domingo, 14 de dezembro de 2008

MÉTODOS PARA ACABAR PARA SEMPRE COM A INFELICIDADE

1. Reconhecer a dor, a aflição ou o desassossego que sofremos e quais os seus motivos; ver de onde vem, de fato, o sofrimento. Se nos sentimos mal, devemos reconhecer logo isso e identificar a origem do mal-estar. (Se dizemos estar magoados porque alguém nos tratou mal, é difícil entender por que nos castigamos como reação ao mau comportamento de outra pessoa. No fundo, deve estar escondido outro motivo, mais pessoal. Temos de encontrá-lo).

2. Reconhecer que o sofrimento ou o mal-estar devem-se à nossa reação diante de um fato ou uma situação concreta, e não da realidade daquilo que está acontecendo. (Se pretendemos ir à praia e chove, nossa contrariedade não está na chuva – que é a realidade – mas na nossa reação, porque a chuva contrariou nossos planos.)

Temos o costume de pôr a culpa na realidade e não queremos reconhecer que são nossas reações programadas que de fato nos contrariam. Todos temos alguns hábitos gravados na mente que se repetem de maneira automática, como uma máquina. Para certas perguntas, determinadas respostas. E acabamos agindo como robôs. A cultura grava na nossa mente algumas leis muito rígidas, cuja única razão é que “sempre se fez assim”. E, com este argumento tão frágil, somos capazes de matar para defender a “honra”, a “pátria”, a “bandeira”, a “raça”, a “família”, os “bons costumes”, a “ordem”, os “ideais”, a “boa imagem”, os “interesses nacionais”, e uma série de outras expressões que nada encerram além de uma falta real de sentido, gravada em nossa mente como “cultura”. E o mesmo ocorre com as idéias religiosas.

O importante é ser e não parecer. A verdade é que estamos de tal maneira mergulhados nesta programação, que agir com clareza de percepção – a partir dessa “cultura” – parece quase um milagre. E o pior ainda se pretendemos reagir sem desgosto. É preciso despertar antes, para compreender que o que nos faz sofrer não é a vida, mas as nossas alucinações. Quando conseguimos acordar e separar os sonhos, nós nos veremos face a face com a liberdade e com a verdadeira felicidade.

O certo é que a dor existe porque rejeitamos a idéia de que a única coisa importante é o amor, a felicidade, o prazer. Quando não somos capazes de encontrar caminho livre para esse amor-felicidade que somos, deparamos com a dor, que nada tem de concreto nem substancial por si mesma, a não ser a ausência de percepção do amor-felicidade. É como a escuridão, que não existe em si mesma, mas é apenas o resultado da menor percepção da luz.

Em si mesma, a vida é satisfação pura, e nós somos amor-felicidade como substância e potencial a ser desenvolvido. Apenas os obstáculos da mente nos impedem desfrutar plenamente desse potencial. São as nossas resistências, impostas pela programação a que estamos sujeitos, que nos impedem de ser felizes. Se não tropeçássemos nas resistências, onde estaria a dor? Haveria uma harmonia completa em nós, semelhante à que existe na natureza. Uma harmonia até maior, porque somos os reis dessa natureza, dotados de sensibilidade para captar a bondade, a felicidade e a beleza, que nos torna criativos e capazes não apenas de ser felizes, mas de dar amor-felicidade em abundância.

A mera observação de tudo isso já representa um passo no sentido de despertar. Tudo depende de nossa reação, e esta, por sua vez, depende da nossa programação. Sendo capazes de observar e compreender isso, já teremos dado um grande passo.

Fonte: Anthony de Mello, SJ, Auto-libertação.

Nenhum comentário: