O Portal de Divulgação da Aquicultura Brasileira.
 
 
 
XIII Simpósio de Citogenética e Genética de Peixes: "Biodiversidade, Variabilidade e Aplicações". 13 a 16 de outubro de 2009 Ponta Grossa, Paraná, Brasil. Saiba mais.
XVI Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca: A Importância da Engenharia de Pesca na Produção de Alimentos de Recursos Aquáticos". 18 a 22 de outubro de 2009. Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. Saiba mais.
III Simpósio internacional de Nutrição e Saúde de Peixes: 04 a 06 de novembro de 2009. UNESP - Fazenda Experimental Lageado. Botucatu, São Paulo, Brasil. Saiba mais.
VII Semana de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina: 09 a 13 de novembro de 2009. Centro de Ciências Agrárias da UFSC. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Saiba mais.
Grand Shrimp Festival - Festival do Camarão de Acaraú, I Encontro do Arranjo Produtivo Local de Carcinicultura do Litoral Oeste e I Feira Gastronômica de Camarões da Costa Negra: 26 a 29 de novembro de 2009. Acaraú, Ceará, Brasil. Saiba mais.
 
 
 
Clique no título do artigo para ler e clique novamente para fechá-lo..
 
Matrinxã, rápido crescimento e alto valor comercial fazem desta espécie de peixe uma ótima opção para a piscicultura em várias regiões do país.
Por João Mathias.

A fauna aquática amazônica abriga milhares de espécies de peixes - fonte tradicional de proteínas para as comunidades indígenas e populações ribeirinhas. A pesca sempre foi feita em regime extrativista, para consumo local. A piscicultura, porém, vem crescendo na região e, graças a técnicas modernas de cultivo em cativeiro, várias espécies do cardápio local passaram a ser introduzidas e comercializadas em outras áreas do país. É o caso do matrinxã, peixe de escamas, coloração prateada, corpo alongado, capaz de atiangir 80 centímetros de comprimento e cinco quilos de peso, encontrado nas bacias amazônica e Araguaia-Tocantins. Tem nadadeiras alaranjadas, mas a da cauda é escura. Seus dentes são pontiagudos e dispostos em várias fileiras. Peixe do gênero Brycon, do qual também fazem parte a piracanjuba, a pirapitinga, a pirapitanga e a piabanha, vive em rios de águas claras, principalmente junto a pedras e troncos submersos, alimentando-se de frutinhas, sementes, insetos e pequenos peixes. Sua carne é muito apreciada pelos consumidores, apesar da espinha excessiva. Restaurantes e pesque-pague são bons canais de venda para quem os cria. Na Amazônia, os piscicultores manejam o matrinxã em canais de igarapés. Seu manejo é relativamente fácil, posto que se adapta bem em águas correntes e limpas. A espécie ainda tem a vantagem de resistir a águas mais frias e ácidas. Pela tolerância a áreas de altas densidades, possui ótimo crescimento em sistemas de cultivo. Em um ano, devido a sua boa conversão alimentar, a espécie chega a atingir de 800 gramas a 1,2 quilo de peso. Tais características classificaram o matrinxã como recomendado para criatórios desenvolvidos pela agricultura familiar.

Contudo, a baixa oferta de alevinos é um fator que dificulta a expansão da atividade de criação do matrinxã. Além de a desova concentrar-se apenas nos meses de outubro a fevereiro, esse peixe tem de vencer um importante desafio logo que nasce. Nas primeiras 36 a 72 horas de vida, espécies do gênero Brycon praticam o canibalismo, cujo comportamento, se não for inibido, pode levar a uma grande redução da população dos peixinhos. Também por esse fato, o preço de venda de alevinos é alto, oscilando entre R$ 300 e R$ 400 o milheiro.

RAIO X
CRIAÇÃO MÍNIMA: 20 milheiros para fins comerciais
CUSTO: de R$ 300 a R$ 400 é o preço do milheiro
RETORNO: um ano
REPRODUÇÃO: induzida por hormônios
MÃOS À OBRA
INÍCIO - a necessidade de experiência no cultivo de matrinxã na fase inicial torna a compra do peixe em estágio mais avançado de desenvolvimento a melhor opção para quem conhece pouco a atividade. Assim, é indicado comprar alevinos com mais de 60 dias, após as fases de recria e de pré--engorda. Para adquirir, há viveiristas com criação da espécie em várias regiões do País. Porém, antes da compra, procure ter referências do local da venda para garantir a qualidade do matrinxã.
TRANSPORTE - do viveirista ao local de criação, transporte os peixes em saco plástico com água e com cuidado. Evite fazer esse deslocamento em dias de muito sol ou calor intenso. No viveiro de cultivo, mergulhe o saco fechado com alevinos para aclimatação. Após 20 minutos, abra o saco e, aos poucos, misture a água dos dois ambientes.
AMBIENTE - o matrinxã é uma espécie de peixe que vive bem em águas correntes, frias, alcalinas, neutras e até ácidas. Em seu hábitat natural, em rios de águas claras, o matrinxã gosta de ficar junto a pedras e troncos submersos.
ESTRUTURA - o local de criação do matrinxã pode ser em tanques escavados, gaiolas e ainda feito a partir do desvio de um pequeno rio ou riacho, com água de qualidade. No estado do Amazonas, os igarapés são bastante utilizados como sistema intensivo. Para construção da área, são necessárias paredes laterais que podem ser de madeira ou pneus usados. Pilastras de concreto com ranhuras, onde são colocadas tábuas de contenção de água, são usadas para elevar o nível de água. Recomenda-se uma vazão mínima de 30 litros de água por segundo e módulos de até 100 metros quadrados, com espaço médio entre si de 1:5.
CUIDADOS - embora resistente, o matrinxã precisa de alguns cuidados gerais na criação para não se estressar nem ficar vulnerável a doenças. Para não causar perdas na atividade, é bom evitar alta concentração de peixes, alimentação intensiva, acúmulo de matéria orgânica, além de manter a limpeza do viveiro.
ALIMENTAÇÃO - a preferência do matrinxã é por frutos, sementes, insetos e peixes pequenos, ocasionalmente. Em cativeiro, porém, pode ser fornecida a mesma ração peletizada para peixes carnívoros. Ofereça 10% do peso total do plantel dividido em quatro a seis refeições por dia. O custo da alimentação pode variar de 50% a 80% dos custos totais da criação. Guarde a ração em local seco, bem ventilado, temperatura amena e protegida de insetos, animais e luz solar direta. Mantenha estoques somente para 30 dias.
REPRODUÇÃO - o uso de hormônios para a reprodução induzida do matrinxã é uma prática complexa, que necessita de tecnologia específica e, portanto, reservada para quem já é profissional na atividade. O processo natural de canibalismo nas primeiras 36 horas de vida dos alevinos de matrinxã também exige do criador cuidado redobrado.

*Geraldo Bernardino é secretário executivo adjunto da Sepa - Secretaria Executiva Adjunta de Pesca e Aquicultura, Sepror - Secretaria de Estado de Produção Rural, Manaus, AM, tel. (92) 3237-4025, gbernardino@sepror.am.gov.br
Onde adquirir: Águas Claras, (19) 3656-6911; Fazenda Santo Antônio, (92) 9114-4838; Projeto Pacu, (67) 3321-1220
Mais informações: o Instituto de Pesca oferece orientação técnica qualificada, Av. Francisco Matarazzo, 455, Parque da Água Branca, CEP 05001-900, São Paulo, SP, tel. (11) 3871-7530, fax (11) 3872-5035, instituto@pesca.sp.gov.br, www.pesca.sp.gov.br



O cultivo de ostras como modelo de aquicultura ecológica para o desenvolvimento das comunidades litorâneas do Brasil.
por Maria Eugenia Ribeiro

Nas últimas décadas, a aquicultura apresentou crescimento superior a qualquer outro sistema de produção animal. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), os índices de crescimento apresentaram uma média mundial de 8,8% por ano desde 1970. No mesmo período, a produção pesqueira apresentou taxas de 1,2% ao ano e a pecuária, taxas de 2,8%. Em parte, esse crescimento se deve ao colapso da pesca em todas as regiões do mundo.

Diante da importância sócio-ambiental da aquicultura como alternativa ao esgotamento dos estoques pesqueiros, a atividade foi considerada como a "revolução azul", o futuro mundial na produção de alimentos. Entretanto, como qualquer prática de produção agrícola ou pecuária, essa atividade gera impactos ao meio ambiente. Dessa forma, é fundamental que as relações existentes entre aquicultura e ambiente possam ser mantidas com base no desenvolvimento local sustentável. Dentro desse contexto, atualmente discute-se sobre a adoção de práticas que permitam reduzir os impactos ambientais através da "aquicultura ecológica". O termo pode ser definido como um modelo de produção aqüícola que incorpore os princípios ecológicos do funcionamento dos ecossistemas, os aspectos sociais e o desenvolvimento de comunidades.

A malacocultura ou cultivo de moluscos bivalves (ostras, mexilhões, vieiras e berbigões) é a que mais se aproxima de um modelo de aquicultura ecológica. Caracteriza-se por pouco alterar a paisagem original das regiões, pois não é necessário movimentar grandes quantidades de terra para construção de viveiros, nem desmatar mangues e/ou matas nativas. Apresenta um baixo impacto ambiental, utilizando os ambientes naturais previamente gerados e posteriormente reciclados pela natureza.

A malacocultura representa uma parcela significante da produção mundial de pescado e cresceu de 3,3 milhões de toneladas em 1990 para quase 12 milhões de toneladas em 2005. Na América Latina e Caribe, a produção de bivalves aumentou de 10.323 toneladas em 1993 para 128.418 toneladas em 2005 e o Chile é o principal produtor, com 99.486 toneladas, seguido de Brasil e Peru.

No Brasil, a produção aquícola é relativamente baixa quando comparada a outros países, mas vem apresentando um crescimento acelerado. A produção total aumentou aproximadamente de 30.000 toneladas em 1990 para 176.531 toneladas em 2000. A contribuição da aquicultura na produção nacional de pescado aumentou de 4,3% em 1994 para 28,1% em 2003, quando foram produzidas 278.128 toneladas.

O cultivo de moluscos foi introduzido em 1960, mas só em 1989 desenvolveu-se como uma importante alternativa econômica para pescadores artesanais, contribuindo para a fixação das comunidades tradicionais em seus locais de origem. A produção está concentrada nas regiões Sudeste e Sul e é representada principalmente por mexilhões que contribuíram com 13.000 toneladas em 2005, e ostras, com 3.700 toneladas. A ostra do Pacífico (Crassostrea. gigas) é a espécie mais cultivada no país, em águas mais frias da região Sul, e as ostras nativas (C. brasiliana e C. rhizophorae) são produzidas em diferentes escalas em quase todos os estados litorâneos de sul ao norte do Brasil.

A despolarização do cultivo de moluscos e de seus benefícios sócio-econômicos das regiões Sudeste e Sul para as regiões Norte e Nordeste está baseada no cultivo das ostras nativas que são comumente extraídas nos manguezais e consumidas em vários estados dessas regiões. Na região Nordeste, o potencial para a produção de ostras nativas é elevado, mas existem poucas unidades de cultivo instaladas.

Na região Meio-Norte, os estuários dos Estados do Piauí e do Maranhão são exemplos do mau aproveitamento da capacidade para a ostreicultura. Apesar da alta produtividade primária, da boa qualidade da água e da disponibilidade de áreas propícias para cultivo, atualmente a produção de ostras é, em sua grande maioria, originada da captura no ambiente natural. Durante a plenária do II Seminário de Ostreicultura do Baixo Parnaíba, realizado em maio de 2006, comerciantes afirmaram que a produção é insuficiente para atender a demanda do mercado consumidor de Fortaleza (CE) que chega a importar ostras produzidas em Santa Catarina.

Uma das limitações para o desenvolvimento do cultivo de ostras nativas é a correta identificação das espécies. A grande variação genética e da taxa de crescimento das ostras no litoral brasileiro merecem estudos mais aprofundados que elucidem suas características genéticas e fisio-ecológicas. A ocorrência da espécie C. brasiliana com crescimento bastante superior à C. rhizophorae abre novas fronteiras que podem aumentar a produtividade dos cultivos e fortalecer a atividade no território nacional.

Dentro deste contexto, a Embrapa Meio-Norte conduz, desde 2003, projetos voltados ao cultivo de ostras nativas na região do Baixo Parnaíba. A Unidade também integra a Rede Nacional de Pesquisa em Ostras que tem o objetivo de realizar a caracterização genética e a identificação das espécies e populações de ostras nativas, bem como estabelecer um programa de melhoramento genético através da seleção de linhagens adaptadas a diferentes condições ambientais ao longo do litoral brasileiro.

AUTORIA

Angela Puchnick Legat
Pesquisadora da Embrapa Meio-Norte

 

A carne é nossa
por Atenéia Feijó (Jornalista)

Faz tempo a humanidade entendeu que para continuar consumindo proteína animal deveria trocar a caça silvestre por animais criados em cativeiro. Não apenas por comodidade, mas principalmente porque a natureza sozinha não daria conta de gerar o necessário para matar a fome da população humana carnívora em expansão na Terra. Insistir e contentar-se naturalmente com o produto das caçadas resultaria em extinção: da caça e dos caçadores.

Ou seja, mesmo no topo da cadeia alimentar, os humanos não teriam mais carne para comer.

Daí cuidaram de criar seus bichos de acordo com suas preferências culinárias. Hoje, apesar do nosso país ainda ter gente desnutrida, a cada três quilos de carne bovina exportada no mundo, um quilo é do Brasil. Como se não bastasse, os frigoríficos JBS e Bertin se fundiram fazendo surgir a maior produtora multinacional de carne do planeta; vendedora também de couro, leite e derivados.

A carne é nossa, está falado. Chegou a vez agora da multiplicação dos peixes. Mais ou menos pela mesma razão do que aconteceu em campos e florestas, não dá mais para continuar pescando indefinidamente em mares, lagos e rios. No Brasil, e mundo afora, a criação em cativeiro vem garantido excelentes peixes na boca de seus apreciadores.

Mas a piscicultura exige água disponível, dinheiro e tecnologia. Sem esquecer de suas rações e cuidados permanentes com a saúde da criação. Para quem não sabe, os peixes de cativeiro são engordados em fazendas com tanques escavados de água doce ou tanques-redes (no mar) de água salgada.

Devem ser tratados especialmente para consumo e por pessoas treinadas de maneira adequada. Como acontece na criação de bois controlada por rastreamento na cadeia produtiva; iniciada na fazenda e estendendo-se à indústria frigorífica, estocagem e expedição dos produtos.

Ao contrário do que muitos pseudoambientalistas de prontidão imaginam, o novo modelo (ou paradigma) de economia sustentável para o século XXI não dispensa pesquisa científica, tecnologia sofisticada e relações comerciais. Tampouco pretende que as pessoas dispensem um consumo inteligente de energia: a começar pela comida.

Onde, como e o que plantar ecologicamente correto, capaz de alimentar 6,8 bilhões de humanos? Está aí o desafio agrícola da vez. E a precisão de um equilíbrio demográfico pra valer.

Outra coisa. As novas formas de energia e de se viver, consideradas hoje mais propícias à mudança do clima global, certamente acabarão superadas em algum outro momento. Quem diria que os combustíveis fósseis seriam condenados? As hidrelétricas questionadas por indígenas? Futuramente, a energia eólica, por exemplo, terá alguma contra-indicação? Não dá, portanto, para desacelerar festivamente; descansar...

Quem dera. Nem que as emissões de C02 provocadas pelos humanos diminuam agora. O núcleo da Terra vai se conservar incandescente, a crosta deslizante, a lava em erupções vulcânicas etc etc. Sem falar nos meteoros tirando fino deste globo rochoso. E aí a humanidade deve jogar a toalha? Nunca!

Quando defendo biodiversidade, bancos genéticos e reservas naturais estratégicas, os motivos são bem objetivos. Não, não são para contemplação. Então, para que existiriam? Para mim, para serem estudados; compreendidos. Ensinar-nos a pensar, fazer-nos evoluir e nos auto-sustentar humanamente. Entretanto, há quem propague a sustentabilidade como ideologia para se obter uma "felicidade concreta". Desculpem-me. Creio que a felicidade está em todos nós: subjetiva.

Tem que se aprender a se sentir feliz. Em vez de ficar desejando enxergar a vida por outros olhos ou querendo que os outros a enxerguem por nossos olhos. Res-pi-ra-mos o mesmo ar cada qual com o seu nariz. Se não fosse assim, a Terra não seria esta. E a carne não seria nossa.

 

Ateneia Feijó é jornalista


 
 
 
© Aquanordeste - 2009

Aquanordeste Represent. Consult. Ltda.

Desenvolvimento: