Minha razão

Olá!!
Criei esse espaço para postar subjetivações subjetivantes do sujeito que sou!
Filosofia, psicologia, educação.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Subjetividade Individual e Social

       Vou, então, prosseguir com a exposição das categorias interdependentes da subjetividade. Já visitei o sentido subjetivo e a configuração subjetiva. E comecei o percurso apresentando o sentido de sujeito para essa teoria cultural-histórica. Para finalizar essa exposição vou apresentar as duas últimas categorias de uma forma integrada. Fica mais fácil de compreender se as colocamos num processo dialógico.
       Primeiro de tudo, sinto importante diferenciar um pouco dialética e dialógica. Aprendi com meus professores e minhas leituras que o processo dialético implicaria no diálogo entre dualidades e esse diálogo deveria culminar num tipo de acordo entre as partes, pois na dialética temos tese, anti-tese e síntese. A dialógica, por outro lado, pressupõe que as partes dialogam, mas que não necessariamente cheguem a essa síntese homogênea. As partes do diálogo podem continuar com as suas particularidades, com as suas divergências e até suas discrepâncias, porém, sem perder o diálogo. É assim que entendo a dinâmica subjetiva que congrega o individual e o social.
       Dentro dos processos subjetivos humanos, que estão sendo constantemente bombardeados por produções de sentidos subjetivos, que estão sendo instigados pelos momentos atuais concretos de vivência, de ação, de encontros e desencontros, e que repercutem e reverberam pela recursividade nas configurações subjetivas, existe a dialógica da subjetividade social e da subjetividade individual. Meus espaços pessoais estão em concomitância com meus espaços sociais. Minha dinâmica psíquica, que abrange minha história passada, meu momento presente e meu projeto ao futuro, está absolutamente vinculada à dinâmica social e aos sentidos subjetivos produzidos nos espaços sociais que atuo.
       A subjetividade social é uma categoria paradoxal, pois é interna e externa ao mesmo tempo. Eu frequento um espaço, um grupo, me relaciono com os processos subjetivos coletivos que por aí perpassam, mas construo esses espaços no meu próprio psiquismo afetivo-cognitivo, simbólico-emocional, racional e irracional, de forma que eu produza sentidos sobre eles. Sempre vou reconfigurar os espaços sociais que, em mim, constroem uma subjetividade social. O compartilhado está em mim via minhas produções de sentido. Existe o mundo compartilhado, mas existe o sujeito que valida esse mundo compartilhado. E o processo histórico e a cultura vão sendo marcados no tempo por nossas ações concretas e materialização de símbolos, e vamos nesse processo dialógico que é o individual e o social na unidade do Eu multidimensional. Somos sociais por termos optado por viver em grupo, socializando a espécie. Desde esse momento passo a ser Eu na circunstância de ser social. Nesse espaço adentro na filogenética e no arquetípico.
       Assim, existem os processos históricos e culturais, mas existem também os sujeitos que os produzem permanentemente em seus próprios sentidos subjetivos e configurações subjetivas de subjetividade individual. O que diferencia o movimento do mundo é o ser sujeito ou estar assujeitado às diretrizes da subjetividade histórica e cultural. E o que diferencia minha subjetividade são as qualidades de sentidos subjetivos produzidos na relação com o mundo.
       Esse sistema de categorias que aqui compartilhei e que buscam abarcar a subjetividade, pressupõe que a pessoa é uma entidade complexa, que possui dimensões múltiplas em seu ser e estar no mundo. Muitas vezes acreditamos que somos de um jeito e que vamos sempre ser assim. Mas isso é falso, pois em muitos momentos da vida podemos encontrar situações surpreendentes que acabam por nos revelar aspectos nossos que são novos, inusitados. A transformação dialoga com a manutenção de uma identidade.
       Quando estou num grupo compartilho determinados aspectos que são coletivos, mas sempre serei um sujeito que produz novos sentidos de forma a traduzir esse social de maneira inteligível para mim mesma. Na teoria que trabalhamos não existem só processos lineares, nem só reflexões mecânicas e introjeções diretas. Existe também um espaço subjetivo de eventos surpreendentes, de construções permanentes, de reconfigurações e de produções de novos espaços subjetivos, tudo um tanto quanto circular, progressivo e regressivo, ilógico e imprevisível.
       A subjetividade num entendimento cultural-histórico é uma forma possível de gerar inteligibilidade ao humano múltiplo e complexo. Ela não é oposta à objetividade, mas uma forma de abarcar o humano em seus processos contraditórios, em sua tensão constante entre o ser, o não-ser e o vir a ser, entre o pensar, o sentir e o agir.

4 comentários:

  1. Querida, Ana!
    Seu texto é uma delícia de ser lido!
    Li seu texto de doutorado e confesso: como você faz tudo parecer tão inteligível!
    Que coisa linda!
    Admiro a sua escrita.
    Parece-me que você está nela quase que materializada, dinâmica, dançando entre as palavras com o seu jeito doce e envolvente.
    Continue escrevendo. Adoro ler você.
    Afetivamente,
    Renata Lopes

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  2. GOSTARIA QUE MANDASSE ESSE TRABALHO EM MEU EMAIL SE POSSÍVEL.

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  3. Olá, Lê. Esse material é vasto.
    Você encontra toda a base da teoria digitando González Rey e a teoria da subjetividade cultural-histórica.
    Se tiver alguma questão, pode compartilhar.
    Grata por sua visita e sua leitura.

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