Amor e Ódio em Deus

Amor e Ódio em Deus
Romanos 9
INTRODUÇÃO

Uma coisa é considerar a profundidade e a riqueza do amor de Deus. Ele é tão amoroso em sua natureza que a Bíblia pode dizer que Deus é amor. Mas outra história, completamente diferente, é contemplar o ódio de Deus. O ódio, pelo menos no que toca ao ódio dirigido contra pessoas, parece uma completa antítese da natureza de Deus. Podemos ficar à vontade com o ditado segundo o qual Deus odeia o pecado, mas ama o pecador, mas consideramos completamente inimaginável que Deus possa odiar tanto o pecado quanto o pecador.
Em Romanos 9, Paulo fala não apenas sobre o amor de Deus por Jacó, mas também sobre o ódio que sentiu por Esaú: "Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú" (v. 13).

I. O AMOR INCONDICIONAL

Na verdade, virou moda nos meios evangélicos se falar facilmente sobre o amor incondicional de Deus. Certamente é uma mensagem agradável para as pessoas ouvirem e se adapta a certo estereótipo do que é politicamente correto. No nosso desejo de comunicar a candura do evangelho às pessoas, a presteza de Deus em cobrir nossos pecados com perdão e a incrível profundidade de seu amor exibido na cruz, favorecemos uma expressão exagerada do âmbito e da extensão de seu amor. Onde, nas Escrituras, encontramos essa noção do amor incondicional de Deus? Caso o amor de Deus seja incondicional, por que dizemos às pessoas que elas têm de se arrepender e ter fé para ser salvas? Deus estabelece condições claras para que uma pessoa seja salva. Agora, pode ser verdade, em algum sentido, que Deus ame até mesmo aqueles que não conseguem atender às condições da salvação, mas essa sutileza freqüentemente se perde junto ao ouvinte quando o pregador declara o amor incondicional de Deus.
O conceito bíblico de reconciliação pressupõe uma condição de estranhamento entre Deus e o homem. Em Cristo o obstáculo do estranhamento é superado e nos reconciliamos com Deus. Mas essa reconciliação se estende apenas aos crentes. Aqueles que rejeitam a Cristo permanecem inimigos de Deus, estranhos a Deus e objeto tanto de sua ira quanto de sua abominação. Não importa o tipo de amor que Deus tenha pelos impenitentes, não exclui sua justa raiva e abominação por aqueles que se opõem inflexivelmente a seu redentor.

II. O AMOR PRECEDENTE DE DEUS

A maneira como as Escrituras falam de uma presciência de Deus transmite certo amor prévio por seus eleitos. Isso está expresso na "cadeia de ouro" de Romanos 8: "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou" (vs. 28-30).

Romanos 8.28 é um dos textos que mais conforto trazem em toda a Bíblia. Ele assegura ao crente que todas as tragédias são, em última análise, bênçãos. O versículo seguinte fala tanto da presciência quanto da predestinação de Deus. Esse texto é o preferido daqueles que defendem uma visão da predestinação com um conhecimento de antemão. A conclusão que se tira desse versículo é que a predestinação de Deus se baseia no fato de ele conhecer de antemão os eventos futuros. Há sérios problemas com essa visão. Logo mais adiante, Paulo ensina explicitamente que não depende de quem quer. Se a abordagem da presciência for correta, então a eleição depende exatamente de quem quer.

Quando examinamos a "cadeia de ouro" de Romanos 8, vemos que Paulo não só menciona a presciência e a predestinação, mas também o chamamento, a justificação e a glorificação. A ordem literária de Romanos 8 é presciência, predestinação, chamamento, justificação e então glorificação. A declaração no texto é elíptica e está tácito no texto que a letra "a" se refere a todos aqueles na classe mencionada. Desse modo o texto derruba completamente a visão da eleição presciente. Caso o texto queira ensinar a visão presciente da eleição, teria de dizer que alguns dos que Deus conhecia de antemão ele predestinava, e alguns dos que ele chama ele justifica, e alguns dos que ele justifica, ele glorifica. Se a hipótese de "todos" é substituída por "alguns", o resultado não só é confuso, mas todo nosso entendimento da salvação vai por água abaixo.
Quando discutimos a difícil doutrina da predestinação, precisamos ter em mente que nossa eleição é sempre uma eleição em Cristo e para Cristo. Lembre-se de que há uma qualificação bem no meio da "cadeia de ouro":
... aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos (Rm 8.29).
A predestinação é expressa aqui com o propósito de ser conforme à imagem de Cristo. Isso é o que acontece em última análise em nossa glorificação. Mas o propósito final é que Cristo seja o primogênito entre muitos irmãos. Isso nos leva de volta ao amor profundo do Pai por seu Filho, que nós somos adotados não só em Cristo, mas por Cristo. Nós somos os presentes que o Pai dá ao Filho.

III. O PRESENTE DO PAI PARA O FILHO

O motivo de os eleitos serem o presente para o Filho é expresso por Jesus em várias ocasiões, particularmente no Evangelho de João:
"a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia" (6.39,40).
Nessa passagem, Jesus deixa claro que está preocupado com que todo crente seja ressuscitado no último dia. Suas afirmações caracterizam o que o Pai lhe dera que nunca seria perdido. São os crentes que são dados a Cristo pelo Pai e nenhum desses crentes será perdido. Essa, afirmação é baseada no que Jesus declarara momentos antes:
"eu já vos disse que, embora me tenhais visto, não credes. Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou" (6.36-38).
Jesus é enfático em sua afirmação de que todos aqueles que o Pai lhe dera viriam, de fato, a ele. A ordem aqui é crucial. Jesus não diz que todos os que vierem a ele serão dados a ele pelo Pai. Não determinamos, com nossa resposta, quem será o presente do Pai ao Filho. Ao contrário, nossa resposta é determinada por Deus ter nos escolhido anteriormente para que viéssemos ao Filho como se fôssemos dados a ele.
O conceito de crentes serem dados pelo Pai ao Filho forma um elemento central da oração sacerdotal de Jesus em João 17. Jesus faz repetidas referências a essa "doação". Cristo fala da autoridade que recebeu do Pai para que concedesse vida eterna a algumas pessoas. Essas "algumas pessoas" são aquelas que o Pai lhe deu.
Nessa oração fica claro que os crentes são dados pelo Pai ao Filho, uma dádiva que não deve ser perdida ou destruída. Jesus pede que essas dádivas possam ser mantidas e não descartadas. Ele agradece ao Pai que todos tenham sido mantidos, exceto o filho da perdição, que é descrito em outro ponto como tendo sido um diabo desde o princípio. O filho da perdição a que se refere aqui é Judas.

Os eleitos são dados a Cristo como seus irmãos adotivos e filhos adotivos do Pai. Esse é o surpreendente amor que levaria João a dizer mais tarde: "Vede, que grande amor é esse?".

CONCLUSÃO

O evangelho deve ser anunciado com integridade. Isso significa anunciar o amor de Deus, mas também sua ira contra aqueles que se perdem. O amor de Deus não é incondicional. O conhecimento da predestinação como exposta na Palavra de Deus nos estimula a anunciar as virtudes daquele que nos "chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe 2.9).

APLICAÇÃO

Como você vê a responsabilidade da evangelização estando consciente da doutrina da predestinação? Isso o motiva ou desanima? Por quê?

Autor. Marcelo Smeets (Adaptação do capítulo 6 do livro Amados de Deus, de R.C. Sproul)
Leitura Indicada


Rm 8.1 -30
Aos que predestinou

Jo 6.35-51
Que nenhum eu perca

Ef 1 .1- 14
Predestinados para ele

SI 65.1-13
Feliz aquele a quem escolhes

Is 46.1-1 3
Executarei o meu propósito

Mc 13.14-37
Por causa dos eleitos


Ap 17.1-14
Escritos no Livro da Vida


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