quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Alminhas


Foto: Gogim, Armamar

O Norte e Centro do País está povoado de alminhas e outras manifestações populares de religiosidade – vias-sacras, Passos, calvários, cruzeiros, nichos de santos… O Douro não é excepção.
Apesar da sua simplicidade, estas manifestações não deixam de ser um factor importante na identidade arquitectónica local.
Relativamente às alminhas, encontram-se normalmente erguidas nos cruzamentos e entroncamentos de caminhos, podendo ainda surgir embutidas em muros ou mesmo na frontaria das casas.
Dedicados às divindades protectoras dos viajantes, já os antigos gregos, romanos e celtas erguiam nas encruzilhadas pequenos altares.
Junto das alminhas “activas” é frequente a presença de flores, velas e lamparinas, bem como uma caixa de esmolas.
Local de oração, evocando em alguns casos a morte de alguém, as alminhas estão associadas ao culto dos mortos. Pintado sobre madeira, metal ou mais recentemente sobre azulejo, frequentemente a alminha é composta por um retábulo com a representação das almas a arder no Purgatório.
O saque é certamente a principal causa para que muitos dos oratórios se encontrem vazios. Para prevenir esta situação, encontram-se por vezes protegidos por uma grade em ferro ou madeira.
Inscrições existem que solicitam aos caminhantes uma oração pelos que crepitam nas labaredas do Purgatório:

"Ó vós que ides passando / Lembrai-vos de nós que estamos penando”.
Rafael Carvalho / Jan2008

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território do Alto Douro Vinhateiro (II)

Foto: Peso da Régua
A Resolução do Conselho de Ministros n.º 150/2003, de 31 de Julho, ratificou o Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território do Alto Douro Vinhateiro (PIOTADV).
Dando seguimento à sua divulgação, relativamente aos aglomerados urbanos transcrevem-se seguidamente os impactes paisagísticos negativos nele referidos, bem como as respectivas medidas de mitigação.

II - Aglomerados urbanos
«A) Fragmentação do núcleo original dos aglomerados por novas construções cujo local de implantação, forma, escala e cor/materiais de construção provocam uma clara rotura na leitura do conjunto, enfatizando a dissonância, promovendo a dispersão e contrariando a congruência da paisagem urbana referencial. É importante enfatizar que este aspecto se deve principalmente às intervenções edificadas nos últimos 30 anos, que vão progressivamente dominando o carácter dos aglomerados; estas edificações são normalmente de escala superior à existente, evidenciando-se negativamente do conjunto (monovolumes - elemento de «textura grosseira que vai minando o aglomerado vernáculo, de textura fina»), apresentam características formais, cromáticas e texturais diferentes, das quais se salientam: telhados «rígidos» e de telhas diferentes das tradicionais telhas de barro vermelho; ausência de telhados; projecção dos edifícios nas encostas, sem embasamento tradicional de barras negras, o que provoca uma sensação de ausência de remate e contribui para aumentar a escala do edifício; fachadas pintadas de branco, revestidas a mosaicos industriais ou com outros tratamentos cromáticos ou revestimentos que enfatizam a presença do edifício; gradeamentos, escadas, varandas, terraços, ornamentos, piscinas, anexos e barracas.
Mitigação:
a) Elaboração de planos de pormenor para os aglomerados (v. capítulo 3);
b) Controlar a expansão dos perímetros urbanos onde se autoriza a construção (v. 3.3);
c) Privilegiar o carácter agregado das aldeias, favorecendo a consolidação dos centros e contrariando a dispersão;
d) Orientar e condicionar a implantação, a cércea, a forma, a cor, a cobertura e os materiais de construção a adoptar em novas construções e na recuperação de construções existentes; estimular o uso de cores e materiais característicos das construções vernáculas de embasamento em «terra negra»;
e) Condicionar a construção de monovolumes de escala dissonante com a existente na aldeia, estimular a «partição» dos volumes, dar preferência a coberturas de telhado de quatro águas com telha de barro vermelho;
f) Informar e envolver os habitantes nos processos de recuperação dos aglomerados;
g) Estimular o brio, o civismo e uma nova postura das populações em relação aos seus aglomerados e à paisagem em geral.
B) Baixa qualidade dos espaços públicos dos aglomerados (ruas, caminhos, passeios, largos, adros, etc.). Desaparecimento ou degradação dos pavimentos de pedra existentes debaixo de camadas de alcatrão (também este já degradado em muitos casos), ausência de organização espacial explícita, de remates, de passeios e de pavimentos qualificados. Presença constante de «desordem, desarrumação» e lixo.
Mitigação:
a) Ordenamento e qualificação dos espaços exteriores públicos de acordo com princípios de conservação e celebração do seu carácter vernáculo;
b) Manutenção de calçadas e pavimentos de pedra existentes e recuperação de pavimentos de pedra que actualmente jazem debaixo de tapetes de alcatrão;
c) Condicionar as novas intervenções nos espaços exteriores ao usos de materiais tradicionais ou com eles compatíveis (exemplo: calçadas de pedra, elementos de iluminação discretos e miméticos, mobiliário urbano discreto e mimético, etc.); estimular a contenção, a simplicidade e a depuração das intervenções de modo que estas não dêem origem a espaços urbanos cheios de acessórios dispensáveis; evitar o falso vernáculo, que ainda enfatiza mais a pobreza dos lugares;
d) Manutenção de árvores referenciais pontuais, mas não «ajardinar» todos os cantos das aldeias por não se inserir na lógica e na expressão dos lugares.»

sábado, 26 de janeiro de 2008

Aguarelas Portuguesas


«Torre que guarda a bela ponte medieval sobre o rio Varosa. Fica situada perto de Tarouca no distrito de Viseu. Esta torre assegurava que quem pretendesse atravessar o rio...teria que pagar portagem.
As receitas seguiam para o mosteiro sisterciense próximo do local.»


A descoberta das "aguarelas portuguesas" na blogosfera foi para mim uma agradável surpresa!Excelente casamento este entre a arte e a arquitectura...

Rafael Carvalho Jan2008

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Evolução da habitação em Portugal

Casa em Boticas, Beça
(Veiga de Oliveira e Galhano 2000)

Na pesquisa que vou desenvolvendo no âmbito das temáticas “Arquitectura Popular”, “Arquitectura sustentável”, “Bioconstrução”, "Urbanismo", entre outras, vários são os documentos encontrados cuja qualidade justifica a sua partilha.
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O documento que hoje pretendo partilhar é parte integrante da Tese de Doutoramento em Engenharia Civil de Paulo Jorge Urbano de Mendonça. Intitulada “HABITAR SOB UMA SEGUNDA PELE - Estratégias para a Redução do Impacto Ambiental de Construções Solares Passivas em Climas Temperados”, esta tese foi apresentada em 2005 na Universidade do Minho.
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De toda a tese, é-me particularmente caro o capítulo 3. A partir da página 44 (vale a pena procurar) é feita a evolução histórica da habitação em Portugal, com especial referência às suas construções tradicionais.
Para aceder ao capítulo 3 clique aqui.
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Para os eventuais interessados seguem-se as ligações a toda a tese.
Para aceder a outros documentos, clique aqui.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Estação de Campo da Peneda


No programa Biosfera, passou há tempos na RTP2 um pequeno documentário sobre a última obra da arquitecta Inês Cabral. Trata-se da reabilitação sustentável de um edifício pré-existente, com vista à implantação da Estação de Campo da Peneda (Parque Nacional Peneda Gerês), para fins educacionais.
Conseguiu-se com este empreendimento um casamento perfeito entre a arquitectura tradicional e a Bioclimática, com condições de conforto moderno e tecnologia de ponta.
Tendo as preocupações ambientais como princípio, na reabilitação a demolição foi minimizada, reutilizaram-se materiais (madeira, telha e pedra) e optimizou-se o conforto recorrendo ao design bioclimático e a materiais ecológicos.
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Referências:
.Biosfera: Vídeo-documentário sobre os aspectos de arquitectura sustentável da Estação de Campo da Peneda.
.ECP-Estação de campo da Peneda

Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território do Alto Douro Vinhateiro (I)


Granja do Tedo - Tabuaço
A Resolução do Conselho de Ministros n.º 150/2003, de 31 de Julho ratificou o Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território do Alto Douro Vinhateiro (PIOTADV).

A elaboração do PIOTADV, primeiro plano intermunicipal de ordenamento do território a ser aprovado, decorre de um compromisso assumido com a classificação da região do Alto Douro Vinhateiro na Lista do Património Mundial da UNESCO, consubstanciando o compromisso assumido pelo Estado Português de proteger eficazmente o património a classificar e de preservar as características que lhe conferem um «valor universal excepcional», um dos principais critérios definidos em tal matéria pela Convenção para a Protecção do Património Mundial Cultural e Natural.
Relativamente ao PIOTADV, transcrevem-se seguidamente as orientações estratégicas nele contidas, no que respeita às medidas de valorização dos aglomerados populacionais e do património vernacular construído, na esperança de que se sensibilize quem de direito para que, mesmo para além das fronteiras do Douro - Património Mundial , se acabe de uma vez por todas com a destruição desta herança que só a nós cabe salvaguardar.
Aglomerados populacionais
«1 - Incentivar-se a aplicação dos materiais dominantes em cada região como meio de precaver rupturas tipomorfológicas e simultaneamente apoiar a recuperação da exploração dos materiais tradicionais mais adequados à construção, bem como o relançamento de artes e ofícios em perda.
2 - Incentivar as acções de divulgação dos valores patrimoniais a salvaguardar com forte componente técnico-construtiva e de gestão urbanística elementar.
3 - Elaborar inquéritos, levantamentos e propostas de intervenção urbanística ao nível de plano de pormenor ou de estudo urbanístico.
4 - Excluir toda a possibilidade de acções de loteamento nos pequenos aglomerados ou seja, manter o modelo de expansão ou transformação segundo a prática dominante de construção a partir de destacamento de parcela sobre via preexistente.
5 - Relativamente aos aglomerados de média dimensão (nível 1), considerar a acção sobre apenas alguns casos singulares que sirvam de laboratório para futuras intervenções. Consideramos nesta situação o Pinhão, Covelinhas e Caldas de Moledo.
6 - Relativamente aos aglomerados de pequenas dimensões (níveis 2 e 3), não deverá haver autorização de implantação de novas construções que não estejam já servidas de acessos e ou que estejam afastadas do aglomerado populacional; não permitir a utilização de materiais de construção que não dominem nas construções preexistentes vernaculares (paredes exteriores e coberturas); manter a escala das construções preexistentes (dimensão da frente e profundidade do edifício; do número de pisos acima e abaixo da cota de soleira).
7 - Relativamente às quintas (nível 4), a questão da salvaguarda e valorização do património construído coloca-se fundamentalmente nas obras de ampliação ou na construção de novas instalações agrícolas ou vitícolas de produção. Nas obras de ampliação, recomenda-se que estas respeitem estritamente as características arquitectónicas e construtivas do edifício original. Nas novas construções (instalações de produção), para além de ser necessário manter a utilização dos materiais da região, propõe-se que se elaborem projectos de enquadramento paisagístico nos casos em que a escala das novas construções conflitue com a das construções preexistentes e com a modelação dominante do próprio terreno. Isto é, nos casos em que as terraplenagens e a volumetria da construção excedam o dimensionamento dominante nas construções da envolvente próxima ou do enquadramento paisagístico do campo visual distante.

Património vernacular construído
1 - Em sintonia com a nova lei portuguesa relativa à protecção e valorização do património cultural, também o património vernacular do ADV deve acolher como forma básica de identificação e protecção dos bens a inventariação, dando lugar a uma criteriosa escolha de casos a abranger pelas duas formas normativas de protecção, a saber, o registo patrimonial de inventário, que abarcará a generalidade dos casos, e o registo patrimonial de classificação, aplicável aos bens considerados de excelência para cada um dos patamares definidos (municipal, regional e nacional).
2 - A diversidade dentro do ADV deveria ser uma riqueza a preservar. Ela não só reflecte a variedade de condições ecológicas e históricas da região, que estão actualmente e ser pressionadas no sentido da uniformização, como acolhe uma grande variedade de património construído, tecnológico e imaterial, por vezes único, muito fragilizado na sua transmissão por essa onda igualizadora que lhe retira prestígio e função.
3 - O aumento de qualidade de vida das populações envolvidas para níveis que incentivem a sua permanência e dignidade é um caminho unívoco para a preservação dos saberes e práticas grupais. Encurraladas entre, por um lado, a industrialização da agricultura, da construção, etc., e o apelo à (e)migração e, por outro, a inoperância das práticas e meios de produção tradicionais no mercado, a desvalorização dos saberes não escolarizados e a desarticulação e envelhecimento do grupo social, estas populações podem desenvolver uma baixa auto-estima colectiva, muitas vezes chegando a envergonhar-se da sua cultura e mundividências, procurando mais escondê-las do que transmiti-las às novas gerações.
4 - O estudo de formas, materiais, técnicas de construção e vias de transmissão deste conhecimento será primordial para fundamentar alguns critérios de avaliação do ponto 1, mas também para programar intervenções de valorização e definir normas para novas implantações e edificações. Devendo ter em conta toda a área do ADV, e mesmo a área tampão, este estudo facultará, aos municípios e outras entidades com poder de decisão sobre a matéria, informação fundamentada, a ser vertida para as regulamentações aplicáveis na área específica que tutelam, sem trair a concepção de conjunto.
5 - Garantir a disponibilização do material de construção tradicional torna-se fundamental para a preservação do património vernacular, por forma que às dificuldades de resistir ao facilitismo e à standartização modernizadora não venham a juntar-se custos demasiado acrescidos pela utilização de materiais pouco comuns hoje em dia, excessivamente escassos e inflacionados.
6 - Igualmente fundamental será assegurar a transmissão do saber fazer, criando, aos vários níveis, novas gerações de técnicos que aprendam e compreendam as práticas tradicionais. A sensibilização dos profissionais que já estão instalados é também indispensável, dado a implantação e capacidade para formar opinião que muitos possuem.
7 - Na legislação nacional que regula muitas das actividades de alguma forma relacionadas com o património vernacular há normas que, a serem integralmente cumpridas, matariam formas tradicionais de viver e trabalhar, conviver e festejar, sem criar para as populações alternativas que signifiquem melhoria da sua qualidade de vida, pelo que se recomendaria uma aturada reflexão sobre estas situações.
8 - Incentivos fiscais e financeiros para a preservação do património construído e sua envolvente paisagística, nomeadamente do que venha a ser classificado, bem como incentivos para a transmissão de conhecimentos em actividades profissionais tradicionais, poderiam levar a um maior envolvimento da população, tantas vezes envelhecida e economicamente depauperada, neste processo de preservação do património.
9 - O diálogo entre população, proprietários e todos os agentes regionais envolvidos torna-se indispensável para o sucesso de qualquer projecto, até porque muito do património material e, sobretudo, quase todo o imaterial pertence, de forma inalienável, aos primeiros. 10 - Esta situação não implica a indisponibilidade desse património para a fruição pública, apenas obriga a que o mesmo e os seus detentores sejam alvo de respeito como indivíduos e como grupos sociais. A promoção do turismo cultural não pode redundar em prejuízo do património promovido e das populações locais.»

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

No Douro atlântico - Midões


Midões - Castelo de Paiva

Domingo, 20 de Janeiro de 2008.
Ladeada por uma densa floresta de eucaliptos, onde ainda resistem alguns sobreiros, carvalhos e medronheiros, a descida para a aldeia de Midões, concelho de Castelo de Paiva, é feita por uma estreita e velha estrada de acesso ao rio Douro, via rápida da antiguidade.
Logo à entrada, junto da antiga venda, por entre laranjais, temos a percepção de estarmos a entrar num mundo novo.
Do casario erguido em xisto, destaca-se a Casa do Passadiço. Este belo exemplar arquitectónico marca a diferença pela elaborada cantaria de granito presente nos seus cunhais e vãos de portas e janelas. Uma das ruelas, trespassando o coração desta casa, põe à vista o soalho que lhe serve de tecto. Bonito casamento este entre a madeira e a pedra.
Os restantes edifícios tocam pela sua modéstia e simplicidade. Na falta de recursos financeiros, a madeira e um ou outro bloco de xisto mal aparelhado, mas nem por isso menos belo, ajudam a vencer os pequenos vãos aí presentes. Junto às portas e nos poiais das janelas, os vasos alegram as fachadas.
De máquina fotográfica a tiracolo, avanço pela aldeia. De uma chaminé solta-se uma coluna de fumo. A casa respira… Está viva!
Já no topo da povoação sou surpreendido por um cão, pouco habituado à presença de estranhos neste território que é seu. Cruzo-me com o seu dono. Radicado à muito na cidade do Porto, não passa as férias nem nenhum dos fins-de-semana longe da sua Aldeia Natal. Contou-me histórias do tempo em que em torno do rio, a aldeia então com as suas três vendas fervilhava de vida. O seu próprio pai, proprietário de um barco rabão, vivia do transporte de bens e pessoas. Outros, a par com a agricultura, viviam da pesca, época dourada da lampreia e do sável. As minas do Pejão, entretanto encerradas, alimentavam as restantes bocas. Tempo que já lá vai, quando o rio não domado pelas barragens ceifava furioso muitas vidas no Inverno, permitindo contudo que o atravessassem a vau no Verão.
Terminada a conversa regresso à estrada. Não sem antes parar para apreciar uma humilde e despretensiosa casa. Na sua fachada apenas uma porta ao nível do rés-do-chão, destacada pelas proporções da moldura de granito que a cerca. Alinhada com a porta, no primeiro andar, sobre um fundo caiado apenas uma janela. Ao lado uma hera.
Em franca harmonia com o meio circundante, atrás de mim deixo o casario de Midões, agradável surpresa esta numa fria manhã de Inverno, num Douro mais atlântico mas nem por isso menos belo.

Rafael Carvalho / Jan2008

sábado, 19 de janeiro de 2008

Aqui, todas as mensagens.

Para facilitar a consulta, segue-se a lista de todas as mensagens publicadas neste blogue. Esta mensagem estará em permanente actualização. ESTA LISTA DE MENSAGENS NÃO ESTÁ ACTUALIZADA. Pode encontrar todas as mensagens no "Arquivo do Blogue". ARQUITECTURA / CONSTRUÇÃO . Arquitectura D'Ouro / Paleta D'Ouro . A Arquitectura Tradicional como fonte de inspiração da "Arquitectura Bioclimática" . Livros recomendados . Portas D'Ouro . A Varanda . Técnicas de construção no Alto-Douro - O tabique . Arquitectura vernácula alto-duriense . Estação de Campo da Peneda . Evolução da habitação em Portugal . Pintar com CAL (I) DIVERSOS . A Casa . Arquitectura D'Ouro, nasceu ... . Partilha de documentos... . Empresas com tradição . A casa e os adágios populares . No Douro atlântico-Midões PATRIMÓNIO . Património Perdido I - Tões . Património Perdido II - Lazarim . Carta sobre o património vernáculo construído . Alminhas . Lazarim - Carnaval genuíno URBANISMO . A Aldeia, a topografia e a fachada . Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território do Alto-Douro Vinhateiro (I) . Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território do Alto-Douro Vinhateiro (II)

Portas D'Ouro


Foto: Granja do Tedo - Tabuaço

Relativamente às portas, no Alto-Douro é grande a diversidade de soluções, formas e proporções. Dependendo da largura, a porta poderá ter uma ou duas folhas. Por vezes as portas possuem postigos interiores, de um só batente, gradeados ou não, ou simples óculos de diferentes configurações geométricas (estrelas, círculos, triângulos…). Com o formato de um círculo, de um semi-círculo ou de um rectângulo, inferiormente inclui-se por vezes uma entrada para o gato.
Construídas em madeira, raramente as portas se encontram à cor natural, apresentando cores como o vermelho, o verde ou o castanho, entre outras.
É comum a existência de uma cancela exterior, de madeira ou em ferro, até ao meio da porta, onde se recebem os visitantes não convidados a entrar.
As portas são por vezes adornadas com objectos simultaneamente decorativos e funcionais, tais como batentes, aldrabas e cravelhos (das mais diversas formas), espelhos de fechaduras trabalhados, puxadores e argolas. Motivos supersticiosos levam à inclusão de ferraduras no interior ou mesmo no exterior da porta.
A moldura das portas do R/C da casa popular alto-duriense é normalmente em granito, por vezes nas lojas talhada em arco para permitir a movimentação dos tonéis do vinho. O primeiro andar, se construído em tabique, implica o uso da madeira no emolduramento das portas.
Gravada na padieira, é vulgar a inscrição do ano de construção do edifício, ora em numeração romana, ora em numeração árabe, algumas vezes associado ao registo das iniciais do nome do proprietário.
Os elementos acima mencionados contribuem para a diversidade, característica ímpar da arquitectura popular alto-duriense.
Mais fotografias sobre este tema em:
Rafael Carvalho / Jan2008

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Património Perdido I - Tões


Foto: Tões – Concelho de Armamar

Ao contrário de muitas zonas do país, o Alto-Douro ainda tem conseguido manter alguns dos seus tesouros arquitectónicos.
Em Portugal, é o Património Arquitectónico que coloca Óbidos, Monsanto, Marialva e outras tantas povoações nos roteiros turísticos.
Ainda durante o ano de 2007, quem seguia de Aldeias para Tões, logo à entrada desta última localidade era presenteado com a casa da imagem, exemplar característico da arquitectura alto-duriense. Sobre o R/C de pedra, erguia-se o primeiro andar em tabique, revestido com escamas de ardósia caiada.
Sem qualquer tipo de relação arquitectónica com a anterior, em seu lugar foi erguida uma nova habitação, de volumetria muito semelhante.
Não pondo em causa o que entretanto se construiu, lamento sinceramente o que se destruiu!
Tões e todas as aldeias alto-durienses deverão ter orgulho no património de que são detentoras, valioso pela diferença, sinal de identidade.
Quanto à casa da foto fica o registo e, infelizmente, a fotografia para a história.


Rafael Carvalho / Jan2008


domingo, 13 de janeiro de 2008

Partilha de documentos...

Na pesquisa que vou desenvolvendo no âmbito das temáticas “Arquitectura Popular”, “Arquitectura sustentável”, “Bioconstrução”, "Urbanismo", "Património", entre outras, vários são os documentos encontrados cuja qualidade justifica a sua partilha. O arquivo que agora inicio será dinâmico, como tal sujeito a constante actualização.
Muitos documentos estão em formato Pdf.
Rafael Carvalho / Jan2008
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(Arq. José Baganha)
(Arq. José Baganha)
(Arq. José Baganha)
(Arq. José Baganha)
(Arq. José Baganha)
· Sede Nacional da Quercus - um projecto demonstrativo de construção sustentável
· Arquitectura Bioclimática - Perspectivas de inovação e futuro
(Ana Lanham, Pedro Gama, Renato Braz)
· Conceitos Bioclimáticos para os Edifícios em Portugal
(Helder Gonçalves; João Mariz Graça)
· Arquitectura Bioclimática-ECOCLIMAT 2006
( António Feio)
(Alex Abiko)
(Margarida Morei ra; Catarina Camarinhas; Luísa Paulo) · Construções em terra crua
(Paulina Rodrigues)
(Mariana Correia)
· Património de Terra: Universalidade das técnicas
(Maria Fernandes, arq.ª)
· Terra: Material, Patologia, Conservação
(Maria Fernandes, arq.ª) · Terra: Sítios Arqueológicos
(Maria Fernandes, arq.ª)
· Terra: Arquitectura contempoânea
(Maria Fernandes, arq.ª)
(Isabel Carvalho)
(João Cerqueira)
(Paulo Peixoto )
(José Fernandes/Ana Janeiro)
· Construção tradicional - Métodos e Materiais
(Aldraba) · A taipa alentejana: sistemas tradicionais de protecção
(Mariana Correia/ Jacob Merten) · Construção Sustentável - Avalie a sua casa · O genuíno, o espúrio e a identidade local : um estudo de caso das políticas de património em meio rural
(Jornal "a Página")
· A Água do Imaginário da Urbanidade (Jornal "a Página")
. TeseDoutMendonca: HABITAR SOB UMA SEGUNDA PELE - Estratégias para a Redução do Impacto Ambiental de Construções Solares Passivas em Climas Temperados”
(Paulo Mendonça)
(Aline Delgado - Quercus)
(Jornal Expresso)
. Arquitecturas de Terra 1: Reflexão contemporânea
(Eduardo Carvalho, Francisco Freire, Luís Gama)
. Conservação de Portas antigas (The Society for the Protection of Ancient Buildings)
(Jorge Lira Unipessoal, lda)
(Arquitectos José Fernandes e Maria Janeiro)
(Ministério da Cultura, Ontário)

sábado, 12 de janeiro de 2008

A Aldeia, a topografia e a fachada


Foto: Granja do Tedo - Concelho de Tabuaço

A adequação das nossas aldeias ao meio circundante, adaptando-se na perfeição à topografia do terreno e ao desenho das montanhas, resulta no harmonioso facto de muitas das vezes apresentarem uma organização que naturalmente impõe fachadas com uma orientação comum.

Rafael Carvalho / Jan2008

A Varanda


Ribeira de Goujoim - Concelho de Armamar

Nestas coisas de arquitectura, as fronteiras nem sempre são nítidas. Aliás, muitos dos alto-durienses da margem sul julgam-se beirões, quando não o são!
O livro “Arquitectura Popular em Portugal”, da Associação de Arquitectos, descreve com algum pormenor a varanda beirã. Adequando-se a descrição feita ao que se vai observando no Alto-Douro, julgo útil aqui a sua transcrição.

“(…) É o sol – que aquece gratuitamente – o mais importante auxiliar nessa luta contra o frio. O Sol amigo e generoso, que mesmo no Inverno não desampara o beirão durante semanas, ou até meses, (…).
Expor-se aos raios de Sol, ao afago do seu calor sem preço, constitui, pois, a melhor das defesas. E as varandas bem orientadas são os elementos arquitectónicos mais adequados para o efeito que o beirão concebeu e constrói.
Conquanto não se possa atribuir a sua criação e a sua generalização exclusivamente a um condicionamento climático, é fora de dúvida que esse é o factor primordial do seu uso em terras da beira. Uso tão frequente e de tal importância nas edificações, principalmente nas dos meios rurais, que as varandas se tornaram os elementos mais característicos e funcionais da Arquitectura regional beirã.
Sempre que é possível, orientam-nas a sul-poente. É esse o sector que mais horas de sol quente recebe por dia, no Inverno, e também o mais abrigado dos ventos dominantes. E se o casario vizinho não permite a exposição usual, orientam-nas para o sul, ou sul-nascente, ou nascente, mas nunca para o norte.
Nesses espaços, que participam simultaneamente do interior e do exterior das casas, costura-se, faz-se meia, secam-se as roupas lavadas e alguns frutos, guardam-se abóboras, passa-se o tempo e espera-se a morte, quando a idade e a invalidez já não deixam participar nas tarefas úteis.
Em geral, as varandas da Beira são cobertas por um prolongamento do telhado de telha vã ou integram-se no perímetro da edificação e conjugam-se muitas vezes com as escadas exteriores.
Se os donos das casas têm algumas posses e um desejo correspondente de diminuir o desconforto habitual, equipam-nas com varandas envidraçadas, onde o sol penetra, mas os ventos não entram; varandas cuja utilização e cujas vantagens são obviamente superiores às outras, e que se acabam por tornar as dependências de maior permanência e utilidade – as mais adequadas, portanto, às condições climatéricas locais.
Atingem por vezes, proporções enormes e impõem-se pela extensão e pelo ritmo da caixilharia, que, frequentemente, ocupa toda a frente livre, do chão ao tecto. A sua generalização constitui, porventura a maior contribuição do século XIX para a valorização da Arquitectura regional beirã; e só a confusão dos tempos mais recentes parece ter entravado um tanto a sua expansão.”


in “Arquitectura Popular em Portugal” / Associação de Arquitectos

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Carta sobre o Património vernáculo Construído

(Ratificada na XII Assembleia Geral do ICOMOS, realizada no México de 17 a 23 Outubro 1999)


Foto: Santa Cruz - Armamar
Introdução

O património construído vernáculo ou tradicional suscita a afeição e o orgulho de todos os povos. Reconhecido como uma criação característica e genuína da sociedade, manifesta-se de forma aparentemente irregular, embora possua uma lógica própria. É utilitário e, ao mesmo tempo, interessante e belo. Reflecte a vida contemporânea e é, simultaneamente, um testemunho da História da sociedade. Apesar de ser obra do Homem, é também uma criação do tempo. Conservar e promover estas harmonias tradicionais que constituem uma referência da existência humana é dignificar a memória da Humanidade.

O património construído vernáculo é a expressão fundamental da identidade de uma comunidade, das suas relações com o território e, ao mesmo tempo, a expressão da diversidade cultural do mundo.

O património vernáculo é o meio tradicional e natural pelo qual as comunidades criam o seu habitat. Resulta de um processo evolutivo que inclui, necessariamente, alterações e uma adaptação constante em resposta aos constrangimentos sociais e ambientais. A sobrevivência desta tradição está ameaçada, em todo o mundo, pela uniformização económica, cultural e arquitectónica. Saber resistir a esta uniformização é fundamental e é uma tarefa que envolve não só as diferentes comunidades, mas também os governos, os urbanistas, os arquitectos, os conservadores e vários especialistas noutras áreas disciplinares.

Devido à uniformização da cultura e aos fenómenos da globalização socio-económica, as estruturas vernáculas são, em todo o mundo, bastante vulneráveis, porque se confrontam com graves problemas de obsolescência, de equilíbrio interno e de integração. Torna-se necessário, por isso, estabelecer os princípios de conservação e protecção do nosso património construído vernáculo, em complemento à Carta de Veneza (1964).

PRINCÍPIOS GERAIS

1. As construções vernáculas apresentam as seguintes características:
a) Um modo de construir emanado da própria comunidade;
b) Um carácter marcadamente local ou regional em resposta ao meio ambiente;
c) Uma coerência de estilo, de formas e de aspecto, bem como o uso de tipos arquitectónicos tradicionalmente estabelecidos;
d) Um conhecimento tradicional da composição e da construção, que é transmitido de modo informal;
e) Uma resposta eficaz às necessidades funcionais, sociais e ambientais;
f) Um aplicação eficaz das técnicas tradicionais da construção;
2. A avaliação e a eficácia da protecção do património vernáculo dependem, quer do envolvimento e do apoio das comunidades locais, quer da sua utilização e manutenção contínuas.
3. Os governos e as autoridades competentes devem reconhecer o direito que todas as comunidades têm de preservar os seus modos de vida tradicionais, de os proteger por todos os meios legais, administrativos e financeiros à sua disposição e de os transmitir às gerações futuras.

PRINCÍPIOS DE CONSERVAÇÃO

1. A conservação do património construído vernáculo ou tradicional deve ser realizada por especialistas de diversas disciplinas, que reconheçam o carácter inevitável da mudança e do desenvolvimento, bem como a necessidade de respeitar a identidade cultural das comunidades.
2. As intervenções contemporâneas nas construções, nos conjuntos e nos povoados de expressão vernácula devem respeitar os seus valores culturais e o seu carácter tradicional.
3. O património vernáculo raramente se exprime através de construções isoladas. Será, pois, melhor conservado se forem mantidos e preservados os conjuntos e os povoados representativos de cada região.
4. O património construído vernáculo é parte integrante da paisagem cultural e essa relação deve ser tomada em consideração na preparação de programas de conservação.
5. O património vernáculo abrange não apenas as formas e os materiais dos edifícios, estruturas e espaços, mas também o modo como estes elementos são usados e interpretados pelas comunidades e ainda as tradições e expressões intangíveis que lhes estão associadas.

ORIENTAÇÕES PRÁTICAS

1. Investigação e documentação
Qualquer intervenção física em património vernáculo deve ser cautelosa e precedida de uma análise completa da sua forma e organização. A documentação recolhida deve ser conservada em arquivos acessíveis ao público.
2. Relação com a paisagem
As intervenções em património construído vernáculo devem respeitar e manter a integridade dos sítios onde este património se implanta, bem como a relação com a paisagem física e cultural e ainda garantir as relações de harmonia entre as construções.
3. Métodos tradicionais de construção
A continuidade dos métodos tradicionais de construção e das técnicas e ofícios associados ao património vernáculo são fundamentais para o restauro e reconstrução destas estruturas. É através da educação e da formação que estes métodos e este domínio das técnicas e ofícios devem ser conservados, registados e transmitidos às novas gerações de artífices e construtores.
4. Substituição de materiais e de elementos arquitectónicos
As transformações que satisfaçam legitimamente as necessidades contemporâneas devem ser realizadas com materiais que assegurem uma coerência de expressão, de aspecto, de textura e de forma com a edificação original.
5. Adaptação e reutilização
A adaptação e a reutilização de construções vernáculas devem ser efectuadas respeitando a integridade, o carácter e a forma destas estruturas e compatibilizando a intervenção com os padrões de habitabilidade desejados. A perenidade dos métodos tradicionais de construção pode ser assegurada através da elaboração, pela comunidade, de um código ético ajustável às intervenções.
6. Critérios relativos a alterações
As alterações feitas ao longo do tempo nos edifícios devem ser consideradas como parte integrante da Arquitectura Vernácula. Por isso, a sujeição de todos os elementos de uma edificação a um período histórico único não deve constituir, normalmente, o objectivo das intervenções no património vernáculo.
7. Formação
Para conservar os valores culturais da Arquitectura Vernácula ou tradicional, os governos e as autoridades competentes, as associações e as organizações ligadas a estes objectivos devem dar prioridade:
a) A programas educativos que transmitam os fundamentos do património vernáculo aos técnicos ligados à sua salvaguarda;
b) A programas de formação para apoiar as comunidades a preservar os métodos e os materiais tradicionais de construção, bem como as respectivas técnicas e ofícios;
c) A programas de informação que sensibilizem o público, nomeadamente os jovens, para o valor da arquitectura vernácula;
d) Às redes inter-regionais de arquitectura vernácula para intercâmbio de conhecimentos e experiências.»

ICOMOS
CONSELHO INTERNACIONAL DOS MONUMENTOS E DOS SÍTIOS
Organização não-governamental internacional dedicada à conservação, protecção e valorização dos monumentos, conjuntos e sítios de todo o mundo.
http://icomos.fa.utl.pt
www.international.icomos.org

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

A casa e os adágios populares

É de tal modo importante a problemática relacionada com a habitação, que a cultura popular lhe consagra alguns dos seus muitos adágios:
- A casa não importa ser pequena, importa que tenha alegria;
- A casa que não tem gatos tem muitos ratos;
- A casa sem mulher é corpo sem alma;
- Casa amiga, boa casa;
- Casa ao pé de grota ou ribeira, ou ventosa ou ratoeira;
- Casa com curral, paraíso terreal;
- Casa com duas portas é má de guardar;
- Casa de mulher feia não precisa de tramela;
- Casa fechada, casa arruinada;
- Casa nova, vida nova;
- Casa onde entra o sol não entra o médico;
- Casa onde estejas e terra quantas vejas;
- Casa onde eu não caibo, ali mora o diabo;
- Casa sem criancinhas, gaiola sem passarinhos;
- Casa sem filhos é colmeia sem abelhas;
- Casa sem homem nem a candeia dá luz;
- Casa varrida e mulher pentada, parece bem e não custa nada;
- Em casa escura não entra alegria; - Não se começa a casa pelo telhado; - Não se regula o pão pela côdea, nem a casa pela frontaria; - Boa casa, boa brasa; - Da porta para a rua, toda a casa é tua.
Rafael Carvalho / Jan2008

sábado, 5 de janeiro de 2008

Técnicas de construção no alto Douro – O Tabique


O Tabique na arquitectura de Terra

O tabique enquadra-se no âmbito da “Arquitectura em Terra”, leia-se terra crua, diversa e de características universais. Efectivamente a terra crua como material construtivo pode ser escavada, empilhada, modelada, prensada, apiloada, recortada, extrudida, pode servir de enchimento como no caso do tabique, de cobertura, de recobrimento, entre outros. Excepção feita para a Antártida, a arquitectura de terra é praticada há milénios por diversas culturas em todos os continentes, daí a sua universalidade. Actualmente cerca de 1/3 da população mundial vive em estruturas construídas em terra.

Em Portugal, as principais técnicas tradicionais de construção que recorrem à terra são:
· a “taipa”, principalmente no sul;
· o “adobe”, junto aos estuários do Tejo e do Sado e no litoral centro;
· o tabique, distribuído nalgumas localidades do centro e norte;
· a terra de cobertura, em construções circulares no Alentejo e as coberturas de salão do Porto Santo (Madeira).

A terra é um material natural, reciclável, inesgotável, ecológico e sustentável. Possui excelentes propriedades acústicas na absorção do som. A sua massa térmica permite no Inverno conservar o calor e no Verão manter o ar fresco. Retém o excesso de humidade das habitações.

Tabique – o método
O tabique, também designado de “taipa de fasquio”, “taipa de rodízio”, “taipa de sopapo”, “taipa de chapada”, “pau a pique”, “terra sobre engradado” ou “barro armado” é um método construtivo comum em grande parte do vale do Douro, onde subsiste nalgumas construções centenárias. Distribuída por diversos locais do mundo, esta técnica consiste numa estrutura portante de madeira interligada por trama de madeira, formado por um engradado preenchido por terra argilosa, podendo conter fibras vegetais.

São Cosmado, Armamar

O engradado é limitado pelos pilares principais e pelas vigas do tecto e do piso em madeira.
As paredes de tabique desempenham funções estruturais importantes. Devido à sua organização, estas paredes têm um importante papel no travamento geral das estruturas, mediante a interligação entre paredes, pavimentos e coberturas, decisiva para a capacidade resistente global do edifício durante a ocorrência de um sismo, dissipando a sua energia. As construções em tabique foram as que melhor resistiram ao terramoto de 1755.

Tabique - distribuição em Portugal

Tabique – relação com o Douro
Sobre o pavimento térreo normalmente em pedra, o tabique constitui no Alto-Douro o último andar de muitas habitações. Apresenta-se rebocado ou, para maior protecção, revestido no exterior por telhas cerâmicas, placas de lousa ou chapas de zinco. Forma muitas vezes acréscimos e trapeiras. O tabique é também usado na região para construção das paredes interiores, apresentando-se nesse caso rebocado com argamassa à base de cal.

No Douro, curioso é o facto das estruturas de madeira que suportam o tabique nem sempre se apresentarem perfeitas à vista, dada a necessidade de muitas vezes utilizar madeira fora de esquadria, logo de pior qualidade (Salzedas-Tarouca, Santiago-Armamar, …).

Salzedas/Tarouca

O tabique, verdadeiro ícone do património arquitectónico alto-duriense, adapta-se ao clima, ao terreno, à paisagem, à cultura e valoriza a identidade local.
A preservação do tabique é um contributo fundamental para a preservação da diversidade e singularidade regional, patente em locais como: Bairro da Ponte – Lamego; Salzedas e Ucanha – Tarouca; Bairro dos Ferreiros - Vila Real; São Cosmado, Goujoim e Ribeira de Goujoim – Armamar; Granja do Tedo – Tabuaço.

Tabique - Inventariar, caracterizar e preservar, precisa-se!

Rafael Carvalho / Jan2008

(Clique para saber mais sobre Arquitectura de Terra)
(Clique para enquadrar o tabique na Arquitectura Vernácula Alto-Duriense)

Bibliografia e sites consultados
· Arquitectura de Terra em Portugal, Argumentum, 2005
· http://www.aldeia.org/portal/user/documentos/MCorreia.pdf
· http://mestrado-reabilitacao.fa.utl.pt/disciplinas/jaguiar/MariaFernandesTERRA1.pdf
· http://www.paulojones.com/tecnicas/tabique.php

Empresas com Tradição

Em Portugal, poucas são as empresas especializadas em arquitectura/construção popular. Independentemente de possíveis interesses comerciais, pelo prazer, calor e informação que nos transmitem, aqui fica o registo da ligação a algumas delas. Com contributos exteriores, a lista poderá aumentar.
Rafael Carvalho – Jan2008
prestação de serviços no âmbito da Arquitectura
especializada no restauro de edifícios
Restauro, Reabilitação, Recuperação, Arquitectura

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Arquitectura vernácula alto-duriense


Foto: Granja do Tedo - Tabuaço
Relativamente à Arquitectura Vernácula, não existe no Alto-Douro um modelo arquitectónico único. Subsiste na região a influência e por vezes a síntese de diversos modelos arquitectónicos oriundos da Beira, de Trás-os-Montes e do Douro Litoral.

No povoado, a casa que mais facilmente se identifica com a região alto-duriense possui normalmente dois andares, por vezes mais, sendo o último construído em tabique, característica relevante e marcante desta zona.

O rés-do-chão é ocupado pela adega bem como armazém, nomeadamente de produtos agrícolas, alfaias e lenha. Outrora o rés-do-chão também servia de estábulo aos animais. Para além da porta de acesso ao exterior, a existirem outras aberturas não passarão de postigos ou frechas, normalmente gradeados, ora abertos ora fechados por uma portada interior de madeira. Dado o fácil arejamento, não raras vezes se solta para exterior do edifício o odor a vinho, bastante perfumado se for generoso. Curioso é o facto de com alguma frequência as molduras esquerda e direita das portas serem talhadas lateralmente em arco para permitem a movimentação dos tonéis do vinho. Alternando entre o xisto e o granito, os materiais utilizados na construção do primeiro piso dependem dos recursos do solo e da situação económica do seu proprietário, sendo o perpianho de granito a elite dos materiais. Independentemente da litologia local, as casas mais ricas ostentam sempre cantarias de granito, pelo menos nos cunhais e nos caixilhos das portas e janelas, procedendo-se à sua importação, se necessário, das terras vizinhas. Nestas casas nobres ou burguesas, bem como em muitas construções religiosas, a restante fachada poderá ser rebocada e caiada. Onde nas imediações só existe xisto, as habitações mais modestas poderão utilizá-lo em regime de exclusividade, ficando à vista ou caiado a branco. A alvenaria tanto pode ser de junta seca como poderá usar barro ou argamassa de cal na ligação das pedras.

O acesso ao primeiro andar, destinado à habitação, é feito muitas das vezes por uma escada exterior, saliente ou não, culminando num alpendre ou varanda. Outras vezes, com o mesmo objectivo, é usada uma escada interior.

Relativamente aos restantes modelos arquitectónicos do norte do país, o primeiro andar em tabique é o responsável pela diversidade, mimo, delicadeza, leveza, pormenor e calor que verdadeiramente torna distinta a arquitectura tradicional do Alto-Douro. O tabique, em sistema de fasquio, usado quer na construção das paredes interiores, quer na construção de paredes exteriores e trapeiras, consiste na construção de uma estrutura com tábuas e ripas de madeira, em rede, posteriormente rebocada e caiada, normalmente de branco. No caso das paredes exteriores, é frequente o tabique apresentar-se protegido por escamas ou placas rectangulares de ardósia. O tabique pode ainda ser revestido com chapa zincada pintada com cores berrantes ou, mais raramente, com telha cerâmica. Apoiado nas traves do soalho, em varões oblíquos de ferro ou madeira encastrados na parede, ou em pilares de pedra, a leveza do tabique permite que o primeiro andar possa surgir em ressalto sobre as paredes do rés-do-chão. Com a existência de “casas-túnel” e passadiços, a delicadeza do tabique facilita a articulação entre os domínios privado e público. Quanto às varandas, normalmente de madeira e cobertas pelo telhado normal da casa, existem de diversos tipos: envidraçadas; salientes; recuadas; centradas ou não na fachada; ao serviço de uma ou duas frentes; com os topos abertos ou fechados. A varanda é encarada não como um mero elemento decorativo, mas antes como um prolongamento da casa para o exterior, necessário às actividades e ocupações da família. Nela se põe a roupa a secar e se secam os frutos, se dependuram as cebolas e se pousam as abóboras. É na varanda que durante o dia se aproveita o sol para no Inverno aquecer o corpo ou fazer serão na época de Verão. É na varanda que o velho espera a morte e a dona de casa remenda a roupa e parte as couves para o caldo. Atingindo o seu expoente máximo na Vila de Ucanha, as varandas, arestas, portas e janelas e respectivas guarnições em madeira são pintadas com cores berrantes, dizem que para afastar as más influências. As janelas são quase sempre de guilhotina, com portada interior de duas folhas, por vezes lateralmente ornamentadas com poiais em pedra para a colocação de vasos. Ainda subsistem alguns exemplares de casas sem vidraça na janela, sendo a portada interior o único meio de defesa contra a hostilidade exterior. Por vezes encontram-se situações intermédias, onde um pequeno postigo em vidro é inserido na própria portada.

Possivelmente o tipo de cobertura mais antigo, há muito desaparecido, era o colmo, remontando a sua origem aos castros, uma vez que a telha só apareceu, entre nós, depois da romanização. Os telhados de lousa também já desapareceram. Actualmente as telhas que revestem os telhados são de barro. Há-as de “canudo”, também chamadas de “meia-cana”, “mouriscas” ou “portuguesas” e empregam-se há séculos. De aplicação mais recente é a telha “lusa”, evolução da anterior. É uma telha dupla formando canal e cobertor. Com origem no sul de França, casas existem que possuem a telha “marselha”, introduzida no nosso país na segunda metade do século XIX. Os telhados são normalmente de quatro águas. Porém, também os há de duas ou mesmo de uma só água, normalmente em construções mais modestas, como as dependências agrícolas. As telhas do beiral tanto podem assentar directamente sobre a parede da casa, como sobre os caibros salientes em madeira. Estes remates são elementos bastante característicos dos edifícios, fazendo também parte da decoração da fachada. Nalguns casos, os telhados são caiados integralmente ou apenas em faixas, demarcando a estrutura de madeira que os suporta, permitindo desta forma percorrê-los de forma mais segura aquando das reparações. A cal desinfecta e favorece o arrefecimento da casa no verão. Por forma a poder albergar todo o generoso e defumado recheio, por vezes do telhado sobressai a chaminé, generosa em dimensão,. Sendo construída em tabique é revestida ora em chapa, ora em escamas de lousa, sendo encimada por uma raposa metálica (caneleira larga com aba, em ferro, que cobre toda a boca da chaminé). Em habitações mais rudes por vezes a chaminé está ausente, escoando-se o fumo por entre as telhas ou, quanto muito, por pequenas trapeiras nos telhados conseguidas com o alteamento de algumas telhas.

A fina arquitectura alto-duriense, que tem por base o tabique, coabita com outros espécimes de características mais rudes, com paredes exteriores (R/C e andar) integralmente construídas em xisto e/ou granito, onde o tabique está ausente. Curioso é o facto de por vezes surgirem espécimes de transição, onde apenas uma parede ou parte de uma das paredes do primeiro andar é feita de tabique.

De arquitectura geralmente simples e eminentemente funcional, a quinta duriense, caiada de branco ou ocre, integra a casa de habitação do proprietário bem como outros edifícios de apoio à actividade produtiva – casa do caseiro, armazéns e cardenhos para alojar os trabalhadores temporários, na altura da vindima. Muitas das vezes, os armazéns e as oficinas vinárias, são dispostas em cascata, aproveitando a topografia do terreno e a acção da gravidade para ajudar no processo da produção de vinho. A quinta pode ainda integrar uma capela particular, seguramente o local mais cuidado da propriedade. Dependendo do poder financeiro dos donos, a casa de habitação do proprietário não tem uma arquitectura tipificada. Porém, normalmente organiza-se numa planta rectangular ou em L. Como se trata de uma região de desníveis bruscos, são frequentes as casas em que, nas traseiras, o andar superior fica também ao nível do rés-do-chão. Enquanto o sobrado, marcado por um corredor central, serve de habitação, os baixos são destinados à adega. Como marca de poder, junto à casa poderá existir um jardim formal, de onde sobressaiem algumas palmeiras e/ou ciprestes. Assumindo uma posição de destaque sobre um fundo caiado, visível por vezes na encosta a diversos quilómetros de distância, integrado na fachada de um dos edifícios ou num dos seus muros, surge frequentemente escrita em letras garrafais a denominação da quinta.

Rafael Carvalho / Jan2008




Bibliografia
· Almeida, Carlos de - Portugal arquitectura e sociedade, Ed. terra livre, Lisboa 1978
· Oliveira, Ernesto Veiga e Galhano, Fernando - Arquitectura tradicional portuguesa, Publicações D. Quixote, 2000
· Lino, Raul -casas portuguesas (alguns apontamentos sobre o arquitectar das casas simples), Ed. cotovia, 1992
· Moutinho, Mário - A arquitectura popular portuguesa Ed. estampa, lisboa1979
· Arquitectura popular em Portugal, Associação dos Arquitectos Portugueses, 2003
· Alto Douro Vinhateiro – Documento de Candidatura a Património Mundial