quinta-feira, março 31, 2005

 

patrão fora, dia de trabalho na loja?

Sempre que o blogger-mor, Rui Baptista, faz o favor de avisar que vai circular, incentiva ainda mais os restantes "sócios" a postar!A mim, ainda a tentar ressuscitar, espicaça-me a vontade, não sei se por me doer mais a consciência, se por me dar uma vontade louca de estar onde o Rui estará. E agora?

 

Gritos

Apesar das chicotadas do alter-ego da coisa, o tempo insiste em trair-nos. Empurra-nos para fora dos carris. De fugida, observo apenas que há dias assim, plenos de coincidências. Dias em que os astros se conjugam para atormentar os homens. E despertar-nos os uivos da insónia. Surge, ao fundo, a gargalhada cínica do útero da terra. Esse riso corrosivo que vai pingando da dança dos elementos. Olhamos em redor e deparamos com a dispersão. Com a imensidão de almas contidas. De gritos agarrados. De orgasmos constrangidos. Com referendos despiciendos. Com tempestades de projectos que servem apenas coisa nenhuma. Arfamos, exaustos. O coração não aguenta. A cabeça também não. Vão doendo os sexos aos amantes.
"Para a semana faço 32 anos e ainda não sei o quero ser", comentava-me uma amiga. Pudera. Alguém saberá? Cavalgamos, apenas, sobre a ténue linha da existência. Eu cá, acho que isto está do avesso. Queria voltar ao berço, em dias assim. Nascer encarquilhado e acabar-me a abocanhar o seio desejado. Antes de me banhar para sempre nos líquidos essencias da mulher primeira. Largar os carris de vez para o refugio dos quadris quentes e lânguidos da materna doçura. Não faria mais sentido?
Eu cá, em dias pintados assim, sei que o quero ser.
Para a amiga, que não precisa de chocolates, roubei umas fumaças à Tabacaria.
Adeus, ó Esteves!

"[...]Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso?
Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio?
Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas
-Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente
(...)
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeiraTalvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira.
Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança,
e o Dono da Tabacaria sorriu"


Tabacarioa, Álvaro Campos

 

E a Igreja?

Vasco Pulido Valente no Público:

«Que num debate sobre a direita, a uns dias do referendo sobre o aborto, e quando se recomenda o "debate ideológico", a Igreja não se mencione é um contra-senso ou uma fuga.Ontem, em conversa com este jornal, as cabeças pensantes da direita portuguesa conseguiram o milagre de falar da direita sem falar da Igreja. Voluntária ou involuntária, esta omissão é curiosíssima. Por várias razões. Primeiro, porque a história e a própria existência da direita sempre esteve, e continua a estar, ligada à Igreja. O miguelismo foi uma aliança entre o trono e o altar e o anti-clericalismo dividiu os campos durante todo o século XIX e mais de metade do século XX. Ninguém conseguia ficar neutro ou sequer à margem. Ou se estava de um lado ou se estava do outro. A literatura (incluindo o ensaio) reflecte, aliás, muito fielmente o que sucedia na sociedade e na política. De Garrett a Sérgio, corre, página a página, um ódio inextinguível à Igreja e ao padre, que nenhum católico conseguiu contrariar ou sequer mitigar. A Monarquia caiu em grande parte por causa da "questão religiosa" e a República ou, mais precisamente, o Partido Democrático de Afonso Costa não passou em grande parte uma perseguição endémica à Igreja.
Mas, no fim, a Igreja ganhou. Salazar era a sua criatura e o Estado Novo o seu regime. Muito se tem escrito sobre a independência que Salazar supostamente assegurou ao Estado. Não assegurou nada. A Ditadura vivia do facto, para ela feliz, de existir um pároco em cada paróquia. Não precisava de um partido único para doutrinar, vigiar e reprimir a população. A Igreja bastava e, quando ela faltou, depois do Concílio e de Paulo VI, tudo tremeu e se desfez. Caetano, coitado, acabou sem fé. Mas, durante o PREC, a Igreja resistiu e ainda em 1979, na campanha da AD, assisti a muita missa em que se proibia o voto no PS, por ser obviamente um "partido marxista". Em 1980, os velhos ministros de Salazar já ensinavam na Universidade Católica, que desde essa altura se tornou na principal escola de quadros da direita.
Fora esta realidade crua e dura, também não se vê bem como qualquer "refundação" do CDS ou do PSD possa a prazo prescindir dos valores da Igreja e do seu apoio institucional activo. Não por acaso aumenta constantemente o número de políticos que exibem com clamor o seu catolicismo. Eles sabem que precisam de uma referência ao mesmo tempo popular e sólida para moderar ou conter o "politicamente correcto". Que num debate sobre a direita, a uns dias do referendo sobre o aborto, e quando se recomenda o "debate ideológico", a Igreja não se mencione é um contra-senso ou uma fuga.»

 

Bom dia!

Nos próximos dias vou andar em trânsito por estes lados. Postarei se puder e tiver assunto. Esta casa fica entregue aos outros sócios, alguns deles extremamente silenciosos. Fiquem com Lhasa de Sela. Eu sei que é uma repetição mas isso não importa nada. Nadinha mesmo.


PARA EL FIN
DEL MUNDO
O EL ANO NUEVO

LLEGARÁS MANANA
PARA EL FIN DEL MUNDO
O EL ANO NUEVO
MANANA TE MATO
MANANA TE LIBRO
ESTOY ADELANTE YA NO
YA NO TENGO MIEDO
MANANA TE DIGO QUE EL AMOR
QUE EL AMOR SE HA IDO

quarta-feira, março 30, 2005

 

Boa Noite

Entre o sono e o sonho,
Entre mim e o que em mim me suponho,
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre -
Esse rio sem fim.

Fernando Pessoa

 
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Mourinho, o gestor

Vou começar isto de outra forma.É justo e impõe-se.
Obrigada Mourinhete e Guess Who pela gargalhada que me fizeram dar com os vossos comentários :) Realmente... não falta mais nada!
Mesmo assim, aplicando-se lindamente a máxima "uma imagem vale mais do que mil palavras", cá vai o motivo do post.
Um artigo da revista EXAME, de Abril, assinado pelo jornalista Pedro Fernandes, intitulado «18 lições de campeão« levaram-me a abordar o assunto.
Fiquei desde logo "agarrada" à leitura pelo "lead" e dei por bem empregue o tempo dispendido. Diz assim: «Pode o modelo de gestão de José Mourinho ser aplicado em empresas fora do mundo do futebol? Sim. O seu livro tem ensinamentos para todo o tipo de gestores». E a legendar uma foto: «O livro do homem que poucas vezes sorri foi motivo de um artigo no Financial Times onde se alerta os ingleses para os ensinamentos que os gestores podem retirar com a sua leitura».
São três páginas agradáveis onde se resumem 18 tópicos de "boas práticas", mais três caixas. A que mais gostei foi a do Professor Jorge Vasconcellos e Sá que aponta sete factores para o sucesso de José Mourinho. A dado momento da sua análise pode ler-se «A maior parte das pessoas passa pela vida sem saber o que faz bem. Mourinho faz aquilo para que tem talento. Este (o talento) nunca é universal.Quer no liceu, quer no Iscef, teve problemas com a Matemática; desistiu do curso de gestão no ISCTE; desistiu de ser futubolista quando concluiu que não tinha jeito», e por aí fora. Eu gostei de ler.

 

Se hoje de manhã, me tivessem dito que eu "postaria" qualquer coisa sobre o Mourinho, negaria! Diria: jamais! eu percebo muito pouco de futebol e, no blog, esse tema está, geralmente, sob a alçada do Rui. Sarcástico, quase sempre, principalmente quando o FCP, perde! Posted by Hello

 

Have I Told you lately?

Há muito tempo que andava à procura desta canção de Van Morrison. A letra explica tudo. Tenham um excelente dia.

(Quem preferir pode ouvir aqui em Windows Media Player)

Have I told you lately that I love you
Have I told you there’s no one else above you
Fill my heart with gladness
Take away all my sadness
Ease my troubles that’s what you do

For the morning sun in all it’s glory
Greets the day with hope and comfort too
You fill my life with laughter
And somehow you make it better
Ease my troubles that’s what you do
There’s a love that’s divine
And it’s yours and it’s mine like the sun
And at the end of the day
We should give thanks and pray
To the one, to the one

Have I told you lately that I love you
Have I told you there’s no one else above you
Fill my heart with gladness
Take away all my sadness
Ease my troubles that’s what you do

There’s a love that’s divine
And it’s yours and it’s mine like the sun
And at the end of the day
We should give thanks and pray
To the one, to the one

And have I told you lately that I love you
Have I told you there’s no one else above you
You fill my heart with gladness
Take away my sadness
Ease my troubles that’s what you do
Take away all my sadness
Fill my life with gladness
Ease my troubles that’s what you do
Take away all my sadness
Fill my life with gladness
Ease my troubles that’s what you do

 

Orbi

Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

(Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite)
Manuel Bandeira


(A imagem é da autoria do fotógrafo indiano Tarun Khiwal)

 

Music is THE BEST

Frank Zappa (1940-1993). Felizmente a música de Zappa anda por aí para nos ajudar a endireitar os dias e a olhar o mundo com feroz ironia. Bobby Brown foi sempre a minha canção preferida daquele que foi, provavelmente, o maior guitarrista de sempre. Pode ser escutada aqui


com recurso ao Windows Media Player. Se houver muitas reclamações na caixa de comentários eu coloco um ficheiro na página. Mas, para já, vamos tentar este método para não sobrecarregar o blogue.

Information is not knowledge,
Knowledge is not wisdom,
Wisdom is not truth,
Truth is not beauty,
Beauty is not love,
Love is not music
and
Music is THE BEST

terça-feira, março 29, 2005

 

É dos carecas que ele gosta mais

Será que Bush tem um fetiche por homens carecas? A julgar por este site, parece que sim...

 

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

 

Azenhas do mar

Faz-lhe cócegas qu'ela gosta

Faz-lhe cócegas qué'la gosta

Um post roubado descaradamente ao Azenhas do Mar, que aproveitou as celebrações de um ano de existência para migrar para o blogger. Parabéns atrasados. Pela casa nova e pelo aniversário. E agora divirtam-se a fazer cócegas à menina. Mas sem exageros...

 
Tanto pediram chuva que ela agora não pára! É o que dá fazer procissões e novenas - há sempre o perigo de ser atendido.

 

Certezas, dúvidas e equações

Certezas, dúvidas e equações

Não estive longe. Mas distante, o suficiente, do meu quotidiano. E de rotinas mais ou menos recentes, mais ou menos conciliadoras. O blog é uma destas rotinas recentes e conciliadoras que, inesperadamente, nos fazem falta.

Parti em viagem, breve, depois de um funeral. O pai de uma amiga morreu.
E agora, chegada aqui, a esta casa antiga, com chuva nas janelas penso nas pessoas que cruzaram o meu caminho e naquelas que ainda chegarão, antes que eu parta também. Não sou pessimista. Prezo tanto a vida, que até a agradeço em plenas e demoradas filas de trânsito e no decorrer de tantos outros desesperos humanos. Dos mais banais aos mais filosóficos. Mas, novamente, o confronto com a morte, fez-me ficar quieta naquela frase que se ouve nos funerais: «é a única certeza que temos na vida…mas…» Mas não estamos preparados para digerir tamanha certeza, muito menos em rituais de despedida atenuados ou não pela fé.
Para além de que, esta “única certeza” é sempre sinónimo de subtracção.
Para o bem ou para o mal, tiram-nos alguma coisa, certa pessoa, determinados momentos vivos. Privam-nos do que, às vezes, nem sequer usufruímos.
Mas privam-nos. Desassossegam-nos. Entristecem-nos.
E depois, a morte, é uma certeza que induzimos tarde. Ou rejeitamos, ou adiamos. A certeza da morte é o tal cromo que ninguém tem repetido.

Tinha outras, tantas outras certezas, antes desta, que equacionava de forma simples. Certezas urgentes, impiedosas, ímpias.
Certezas serenas, sagradas, basilares.
Muito antes de deslacrar a certeza da morte, tinha certezas eternas guardadas. Minhas. E desse baú enorme de certezas, resta-me uma absoluta e outra relativa. Ri o. De mim. E do fundo do baú, tão amplo, tão grande para tão poucas certezas e tão ínfimo para tantas dúvidas.
Há certezas que nos adicionam, que nos multiplicam, que nos dividem.
Ah! como nos dividem, como nos multiplicam, como nos adicionam…
à vida, numa osmose quase perfeita. Tanto que nos pode ser adicionado.
Amor, coragem, ternura, alegria, amizade, sorriso, calor, sinceridade, vontade, sonho, vitória, prazer, cumplicidade, emoção… Certezas que se multiplicam e fazem do coração um lugar demasiado pequeno. Certezas que nos dividem, nos sobressaltam e nos fazem querer, ao mesmo tempo, uma ilha e um continente.
Outras certezas, porém, não só subtraem pessoas, como subtraem sentimentos. Tanto que nos tiram. Fazendo com que a nossa equação desequilibre e o resultado pareça, às vezes, inalcançável, indecifrável, insuportável.
Outras vezes o resultado dessa equação de certezas, de dúvidas, de incógnitas, é tão, mas tão evidente que fazemos bem a conta de cabeça, ou de coração, conforme o caso. Tanto o que pode acontecer numa equação. Tanto o que lá cabe. Tantos sinais, tantas variáveis. Equações possíveis, impossíveis ou indeterminadas.
Certezas, dúvidas e equações.
Eu fazia uma muito simples, nos cadernos, nos muros ou no tampo das mesas da sala de aula da minha escola

maria + paulo = amor ou, quando não tinha namorado, maria + ? = amor

E era assim que, naquele tempo, imenso e demorado, eu fazia contas à vida! Muito poucas variáveis, às vezes uma incógnita, sempre temporária, uma solução certa e absoluta.
Era no tempo das equações simples, de resultado inquestionável e, certamente,feliz.

 

El sueño

Acordar com Borges não é acordar. Será que quem adormeceu é o mesmo que acorda? Talvez os sonhos sejam uma espécie de body snatchers que cada noite nos colocam del otro lado de su muro.

El sueño

Si el sueño fuera (como dicen) una
tregua, un puro reposo de la mente,
¿por qué, si te despiertan bruscamente,
sientes que te han robado una fortuna?

¿Por qué es tan triste madrugar? La hora
nos despoja de un don inconcebible,
tan íntimo que sólo es traducible
en un sopor que la vigilia dora

de sueños, que bien pueden ser reflejos
truncos de los tesoros de la sombra,
de un orbe intemporal que no se nombra

y que el día deforma en sus espejos.
¿Quién serás esta noche en el oscuro
sueño, del otro lado de su muro?.

Jorge Luis Borges, 1964

 

Meu erro

Bom dia.


Composição: Herbert Vianna
Interpretação: Banda Zero 82 (Maceió)


Eu quis dizer, você não quis escutar
Agora não peça, não me faça promessas
Eu não quero dizer nem quero acreditar
Que vai ser diferente
Que tudo mudou
Você diz não saber
O que houve de errado
E o meu erro foi crer
Que estar a seu lado bastaria
Ah! meu Deus era tudo que eu queria
Eu dizia seu nome
Não me abandone jamais
Mesmo querendo eu não vou me enganar
Eu conheço os seus passos
Eu vejo seus erros
Não há nada de novo, ainda somos iguais
Então não me chame
Não olhe pra trás
Você diz não saber...
Você diz não saber...
PS- Esta não é versão mais bonita que conheço da canção de Herbert Vianna para os Paralamas do Sucesso, mas hoje vai ter que servir. E depois, a Zero 82 é uma instituição de Maceió, terra de Collor e PC Farias, onde conto regressar a curtíssimo prazo. Have fun!

segunda-feira, março 28, 2005

 

ressuscitarei?

Talvez por ser Páscoa, questiono-me se ressuscitarei...

 
She was my North, my South, my East and West
My workingweek and my Sundayrest
My noon, my midnight, my talk, my song
I thought that love would last forever: I was wrong

The stars are not wanted now, put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood
For nothing now can ever come to any good
W.H. Auden

 

Marcelo a banhos

De Marcelo Rebelo de Sousa já se disse tudo. Ou quase tudo. Já não há uma alma neste país que desconheça que o professor de Direito só dorme 15 minutos por noite, escreve no quadro com as duas mão ao mesmo tempo, devora dois livros e picos por dia e que liga de madrugada aos mais altos dirigentes do país para colher dados sobre os assuntos que comenta aos domingos na RTP. Lançar-se ao rio Tejo e andar por Lisboa a recolher caixotes de lixo foram gestos que não levaram o professor à presidência da câmara da capital mas que ajudaram a construir uma reputação. Uma reputação de homem sem sono, infatigável, capaz de produzir dois pareceres jurídico na hora de almoço e de dizer e fazer coisas que deixam os Gomes da Silva deste mundo com os cabelos em pé.
Como foi possível comprovar numa edição recente do Diário de Coimbra, Marcelo é o primeiro a contribuir para a lenda. Atente-se no primeiro parágrafo do texto de opinião que escreveu para o diário: Parece mentira, mas não é. Saía eu do meu banho no mar diário – sempre à hora do almoço, entre aulas de manhã e aulas à tarde, salvo ao fim-de-semana, em que separa uma boa corrida e um frugal almoço –, eis senão quando deparo com o querido amigo Adriano Lucas, num dos seus passeios domingueiros ao longo do paredão. E pronto. Ficámos todos esclarecidos sobre os hábitos balneares do professor, que enfrenta as águas sem arrepios faça sol ou faça chuva. E sem mesmo vestir o roupão, redigiu logo ali na praia uma longa prosa contra a co-incineração. Homens assim não existem. Mas não existem mesmo.

 

Bom dia!

Sou o único a estar farto da Páscoa?

 

Outro Dia

A chuva ainda é intensa e a manhã cresce em poucas cores.
Pessoa acordava assim na figura de Caeiro:

Todos os dias acordo com alegria e pena.
Antigamente acordava sem sensação nenhuma; acordava.
Tenho alegria e pena porque perco o que sonho
E posso estar na realidade onde está o que sonho.
Não sei o que hei-de fazer das minhas sensações.
Não sei o que hei-de ser comigo sozinho.
Quero que ela me diga qualquer cousa para eu acordar de novo.

Alberto Caeiro

domingo, março 27, 2005

 

Última Tentação

E então ela quis tentá-lo definitivamente. Olhou bem em volta, com extrema atenção. Mas só conseguiu encontrar uma pera pequenina e pálida.
Ficaram os dois numa desesperante frustração.
Não há dúvida que o Paraíso está atornar-se cada vez mais chato !

mário-henrique leiria (novos contos do gin)

sábado, março 26, 2005

 

Boa Páscoa


(Com a devida vénia ao Notícias de Ovar)

 

Duas penadas

De fugida, que a cruz está à espreita, ocorre-me aconselhar uma olhadela à manchete,e ao hilariante artigo, do Diário de Notícias deste sábado. O que dirá sobre a "cacha" puxada pelas orelhas o novo patrão (barão) do antigo império Lusomundo?
Triste país esta coisa adiada. Ou, como escrevia há uns tempos o compagnon RB, pátria que nos pariu! Basta ler o título da novela..
Quase em surdina, surge-me a voz da Manuel Azevedo. Sem indirectas a qualquer tipo de clã.
Agora faço-me à estrada, que as curvas estão já ali.



Vieste comigo
nesse jeito pós-moderno
de não querer saber nada
de não fazer perguntas
essa pose cansada
tão despida de emoção
de quem já viu tudo
e tudo é uma imensa
repetição
não fosse a minha competência para amar
e nunca teriamos acontecido
num mundo de competências
e técnicas de ponta
a dádiva da fala
quase já não conta

depois quase ias embora
desse modo
evanescente
não soubesse eu ver-te
tão transparente
e teria sido apenas
o encontro acidental
uma simples vertigem
dum desporto radical

não fosse a minha competência para amar
e nunca teriamos acontecido
num mundo de competências
e técnicas de ponta
a dádiva da fala
quase já não conta

Competência Para Amar Carlos Tê \ Hélder Gonçalves

 

O Argumento

Esta semana, Henrique Monteiro escreve no Expresso uma sugestiva crónica, a que não resisto em deixar aqui a devida nota.
O ARGUMENTO esfarrapado é uma das mais curiosas instituições portuguesas. Contrariados pelos factos, certas personagens - muito mais por dever de ofício do que por convicção profunda - amontoam à pressa duas ou três frases e saem em defesa de damas já totalmente indefensáveis.
No topo destes casos está, o ainda secretário geral do PSD, Miguel Relvas. Comentando o regresso a Lisboa das secretarias de estado deslocalizadas, opinou: «É uma medida para inglês ver».
Afirmar que o regresso aonde sempre estiveram é para inglês ver só pode ser verdade pelo facto de, eventualmente, passarem mais ingleses por Lisboa do que por outra qualquer localidade de Portugal.
Mas não é só M. Relvas. Também Luís Delgado, admirado com a boa prestação de Sócrates no Parlamento, escreve: «É caso para dizer que este PM poderia muito bem ser de centro-direita». Seguindo raciocínio de Delgado, Sócrates manifestamente enganou-se ao afirmar-se de esquerda. Um homem de esquerda não pode, de acordo com este analista evidenciar a competência de Sócrates, o discurso de Sócrates, as propostas de Sócrates. Por isso é tempo de cada primeiro-ministro, cada ministro, cada deputado, antes de se definir politicamente como de direita ou de esquerda, fazer o teste Delgado. Ele, lá do alto do seu critério, lhes dirá em que área se deverão posicionar.
O pódio do argumento esfarrapado é completado pelo líder da Associação Sindical de Juízes, que comentou assim a proposta de redução das férias judiciais, de dois para um mês: «As férias judiciais não significam um período de descanso». Pelo contrário, acrescenta, é nesse período que processos mais complexos são analisados. «As férias não significam que os agentes da justiça estejam sem fazer nada», insiste.
Ora, a isto só poderemos responder: POIS !

sexta-feira, março 25, 2005

 

Hábitos...

O ex-primeiro-ministro António Guterres, é um dos oito candidatos anunciados pelo secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, para o cargo de alto comissário da ONU para os refugiados.
Os oito candidatos vão ser entrevistados por Annan e pela vice-secretária geral da ONU, Louise Frechette, o que permitirá às Nações Unidas avaliá-los segundo vários critérios, entre os quais a capacidade em matéria de diplomacia, de gestão e de mobilização de recurso e o conhecimento das questões dos refugiados.
O novo alto comissário dos refugiados deverá ser "um líder que lutará sem vacilar pela causa dos refugiados" e possuidor de "qualidades de comunicação e de estabelecer consensos".Numa iniciativa anunciada no final de Janeiro, Annan lançou o objectivo de procurar um novo alto comissário da ONU para os refugiados entre "os candidatos mais bem qualificados do Mundo" para o lugar.
Os oito candidatos ao cargo
- António Guterres (Portugal), ex-primeiro-ministro e presidente da Internacional Socialista.
- Ema Bonino (Itália), parlamentar europeia, membro das comissões dos Negócios Estrangeiros e do Orçamento e da sub-comissão dos Direitos Humanos.
- Hans Dahlgren (Suécia), Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros.
- Gareth Evans (Austrália), presidente do International Crisis Group em Bruxelas.
- Soren Jenssen-Petersen (Dinamarca), representante especial da ONU no Kosovo.
- Bernard Kouchner (França), antigo Ministro da Saúde e antigo representante especial da ONU no Kosovo.
- Kamel Morjane (Tunísia), Alto Comissário Adjunto para os Refugiados.
- Mark Verwilghen (Bélgica), Ministro da Economia, da Energia, do Comércio Externo e das Políticas Científicas.
António Guterres – sem embargo das suas próprias prioridades políticas -, revela aqui uma especial motivação para participar em projectos de natureza pública e humanitária.
António Vitorino foi convidado para o cargo e não aceitou.
Já estamos habituados...

quinta-feira, março 24, 2005

 

O nosso maior fã...

...regressou. E em grande forma, como pode ser confirmado aqui. Não havia necessidade, francamente.

 

Ritmo!

E agora um bocado de ritmo, que os corpos vão-se arrumando e o céu vai-se enchendo de cerejas.

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
E posso dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas, nem a fascinação das
promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pedes que repouses quieto, muito quieto
E deixe que as mãos cálidas da noite encontrem a fatalidade do olhar
estático da aurora.

Vinícius de Morais

 

Helás

Entro assim, depois de um convite seduzido a ferros e de obstáculos cibernéticos. Assim, num dia indefinido desta Primavera adiada, ainda. Blogger à espera de um céu mais azul e de peles mais concretas.Assim, nesta fase sacralizada pelo calendário dos homens, espero para ver. E lixo o crucifixo.Espero, afinal, como "o capitão".

Esperemos
Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou precioso s
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.
Pablo Neruda (Últimos Sonetos)

 

No divã do psiquiatra

A minha filha mais nova, a Mariana, já quis ser veterinária, professora de educação fisíca e apresentadora de televisão, entre outras coisas. Agora, aos nove anos, anda com a mania de que há-de ser psiquiatra. Abriu até um consultório ao canto da saleta onde recebe clientes imaginários. Ela senta-se num sofá e anota num caderninho os casos clínicos. Esta manhã encontrei caída no chão uma folha solta com o registo de quatro "doentes" de ontem. Aí vai:

Caso 1:
Adora comer flores ao pequeno almoço. Ao meio-dia adora cheirar os pés porque acha que o seu cheiro é sensacional e comovente. À noite, antes de ver televisão, faz uns exercícios de yoga. O seu defeito é chamar-se Dulcolax.

Caso 2:
Hipnotiza as pessoas para as seduzir por telepatia. Para isso usa um cristal de pedra que fixa o olhar das pessoas. Tem a teimosia de comprar roupa por cheque. E sente pena das pessoas porque acha que o cheque é apenas uma folha de com uns númreos escritos. O seu maior defeito é ser criativo.

Caso 3:
"Sente-se atraído por feirantes e compra roupa de mulher só para manter conversa com elas. Pensa que é gay por ter o quarto decorado com cortinas de flores verdes que comprou na feira. Todo o bairro o goza.

Caso 4:
O seu crime foi amar alguém sendo mulher. Agora sabe que o seu destino é amar homens. Sente-se atraído por panquecas de alecrim. Depois de tomar banho come uma banana com mousse.

 

Península

El viajero - Pasión Vega



Os espanhóis costumam visitar Portugal na Páscoa. Mas hoje proponho que façamos juntos o caminho no sentido inverso. Com raras excepções, a música espanhola não é muito conhecida por cá. Mas por lá vão-se fazendo coisas muito interessantes, a começar por Martirio, que José Duarte considera a melhor cantora europeia de jazz. Mas hoje não rumaremos a Sevilha. Vamos antes até Málaga, onde Pasión Vega acabou de lançar o seu terceiro álbum, Flaca de Amor, que mistura a tradicional copla com arranjos mais mainstream. Há quem não goste do estilo - mas eu confesso que sempre me derreti com Pasión Vega. Por isso aqui fica El Viajero, que até tem uma discreta referência a Lisboa.

 

Sinais

Às vezes há dias assim. Primeiro avaria o micro-ondas, a seguir queima a torradeira, depois o frigorífico deixa de funcionar, logo a seguir pifa a televisão. Sem razão aparente acontece uma sucessão de pequenas avarias que torna a nossa vida bem mais complicada. Mas esta nefasta cadeia de eventos não acontece apenas com electrodomésticos ou com outros objectos sem alma. Às vezes acontece também com as pessoas. Acontece-me a mim. Primeiro descuramos o relacionamento com uma pessoa, depois irritamo-nos com ela, depois fazemo-la chorar, depois ficamos com remorsos e prometemos agir de maneira diferente, mas logo a seguir cometemos as mesmas asneiras. E sem saber como entramos num ciclo de estupidez que inferniza a nossa vida e a dos outros. Se ao menos aprendessemos com os erros.

 

VOLVER

Yo adivino el parpadeo
de las luces que a lo lejos
van marcando mi retorno.

Son las mismas que alumbraron,
con sus palidos reflejos,
hondas horas de dolor.
Y aunque no quise el regreso,
siempre se vuelve al primer amor.
La quieta calle donde el eco dijo:
"Tuya es su vida, tuyo es su querer!"
Bajo el burlon mirar de las estrellas
que con indiferencia hoy me van volver.

Volver,
con la frente marchita,
las nieves del tiempo
platearon mi sien.
Sentir,
que es un soplo la vida.
que veinte años no es nada,
que febril la mirada
errante en las sombras
te busca y te nombra.
Vivir,
con el alma aferrada
a un dulce recuerdo,
que lloro otra vez.

Tengo miedo del encuentro
con el pasado que vuelve
a enfrentarse con mi vida.
Tengo miedo de las noches
que, pobladas de recuerdos,
encadenan mi soñar.

Pero el viajero que huye
tarde or temprano detiene su andar.
Y aunque el olvido,
que todo destruye,
haya matado mi vieja ilusion,
guardo escondida un esperanza humilde,
que es toda la fortuna de mi corazon.

Carlos Gardel y Alfredo Le Pera

quarta-feira, março 23, 2005

 
Acaba sempre por chegar um dia em que nos apetece ouvir isto.
Tenham um resto de bom dia.

I see trees of green, red roses too
I see them bloom for me and you
And I think to myself, what a wonderful world

I see skies of blue and clouds of white
The bright blessed day, the dark sacred night
And I think to myself, what a wonderful world

The colours of the rainbow, so pretty in the sky
Are also on the faces of people going by
I see friends shakin' hands, sayin' "How do you do?"
They're really saying "I love you"

I hear babies cryin', I watch them grow
They'll learn much more than I'll ever know
And I think to myself, what a wonderful world
Yes, I think to myself, what a wonderful world

Oh yeah

 

Humor madeirense

Aqui. Não tem grande piada mas percebe-se a mensagem. E não, não é sobre o Alberto João.

 

Intendência

Ao fim de mais de um ano, Raposo Antunes vai cessar temporariamente a colaboração com este blogue, devido à sua novas funções profissionais. Para o Raposo, que se encontra em Londres (e que a esta hora deve estar a preparar-se para almoçar com o José Mourinho...) um abraço. E um até já. Para o seu lugar entra Nuno Amaral, um criativo de luxo que promete labor diário. Bem-vindo, Nuno. E agora vamos a isto.

 

Bom dia!

Quem não se lembra destes e de outros anúncios.
Como evoluiu o "mundo" publicitário!
Como aumentou a diversidadede de produtos alimentares e outros.
Como houve alterações na forma de mostrar, de dizer,
de promover, de embalar, de induzir a compra.
Mas há anúncios, embalagens que ficam, para sempre, associados à nossa infância, adolescência, etc. E, por vezes,fixamos slogans que nos assaltam automáticamente, às vezes a propósito de coisa nenhuma!
Fica o desafio: quem se lembra de slogans e de produtos que desapareceram ou se renovaram?

 

Bom dia!  Posted by Hello

terça-feira, março 22, 2005

 

O "BUSCAVIDAS" está quase a chegar

Está quase a chegar pela mão da ASA Editores!
O autor? Alberto Breccia. Para mim, outra referência incontornável do fabuloso mundo BD.
BUSCAVIDAS é um álbum onde podemos deambular com um homem sempre pronto para ouvir uma história, uma confidência, um segredo. Depois, guarda-o no seu arquivo.
Mais do que um curioso, é um coleccionador de vidas.
A vida de uma neta de uma santa milagreira, um cómico caído em desgraça, uma família mafiosa, uma vedeta de telenovelas, um parente afastado, um assaltante de meia-tigela, aspirante a cantor de boleros ou, ainda, a vida de um ditador afastado do poder.
Enquanto este prometedor àlbum não chega, podem espreitar em www.asa.pt, uma editora que está a "dar cartas" na banda desenhada e tem muitos, muitos heróis para miúdos e graúdos.
Cá por mim, podem crer, vou esperar ansiosa pelo BUSCAVIDAS, de Breccia, com argumento de Carlos Trillo. Sei que vou gostar desta história!

 

"A pior banda do mundo" é a minha banda de eleição

Eu gosto imenso de banda desenhada! E dos autores portugueses, o meu preferido é o José Carlos Fernandes. As histórias?
A pior banda do mundo. Um mundo absolutamente fantástico, que recomendo vivamente.
«A pior banda do mundo, uma inepta e desastrada banda, de intenções vagamente jazzísticas e resultados puramente caóticos, ensaia regularmente na cave de uma alfaiataria encerrada desde 1958. Os seus membros são Sebastian Zorn (saxofone tenor), Idálio Alzheimer (piano), Ignacio Kagel (contrabaixo) e Anatole Kopek (bateria). Embora ensaiem há três décadas nunca se conseguiram apresentar ao vivo. As desventuras destes músicos sem qualquer talento são apenas um pretexto para entrar num mundo com centenas de personagens, a maioria entregando-se a ocupações improváveis e preocupações inverosímeis».
Para saberem mais podem dirigir-se a http://www.devir.pt/ e procurar a entrada banda desenhada portuguesa. Está lá tudo. Mesmo.

 

"A pior banda do mundo". Um mundo absolutamente fantástico, que recomendo vivamente.
 Posted by Hello

 

Discretos adeptos angolanos do SLB festejam o desfecho do jogo de ontem à noite em Alvalade. Posted by Hello

 

Djavan...

... ontem à noite, no Coliseu do Porto. Os que preferiram ficar em casa a ver o futebol não sabem o que perderam.


Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia,
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você.
E tudo nascerá mais belo,
O verde faz do azul com amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris

 

Pérolas aos poucos

Eu jogo pérolas aos poucos ao mar
eu quero ver as ondas se quebrar
eu jogo pérolas pro céu
pra quem pra você pra ninguém
que vão cair na lama de onde vêm
eu jogo ao fogo todo o meu sonhar
e o cego amor entrego ao deus dará
solto nas notas da canção
aberta a qualquer coração
eu jogo pérolas ao céu e ao chão
grão de areia
o sol se desfaz na concha escura
lua cheia
o tempo se apura
maré cheia
a doença traz a dor e a cura
e semeia
grãos de resplendor
na loucura

[eu jogo ao fogo todo o meu sonhar
eu quero ver o fogo se queimar
e até no breu reconhecer
a flor que o acaso nos dá
eu jogo pérolas ao deus dará]
Zé Miguel Wisnik

 

Discretamente...

...sem dar muito nas vistas, um membro não identificado deste blogue celebra com uma amiguinha o desfecho do jogo de ontem em Alvalade.

 

Poesia

No dia mundial da poesia permaneci calado. Podia dizer que o silêncio é uma forma de poesia, mas a verdade é que tive muito, muito trabalho.

segunda-feira, março 21, 2005

 

Juro que não acampei; menos férias judiciais

Eu juro que ainda não fui acampar, mas tive o Dia do Pai e me perdi...
Mas tenho de acampar antes que o Sócrates me tire um dos dois meses de férias judiciais que tinha!

 

Onde andam, meus amigos, onde?

A poesia é a vida? pois claro!
Conforme a vida que se tem o verso vem
- e se a vida é vidinha, já não há poesia
que resista. O mais é literatura,
libertinura, pegas no paleio;
o mais é isto: o tolo de um poeta
a beber, dia a dia, a bica preta,
convencido de si, do seu recheio...
A poesia é a vida? Pois claro!
Embora custe caro, muito caro,
e a morte se meta de permeio.

 

Vem aí um poema dele... Posted by Hello

 

Enquanto eles não chegam...

(...) Há poesia em tudo - na terra e no mar - , nos lagos e margens dos rios. Também a há na cidade - não o neguem - é evidente para mim aqui onde me sento: há poesia nesta mesa, neste papel, neste tinteiro; há poesia na trepidação dos carros nas ruas, em cada movimento ínfimo, trivial, ridículo de um operário que, do outro lado da rua, pinta a tabuleta de um talho.
O meu sentido interno predomina de tal modo sobre os meus cinco sentidos que vejo as coisas desta vida - estou convencido disso - de modo diferente dos outros homens. Existe - existia - para mim um significado riquíssimo em algo tão ridículo como a chave de uma porta, um prego na parede, os bigodes de um gato.
Há, para mim, toda uma plenitude de sugestão espiritual numa galinha com os seus pintos a atravessarem a estrada com ar pimpão. Há para mim um significado mais profundo do que os medos humanos no aroma do sãndalo, nas latas velhas deitadas num monturo, numa caixa de fósforos caída na valeta, em dois papéis sujos que,num dia ventoso, rodopiam e se perseguem pela rua abaixo.
Pois a poesia é assombro, admiração, como de um ser caído dos céus que toma plena consciência da sua queda, espantado com o que vê. Como alguém que conhecesse a alma das coisas e se esforçasse por recordar esse conhecimento, lembrando-se que não era assim que as conhecia, não com estas formas e nestas condições, mas não se lembrando de mais nada.

Fernando Pessoa in Escritos autobiográficos, automáticos e de reflexão pessoal, Assírio & Alvim

 

Para celebrar a chuva... faz-nos falta!

Chovem protestos palavras
dramaturgos e proferas
a chuva dos manifestos
fecunda a horta das letras.
Chovem bátegas de sílabas
Chovem doutrinas e tretas
chovem ismos algarismos
que numeram os poetas.

Chovem ciências ocultas
Chovem ciências concretas
e nascem alfaces cultas
para poemas-dietas.
Chovem tiros de espingarda
chovem pragas e lamentos
e cresce a couve lombarda
nos quintais do sentimento
(...)

Para o poeta que chova
por dentro, em razão inversa,
forçoso é ter guarda-chuva
contra a palavra perversa
que foi um chão que deu uva
e hoje só dá conversa.

José Carlos Ary dos Santos

 

Pergunta

Mas onde anda o blogger-mor e todos os outros bloggers deste blog?
Rui, Wal, Hélder C., P.Vilarinho...
Não é possível que tenham ido todos acampar...
Sinto-me desamparada, pois claro que sinto!

 

A primavera & a poesia: hoje

Saudámos hoje
um dia de primavera
e cantámos
a simples glória
de estarmos vivos (...)

Cristina Nobre, in Dia após dia


(...)

Inquietação: não tocar senão
com as pálpebras
os seus lábios maduros.

Relembro as paixões mais antigas e versos
perdidos no rio: não uma a uma
com as horas, as folhas do limoeiro.
Apenas o que da sua fome ficou por habitar

ou dizer. (...)


Francisco José Viegas in Metade da Vida


Quem me leva a voz
para debaixo das ramadas
esperando que achuva passe?

Aprecio vê-la escorrer
sobre os amantes.
Quem anda à chuva
não lhe pesa o coração.

(...)

Vasco Ferreira Campos in A Voz à Chuva


São horas de voltar. Tu já não vens, e a espera
gastou a luz de mais um dia. Agora, quem passar
trará um corpo incerto dentro do nevoeiro,
mas terá outro nome e outro perfume. Eu volto

à casa onde contigo se demorou o verão e arrumo
os livros, escondo as cartas, viro os retratos
para a mesa. Sei que o tempo se magoou de nós,
sei que não voltas e ouço dizer que as aves
partem sempre assim, subitamente. Outras virão

em março, apago as luzes do quarto, nunca as mesmas.

Maria do Rosário Pedreira in A Casa e o Cheiro dos Livros

sábado, março 19, 2005

 

Um brinde...

...para os leitores habituais do Amor e Ócio. The Blower's Daughter, a canção de Damian Rice para o filme Closer. A música e o videoclip. Aqui. Para ouvir uma e outra vez.



The Blower's Daughter

And so it is
Just like you said it would be
Life goes easy on me
Most of the time
And so it is
The shorter story
No love, no glory
No hero in her sky

I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes...

And so it is
Just like you said it should be
We'll both forget the breeze
Most of the time
And so it is
The colder water
The blower's daughter
The pupil in denial

I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes...

Did I say that I loathe you?
Did I say that I want to
Leave it all behind?

I can't take my mind off of you
I can't take my mind off you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off you
I can't take my mind off you
I can't take my mind...
My mind...my mind...
'Til I find somebody new

 

Tenham um bom Dia do Pai

A música não tem muito a ver com o dia, mas apeteceu-me ouvi-la. E agora vou passear com as minhas filhas. O blogue fica à mercê da caridade de estranhos...


 

Acampar na Páscoa

Enquanto a Wal acampa, quem sabe se na Amazónia, me deu uma linda sugestão para esta Páscoa: acampar, contacto exclusivo com a Natureza (onde Deus se sente mais...)

sexta-feira, março 18, 2005

 

For Him Magazine e outras questões

Chama-se FHM , iniciais de For Him Magazine. Chegou ontem às bancas portuguesas e é destinada aos homens. Marca internacional, nascida em Inglaterra há mais ou menos uma década, chega, agora, a um país onde as revistas masculinas tiveram já o boom.
«Men's Health», «Ego», «GQ» e «Maxman» são outros títulos dirigidos a este target.
O que as distingue? Que homens as compram?
Dizer que são os “sapiens, sapiens” não é objectivo!
Nesta “categoria” estamos todos e, apesar das especializações, homens lêem a «Máxima», a «Activa», a «Elle», revistas destinadas a mulheres e mulheres lêem, também, as publicações dedicadas aos homens.
Mas tem de haver diferenças, motivações distintas.
Se afinal há mercado para todas e …venha mais uma!?
E, no caso, esta mais uma, segundo li, é a genuína, a original revista lifestyle masculina. Parece que, por toda a Europa este mercado está no puro dinamismo e a FHM, chegou a Portugal, 28º país a recebê-la, para destronar a actual líder deste mercado – a Maxmen.
Da FHM diz-se que é sexy, útil, divertida, relevante.
O seu conteúdo é feito de jornalismo, moda, beleza, entrevistas, máquinas, carros, gadgets, curiosidades, humor, artigos de comportamento, fotografias e modelos femininos.
E quem serão este leitores da FHM?
De acordo com o que li são homens «entre os 20 e os 40 anos, bem lançados na carreira e a viverem os seus golden years. Provavelmente ainda não se casaram e vão com os amigos à neve, ao futebol, ao ginásio. Têm rendimentos para comprar telemveis, computadores e roupa e começam a preocupar-se mais com a aparência».

Como é que os outros títulos vão fidelizar os seus leitores. Qualidade dos conteúdos, lay outs mais apelativos? A análise terá de ser mais profunda e extrapola matérias e design. Apela a análises multidisciplinares e abrangentes sobre o mesmo objecto de estudo: o género masculino. Qualquer director de marketing, por exemplo, que queira incluir no seu plano de meios estas revistas especializadas, pede a óbvia tabela de preços da publicidade e o estudo sobre cada uma, para saber qual o posicionamento de cada revista no mercado. E define se investe ou não. Se dirige bem o seu produto, se o promove no meio certo.
Mas quem são esses homens, afinal? Do que é que gostam? O que é que consomem?
De quando em vez surgem nichos bastante específicos. Recentemente surgiu o metrossexual. Quem é este homem, “descoberto” pelo jornalista inglês, Mark Simpson? Este homem vivo e emergente. Não se trata de nenhuma descoberta da antropologia física ou da arqueologia.
Nenhuma ossada para analisar, portanto!
Pelo que sei, o conceito designa o homem metropolitano, heterossexual, empreendedor, entre os 25 e os 45 anos, vive em grandes cidades, é um excelente consumidor e não dispensa o espelho. Mima o corpo e a alma. É macho. Gosta de mulheres, pode querer ser pai.
O “rótulo” pode, pelos vistos, aplicar-se a todos os homens que vivem em grandes centros urbanos e que não se importam de exibir, por que o assumem, o seu lado mais feminino.
Li, ainda, que o ícone dos metrossexuais é o jogador inglês David Beckham.
Este “novo” homem emergente gosta de jóias, produtos de beleza, roupas caras e diferentes, carros desportivos, ganha e gasta muito dinheiro e anonimato não é com ele. Faz manicura, pinta o cabelo, faz limpezas faciais, massagens e spa`s, cuida dos lábios e das mãos. Recorre à cirurgia plástica gosta e sabe cozinhar tem “instinto” paternal e lida com biberões e fraldas com prazer e know-how, não se aborrece com idas ao shopping.
E como se classificam todos os outros homens que não "cabem" nesta definição?
Por exemplo, os que gostam de viver no campo, tem pavor a grandes cidades, são fiéis ao Old Spice, não têm preocupações estéticas, o único corte que usam é “máquina zero”, só vão a um barbeiro, só usam o relógio que herdaram do pai ou do avô, para que vistam uma camisola ou camisa diferente, alguém tem de as fazer rodar no gavetão ou no guarda-roupa, não sabem nem querem cozinhar, não usam caqui, porque não aprenderam essa cor na escola primária, não comem fruta para não terem de a descascar, não vão ao cinema porque estacionar o carro é uma chatice, não usam roupa que exiba a marca de forma ostensiva, não usam cor-de-rosa porque é uma cor feminina…e por aí fora. Serão raros? Justificariam uma publicação só para eles e para todos os outros que também não se "inserem" aqui? Ou eles também compram as FHM`s?
Seria uma longa conversa, creio.

 

QUANDO FORES VELHA

Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas;

Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;

Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.

William Butler Yeats

 

A quem interessar...

Férias.

Vou acampar...Não sintam saudades. Volto logo.


 

Grande animal!

Aqui está a notícia mais "disgusting" do dia, da semana, do mês, do ano, provavelmente do século, que ainda agora começou. Isto só na Bélgica.

 

Falta de paciência

O Blogger está a dar-nos cabo da paciência. O Blogger e a ADSL da Sapo. O primeiro está lentooooooooooooo, o que dificulta muito a colocação de posts e sua posterior edição. É simplesmente desesperante: há posts que demoram horas a aparecer na página, outros que desaparecem e outros ainda que surgem repetidos duas e três vezes. Uma chatice. Para tornar tudo mais complicado, a Sapo anda a asnear. Nos últimos dias, de meia em meia hora vai-se abaixo. Não há pachorra.
Para já, vamos esperar para ver. Mas admito que o blogue possa migrar em breve para outras paragens, se os problemas continuarem. A ver vamos.

Para canção do dia escolhi Media Vuelta, numa versão de Luis Miguel. O mexicano nunca foi um dos meus cantores favoritos, embora louve o trabalho que ele tem feito para recuperar alguns boleros e tangos que corriam o risco de cair no esquecimento. Mas sempre gostei deste Media Vuelta, em parte pela letra, em parte pelo arranque com os "mariachis". Além disso, o videoclip desta canção, filmado a preto e branco numa velha cantina mexicana, é simplesmente soberbo. E julgo ainda que, tendo em conta o tempo primaveril que atravessamos, não fica nada mal começar o dia com uma cançãozinha que convida à languidez. Sou um sibarita, essa é que é essa. Por outro lado, esta história de escolher uma canção mexicana é um excelente pretexto para colocar no ar uma fotografia da divina Salma Hayek. É só vantagens, meus amigos (e amigas, pois claro).


La media vuelta
Te vas porque yo quiero que te vayas
A la hora que yo quiera te detengo,
Yo sé que mi cariño te hace falta
Porque quieras o no
Yo soy tu dueño

Yo quiero que te vayas por el mundo
Y quiero que conozcas mucha gente
Yo quiero que te besen otros labios
Para que me compares
Hoy, como siempre

Si encuentras un amor que te comprenda
Y sientas que te quiera más que nadie
Entonces yo daré la media vuelta
Y me iré con el sol
Cuando muera la tarde

Te vas porque yo quiero que te vayas...

quinta-feira, março 17, 2005

 

Impressionante!

Um anúncio impressionante sobre violência contra as mulheres. Aqui.

 

E por falar em paciência...

Paciência é o que o brasileiro tem que ter e de sobra, pra aturar as trapalhadas políticas do governo atual. A câmara de deputados parece cenário de uma peça “pastelão” onde o trágico e o cômico se encontram.
A eleição para a presidência da câmara, disputadíssima, aconteceu a menos de um mês. O PT, partido do meu querido presidente, disputou até com ele mesmo. E entre candidatos homéricos, vence um deputado de um partido quase nulo. Se fosse futebol, seria uma zebra daquelas!Nem situação, nem oposição. Um partido que tenta agradar a gregos e a troianos, dentro da câmara, claro. E vem conseguindo.
Severino Cavalcante venceu com sobra de votos. Um espanto. Severino, nome de nordestino sofrido. Cara de nordestino bem do nordeste mesmo. Severino faminto que venceu, acreditem, prometendo dobrar o salário dos parlamentares. Não conseguiu. Seria um escândalo na câmara depois de toda a novela que se seguiu para aumentar o salário mínimo. O salário do povo. Daria muito nas vistas. Mas Severino não desistiu e todos os dias surge com novas propostas e disparates. Parece uma criança solta numa loja de doces. Quer encher os bolsos e não disfarça.
Ontem, Severino teve uma vitória. Conseguiu aumentar as taxas a serem gastas com as assessorias, que são os locais onde os políticos costumam empregar seus familiares por aqui. Isso, Severino, você conseguiu aumentar a renda familiar dos parlamentares! Severino hoje me aparece na tv dizendo que os deputados que não concordam com a proposta não devem receber. Concordo. Seria um exemplo e tanto de dignidade que julgo inexistente. Advinhem quantos vão fazer isso. Se alguém fizer, eu prometo que escrevo uma ode em sua homenagem e mordo a língua. Porque não concordar é uma coisa, mas entre o discurso e a realidade vai lá uma grande diferença, ainda mais neste terreno arenoso da política. O que mais me espanta e até me deixa encantada é a autenticidade de Severino em não esconder o que é. Cínico de menos? A política brasileira é que é cínica demais. Puro cinismo camuflado em bandeiras de “para o povo e pelo povo”.

 

Fim de tarde

Neste final de tarde, convidativo para um reconfortante por-do-sol na Costa Nova, um fantástico som de Vinicius e Toquinho, para ouvir devagar, devarinho...

AQUARELA

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cair num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu.
Vai voando, contornando a imensa curva norte e sul
vou com ela viajando o Havaí, Pequim ou Stambul.
Pinto um barco à vela branco navegando
é tanto céu e mar num beijo azul.
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
E se a gente quiser....... Ele vai pousar.

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América a outra eu consigo passar num segundo
giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega no muro
e ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está.
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vidae depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
de uma aquarela que um dia em fim
Colorirá....

 

Atrasada

Quem ri por último, ri atrasado, mas não deixa de aproveitar um momento. E eu sou assim mesmo, leeennnnta! Estava aqui me divertindo a valer relendo o texto da Maria Heli sobre o código das estradas. Brilhante! Lembrei de uma amiga que teve que passar 11 vezes pelo exame pra tirar a carteira. Acabou ficando tão conhecida na escola que foi contratada como instrutora de novatos, uma das mais pacientes que conheço. Um outro amigo machista costuma me dizer que a culpa do trânsito ruim no Brasil é totalmente dos homens, que dão o carro para as mulheres dirigirem. Eu, claro, não partilho desta idéia, mas ainda não arrumei paciência e motivos plausíveis pra tirar a carteira. Até porque sou nova, quase um feto, e estou sempre a deixar testes de paciência e de nervos pra depois.

 

Filminho

Há cervejas e cervejas.

 

O Irão...

...como nunca o viram. Aqui.

 

O Comboio em Portugal

A fotografia publicada com o poema foi retirada do site www.ocomboio.net, ao qual recomendo uma viagem!
No entanto, aquando da edição do post, algo correu menos bem e não surgiu nem o site nem o nome do autor do texto: Guerra Junqueiro. Está rectificado.

 

We found it!

O primeiro filme pornográfico da história. Jurannessic. Aqui. Demora um bocadinho a carregar mas vale a pena.

 

Blogger sucks!

Acho que já deu para perceber que a lentidão enervante do blogger está a travar o passo deste blogue. Ou não? Blogger sucks!

 

Língua de fora

Fui a um osteopata. Um senhor parecido com o João de Deus Pinheiro, mas com menos fixador no cabelo. Pendurou-me numa máquina de cabeça para baixo. Mandou-me pôr a língua de fora. Disse que eu tenho um excesso de "yang". Cobrou-me 40 euros. Sinto-me um otário. Mas um otário com pinta. Com "yang".

 

A bênção da locomotiva

A obra está completa. A máquina flameja,
Desenrolando o fumo em ondas pelo ar.
Mas, antes de partir mandem chamar a Igreja,
Que é preciso que um bispo a venha baptizar.

Como ela é concerteza o fruto de Caím,
A filha da razão, da independência humana,
Botem-lhe na fornalha uns trechos em latim,
E convertam-na à fé Católica Romana.

Devem nela existir diabólicos pecados,
Porque é feita de cobre e ferro; e estes metais
Saem da natureza, ímpios, excomungados,
Como saímos nós dos ventres maternais!

Vamos, esconjurai-lhes o demo que ela encerra,
Extraí a heresia ao aço lampejante!
Ela acaba de vir das forjas d'Inglaterra,
E há-de ser com certeza um pouco protestante.

Para que o monstro corra em férvido galope,
Como um sonho febril, num doido turbilhão,
Além do maquinista é necessário o hissope,
E muita teologia... além de algum carvão.

Atirem-lhe uma hóstia à boca fumarenta,
Preguem-lhe alguns sermões, ensinem-lhe a rezar,
E lancem na caldeira um jorro d'água benta,
Que com água do céu talvez não possa andar.

Guerra Junqueiro


Ps. dedicado à Pitonisia, pela dica do site e pelo seu humor inteligente!

 

A bênção da locomotiva

A obra está completa. A máquina flameja,
Desenrolando o fumo em ondas pelo ar.
Mas, antes de partir mandem chamar a Igreja,
Que é preciso que um bispo a venha baptizar.
Como ela é concerteza o fruto de Caím,
A filha da razão, da independência humana,
Botem-lhe na fornalha uns trechos em latim,
E convertam-na à fé Católica Romana.
Devem nela existir diabólicos pecados,
Porque é feita de cobre e ferro; e estes metais
Saem da natureza, ímpios, excomungados,
Como saímos nós dos ventres maternais!
Vamos, esconjurai-lhes o demo que ela encerra,
Extraí a heresia ao aço lampejante!
Ela acaba de vir das forjas d'Inglaterra,
E há-de ser com certeza um pouco protestante.
Para que o monstro corra em férvido galope,
Como um sonho febril, num doido turbilhão,
Além do maquinista é necessário o hissope,
E muita teologia... além de algum carvão.
Atirem-lhe uma hóstia à boca fumarenta,
Preguem-lhe alguns sermões, ensinem-lhe a rezar,
E lancem na caldeira um jorro d'água benta,
Que com água do céu talvez não possa andar.


 Posted by Hello

 

Squooosh!

Esta noite peguei num chinelo e esborrachei uma mosca contra a parede branca. Não me importa o que diz o calendário. Para mim, a Primavera já começou.

 

Somewhere Only We Know

Keane. Bom dia.



I walked across an empty land
I knew the pathway like the back of my hand
I felt the earth beneath my feet
Sat by the river and it made me complete

Oh simple thing where have you gone
I'm getting old and I need something to rely on
So tell me when you're gonna let me in
I'm getting tired and I need somewhere to begin

 

Espanha e Portugal: violência doméstica?

É ler aqui o que nuestros hermanos pensam sobre a rivalidade entre os dois países ibérico. Ora reparem neste bocadinho:
En nuestros días la «invasión» ya no toma cariz militar sino económico y los portugueses braman contra la penetración, particularmente en el sector financiero, pero también en otros de menor calibre como el de las telecomunicaciones, el de las grandes superficies o el textil. Braman, también, contra el alto número de profesionales de la sanidad que han ido a Portugal a trabajar o la penetración de ciertas costumbres españolas, como las culinarias, en el país luso. Somos percibidos como «autosuficientes», «arrogantes», «arrojados» y, también y sobre todo, como invasores.
Pois.
(O assunto deste post foi sugerido pelo A. Cravo-Roxo)

quarta-feira, março 16, 2005

 

Desafio do dia


Alguém é capaz de arranjar uma legenda de bom gosto para esta fotografia? Posted by Hello

 

"Che" Mourinho

Eu quero uma destas. (Sugestão do Luís).

 

Diagnóstico

O FC Porto dá-se mal com os hidratos de carbono. Primeiro foram as bolachas da Nacional e depois as massas italianas. Que barrigada.

 

Instantâneo do dia


Sharon Stone, em Bora Bora. Sexy e com muuuuiiiito calor. Aos 47 anos. Posted by Hello

 

Leve, leve

Olá! Hoje apeteceu-me começar o dia de maneira ligeirinha. "Leve, leve", como diz a malta de São Tomé.This Love, pelos Maroon 5, uma das bandas preferidas das minhas filhas. Have a nice day.


I was so high I did not recognize
The fire burning in her eyes
The chaos that controlled my mind
Whispered goodbye as she got on a plane
Never to return again
But always in my heart

This love has taken its toll on me
She said goodbye too many times before
And her heart is breaking in front of me
I have no choice, cause I won't say goodbye anymore

 

CANTOS DO MEU PAÍS



Bijagós, Guiné, Março de 2004.

Canto as mãos que foram escravas
nas galés
corpos acorrentados a chicote
nas américas

Canto cantos tristes
do meu País
cansado de esperar
a chuva que tarde a chegar

Canto a Pátria moribunda
que abandonou a luta
calou seus gritos
mas não domou suas esperanças

Canto as horas amargas
de silêncio profundo
cantos que vêm da raiz
de outro mundo
estes grilhões que ainda detêm
a marcha do meu País
JULIÃO SOARES SOUSA, poeta guineense.

(Um novo amanhecer, 1996)


 Posted by Hello
Faz hoje um ano que regressei de uma viagem à Guiné e às ilhas Bijagós, reserva mundial da biosfera. Os posts feitos na altura estão arquivados e podem ser consultados. Passado um ano, é tempo de começar a preparar o regresso.

terça-feira, março 15, 2005

 

Declaração de Amizade

Como é surpreendente o crepúsculo. Tanto nos eleva à sabedoria milenar de um sol que se vai, mas que volta, como nos remete implacável para o escolho da vulgaridade que desafronta, mas permanece. Acredito ainda que é deste gonismo e antagonismo que surge a luz, no seu esplendor de lucidez e caminho. Aliás, sempre acreditei nisso: «Nunca me esqueço do que sinto». São essas as minhas convicções antigas, genuínas, ancestrais. Foram inscritas no ADN da minha existência e lá permanecerão invioláveis até à contagem do tempo. Só uma grande intuição pode ser bússola nos descampados da alma.É aí que procuro e encontro amigos como o Rui.
Aproveito para fumar. Com um charuto caro e os olhos fechados, sou rico. Mas um simples bombom de chocolate escangalha-me os nervos com o excesso de recordações que os estremece. A infância. E entre os meus dentes que se cravam na massa escura e macia, trinco e gosto as minhas humildes felicidades de companheiro alegre do soldado de chumbo e do cavalo de pau. Sobem-me as lágrimas aos olhos e junto com o sabor do chocolate mistura-se ao meu sabor a minha infância ida e pertenço voluptuosamente à suavidade dos dias. Nem por simples é menos solene este meu ritual no paladar. Mas é o fumo do charuto o que mais espiritualmente me reconstroí. Por isso me evoca as horas que morri, mais longínquas as faz presentes, mais nevoentas quando me envolvem, mais etéreas quando as corporizo. Com uma subtil plausibilidade de sabor-aroma empresto outra vez as cores à vida, tão diagonal à certeza rectângula das coisas. Sentemo-nos aqui, Rui. Daqui vê-se mais céu. É consoladora a expansão enorme desta altura estrelada. Dói a vida menos ao vê-la. Não sei de prazer maior em toda a minha vida do que fazer amigos.

 

It's in your eyes

It's in your eyes
I can see the love
You try to hide
It's in your eyes
I can feel the hurt
So deep inside

When I look at you
I know your love for me is so true
We can build anything
No matter we wanna do
Let's build oh, this love
Foundation is strong
So open up your heart
And let your feeling fly away

It's in your eyes
Don't hide
What's in your eyes

When I hold you close
I know you're the one for me
You are all I need
To make my dreams come true
I see you comin' every night and every day
When I see you go away
Don't be afraid
Just keep holding on

It's in your eyes
(...)

Hold me
And never let me go
Feel Me
I Love you, yes I do
Take my hand
As long as we're together
I know our love is here to stay

Just open up your heart
And let your feeling fly away

It's in your eyes
I can see the love
You try to hide
It's in your eyes
I can feel the hurt
So deep inside
It's in your eyes
I can see the love
You try to hide

Pauletta Washington

 

A propósito do novo código da estrada - parte II

É segredo?

Faltavam dez dias para o meu exame de condução. O meu primeiro instrutor – Senhor Silva - era uma homem baixinho, miudinho, de bigodinho, a contar os dias para chegar à reforma. Estava quase.
Usava sapatos Ecco, algumas vezes utilizados para travar os meus ímpetos rodoviários. Na nossa primeira aula fez questão de me explicar teórica e minuciosamente como funcionavam as mudanças e o motor do carro. Depois as aulas foram iguais. Mais rua, menos rua, bem nos arrabaldes da cidade, longe da confusão. Depois, ao fim-de-semana, auto-estrada, via de cintura interna, marginal da Foz do Douro.
Um dia comentei: o meu instrutor, ao sábado, faz-me conduzir até à Foz, manda-me parar o carro e sai. Regressa vinte minutos depois e a aula está no fim. Deve andar indisposto, com algum problema, pensei. Eu enfiada no carro. Ele a caminhar, lentamente, mãos atrás das costas. Entrava, cabisbaixo e dizia: siga.
- Ou conduz muito mal e o instrutor enjoa e tem de ir apanhar ar ou algo está errado nessas paragens na Foz, disseram-me, os funcionários, entre-olhando-se. Parecia um episódio familiar na secretaria da Escola de Condução.
Obviamente que acreditei, piamente, na primeira hipótese. Desanimei.
- Vamos trocar de instrutor. Peça isso, por escrito, que é melhor. Como se fosse iniciativa sua. Está a compreender? Vá por mim. É melhor, dizia-me a Senhora Dona Odete, levantando as sobrancelhas, acima do aro dos óculos.
Acatei o conselho e, na aula seguinte, aparece-me um Senhor Fernando, alto, moreno, todo perfumado. Vivaço nas palavras e nos gestos. Por momentos, achei que íamos entrar numa corrida de automóveis, dada a sua determinação e genica.
-Ora vamos lá. A ver o que vale. Cinto. À direita.
As indicações telegráficas continuaram. Até ao momento de estacionar, numa descida, entre dois carros. Transpirei por tudo que era poro. Não imaginava como fazer aquilo. O carro iria para todo o lado, menos para trás. Menos para aquele lugar balizado por dois automóveis.
- Então! Vamos lá. Quando é o exame?
- Daqui a dez dias, respondi, voz sumida, nervosa.
- Nem daqui a dez semanas! Então não consegue estacionar o carro?
No fim da aula, o Senhor Fernando fez o diagnóstico: eu só sabia andar para a frente. Logo, ou eu estava disposta a um esforço suplementar ou era melhor desistir do exame. Nos dias seguintes fiz a recruta rodoviária.
Aulas extra. Sobe, desce, estaciona. Estaciona, sobe, desce. Trava, arranca. Arranca. Trava. Subidas, descidas, rotundas, cruzamentos, pleno engarrafamento. Realmente, eu tinha andado afastada do trânsito. Preparavam-me, talvez, para conduzir no deserto.
Um dia, foi a vez dos seus sapatos clássicos, gastos mas reluzentes, nos travarem o arranque no sinal vermelho.
- Então, onde está com a cabeça?! A seguir, vire à esquerda.
Virei. E o Senhor Fernando, inclinou a cabeça na direcção do meu ombro, baixou a voz e perguntou, quase sussurando: é segredo?
- Como? Perguntei sem tirar os olhos da estrada.
- É segredo, perguntou, agora, em tom normal.
- É segredo o quê, Senhor Fernando?!
- Que viramos à esquerda.
- Não.
- Então porque não fez pisca?
E sempre que eu me esquecia de dar o sinal indicador de mudança de direcção, o Senhor Fernando perguntava: é segredo? E quando ele não perguntava e eu me esquecia, afirmava: não, não é segredo, Senhor Fernando.
E sorríamos cúmplices, ao ritmo intensivo de um treino exigente. Já nos últimos dias, o Senhor Fernando começou a falar da sua Laurinda, com ternura. E ao sábado de manhã, deixei de ir para a Foz para ir até ao bairro, onde ele morava e ele, da janela do carro, acenava-lhe e dizia-me: é a minha Laurinda.
No dia anterior ao exame, berrou comigo como nunca. E eu, como nunca, nem conseguia por o carro a trabalhar! Na manhã do exame, disse-me: vá lá a fazer isto, caramba! Não esqueça: aqui não há segredos. E não houve.
Fiquei tão bem treinada que, ainda hoje, faço pisca para virar, dentro da minha garagem.
Fá-lo-ia no deserto. Creio. Pois, então, se não é segredo!

 

Intimidade

Eu quero estar sempre contigo.
- Você quer ser meu abrigo?
Quero comer no teu prato,
Calçar os meus pés nos teus sapatos...
E arrastar.

Eu quero esperar por você.
Pegar suas camisas e esconder...
Esconder pra você não sair
E estar sempre perto de mim
Pra me abraçar...

Eu quero deitar no teu colo...
- Quer ouvir o que tenho pra contar?
Descansar recostada ao teu ombro,
Ouvir teu coração
E me acalmar.

Quero vestir sua camisa...
Com mangas maiores que meus braços...
Correr pela casa, seguindo teus passos
Me abandonar no teu laço...
E te abraçar.

 

Declaração de amor

Passaram bem mais de 30 anos sobre aquele dia 15 de Março em que a minha mãe ofereceu ao meu pai, pelo seu aniversário, uma camisa que ela própria desenhou, cortou e costurou. Era uma camisa azul-celeste de meia manga, com quadrados grandes, um rebordo de malha no braço e as iniciais do meu pai bordadas no bolso. Ele adorou-a e usou-a anos a fio, até ela se desintegrar, e eu cobicei-a desde o primeiro segundo, ao ponto de a minha mão ter sido obrigada a fazer outra para mim. Tenho mesmo uma fotografia em que apareço ao lado do meu pai no jardim da casa antiga, vestidos com camisas iguais, ele de sorriso aberto e mão pousada no meu ombro,e eu de patins, segurando um taco de hóquei.
Lembrei-me desta história porque preciso de comprar um presente para o meu pai, que hoje celebra mais um aniversário. Eu gostava de lhe dar uma camisa igual, uma camisa que nos devolvesse ao tempo da felicidade em estado puro. Mas isso é impossível. Por isso vou dar-lhe uma coisa qualquer comprada numa loja qualquer, uma coisa que não foi desenhada, cortada e costurada amorosamente pela minha mãe. Uma coisa que eu dificilmente cobiçarei. E para além disso vou dar-lhe o meu amor. E o meu respeito. Reparo agora que esta é, de certeza, a mais difícil declaração de amor que alguma vez fiz. E pública, ainda por cima. Ele vai estranhar. Mas como ele não lê blogues há sempre a possibilidade de não vir a reparar nela.

 

Declaração de amor

Passaram bem mais de 30 anos sobre aquele dia 15 de Março em que a minha mãe ofereceu ao meu pai, pelo seu aniversário, uma camisa que ela própria desenhou, cortou e costurou. Era uma camisa azul-celeste de meia manga, com quadrados grandes, um rebordo de malha no braço e as iniciais do meu pai bordadas no bolso. Ele adorou-a e usou-a anos a fio, até ela se desintegrar, e eu cobicei-a desde o primeiro segundo, ao ponto de a minha mão ter sido obrigada a fazer outra para mim. Tenho mesmo uma fotografia em que apareço ao lado do meu pai no jardim da casa antiga, vestidos com camisas iguais, ele de sorriso aberto e mão pousada no meu ombro,e eu de patins, segurando um taco de hóquei.
Lembrei-me desta história porque preciso de comprar um presente para o meu pai, que hoje celebra mais um aniversário. Eu gostava de lhe dar uma camisa igual, uma camisa que nos devolvesse ao tempo da felicidade em estado puro. Mas isso é impossível. Por isso vou dar-lhe uma coisa qualquer comprada numa loja qualquer, uma coisa que não foi desenhada, cortada e costurada amorosamente pela minha mãe. Uma coisa que eu dificilmente cobiçarei. E para além disso vou dar-lhe o meu amor. E o meu respeito. Reparo agora que esta é, de certeza, a mais difícil declaração de amor que alguma vez fiz. E pública, ainda por cima. Ele vai estranhar. Mas como ele não lê blogues há sempre a possibilidade de não vir a reparar nela.

 

Olhares

Para quem afirmava insistentemente que Sócrates e Santana eram faces da mesma moeda, três semanas após as eleições, os acontecimentos subsequentes marcaram vincada e justamente a diferença.
Sem embargo do tempo se tornar escasso para uma avaliação séria, a verdade é que Portugal inaugurou um novo estilo.
Para já reconhece-se uma afirmação visível de liderança, patente, por exemplo, no processo de constituição do Governo. E não menos inteligente foi a alteração introduzida no figurino da cerimónia posse. Durante os 55 minutos que durou a cerimónia, o País respirou melhor e parecia tranquilo. Quanto ao discurso, parece que Sócrates está a impor o seu estilo e voz de comando. Uma breve análise conteúdo evidencia termos que se repetem: «caminho», «rumo», «para onde ir». Longe de estarmos perante expressões escolhidas ao acaso, como alguém escrevia hoje, revela «um misto de clássico “homem do leme”, com a muito em voga “atitude à José Mourinho”. Resta esperar pelos resultados. Se José Sócrates vingar, espera-o não Stamford Bridge mas mais quatro anos em São Bento. Se falhar, ficará muito provavelmente para a história como um governante teimoso e com mau feitio”.
Até ao momento, o Primeiro Ministro geriu – sem comprometer -, o seu desígnio político. O que, necessariamente, nos tempos que correm, constitui uma revelação impressiva.

 

Iuuupiii!


Hoje está um daqueles dias em que só apetece fazer como o Calvin.

 

Be nice to your computer...

...aqui. Fez-me rir um bocadinho.

 

O homem que semeia o caos

Carmona fica no executivo
Santana Lopes regressa à presidência da câmara

A maneira desastrada como PSL tem gerido a sua carreira política nos últimos tempos merece ser estudada nas escolas de Ciência Política e, provavelmente, de Psiquiatria. De "ungido" a caso clínico em meia dúzia de meses. Mete dó. Como diz a frase da Bíblia, "Quem vive pela espada, morre pela espada" - mas devíamos ser todos poupados a esta agonia em praça pública. Como qualquer pessoa sem rumo, PSL merece pelo menos a nossa compaixão. É horrível dizer isto, eu sei, mas é verdade.

 

Não é um banal esfregão mas sim um livro! Um livro-objecto editado, recentemente, pela PALAVRA! Um presente original, para dispor bem. Pode provocar gargalhadas, sorrisos ou sorrisos amarelos! Posted by Hello

 

BILHETE

Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

.....tem de ser bem devagarinho,
.....amada,

.....que a vida é breve,
.....e o amor
.....mais breve ainda.

Mario Quintana

 

Bom dia



On me dit que nos vies ne valent pas grand-chose,
Qu'elles passent en un instant comme fânent les roses,
On me dit que le temps qui glisse est un salaud,
Et que de nos chagrins il s'en fait des manteaux.

Pourtant quelqu'un m'a dit que tu m'aimais encore
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore,
Serait-ce possible alors ?

 

Vida Académica

O Amor e Ócio concluiu um doutoramento em Filosofia no Instituto D. Juan. E tem o diploma para o comprovar. Forje aqui o seu próprio certificado de habilitações.

 

Links

1. Um puzzle online.
2. Implantes. Arrghh!
3. Webcams em Nova Iorque.
4. Nuvens rudes.

 

Estes tipos das Finanças são uns exagerados...(Foto enviada por Teresa Barreto Xavier) Posted by Hello

segunda-feira, março 14, 2005

 

De regresso?Optimus????

De regresso, até perante o pedido lancinante do Rui Baptista, deixo mais um dos meus queixumes de consumidor.
Numa operadora de telemóveis, por sinal aquela cujo PDG (ou CEO...) - um dos mais ricos do Mundo - se queixa de que há "abuso de posição dominante" no sector, para se proceder ao carregamento do telemóvel no Multibanco, aparece no monitor 10 Euros, quando o mínimo é 7,50E. A culpa vai ser da SIBS...

 

Por que o futebol merece uma festa

No país do futebol, meninos e meninas sonham em ser ídolos. Jogadores reconhecidos nacional e, quem sabe, até internacionalmente. Talento não falta à grande maioria. É nato e quanto mais praticado, mais aperfeiçoado.
A paixão não. É adquirida, altamente pegajosa e, por isso, um mal nacional.
No país do futebol, a bola é musa. É o centro. E já foi considerada uma grande inimiga dos estudos. “Pra quê estudar, mãe?! Eu vou ser jogador de futebol!”, dizia o garoto antes de ganhar a rua e alcançar o campinho improvisado pra jogar uma “pelada”, como dizem por aqui.
Mas este é um conceito que vem mudando em escolas de bairros pobres de minha cidade. Aqui no Brasil, ainda mais na Amazônia, quando se diz “pobre”, se quer dizer miserável. A linha é bem mais abaixo.
Numa dessas escolas que faz da bola uma aliada, o futebol salva e vem ajudando alunos com baixos conceitos a melhorarem as notas em sala de aula.
Todo o trabalho é feito por voluntários. Tem pedreiro que perde uma diária nos sábados pra ajudar a molecada a melhorar a performance em campo. Tem cinegrafista que investe umas horinhas batendo bola com a garotada. Tem professor que faz hora extra sem ganhar um real a mais. Tem até ex-jogador famoso que aparece vez ou outra pra dar uns conselhos. O retorno vem em forma de resultados animadores. João, 13 anos, irmão mais velho de Pedro, era mais um aluno problema. Hoje, Pedro quer ser igual a João. O menino, que já se envolveu com drogas e passou duas vezes pela casa de detenção de menores infratores, é uma das revelações. Deu um salto na produção escolar e, de quebra, dá show de bola. Sonha com o estrelato, mas por enquanto nem pensa em desistir dos estudos. Pergunto se ele tem algum ídolo. Ele responde “meu professor de futebol”.
Os professores são craques de solidariedade que vem driblando a pobreza e as adversidades para construir sonhos. Mesmo sem recursos, marcam gols de placa contra a delinqüência infanto-juvenil, ajudam a melhorar o rendimento escolar e a diminuir o índice de evasão. Mais do que uma fábrica de craques, a escolinha solidária vem se transformando numa fábrica de esperanças pra quem não tinha futuro.

 

Em Roma sê romano. E o herdeiro da coroa britânica lá fez a tradicional saudação da tribo Maori. Não só "esfregou" o nariz dos nativos como o de todos os altos dignatários locais. Na Austrália. Quem me dera ! Posted by Hello

 

Também não é preciso exagerar...

O nosso leitor mais entusiasta. Aqui.

 
- O que queres?
- Quero a paz no mundo.
- Paz no mundo...certo! Mais alguma coisa?
- Quero a vitória do Benfica no campeonato...
- Pedes pouco.
- Pois. Sou pouco ambicioso.

**********

- Posso pedir outra coisa?
- Diz...
- Quero viver um grande amor!
- Pensei que já estavas servido.
- Os grandes amores nunca são de mais!
- Se tu o dizes...

 

A propósito do novo código da estrada - parte I

Tirar a carta de condução foi, sem ironia, das coisas mais difíceis que já fiz na minha vida. Não a tirei aos 18 mas sim muitos, muitos anos depois e em circunstâncias quase secretas que não interessa agora explicar.
Recorrendo à banalidade, a minha vida pode dividir-se num a.c e num d.c – antes da carta e depois da carta.
Antes da carta, por exemplo, fui chamada para um novo emprego a que me tinha candidatado e ao fim de três entrevistas, disseram-me que o lugar era meu.
- Parabéns. Vamos agora acertar o seu vencimento. Contas feitas, não fica a perder, pois, optamos por lhe atribuir uma viatura da empresa, diz-me, caloroso, o director.
Tentei, por diversas vezes interromper, enquanto ele divagava sobre a marca do carro, a rodagem do carro, o motor do carro…
- Desculpe, disse enfim, eu não tenho carta por isso não preciso do carro.
Dez minutos após ter sido demitida fui despedida.
- Inimaginável. Está a brincar comigo! Como é que não tem carta, perguntava o director, braços no ar, colérico. Como é que não tem carta?
Pois em nenhuma linha do meu CV dizia ter carta de condução, expliquei-lhe, advertindo-o para o facto de me estar a gritar. Tinha o direito de se indignar, mas de me gritar, não. Levantei-me para me ir embora.
- Espere aí. Vamos lá negociar isto, novamente. Mas tem de tirar a carta.

Anos, muitos anos mais tarde, após este episódio, em circunstância quase secretas fui tirar a carta. Converteu-se numa questão de honra. E a honra, como sabemos, é uma questão antiga e muito séria na vida das comunidades e das pessoas.

Não foi a condução que me custou. Foi o código. O código da estrada conseguiu deixar a minha auto-estima de rastos. Um dia, no fim da aula, o técnico perguntou: alguém tem dúvidas? Levantei o dedo.
- Porque é que esta cruz, de que nos falou, se chama Cruz de Santo André?
A gargalhada geral, estridente, reduziu-me a alcatrão. Senti-me uma nódoa. Uma nódoa com dúvidas. Mas uma nódoa. Fui aconselhada a não fazer perguntas. Que decorasse. Aquilo era uma questão de decorar. Mais nada.

E, caso não acreditasse em milagres, tinha motivo para me converter.
Lá consegui induzir a cartilha. O vulgar “pisca” é «um sinal indicador de mudança de direcção», o eixo da faixa de rodagem, «é uma linha longitudinal, materializada ou não, que divide uma faixa de rodagem em duas partes, cada uma afecta a um sentido de trânsito», a auto-estrada é «uma via pública destinada a trânsito rápido, com separação física de faixas de rodagem, sem cruzamentos de nível nem acesso a propriedades marginais, com acessos condicionados e sinalizados como tal». E a todas estas definições juntou-se uma panóplia de significados que, naquele período, abalaram a minha vida. Até os meus sonhos. Neles passaram a mover-se automóveis, motociclos, motocultivadores, quadriciclos, ciclomotores, tractores agrícolas, velocípedes, tractocarros e reboques. Até o triciclo da minha infância deixou de ser encantador! A matéria onírica expandira-se. E, literalmente, os meus sonhos eram sinalizados por cruzes de Santo André e afins. Ele era contra-ordenações graves e muito graves. Toda a espécie de coimas e cilindradas superiores e inferiores a 50 cm3! Ele era taras e pesos brutos, pontes, túneis e velocidades. Até ao dia em que me sentei, pela primeira vez, ao volante de um carro – sim, poderia voltar a chamar-lhe simplesmente carro – e, feliz, passei a ponte da Arrábida, comigo ao volante. Quando, a dez dias, do exame de condução descubro que só sabia conduzir… para a frente e mudei de instrutor!


Nota para o Rui Baptista: meu caro blogger-mor claro que não estás sózinho!
Manhã complicada, foi o que foi! Aproveitei hora do almoço para esgalhar este textito! E, a final, quem tem um blog, descobri recentemente, nunca está sózinho! Abraço. Abraços a todos.

 

Recado aos meus colegas de blogue

Então? Foram todos lá para a frente e deixaram-me aqui sozinho? Logo hoje? Fico chateado, com certeza que fico chateado.

 

Atrium

Um ano de Atrium. Parabéns ao Luís.

 

Bom sinal

Edite Estrela criticou a composição do novo Governo, por isso José Sócrates deve estar no caminho certo.

 

Boooceeejoooooooo!


 
Uma canção para incorrigíveis românticos. Al Green, para começar o dia. A letra é tão kitsch que acaba por ter imensa piada. Have a nice day!

If loving you is wrong I don't wanna be right
If being right means being without you
I'd rather live a wrong doing life
Your mama and daddy say it's a shame
It's a downright disgrace
Long as I got you by my side
I don't care what your people say

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