terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A arquitetura como representação da montanha sagrada - Parte I

“Moisés fez sair o povo para fora do acampamento, ao encontro de Deus, e eles se
                                               detiveram ao sopé da montanha. Ora, toda a montanha de Sinai fumegava, porque
                                               Javé tinha descido sobre ela no meio do fogo. (...) Javé desceu sobre a 
                                           montanha.  Javé chamou Moisés ao cume da montanha e Moisés subiu.”

                                               Bíblia, Êxodo 19, 17-18, 20.

           A busca por um contato íntimo com o Deus fez com que o homem classificasse alguns espaços naturais como sagrados. A montanha, por elevar-se para o céu era,  e ainda muitas vezes permanece sendo, uma mediadora entre o terreno e o divino, ligando os reinos da existência universal. Quando ela não era a própria morada dos deuses, poderia ser o lugar onde a divindade se manifestava, como a montanha nas Escrituras cristãs e judaicas. A montanha tinha que ser escalada, e a ascensão física correspondia à ascensão espiritual ou mística do homem. Por sua vez, a ascensão mística levava a união com o Cósmico, sendo o cume da montanha associado à iluminação. 
            A característica de estabilidade da base da montanha foi representada pelo uso da figura do quadrado, em edifícios que se erguiam do solo como representações artificiais de montanhas. Na categoria destes edifícios se encontram as pirâmides e os zigurates, todos edifícios de base quadrada.
Mastaba em Sakkara.
Fonte: reocities.com
            O volume do tetraedro repetiu-se ao longo da historia, inicialmente como um empilhamento de plataformas, comparável a escadarias em direção ao céu. As mastabas (3000 – 2650 a.C.), túmulos baixos de tijolos e pequenas pedras, podem ser considerados os primeiros “degraus” na evolução das pirâmides. Na seqüência, as mastabas foram sendo sobre-apoiadas, até configurarem a pirâmide escalonada de Djozer (cerca de 2500 a.C.), em Sakkara no Egito. Por ordem do faraó Djozer, o arquiteto Imhotep a construiu exclusivamente para cerimônias ritualísticas, sendo a estrutura de pedra mais antiga que sobreviveu ao tempo. Após a pirâmide de Djozer, deu-se a construção de inúmeras pirâmides egípcias (dentre elas a pirâmide vermelha e a pirâmide inclinada), todas orientadas rigorosamente em função dos pontos cardeais, a fim de criar a relação do edifício com o Divino através da incidência dos raios solares. O ápice destas edificações se deu com as três grandes pirâmides na esplanada de Gizé, Egito, cada uma nomeada com o nome de um personagem importante (todos da IV Dinastia) da época de construção do edifício: Kafre ou Quéfren, Menkaura ou Miquerinos, e Khufu ou Quéops, que é a maior de todas elas. 
As tres pirâmides.
Fonte: itm-rpg.forumeiros.com

           As três pirâmides serviram como um divisor de águas para a arquitetura egípcia, porque exigiram um grande esforço da civilização na sua construção. Após esse período – fim da IV Dinastia – entrou em declínio a arquitetura escalonada egípcia, em conseqüência ao grande custo da obra. Porém, na mesma época em que foram edificadas, aproximadamente outras 95 pirâmides em menor escala foram construídas ao longo do rio Nilo. 1
            Muito parecido com as pirâmides escalonadas egípcias, os zigurates da Mesopotâmia também eram edifícios destinados a atividades religiosas. Com a base na maioria das vezes retangular, estes edifícios se dividiam em vários pavimentos (o de Ur, datado de 2113 – 2096 a.C., tem sete),  interligados por escadarias externas, sendo o local para as cerimônias localizado na parte mais alta da construção. A torre de Babel  (1792 – 1750 a.C.) também se configurava como um zigurate, porém de base quadrada (aprox. 90 X 90 metros e 8 pavimentos). O material empregado para sua construção era o mesmo utilizado nos zigurates – alvenaria de tijolos secados ao sol – o que, de certa forma, impossibilitou a preservação deste edifício, constantemente atacado nas conquistas da Babilônia.
Zigurate.
Fonte: horahistoria.blogspot.com
Fontes:

1. ELLIS, Ralph. Thoth, o arquiteto do Universo:  mapas neolíticos da Terra./ tradução de Flávio Lubisco
Rio de Janeiro: Madras Editora Ltda, 2006. c.I.
  2. CERAM, C. W.. Deuses, túmulos e sábios. – São Paulo: Editora Melhoramentos, 21ª Edição, 2005.


2 comentários:

  1. Interessante...voce sabe que tenho ideias muito particulares a respeito da religiosidade,e lendo seus textos essas ideias vão se confirmando.O poder economico sempre foi a "chave" de entrada para o "céu",sempre favoreceu a proximidade com os Deuses e as construções nos mostram isso.
    Estou gostando....bjs

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  2. Olá. Fico feliz que estes textos sirvam não só para o aprendizado sobre arquitetura mas também para análises particulares do ponto de vista religioso. Continue acompanhando o blog. Besotes.

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