Entrelaçados

Com seis anos de militância nos Coletivos de Jovens, Dailson Andrade Santos, um jovem de apenas 25 anos, já acumula um vasto currículo pessoal e profissional, fruto da experiência de participação nos movimentos sociais. Além de coordenador geral do Coletivo Regional Juventude e Participação Social, Dailson acumula os cargo de diretor operacional da Cooperativa de Crédito Rural Ascoob Cooperar; assessor técnico do Coletivo Ação Juvenil de Tucano (COAJ); consultor técnico da Associação Humana People to People Brazil (HPPB); e secretário de formação política do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores de Tucano.  Com uma agenda super lotada, ele ainda acha tempo para frequentar o curso de Ciências Contábeis na Universidade Norte do Paraná (Unopar) e também para conversar um pouco com Alô Sisal sobre sua trajetória no Coletivo.

Dailson, você hoje é  reconhecido como um modelo de jovem protagonista dentro dos movimentos sociais, um exemplo para tantos outros jovens que estão iniciando a caminhada. A que você atribui essa conquista?
Olha, acho que uma das coisas que mais marcaram essa curta trajetória minha nos movimentos sociais foi a identificação teórica com a vivência prática. Trocando em miúdos, antes de estar no movimento já sofria diariamente os problemas de um adolescente pobre do sertão baiano, sofria as mais diversas adversidades que muitos outros sertanejos sofreram. A partir do ingresso no movimento, comecei a desenvolver a visão de que aqueles problemas não eram puros problemas, eles deveriam ter uma explicação. Isso, sem sombra de dúvida, foi o que me inspirou a dedicar cada dia de minha vida ao movimento juvenil.

 
Só na sua família, três pessoas fazem parte do coletivo de jovens. O que atrai tanto os jovens para esse movimento e quais são as vantagens que cada membro pode usufruir?
Em minha opinião, o que faz o Coletivo de Jovem ser um movimento moderno, atuante e propositivo é a junção de jovens como eu, meus irmãos e tantos outros jovens que trabalhamos. Quem vem para atuar com a gente são jovens que sofrem os mesmos problemas que vivenciamos diariamente. 

Porém, percebo que nosso movimento a cada dia se destaca no cenário local, regional, estadual, nacional e internacional, pela sua capacidade de propor a construir a formulação clara de políticas públicas de juventude. Os exemplos em que estamos inseridos é a prova disso: participar do Conselho Estadual de Juventude, da rede do jovem rural brasileiro, da câmara técnica de juventude rural do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e tantos outros exemplos de ocupação qualificada de espaços estratégicos.
 
Você hoje, aos 25 anos, é um dos diretores ASCOOB, um  cargo de destaque e de grande responsabilidade dentro da instituição. Você acha que a relação com a luta dos movimentos sociais contribuiu para que você chegasse onde está? Caso sim, de que forma?
Meu caro Josevaldo, essa pergunta é muito pertinente, porque a minha relação com os movimentos juvenis é a mesma relação que os peixes têm com as águas, inseparável, e se hoje eu já ocupei e ocupo espaços estratégicos, e por que não dizer, de status, é unicamente por conta de tudo aquilo que consegui aprender nessa curta trajetória de seis anos de movimento.

 
Os conhecimentos que aprendi relacionados à vida em sociedade, de conhecer meus direitos e, principalmente, os que me foram negados durante muitos anos, conhecer profundamente o associativismo, empreendedorismo e o cooperativismo como ferramenta viável ao desenvolvimento sustentável de minha região; isso que aprendi, meu caro, muitas universidades podem até oferecer, porém, acredito que muitos doutores nunca tiveram a oportunidade fantástica de desenvolver a teoria máxima do conhecimento, que é a teoria x prática, assimilações que  coloco em prática diariamente.

 
Você também está  coordenador geral do CRJPS. Existem hoje dentro do Coletivo outros jovens preparados para assumir esse cargo?
Somos muitos jovens qualificados ocupando muitos espaços e o fato de hoje estar sendo coordenador geral do Coletivo Regional Juventude e Participação Social é a prova que evidencia que sou o fruto de um processo muito maior que eu.
Não tenho dúvidas que minha passagem na direção do grupo não será eterna. Hoje lhe digo com toda convicção que tem jovens dentro do movimento muito mais qualificados até mesmo a frente de mim.


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Alô Sisal foi até a cidade de Tucano, distante 252km de Salvador, para conversar com o jovem Davi Andrade Santos, 27, mais conhecido como David. Membro do Coletivo Ação Juvenil de Tucano (COAJ), David fala sobre sua experiência no coletivo de jovens, da experiência na ONG Humana e de sua tentativa de ocupar uma vaga na câmara de vereadores do município. Filho de agricultores, ele mora no Povoado do Cajueiro e cursa o 7º semestre de serviço social na cidade vizinha de Euclides da Cunha.


Quando e como começou sua relação com os coletivos de jovens?
Bem, eu iniciei minha caminhada nos coletivos de jovens a partir de meus próprios irmãos, que foram pioneiros em meu município, mas me integrei mesmo e me senti parte a partir de abril de 2004, quando tive a oportunidade de participar de um Congresso de agricultores familiares em Simões Filho BA. Daquele dia em diante me senti incomodado com as reais necessidades da população rural e decidi conhecer melhor de forma crítica a minha região.

Quais contribuições a participação no coletivo tem trazido para sua vida?
São inúmeras contribuições que chegam ao ponto de eu nem conseguir descrever, porque o coletivo de jovens me transformou numa outra pessoa, num cidadão, um sujeito com dignidade; só que a mais importante foi aprender a dar valor às pequenas coisas, a ter humildade e me incomodar com os problemas da minha comunidade e região.

Você, em 2008, foi candidato a vereador pelo seu município. Quais fatores da sua luta nos coletivos de jovens possibilitaram ou influenciaram para que você tomasse essa decisão?

Bem, quando me refiro na resposta anterior que me tornei um cidadão crítico e que estava incomodado com os problemas da região, foi isso que me fez entrar na política partidária, pois passei a acreditar que para mudar a realidade política de nossa região é preciso estar dentro. O coletivo de jovens me influenciou muito para minha entrada na política partidária, pois acredito que para mudar a política de nosso município precisamos mudar as cabeças pensantes dessa política e isso só podemos mudar lá dentro, como nosso querido Lula fez.

Quais são os principais desafios hoje para a juventude tucanense?

Conseguir ter mais acesso à universidade, a oportunidades dignas de emprego dentro do próprio município, e o incentivo ao esporte.

Você tem um longo histórico de atuação junto com a juventude do seu município, mas não obteve boas respostas nas urnas desse público. O que aconteceu?
Na verdade, ai entra um pouco da política em si, pois naquela ocasião fui candidato sem nenhuma estrutura física (humana) e nem financeira, e tudo pra mim naquela campanha era algo novo e realmente serviu de experiência que vou carregar comigo pro resto de minha vida. Pude ver naquela campanha como funcionava de perto o ainda coronelismo político do município, o quanto é grande a falta de informação da população sobre a política em si, e que os próprios jovens do grupo (coletivo) tinham até vontade de votar em mim, mas não podiam porque muitos de seus pais não permitiam. Então, pude ter uma noção maior do problema e decidi enfrentar todos eles.

Fale um pouco sobre seu trabalho na ONG Humana People to People?
O meu trabalho na Humana foi muito enriquecedor, pois fui trabalhar com comunidades carentes do município de Quijingue e Cansanção. Vi situações que me chocaram bastante e o meu trabalho lá era mais de consultoria aos projetos que a Humana desenvolvia nas comunidades e também captar recursos para implementação de novos projetos. Pude também participar de um intercâmbio cultural com jovens de outros países da América Latina, Europa, África e Ásia, conhecendo muita coisa que para mim era novidade.

O Coletivo Ação Juvenil de Tucano recebeu recentemente uma premiação da BrazilFoundation.  Do que se trata?

A premiação foi um projeto da própria fundação que era a BrazilFoundation 10 anos, que, ao completar 10 anos de atuação no Brasil, resolveu fazer um resgate da história e memória e a sistematização da sua experiência e das experiências já apoiadas por ela nesses anos. Ela lançou um edital para selecionar 20 projetos já apoiados por ela e o nosso projeto de Participação Juvenil no Orçamento Público Municipal, que foi apoiado em 2009, foi uma das 20 experiências selecionadas para contar a sua história e memória, junto com a BrazilFoundation. O COAJ recebeu uma premiação de R$ 36.000 para sistematizar no período de dez meses a sua história e memória.


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 Nessa entrevista, Alô Sisal conversa com Givaldo Souza, 25, jovem morador da cidade de Santaluz. Pedagogo de formação, Gil, como é popularmente conhecido, é egresso do Coletivo de Jovens do município e atua hoje como orientador educacional do Movimento de Organização Comunitária.

Na sua opinião, quais foram as principais motivações que culminaram para a organização coletiva dos jovens do Território do Sisal?

a) A necessidade de se fortalecer diante de dificuldades enfrentadas pelos/as jovens no tocante às políticas públicas, da garantia de direitos, do acesso a cidadania e a qualidade de vida no meio rural; b) o interesse em se criar instrumentos de representatividade política das juventudes para atuar nos espaços de definição, criação, execução e controle social das políticas públicas; c) o desejo de se construir e se debater um projeto de desenvolvimento para o campo, onde o/a jovem seja concebido como sujeito de direito, agente de desenvolvimento, indutor e protagonista de mudanças reais na realidade.
Quais contribuições a juventude tem trazido para a região?
a)  A construção de referências no campo da participação sócio-política, do protagonismo e empreendedorismo juvenil, garantindo atenção (ainda que mínima) das políticas, instituições e gestores públicos da região; b) a contribuição na construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária, a partir da participação cidadã em escolas, ONG's, organizações sindicais, associativas, segmentos juvenis, culturais e em diversos outros espaços da sociedade; c) na qualificação dos espaço político-institucionais por meio de uma prática/postura inovadora, proativa, propositiva e protagônica, que se efetiva em mudanças reais na realidade.

Essa atuação protagonista juvenil já nasce em cada jovem ou vem através de estímulo?
Sob minha ótica, protagonismo é uma postura, uma escolha, uma atitude. Como tal, não nascemos com ele, o desenvolvemos no decorrer de nossas vidas. A juventude possui energia e disposição por natureza, mas só isso não garante protagonismo, é preciso o estímulo, o incentivo e a parceria para que ele aconteça.


Quando você começou a fazer parte dos movimentos organizados de juventude e quais aprendizados eles proporcionaram para sua vida profissional e pessoal?
Iniciei minha trajetória de trabalho com as organizações sociais no ano de 2002, quando aos 17 anos de idade fui convidado pela AMPPM – Associação dos Moradores e Pequenos Produtores de Miranda para coordenar um trabalho num grupo de jovens da Comunidade de Miranda, no Município de Santaluz-Ba.
Os aprendizados foram: valorização da minha identidade de jovem rural, conhecimento dos limites e possibilidades para uma vida com dignidade e sustentabilidade no campo, compreensão da importância da participação social, política, cultural da juventude para a garantia de seus direitos e para o acesso a cidadania integral, valorização dos saberes de um povo que trabalha por ideais que buscam melhorar a vida das pessoas e a sociedade em sua volta e a responsabilidade em dar minha contribuição na redemocratização do país.

Como você visualiza a região sisaleira nos próximos 20 anos e qual será o papel da juventude nesse cenário?
Eu vejo uma região próspera em todos os sentidos, com uma juventude cada vez mais atuante e comprometida com a permanência digna no campo, protagonizando ações por um semiárido mais justo e igualitário. Acredito no potencial da juventude rural e na vocação empreendedora da região, e espero contribuir sempre para a realização desse ideal.


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Camila Oliveira é a entrevistada da semana do Alô Sisal. Aos 24 anos, ela é diretora da Agência Mandacaru de Comunicação e também estudante do 3º semestre do curso de comunicação social / rádio e TV na Universidade da Bahia. Com uma longa caminhada nos movimentos organizados na região sisaleira da Bahia, ela fala sobre a participação feminina nas lutas sociais juvenis, as conquistas do seguimento e os desafios ainda serem enfrentados.


Quando se deu seu primeiro contato com esses formatos de organização juvenil e o que a motivou a participar?
Eu iniciei fazendo parte do grupo jovem da igreja católica na comunidade onde moro. Era um grupo formado por 20 jovens e trabalhava temáticas do cotidiano como: Família, Sexualidade, DST/AIDS, Drogas, Cidadania, Política... Além disso, eu sempre gostei de me envolver nas mobilizações locais, foi a partir daí que eu fui convidada em 2003 a fazer parte das novas lideranças do Movimento de Mulheres, foi o que mais me motivou a participar porque, no movimento de mulheres, fui motivada a novos contatos, nova forma de convivência social, novas pessoas e outra forma de ver o mundo.

Quando se deu seu primeiro contato com experiências que envolviam a comunicação?
Minha primeira experiência foi quando eu comecei a apresentar o programa de rádio para o Movimento de Mulheres “Espaço Mulher”, inicialmente eu apresentava em parceria com uma colega, mas logo ela descobriu que não tinha “vocação” para a coisa (risos), então eu dei continuidade. No final de 2003, houve seleção para o projeto Jovens Comunicadores Sociais da Região Sisaleira, eu fui indicada pelo próprio Movimento de Mulheres para participar, fui selecionada e ainda no projeto continuei apresentando o programa até 2004. O programa saiu do ar por falta de condição do movimento em manter e também por conta de algumas modificações na programação da rádio, mas até hoje a mobilização social pela comunicação social e comunitária faz parte do meu dia-a-dia.

No que se refere às lutas diárias pelo desenvolvimento do território, o fato de ser mulher constuiu alguma diferença frente a estes desafios?

O contexto de luta com relação às mulheres é muito discriminatório, mas a organização das mulheres no território tem desconstruído esse pensamento que por muito tempo colocou a mulher numa posição submissa ao homem, ou seja, que mulher é unicamente para cuidar da casa, dos filhos, do esposo e da cozinha. A organização das mulheres do território para garantir seus direitos e os direitos dos mais necessitados é desde a década de 70. Por mais que ainda existam diferenças, muitas coisas já mudaram. Posso dizer que eu não senti essa diferença como mulher, acredito que tanto eu como os/as demais colegas enfrentamos desafios mais por sermos jovens do que por sermos mulheres.

Muitos jovens, sobretudo do sexo masculino, passam pelo desafio de tentar estabelecer alguma forma de sobrevivência no Sisal ou de migrarem para grandes centros urbanos. Você passou por essa experiência?
Não, eu nunca precisei passar por essa experiência, mas compartilho até hoje com jovens que viveram e muitos que ainda vivem essa experiência de migrarem para os grandes centros. O que mais me intriga é que eles manifestam o desejo de permanecer aqui, mas infelizmente as condições não permitem. É verdade que a organização juvenil e a parceria com os movimentos sociais contribuem fortemente para que o índice de evasão dos jovens do território diminuísse, mas infelizmente essa realidade ainda é vista com muitas mulheres, mas a maioria é do sexo masculino mesmo.  

Existem diferenças na convivência com o Sisal e com o semiárido para quem é homem ou para quem é mulher?
Penso que do ponto de vista da organização social e ocupação dos espaços não há diferença. Tanto os homens como as mulheres ocupam os mesmos espaços e discutem juntos. Mas do ponto de vista econômico, quando se trata de sobrevivência, as mulheres ainda encontram esse desafio. Já existem no território grupos de produção organizados, mulheres que trabalham com artesanato de sisal, palha e culinária e têm buscado alcançar nessas formas de empreendimentos solidários a independência financeira, contudo esse ainda é um desafio que persiste. 

O que a estimula, enquanto jovem, a lutar coletivamente em prol do seu município e da região?
Eu sempre visualizei o povo dessa região como um povo duas vezes forte, forte pelos desafios enfrentados com os longos períodos de estiagem, pelo enfrentamento às poucas condições econômicas que tornam inviáveis o acesso a outras políticas e forte também pelo poder de organização e de fazer dessa região um lugar possível de se viver, então o que me estimula mesmo a lutar de forma coletiva por essa região é saber que é possível viver aqui, superar os desafios, encontrar soluções e criar novas formas de convivência.  

Na sua opinião, o que  significava ser jovem 10/15 anos atrás na região sisaleira e o que mudou hoje nessa concepção?
10 anos atrás eu estava com 14 anos, ingressando no grupo jovem, tentando descobrir a razão de existir. Para mim, esse período significava fome e sede. Fome de agir e Sede de mudança. Às vezes me pergunto como eu seria sem a luta diária na tentativa de suprir esses dois desejos insaciáveis, ao mesmo tempo percebo como o tempo passa tão rápido e as mudanças desse tempo até aqui é que fazem com que os desejos continuem os mesmos. Muito foi conquistado e ainda há muito a conquistar.

 Fotos extraídas e editadas dos sites Rede Jovem Rural e MOC

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Laudécio Carneiro da Silva, 21 anos, é estudante do 5º semestre do curso de comunicação Social (rádio e TV) pela UNEB. Jovem, mas já com um vasto histórico na luta dos movimentos organizados juvenis na região sisaleira da Bahia, nascido na cidade de Conceição do Coité (210 km de Salvador), e criado em Retirolândia, município vizinho, ele fala em entrevista ao Alô Sisal sobre seu primeiro contato com os coletivos, estudos, protagonismo juvenil e transformação coletiva da realidade onde vive.

Quando se deu seu primeiro contato com esses formatos de organização juvenil?
Comecei a participar de grupos de jovens ainda com 14 anos em um grupo de arte popular que existia e ainda existe na comunidade de Lagoa Grande. Era um grupo que tinha como objetivo mostrar uma arte onde as pessoas se sentissem parte dela, chamávamos de arte do povo para o povo. O grupo apresentava danças e peças teatrais e fazia frequentemente dias de estudos quando eram discutidos temas de interesse dos jovens, além de se preocupar em formar jovens para o comunitário e o trabalho em coletivo.

Via sempre falar no coletivo de Jovens que existia na sede do município de Retirolândia, mas achava dificuldade em participar por morar na zona rural, distante 16 km da cidade. Mas quanto foi em meados de 2008, fui convidado pelo coletivo para participar de um processo seletivo para um projeto de formação executado pelo MOC, fiz a prova e passei. O projeto foi o “Juventude e Cidadania no Sertão da Bahia”. Nele, participei de muitas etapas de formação e como recebia uma bolsa pude frequentar as atividades do Coletivo e desenvolver atividade nas escolas públicas de ensino médio e associações comunitárias já como facilitador em oficina de protagonismo juvenil, projeto de vida, cidadania e participação social, associativismo, políticas públicas, entre outras.

Ainda com pouco tempo de participação no Coletivo de Jovens, fui convidado e escolhido para fazer parte da direção (coordenação), como Coordenador de Comunicação e Formação do Coletivo.

O que o motivou a participar?

O que me motivou a fazer parte do Coletivo depois de fazer parte de um grupo de jovens na comunidade foi à vontade de transformar de forma coletiva e mais ampla a realidade juvenil do meu município, lutando em conjunto por políticas públicas e espaços de debates e decisões das mesmas.


Quando se deu seu primeiro contato com experiências que envolviam a comunicação?
Quando eu estava concluindo o ensino médio ficava pensando pra qual área iria fazer faculdade, só que eu era do tipo que se pudesse faria todas (risos), então comecei a pesquisar quais áreas tinham um pouco essa característica multidisciplinar, e descobri a comunicação, que, além de estar envolvida em todas as áreas era estratégica para o bom desempenho das atividades protagonistas que vinha fazendo. Antes de escolher, já havia trabalhado em uma rádio comunitária no povoado de Lagoa Grande onde eu morava e de onde me considero filho.

Assim, quando conclui o ensino médio, fiz logo no ano seguinte o vestibular para o curso de Comunicação com especialização em rádio e TV. Esse era meu primeiro vestibular e foi o que me garantiu na primeira colocação a oportunidade de estar cursando uma faculdade numa área que considero fundamental na produção do que somos.

Assim que eu passei no vestibular, ainda fazendo parte do Projeto Juventude e Cidadania no Sertão da Bahia, a equipe de juventude do MOC conseguiu que eu fizesse parte de uma seleção para integrar a equipe de produção da Agência Mandacaru, na qual faço a parte prática do meu curso e contribuo para construção de uma comunicação comunitária que valorize o homem do campo, a criança e o adolescente e a juventude.


Qual o perfil do jovem que entra na AMAC?
O jovem que entra na Agência Mandacaru é um jovem que tem perspectivas de crescimento pessoal e social, geralmente oriundo de movimentos sociais e que vê a comunicação como um instrumento possível de realizar sonhos e transformar a realidade, mesmo enfrentando momentos desafiadores. O jovem quando entra na agência não possui, inicialmente, muitas habilidades no campo da comunicação no que diz respeito à produção, mas com muita dedicação logo se torna um grande comunicador social e multiplicador do conhecimento em defesa dos interesses sociais, visando à democratização da comunicação e informação.


E como é o jovem pós AMAC?
O jovem quando sai da Agência carrega consigo outra visão do território do sisal e de como fazer uma comunicação que preza pelos direitos humanos, visando um mundo melhor. Estes jovens passam a entender que a comunicação deve ser feita participando ativamente dos debates, pois a prática da Agência quando vai cobrir um evento não é apenas pegar informação, mas se envolver e contribuir no processo como um todo.

O que mudou na sua vida e na forma e ver o território pós 2004?
De 2004 até aqui muitas coisas mudaram, desde meu envolvimento em inúmeras organizações sociais até minha inserção na faculdade e na Agência Mandacaru no início de 2009. Mas um grande impacto mesmo em minha vida foi a partir do meu envolvimento na comunicação, pois por meio desta pude me envolver cada vez mais nos debates políticos até em nível nacional, contribuindo para o meu desempenho na produção de uma nova comunicação, fazendo com que meu olhar para o território seja de valorização, onde a sobrevivência é possível e está visível na formação de grupos econômicos e solidários e na implementação de técnicas de produção e empreendedorismo juvenil.