“Como o silêncio
acabasse por aterrar-me, abri uma das janelas, para escutar o som do vento, se
ventasse. Não ventava. A noite ia tranqüila, as estrelas fulguravam, com a
indiferença de pessoas que tiram o chapéu a um enterro que passa, e continuam a
falar de outra coisa” (Machado de Assis, “O Enfermeiro”, 51).
Este verão
eu estudei as obras de Anton Tchekhov para uma aula na universidade. "O Enfermeiro" me lembrou bastante de um conto dele chamado “Sonhos” em que uma menina
de 13 anos trabalha de enfermeira para um bebê. Os empregadores e pais do bebê
abusam ela fisicamente. Ela é requerida ficar quase a noite inteira sem dormir
para cuidar do filho deles, que chora a noite toda. Ela fica tão cansada e
abatida que certa noite, delirante de cansaço, ela vê que é o bebê que a impede
de dormir . . . e o sufoca.
Machado de
Assis (1839-1908) escreveu durante a mesma época que Anton Tchekhov (1860-1904). Os
dois se encaixam bem no movimento realista. Esta passagem do conto ilustra bem
uma característica que eu sempre associava com Tchekhov, isso é, a indiferença
da natureza. Procópio, depois de ter esganado o coronel, fica aterrorizado e
abre uma janela, querendo escutar o vento para ficar mais calma. Mas a noite está
completamente indiferente à sua angústia. Tranquila, ela quase zomba do
desespero dele.
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