segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Entrevista com Carlos André Montenegro (presidente da Sack's e da Sephora Brasil)

Fundador da Sack’s (http://www.sacks.com.br), loja virtual especializada em perfumes, maquiagens e cosméticos, o carioca Carlos André Montenegro agora responde também pela presidência da Sephora no Brasil. O conglomerado de luxo LVMH, ao qual pertence a gigante francesa de cosméticos, comprou em maio do ano passado 70% da Sack's. O mercado estimou os valores da transação entre R$ 200 milhões e R$ 350 milhões, mas Carlos não comenta as cifras envolvidas.

Com 700 pontos de venda distribuídos por 13 países, a Sephora deve inaugurar a sua operação brasileira entre 16 e 22 meses - mas, para a alegria das consumidoras brasileiras, até a metade deste ano o site da Sack's já estará vendendo produtos da Sephora Collection. A LVMH calcula que haja espaço para ao menos três lojas da marca no Brasil em um primeiro momento, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Já foram iniciadas as conversas com a BR Malls, com o grupo Multiplan (responsável pelo shopping Morumbi) e também com o grupo Iguatemi. O shopping Cidade Jardim está fora dos planos da marca por ter um tráfego de consumidores menor do que o de outros shoppings.

A Sephora precisou contratar funcionárias brasileiras para dar conta da empolgação das compradoras brasileiras que vão às lojas de Paris. "Precisamos tornar o luxo mais acessível. Dá pena ver que os brasileiros viajam para fora e consomem lá porque os preços são muito melhores", diz o empresário.

Estar no comando da operação brasileira da Sephora é um salto e tanto para Carlos André Montenegro. Afinal de contas, a Sack's tem apenas dez anos de existência. O site vende produtos de cerca de 270 marcas e tem uma carteira de cerca de um milhão de clientes. Mais de metade das vendas do site são para consumidoras que vivem fora das grandes capitais e não viajam para o exterior – a empresa tem tirado proveito do crescente vigor da economia no interior do país.

O plano de Carlos André Montenegro é tornar a operação brasileira de comércio eletrônico da Sephora a terceira maior do mundo, atrás apenas dos mercados dos Estados Unidos e da França. A seguir, a entrevista exclusiva com o empresário sobre o e-commerce em geral e o mercado de cosméticos.

Carlos André Montenegro, da Sack's
Em 2000, quando a Sack’s iniciou as suas atividades, havia cerca de 10 milhões de internautas no Brasil. Hoje, dez anos depois, eles são 67 milhões, mas apenas 23 milhões de pessoas fazem compras pela internet. Quais são os principais entraves ao aumento do comércio eletrônico no país?
O entrave é de natureza cultural. É aquela desconfiança, aquele medo que muitas pessoas, especialmente as mais velhas, têm na hora de colocar os dados do cartão de crédito em um site. Mas nós esperamos que o número de pessoas que compram pela rede aumente mais rapidamente a partir de agora. Grandes grupos varejistas que não estavam na internet até pouco tempo atrás agora estão. O Walmart e as Casas Bahia começaram as suas operações de e-commerce no Brasil em 2009, o Grupo Pão de Açúcar no ano passado. Isso é muito bom. O consumidor que já está acostumado com essas empresas e experimenta uma compra pela internet vai ficar muito mais propenso a comprar outros produtos de outros varejistas também pela rede. Contamos também com os jovens que estão crescendo, naturalmente. Eles já nasceram tendo fácil acesso ao computador, têm contas no MSN, em redes sociais, etc. Quando ganharem o seu primeiro cartão de crédito, aos 16 ou 18 anos, vai ser absolutamente natural para eles comprar pela internet.

As perspectivas de crescimento do e-commerce no Brasil são boas, então? Muito. A internet vai sofrer aqui no Brasil uma expansão muito grande, semelhante à que vimos acontecer na telefonia celular. Ninguém mais vai querer ficar de fora.

As mulheres compram mais pela internet do que os homens? Quais são as principais diferenças entre os dois gêneros na hora de comprar cosméticos? Não. O cenário é bastante equilibrado: os homens representam 52% dos consumidores de e-commerce hoje, e as mulheres, 48%. É claro que no site da Sack's, que trabalha com cosméticos, as mulheres são maioria. Mas num site como o das Lojas Americanas, por exemplo, a divisão é meio a meio. Quanto às diferenças nos hábitos de consumo de cosméticos, observamos que os homens geralmente compram perfumes clássicos, e em frascos maiores. Eles fazem a compra e não vão mais pensar em perfume por um bom tempo. Já as mulheres tendem a comprar mais vezes e frascos menores, pois têm uma necessidade muito maior de experimentar os produtos, de variar. A mulher geralmente quer comprar tudo. Como não cabe no bolso, ela opta pelas embalagens menores.

O mercado brasileiro de cosméticos e perfumaria gira R$ 20 bilhões por ano e não pára de crescer. Este movimento ocorre em todas as classes sócio-econômicas? O que quer a nova consumidora da classe C? Sim, este crescimento se dá em todas as classes. A nova consumidora quer sempre mais. Antes ela podia comprar apenas batons de R$ 15 da Avon. Depois ela passou a poder comprar produtos da Natura ou do Boticário. E agora ela está em um momento em que pode, de repente, comprar o J'Adore [perfume da grife Dior] no site da Sack's em dez vezes. As sessões das revistas femininas e de moda que falam de cosméticos seduzem muito, e esta consumidora não escapa disso. Se a prestação de um produto mais caro e muito desejado couber no seu bolso, ela não terá dúvida: vai querer comprar.

A brasileira tem alguma preferência diferente das que são observadas em outros países, quando se trata de produtos de beleza? As preferências variam bastante de país para país. A mulher mexicana, por exemplo, usa muita maquiagem. As americanas, por sua vez, compram muitos cremes faciais. Já a brasileira é conhecida por ser muito vaidosa e por gostar especialmente de cremes e produtos para o corpo. Até por causa do clima tropical, o culto ao corpo é muito grande por aqui. Outro mercado que vem crescendo muito é o de produtos capilares. A brasileira adora cuidar dos cabelos. Basta olhar a quantidade de salões de beleza que existem nas ruas das nossas cidades.

O acesso a sites de lojas e de vendedores individuais é muito simples e, apesar de algumas vezes a demora para receber um produto ser grande, o consumidor encontra barganhas vantajosas. A Sack’s sofre com este tipo de concorrência? Esta concorrência afeta sim o nosso negócio. Primeiro porque estes indivíduos ou empresas muitas vezes importam o produto ilegalmente, sem pagar os impostos todos que incidem sobre a cadeia - e que fazem com que o preço dos cosméticos importados não seja, de fato, pequeno. Segundo porque não é raro que o consumidor compre produtos dessas pessoas e nunca os receba. Nós mesmos, na Sack's, fazemos denúncias através do nosso departamento jurídico, que atua junto com as grifes que vendemos. Já aconteceu de comprarmos um produto em um desses sites para rastrearmos a sua origem e não o recebermos. O domínio do site inclusive desapareceu. Isso é muito ruim para as vendas online. O e-commerce não é perigoso se a empresa é séria. Mas estas empresas acabam assustando os consumidores vítimas de golpes assim. Muitos deles passam a achar que vão correr este tipo de perigo em qualquer compra online.

O Brasil é hoje a bola da vez: são várias as marcas e grifes que têm desembarcado no país pela primeira vez com operações próprias. Este fenômeno é parte de estratégias de longo prazo ou um reflexo das quedas nas vendas observadas nos mercados europeu e norte-americano? Este último fator existe e é importante, sim. A Espanha e a Grécia ainda estão sofrendo bastante com a crise, enquanto o Brasil foi o último a entrar e o primeiro a sair dela. Mas a ascensão do mercado brasileiro é de fato muito forte e veio para ficar. Nos Estados Unidos, em Paris, há muitos brasileiros comprando - e comprando bastante. A nossa população com poder de consumo soma hoje cerca de 100 milhões de pessoas. Não dá mais para ficar de fora deste mercado, e as empresas estrangeiras já perceberam isso.

Foto: Leo Martins

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