionou algumas celebridades que Deus as tenha, no mundo das letras e artes, sem que lhes faltasse cortejo à altura de suas obras, e outras, ao contrário, com uns quatro ou cinco presentes às despedidas, todos ou quase todos da família.<br />Nelson deduzia que a cada um que estivesse na fila da imortalidade seria de todo conveniente dar uns retoques à sua biografia após um ecocardiograma ou um eletro, o médico a auscultar-lhe periodicamente as coronárias.<br />Em suma, de um lado, o cortejo a dobrar esquinas e mais esquinas até serpear pela necrópole, já aí, por vezes, em se tratando de sambista ou de banqueiro do jogo de bicho, o surdo de uma ala de escola de samba no compasso do féretro. De outro lado, uma legião de leitores ou companheiros de um autor que atravessara o Atlântico e o Pacífico com suas obras vão surpreender-se de que ele se fora, por um jornal de tevê.<br />Estive no velório do poeta Olegário Mariano, que se notabilizou, principalmente, como autor de “O enterro da cigarra”. Foi no salão nobre da Academia Brasileira de Letras. Achava-me lá a trabalho, como repórter do jornal A Noite, a fim de anotar as presenças. Lembro-me que nesse dia caía uma chuva miúda, persistente. Vieram-me logo os versos mais conhecidos, antológicos, do Poeta das Cigarras: “As formigas levavam-na. Chovia./ Era o fim... Triste inverno fumarento”...<br />Olegário Mariano havia se preparado. Não como Manuel Bandeira, depois, ao escrever o livro “Preparação para a Morte”. Mas, louvando a Deus pelas cigarras, que, assim, continuaram cantando.<br />E Grande Otelo? Baixo astral no Brasil, já perdendo a fama de um de nossos melhores comediantes, bastou pisar em Paris, ainda no aeroporto, uma comitiva francesa recolhendo-lhe as malas para levá-lo em dois ou três táxis ao hotel onde ficaria hospedado, não resistiu à emoção de lhe terem oferecido a chance de recuperar a popularidade fora de seu país. E as emissoras de rádio e televisão brasileiras correram a montar a biografia de Otelo.<br />Acho que Nelson Rodrigues escreveu aquele seu artigo no Correio da Manhã muito antes de ter falecido o Zica da Praça Mauá, cujo nome corria de Beca a Meca como um dos maiores contrabandistas que freqüentaram o noticiário do Rio. Seu concorrente mais falado tinha por nome ou alcunha Fernandinho, sem nenhuma ligação, nem genética, com o “Beira Mar” de décadas mais recentes.<br />O Zica era nos anais fazendários um empresário bem sucedido, dono de hotéis, restaurantes, bares. Conhecido, inclusive, e bastante, no Norte e Nordeste brasileiros. Estava sempre de braços abertos aos nordestinos, que chegando ao Rio, de pau-de-arara, saíam logo à procura do Zica, que os empregava em suas várias empresas.<br />Comentava-se que os braços abertos de Zica, inspirados no Cristo Redentor, se estendiam à Santa Casa de Misericórdia, na rua Santa Luzia, instituição que ele ajudava. Não afirmo e nem ponho a menor dúvida quanto a isto.<br />Fato é que seus funerais cobriam toda a Avenida Rio Branco, desde a Praça da Candelária. E entre os que levavam castiçais se viam juízes e desembargadores.<br /><br /><br />19 - Um tempo sem Oposição<br /><br />Fui o primeiro jornalista, repórter de A Noite, convidado por Ernesto Silva, a pisar solo do Planalto Central antes da construção de Brasília. O avião partira da área militar do Santos Dumont e viajavam comigo, a bordo de um bimotor da FAB, um técnico da Geofoto, empresa encarregada do levantamento aerofotogramétrico do sítio ideal, expressão da engenharia para definir o local mais adequado às fundações da nova Capital, e um fotógrafo do Ministério da Agricultura.<br />O coronel Ernesto Silva era o presidente da Comissão de Localização e Mudança da Capital da República, órgão que funcionava num pequeno conjunto de salas na Esplanada do Castelo. Eu passava por lá quase todos os dias à cata de alguma novidade relacionada à mudança que JK fixara para em cinco anos. No Rio, os cariocas em geral não acreditavam na mudança ou queriam porque queriam que a Capital permanecesse rodeada de praias.<br />O funcionário federal bufava... “Sem praia, bicho, que é isso!?”<br />Mas nem todos na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro pensavam assim. O mineiro Clemente Luz, por exemplo, talvez porque Minas não tivesse praia, sendo Mar de Espanha simples metáfora, entusiasmara-se com a determinação do conterrâneo JK em construir uma cidade do futuro em tempo recorde. Clemente, redator de A Noite por essa época, era, pode-se dizer, meu padrinho de jornal. Dizia-me ele, quando retornei do Planalto: Já estou saturado de viver de vales e penso seriamente em mudar-me para Brasília, se possível, logo que começarem a bater as estacas. Um pouco mais tarde, confirmava esta sua intenção: ”Não dá pra esperar mais. Vou ser candango, o que for”. Acaba revelando-me que já não tinha como quitar meses de aluguel de um quarto-e-sala na Zona Sul do Rio.<br />Brasília não havia sido ainda concluída, faltando muito o que fazer, a cariocada do serviço público federal a recusar, solenemente, altas propostas do governo, pelas quais teria o salário duplicado ou até triplicado se trocasse as areias de Copacabana pela vida que muitos aqui embaixo do Pão de Açúcar diziam ser monótona, tediosa, da nova Capital. As propostas incluíam o direito, inclusive, a moradia de parlamentar, pelo menos por algumas luas. O jornalista Clemente Luz, mereceu a oportunidade de corresponder aos acenos de Brasília, se deu bem, como muitos outros à procura de trabalho e bons rendimentos, principalmente mineiros, como ele, Clemente, e nordestinos. Até engravatados se consideravam candangos na hora em que o dinheiro começava a jorrar para seus bolsos ou suas contas bancárias. Quem demorou a ir ou, o que é pior, não foi, arrependeu-se.<br />O mais interessante, curioso, surpreendente que testemunhei naqueles dias rodando pela vastidão planaltina, ao centro do que se me afigurava imenso campo de pouso uma cruz erguendo-se bem alto a assinalar a localização exata do sítio ideal para acolher uma grande cidade – fora a união repentina, imediata de todos os partidos políticos em Goiânia e localidades vizinhas, como Luziânia, cidade do Brasil-Colônia a riscar a divisa com Minas Gerais. A um vôo de teco-teco para o coração do Planalto.<br />Pelo menos por lá, a UDN, União Democrática Nacional, e o PSD, Partido Social Democrático, que se engalfinhavam no Rio de Janeiro e em outros Estados da região, além do PartidoTrabalhista Brasileiro, o PTB, formavam juntos com Juscelino Kubitschek. O brigadeiro Eduardo Gomes, pelo comportamento de correligionários goianos, extensivamente planaltinos, era juscelinista por aquelas paragens, como qualquer candango que se prezasse. Não havia, pois, Oposição.<br /><br /><br />20. Os patins e a bicicleta<br /><br />Vim a conhecer Tarcísio Tupinambá em Nova Friburgo, casualmente. Eu concluía o científico no Colégio Modelo e era da diretoria do Parlamento Estudantil, que Fernando Ventura presidia com garbo e fluente oratória. Tupinambá passa a vista sobre uns escritos meus, retira de sua pasta, entregando-me, uma proposta de associado da ABDE, Associação Brasileira de Escritores, que assinei depois de ouvi-lo a respeito dos benefícios que a entidade poderia nos trazer, das várias formas de incentivo à literatura, pelo relacionamento, inclusive, com escritores amadurecidos, sem esquecer os jovens a meio caminho.<br />Ao entrar pela primeira vez na sede da ABDE fluminense, fiquei conhecendo a escritora Gilda Braga Linhares, que deixou um livro inédito – “Sombra de um Vôo”, biografia romanceada de Raul de Leoni - cujos originais desapareceram misteriosamente. Estariam com algum herdeiro do poeta de “Luz Mediterrânea”? Os originais, sem cópia – conforme me dissera a autora na ocasião do desaparecimento - continham farto material iconográfico, incluindo-se algumas poesias manuscritas de Raul de Leoni, a quem dona Gilda, ainda bem jovem, conheceu de perto, de patinar em sua companhia no Rink de Niterói, entregando-se a volteios pela praça. Ali havia, mesmo, um rink de patinação, contou-me Gilda Braga Linhares. E que o poeta tinha bem mais idade que ela, cuja beleza que gente daquela época dizia ser estonteante, clara, chamava a atenção de todos. E que ele, talvez por isso, relutasse em namorá-la.<br />Graciliano Ramos foi um dos fundadores da ABDE fluminense. Ia de vez em quando a Niterói. Papear com os companheiros do partidão e das Letras. Muito amigo e admirador de Gilda Braga Linhares, que considerava bastante talentosa, Graciliano sugeriu-lhe, um dia, que escrevesse um romance ambientado na pesca em Jurujuba e a vida de seus pescadores. Não escreveu. E Graciliano havia deixado o tema para ela, que na qualidade de secretária da ABDE lavrava com toda desenvoltura, retidão e boa caligrafia as suas atas, a par de uma atividade política intensa, socialista ardorosa que era, sempre correspondendo-se com companheiras de Paris e de outras partes do mundo a respeito do que deveria ser feito em cada país pela libertação dos povos oprimidos, subjugados ao imperialismo.<br />O tesoureiro era o escritor, português, Sousa do Prado, há muitos anos radicado no Brasil, autor de várias obras, quase todas de ensaios críticos sobre política internacional, uma delas Tartufo Desmascarado”,não raro exaltando a Josef Stalin por suas ações decisivas no sentido de que a União Soviética viesse a tornar-se superpotência em tão pouco tempo. Outro livro de Sousa do Prado, de cunho, segundo suas próprias palavras, espiritista, não propriamente espírita, posto que se considerava o escritor um estudioso da fenomenologia do espiritismo como ciência, relata suas experiências neste campo ao fotografar a aura de diversas pessoas utilizando uma câmera especialmente adaptada para isso. Antecipava-se, assim, ao lançamento pelos soviéticos da máquina Kirlian, destinada a fotografar auras e que logo correu mundo.<br />Lembro-me de Sousa do Prado a pedalar uma bicicleta olímpica, proporcional à sua altura, aquele que, no basquete, fosse um atleta, seria capaz de fazer quantas cestinhas quisesse sem tirar os pés de campo. Era o homeopata da ABDE a fazer da bicicleta o seu único meio de transporte, a recolher mensalmente dos associados, como tesoureiro e cobrador, suas contribuições para a manutenção da entidade.<br />Morava longe do centro da cidade, em Buraco do Juca, praticamente no bairro niteroiense de São Januário, onde montara um laboratório de manipulação homeopática sem fins comerciais. Para suas experimentações no diagnóstico e no combate a várias doenças. O câncer, por exemplo, provocava-o nele mesmo, na mão esquerda, porque a direita, ele explicava, tirante, a rigor, os canhotos, era para os cumprimentos. A cada sessão da ABDE, aparecia o escritor homeopata, ora com a mão esquerda enfaixada, ora sem nenhum ferimento nela. Alguém com algum problema de saúde, em qualquer parte do corpo, podia contar com Sousa do Prado, que já na próxima sessão vinha com aqueles seus vidrinhos da homeopatia aos quais não negávamos fé.<br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoViYXFCY11mG1Xo3rrR7I7s4gVxOzkUVuXTi4Xt7qUSTTGTHqc25l05SZGcnYeraRvHXPmUOv3k150fTGurn2yZ3ruBLYbgv3cwKt5G6o9AIFbwXMTkg0cXp_Wz3qNgfuX-AbplYfFqg/s1600-h/mishka+moldura3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5388866363466649506" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 368px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoViYXFCY11mG1Xo3rrR7I7s4gVxOzkUVuXTi4Xt7qUSTTGTHqc25l05SZGcnYeraRvHXPmUOv3k150fTGurn2yZ3ruBLYbgv3cwKt5G6o9AIFbwXMTkg0cXp_Wz3qNgfuX-AbplYfFqg/s400/mishka+moldura3.jpg" border="0" /></a><br />21. Ficou o ursinho Misha<br /><br /><br />Paravam as máquinas de escrever na redação de O Fluminense, o bom e velho Alcides, já aposentado como revisor de textos para o linotipista compor após passarem pela diagramação - há séculos, dizia-se, sem arredar pé do jornal que era sua família – a cada expediente, que não deixava de cumprir como se estivesse na ativa, descansa a sua inseparável Parker 51 sobre a mesa para assistir na tevê à abertura das Olimpíadas de Moscou. O senhor Alcides, a caminhar para os 90 anos, recolhia-se em um asilo mantido pela Beneficência Portuguesa no outeiro da rua da Conceição, próximo ao seu hospital. Não fazia seu trabalho agora espontâneo junto com os revisores de textos já compostos, estes, numa sala da oficina.<br />De sorte que revisava textos de repórteres e redatores a um canto da própria sala de redação. Gente da oficina que subia à redação naquela tarde por algum motivo parava diante da tevê para olhar um pouco. O senhor Alcides não despegava os olhos de toda aquela imponência dos russos. “E ainda falam deles... – um gráfico comenta a seu lado – que comem criancinhas etc...”. O senhor Alcides esboça um sorriso, até que não se contém: “Com toda esta idade que pesa sobre mim, sinceramente, jamais tinha visto um espetáculo como este, magnífico! Morresse hoje, morreria com a convicção de se tratar do maior espetáculo da Terra, difícil de repetir-se em alguma das próximas olimpíadas”.<br />Tinha razão. Vieram as Olimpíadas de Los Ângeles, quatro anos depois. Um fiascão, diria aquele gráfico ou, sei lá, não teria dito em sua proverbial irreverência?!. Seguindo-se memorável sorriso do senhor Alcides... Deus o tenha, e perdoe, se puder aqueles que derrocaram a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.<br />Pelo menos, ficou na memória e no coração da Humanidade o ursinho Misha, mascote das Olimpíadas de 1980, a testemunhar que nem tudo está perdido. Ficou a lembrança da beleza e vigor das danças regionais, que mostraram a história de cada região de imenso e rico território. De uma perfeita coordenação de movimentos artísticos. Sobretudo, o alto nível de conhecimento do que o homem pode realizar pelo bem comum.<br />As Olimpíadas de Los Ângeles, à diferença, enorme, das de Moscou, apresentaram em sua abertura e no encerramento, como é do feitio do americano do Norte, o quê? Pelo que vimos, de interessante?, nada mais que tristes e enfadonhas réplicas do Velho Oeste com suas diligências e outros arremedos de uma tradição de desbravadores de terras, que não lhes pertenciam, dizimando indígenas, e que, hoje, envergonharia Lincoln.<br /><br /><br />22 - O engenheiro e o trombonista<br /><br />Uma parada de trem a lembrar um desses aprazíveis recantos de turismo, localizada a uns dois apitos da sede municipal - Laranjeiras, o Engenho Central convidava-nos para seus bem cuidados jardins, numa praça a que não faltavam balanços e um chafariz. Dr. Péricles, um engenheiro que parecia ter avançado no tempo por suas invenções de alta utilidade, de uma engenhosidade que só o domínio de sólidos conhecimentos de eletrotécnica podia comprovar, era dono de tudo ou quase tudo que havia por lá. De um hospital muito bem equipado, um clube recreativo que nos fins de semana dava bailes animados por conjuntos musicais de cidades vizinhas, uma fábrica de caramelos que empregava praticamente a população local... Falava-se, inclusive, que o meio circulante de Engenho Central era de sua própria criação, ou seja, um sistema de vales, dentro da lei. Com a atenuante de que, caso alguém fosse viajar, não haveria problema: fazia a troca dos vales de acordo com a lei que regulava o sistema financeiro nacional. Ninguém reclamava de estar levando na cabeça... Fato é que, pelas línguas que se batiam, não havia quem desembolsasse coisa alguma por certos serviços públicos, como o hospitalar, a não ser nos atendimentos recebidos saindo-se de Engenho Central.<br />Eu era rapazola, estudante, quando conheci o pequeno mundo do Dr. Péricles. Funcionários dele levaram-me para lanchar em seu curiosíssimo escritório, ou moradia - não dava para distinguir bem o que era de verdade – e fiquei deslumbrado com o que via: uma faixa rolante de serviços de bar parando à frente de cada um de nós, a deixar micro-sanduíches de queijo e outros recheios, refrigerante e caramelos da fábrica do Dr. Péricles. Olhando mais acima, nova faixa rolante de serviços, desta vez de lava-pratos, talheres e demais utensílios de copa e mesa.<br />À noite, subo ao palco do clube de Engenho Central como crooner de um regional formado por Helinho, no sax, Joel, no piston, “Biju”, no trombone de vara, e Marcos de Clara na bateria. Interpreto um sambinha supimpa da autoria de “Biju”, agente da estação da Leopoldina em Boa Sorte.<br />Edson Fonseca, que era responsável pelo hospital do Dr. Péricles, batia palmas. E eu cantando: “Amor é sonho, é fantasia/ é ilusão/ que a mocidade faz viver no coração./ Depois que vem o desengano/ finda a comédia, acaba a farsa, desce o pano”... Lamento não ter guardado na memória a segunda parte, que seguia a linha melódica da primeira com rara singeleza e que bem podia ter-se perpetuado nas vozes de Ísis e Luma de Oliveira, filhas do agente ferroviário que, entre um trem e outro, teve tempo de ser trombonista e compositor.<br /><br /><br /><br />23 – O cocheiro dos Hegdorn<br /><br />Se havia em Rufino do que se orgulhar era daqueles dentes firmes e fortes que mostrava com um sorriso de marfim rangendo-os para que todos ouvissem, repetidas vezes, depois de lavá-los, no bochecho, a cachaça do alambique da fazendinha dos Hegdorn. À vista de quem passava na estrada, a fazendinha se destaca por cercar-se de atraente bosque. “Vamos à festa de Santo Antonio?” - ao patrão perguntava, e seu Hegdorn lhe respondia que sim.<br />Rufino era o cocheiro dos Hegdorn. Ajeita o acolchoado da carruagem para os patrões se acomodarem, dona Célia sobe pelas mãos do seu Antônio, que se apruma na bombacha e sobe. Rufino senta-se na frente, chicoteia de leve pelos lados e os alazões ganham a estrada.<br />“Amarrou bem as prendas aqui atrás Rufino?” – indaga dona Célia Hegdorn. “Tudo bem atado, patroa”. E os alazões se vão, potoc, potoc, potoc... ganhando estrada, potoc... - altivos. Já na entrada de Boa Sorte, Ôoo! as prendas oferecidas pelo casal Hegdorn são encaminhadas ao coreto da pracinha da igreja do padroeiro da vila para o leilão em benefício das obras sociais da paróquia.<br />Os festeiros rodeiam o padre, aguardando instruções sobre a hora em que deve começar o leilão. O padre empina-se para o espaço a fim de ver como está o tempo. “Não vai chover não seu padre”, diz um festeiro. Um foguete chia para os lados da fazenda do dr. Chicão, explode bem no alto. “Podemos lançar os nossos padre?” A um gesto afirmativo, um a um foram subindo os foguetes. Já a essa altura, Clara juntava as Filhas de Maria para a procissão com o andor de Santo Antonio. A banda de música, que viera de Cantagalo, tomava posição, e o maestro levanta a batuta. Ouve-se a música religiosa de estilo, dando início a procissão. O padre a frente, logo atrás dele um convidado ilustre da região segura uma enorme vela. Os acompanhantes seguem entoando: “Oh virgem... queremos Deus, que é o nosso rei, queremos Deus, que é o nosso Pai”... Há um espocar sucessivo de fogos, desenha-se no céu a imagem de Santo Antonio.<br />Rufino toma umas e outras a um canto da festa, porque nas barraquinhas permitidas pelo pároco, de álcool, só sai quentão. Alguém que já sabe o que Rufino fará traça um círculo no chão para ele pular dentro. E Rufino começa: “Eu nasci de um pingo, de um pingo fui criado... Eu nasci de um pingo”... Mais um foguete sobe... Do coreto, rica peça comprada em Paris, pelo que se ouve aos ombros, oferecimento de dona Berta, é exibida, muitos olhos em cima. O leiloeiro: Uma peça parisiense, da cristaleira de dona Berta. Dou-lhe uma... Dou-lhe duas... Joãozinho de Abreu acompanhava.<br />Sobe mais um foguete, os cavalos da carruagem relincham, Rufino retira de um saco algo que comer para os alazões. Rufino dá um pouco de feno ao cavalo do padre que prefere voltar montado para Santa Rita do Rio Negro, agora Euclidelândia, homenagem a Euclides da Cunha - a pegar o trem especial que trouxera de Cantagalo a banda de música.<br />O casal Hegdorn toma sua carruagem, Rufino chicoteia, de leve, para os lados, os alazões e clareia a boca com aquele sorriso de marfim potok... potok... potok...<br /><br /><br />24 - A onça e os carecas<br /><br />Só gente de muito longe, de passagem por Cantagalo e pelas bandas de Itaocara, Pádua e outras praças, a acompanhar até de onde se via uma capoeira a linha do trem, não entrava para um corte à vontade do freguês ou pra aparar o cabelo, ou ouvir bons dedos de prosa. De pé na porta de sua barbearia, em Cantagalo, a fim de ver quem era, a navalha fechada na mão, “porque sou louco de arriscar-me a uma briga de navalha?- – dizia com um sorriso a balançar o queixo, e depois de mirar bem o sujeito, se vira para uns três fregueses que o aguardavam: “É um andarilho, que não faz mal a ninguém. Bem, pessoal, quem se anima a caçar ouriço caixeiro? – brinca, a tesoura entre os dedos, atendendo um freguês. Crak, crak, crak... Lacordaire está convidando para uma caçada no matão dos caxinguelês, lá perto do Amazonas, onde Aristides – não foi Aristidinho? – chegou a engatilhar para uma onça que o olhava, tristonha, uma lágrima a cair, e teve pena dela. Crack... crack. Recolheu a espingarda e, para não voltar com as mãos vazias, trouxe de lá um mico.<br />Zinho Barbeiro ajeita o espelho atrás da cabeça, o freguês aprova sem deixar de perguntar se era mesmo verdade aquela história do tapete voador.” isso é do tempo em que seu Euclides Santana e outros caçadores de boa mira da nossa Cidade dos Melros atravessavam noites arranchados numa clareira matando muriçocas enquanto não vinha o sono”, observa Zinho Barbeiro. Crack, crack, crack...<br />“Zinho! A Festa dos Carecas tá chegando. Vem gente de longe, como das outras vezes”, um freguês careca-senior alisa a cadeira por baixo. “É...”, Zinho devolve. Mas a minha freguesia com poucos cabelos vai continuar precisando de se livrar dos cabelinhos no nariz e nas orelhas, além de acertar as sobrancelhas. Quanto ao Aristidinho, com este cabelo de galã de cinema, está fora da festa” ...crack.<br />A Festa dos Carecas é das mais tradicionais do Centro-Norte fluminense. Em seguida vêm os festejos da famosa Exposição Agro-Pecuária de Cordeiro, uma cidade cujos moradores sempre andaram às turras com os de Cantagalo, e vice-versa, por causa de futebol. Saíam no braço antes e depois do jogo. Trem especial fazia o retorno da torcida e dos jogadores, dependendo de onde se ferira a partida, a Cantagalo, onde o expresso chegava de viés esperando-0 o agente seu Falcão com dona Mabília atrás de de um tabuleiro na janela da estação, a servir café com bolinhos, e a Cordeiro, ponto de almoço farto no meio da tarde, coincidindo com a hora do trem.<br />Mais assunto para a barbearia, à qual não faltava aquela revistinha A Careta, de crítica política e versos de Bastos Tigre. Indispensável àquele tempo numa barbearia que se prezasse, tanto quanto, hoje, o noticiário esportivo.<br />“Zinho!” – um freguês chegara há pouco, a Festa dos Carecas deve ter sido criada com os primeiros cordões puxados daquela marchinha carnavalesca... À exceção dos cabeludos, na barbearia, em uníssono: “Nós, nós os carecas... com as mulheres somos maiorais”...<br />“É... Só pode ter sido”, responde o barbeiro.<br />E o almanaque do Capivarol garantia que o óleo de ovo realizava milagres. Fazia nascer cabelo na mais luzidia das carecas. Havia, porém, carecas que não estavam lá muito preocupados com este detalhe, “pois... na hora do aperto... é dos carecas”...<br /><br /><br />25 – O golfinho da Barra<br /><br />Roberta vem cavalgando o seu golfinho por águas da Barra da Tijuca, pára e me pergunta se quero uma carona. Respondo-lhe que fica pesado demais para o golfinho. E ela: “Nada disso, porque daqui a pouco, você verá, ele estará com um corpo proporcional ao nosso!” Estala-me cá dentro uma exclamação de certa incredulidade. Em todo caso, espero. Num estalar de dedos, eis o golfinho já de nosso tamanho, ou quase, Roberta deixa cair um braço como me convidando a subir e seguro-me em sua cintura, como faria se minha golfinista estivesse no selim de uma moto.<br />“Legal!” - uma menina a olhar a cena com muito interesse aplaudia... “Nunca a vi por aqui”, diz Roberta, descendo do golfinho, e a acompanho. A menina corre em nossa direção. Aperta, primeiro, a mão de Roberta e logo se identifica: “Lá onde moro, chamam-me de Cacau, mas meu nome mesmo é Claudiane”. “E onde mora?” – indaga Roberta. “Em Maringá, Estado de Mato Grosso”. Carol, voltando do banco em que trabalha, cantarola: “Maringá.... Maringá... la-la-ri do meu sertão”... “Falam que essa música é bem antigona – diz Cacau - mas ainda cantam muito ela por lá”<br />A garota aponta para mais adiante de onde estávamos: “São os meus pais”. Estirados sobre toalhas na areia, acenam para a gente.<br />“Oi, mãe! Oi, pai! Encontrei o Fernando Henriques!”<br />“Quem?”<br />“Fernando Henriques, o do blog!”<br />“Ah, sim! Muito prazer!” – diz a mulher, erguendo a cabeça para estirar-se de novo.<br />Estavam passando dias na Barra. “Alugamos uma casa bem perto daqui; daqui se vê” – Claudiane mostra. E Roberta: “Quer dizer que somos vizinhos de temporada”.<br />“Vocês moram aqui também? Ou estão a passeio, como nós?”<br />“Eu e Carol, aquela moça ali, moramos na terceira casa após a sua”.<br />A menina quis saber como veio parar ali na Barra o golfinho fantástico.<br />“Ele veio no tempo – respondo – de muitas e muitas luas, de muitas décadas atrás. Ele vem denunciar essa poluição... – Cacau não entendeu bem. – Todo esse lixo que jogam na água e vem sujando, envenenando a Baía de Guanabara, cada vez em maior volume de sujeira, acabando com os nossos peixes, tendo já acabado com os nossos golfinhos”.<br />“Quer dizer que eles existiram mesmo!” – Cacau se coça atrás da orelha.<br />“Sim, Cacau”, respondo. ”Não eram como nosso golfinho fantástico, que existe só enquanto o vemos e sentimos. Ao pormos os pés fora da praia, ele... pluft!”.<br />“Some!”<br />“Isso. Já aqueles que brincavam saltitantes sobre as águas em piruetas de palhacinhos de circo para quem passava de barca entre o Rio e Niterói...”<br />“Não existem mais, não é Fernando Henriques? O que é pena”.<br />“Mas jamais deixarão de existir em nossa lembrança, em nosso passado”... Cacau pega no braço de Roberta: “Tenho uma surpresa pra você. Olhe!”. Era uma foto de Roberta a cavalgar o golfinho fantástico da Barra. A mãe de Cacau já recolhendo as toalhas a chama.<br />“Estou indo, mãe!”. E virando-se para Roberta: “Pego depois com você a minha câmera, tchau!”<br /><br /><br />26 - A garrafinha e as três bicas<br /><br />Meu primeiro vôo de helicóptero era pilotado por uma jovem aluna de um aero clube de Niterói, quando pelos nossos ares cruzavam pipas e não balas de metralhadora, o vento das hélices a espalhar crianças à saída de escolas. Era uma reportagem minha e de Lívio Campos, dele a cobertura fotográfica, para o diário O Estado, empresa coirmã do vespertino A Noite. Sobrevoamos em céu de brigadeiro bairros e morros da “banda d´além” da Baía de Guanabara, O Estado foi o jornal em que conheci Eduardo Santamaria, secretário de redação, Hesíodo de Castro Alves, Heitor Gurgel, que se dividia entre O Estado e A Noite. Pouco antes, quando ainda procurava fazer-me jornalista, inscrevi-me no Concurso do Conto Curto promovido pelo suplemento literário Prosa $ Verso, encartado naquele matutino e dirigido por Marcos Almir Madeira e Sávio Soares de Sousa. Juntara-se a essa promoção a Livraria Ideal, de Mônaco Silvestre. Ganhei o concurso com o conto Maneco Antes das Eleições. Algum tempo depois, sai de circulação O Estado, e o suplemento Prosa & Verso passa a ser editado por O Fluminense, órgão sob a direção de Alberto Francisco Torres, que era também seu proprietário.<br />E que dizer do Diário do Povo, que, falava-se, lhe deram sumiço para encobrir sonegação fiscal? Quanto a mim, entretanto, não tenho do que me queixar da folha de José de Mattos, muito bem editada, por sinal, tendo García como secretário dos mais competentes, ainda vivendo a era da caneta e das aparas de papel de que se servia para as titulações e as próprias matérias que redigia. Facto é que foi o Diário do Povo o primeiro a abrir espaço para que eu mantivesse uma coluna política no segundo caderno até o dia em que a Coca-Cola decide pôr fim às minhas críticas, de pernas curtas, à política internacional tal como estava sendo conduzida pelos Estados Unidos da América. Isto, abrindo seu cofre à propagada do refrigerante no Diário do Povo. A minha coluna tinha por título “Por trás Chapinha” e era ilustrada por Aurélio Zaluar. Do outro lado da chapinha, ao contrário do mundo de coisas boas”, como constava no anúncio imperialista, eu mostrava as mazelas do capitalismo, Vez e outra, saía na “Imprensa Popular uma nota sobre assunto abordado na coluna. Até me levarem, sem que eu soubesse, a um depósito da Coca-Cola que estavam inaugurando em Niterói. Mal cheguei lá, puseram em minhas mãos uma garrafinha de Coca-Cola. Tomei, constrangido, um gole e na primeira oportunidade, enquanto discursavam, deixei cair a garrafinha numa lixeira.<br />Nada recebia por aquela coluna em remuneração, mas ela abria degraus, como O Estado, com a diferença de que este pagava-me regularmente, a fim de que galgasse a imprensa carioca.<br />E José de Mattos? Figura curiosíssima, de um lado, e, de outro, um empreendedor, sem dúvida, conforme os costumes da terra. Certa ocasião, o seu jornal amanhece brandindo a seguinte manchete: ‘Lealdino Alcântara, um machão na Prefeitura de Niterói”.<br />A manchete valia quanto pesava.<br />Ah meu primeiro vôo... De não esquecer, também, a viagem de teco-teco, já na era JK, de Goiânia até ao Planalto Central antes da construção de Brasília, com pernoite na colonialíssima Luziânia, cidadezinha que exibia uma fonte de água de que o povo tanto se ufanava, por sua cristalinidade. Quem bebe desta água das três bicas, dizia, estufando-se, um menino da divisa de Luziânia com solo das Minas Gerais, aqui fica!</div>Fernando Henriques Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/08939122812321852607noreply@blogger.com6