segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Sobre distâncias e proximidades

Isto está perto. Aquilo está longe. Perto e longe. Distâncias e proximidades. Como quase tudo na vida, o significado do que é perto e do que é longe não é definitivo. Distâncias e proximidades estão muito mais relacionadas com sentimentos do que com localizações físicas. Digo isto sem considerar aquela sensação clichê (mas muito verdadeira) de que estando em um lugar podemos, através da imaginação, ir longe, viajar.
Refiro-me mais especificamente à real sensação de estar em outro lugar. Sensação esta que está intimamente ligada a pessoas. É difícil, para não dizer muito difícil (para não dizer impossível), sentir-se e visualizar-se em outro lugar que não o que se está fisicamente sem que uma pessoa seja a razão para isso. Você não vai se perceber em outro lugar somente porque gosta daquele lugar, porque aquele é um lugar bonito e agradável. O máximo que pode ocorrer é você se sentir em outro lugar porque aquele lugar faz você relembrar de momentos em que passou ao lado de alguém. Assim, você não se sentirá em outro lugar por causa de uma pessoa, e sim em razão de esse lugar te lembrar uma pessoa.
Perto e longe. Distâncias e proximidades.
Da mesma forma como os quilômetros impedem o aperto de mãos, impossibilitam o abraço apertado e tornam impossível um simples beijo no rosto, eles inflamam sentimentos. A distância funciona como uma dose a mais de oxigênio para o fogo.
Esse sentimento inflamado não é, porém, um sentimento irreal, surgido a partir da criação de expectativas sobre o outro, sobre o desconhecido. Ele pode até ser, mas não necessariamente é. Como disse, a distância é uma dose a mais de oxigênio, um extra. A faísca já tinha ocorrido e o fogo já existia.
Falo sobre isso porque tenho me sentido e me visto cada vez mais em outros lugares que não o que eu estou. Seguidamente me percebo ao lado de amigos queridos que não encontro há algum tempo e mais seguidamente ainda tenho estado junto a alguém que nunca estive sequer perto fisicamente. Não sei se isso é normal, mas o fato é que tem ocorrido e que não vejo problema. Ao contrário. Gosto quando isso ocorre. É uma fuga à realidade (e um encontro com o que é real pra mim) que tem me feito bem.
As coisas à minha volta tem ocorrido de um modo muito convencional para o meu gosto. Muito mesmo. Sinto uma tremenda vontade de jogar tudo pro ar e sair por aí. Até motivo eu tenho. Ir atrás do que eu quero. Encontrar o que eu quero e quem eu quero. Não importando os empecilhos que essa realidade falida me apresenta. Não importando as distâncias e os caminhos. Não importando nada.
Não sei o que falta para eu fazer isso. Não sei, ainda, o que é, mas sinto que falta alguma coisa. Sinto que falta alguma simples coisa (simples, mas gigante). Hoje falta menos do que ontem e amanhã faltará menos ainda. Quando não faltará nada? Não sei. Talvez nunca. Talvez já não falte e eu crio motivos por medo. Talvez. Enquanto isso, eu sigo aqui, mas estou longe. Bem longe.

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