quarta-feira, 9 de novembro de 2011

CULTURA E IDEOLOGIA - ANOTAÇÕES SOCIOLOGICAS

Mundo natural é aquele que, como já se diz, pertence estritamente à Natureza e, por conseguinte, constitui-se de produtos livres de intervenção humana.  Só não pertencem ao mundo natural os produtos resultantes, sejam em parte ou não, da ação humana, pois estes devem entrar no domínio da cultura.
CULTURA - É o conjunto de fenômenos materiais e ideológicos que caracterizam um grupo étnico ou uma nação (língua, costumes, rituais, culinária, vestuário, religião, arte, moral, etc), estando em permanente processo de mudança.
O antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009) diz que a cultura deve ser considerada como um conjunto de sistemas simbólicos, entre os quais se incluem a arte, a ciência, a religião e as normas econômicas. Esses sistemas se relacionam e influenciam a realidade social e física das diferentes sociedades.
Ele procurou analisar o que era comum e constante em todas as sociedades, ou seja, as regras universais e os elementos indispensáveis para a vida social.
Discriminar significa "fazer uma distinção". O significado mais comum tem a ver com a discriminação sociológica: a discriminação social, racial, religiosa, sexual, étnica.
DIVERSIDADE - Movimento que vai na contra-corrente da monocultura ou cultura única. Ter uma visão de mundo, avaliar determinado assunto sob certa ótica, nascer e conviver em uma classe social, pertencer a uma etnia, ser homem ou ser mulher são algumas condições que nos levam a pensar na diversidade humana, cultural e ideológica.
ETNOCENTRISMO é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. Ou seja, cada grupo ou sociedade se acha superior e olha com desprezo e desdém os outros, tidos como estranhos ou estrangeiros. Trata-se de uma atitude discriminatória e preconceituosa. Basicamente, encontramos em tal posicionamento um grupo étnico sendo considerado como superior a outro.
Na História, temos exemplos de etnocentrismo: os romanos chamavam de “bárbaros” aqueles que não eram da sua cultura; os europeus, no período dos grandes descobrimentos, chamavam os moradores da América de “selvagens”.
O etnocentrismo foi um dos responsáveis pela geração de intolerância e preconceito – cultural, religioso, étnico e político. Hoje, ele se manifesta: a) na ideologia racista da supremacia do branco sobre o negro ou de uma etnia sobre a outra; b) que a cultura ocidental é superior as demais e que elas devem mudar suas crenças, normas e valores;
Não existem grupos superiores ou inferiores, mas grupos diferentes.
Trocas culturais e culturas híbridas - Em seu livro Culturas híbridas, Néstor García Can­clini, ele declara que, até o século XIX, as relações culturais ocorriam entre os grupos próximos, familiares e vizinhos, com poucos contatos externos. Os padrões culturais resultavam de tradições transmitidas oralmente e por meio de livros.
Já no século XIX e início do século XX, cresceu a possibilidade de trocas culturais, pois houve um grande desenvolvimento dos meios de transporte, do sistema de correios, da telefonia, do rádio e do cinema. As pessoas passaram a ter contato com situações e culturas diferentes. O mundo não era mais apenas o local em que um grupo vivia. Tornou-se muito mais amplo, assim como as possibilidades culturais.
No decorrer do século XX, com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação, o cinema; a televisão e a internet tornaram-se instrumentos de trocas culturais intensas, e os contatos individuais e sociais passaram a ter não um, mas múltiplos pontos de origem e não se sabe mais a origem delas. As culturas de países distantes ou próximos se mesclam a essas expressões, construindo culturas híbridas que não podem ser mais caracterizadas como de um país, mas como parte de uma imensa cultura mundial.
Cultura erudita e cultura popular - A separação entre cultura popular e erudita, com a atribuição de maior valor à segunda, está relacionada à divisão da sociedade em classes, ou seja, é resultado e manifestação das diferenças sociais. Há, de acordo com essa classificação, uma cultura identificada com os segmentos populares e outra, superior, identificada com as elites.
A cultura erudita abrangeria expressões artísticas como a mú­sica clássica de padrão europeu, as artes plásticas - escultura e pintura -, o teatro e a literatura de cunho universal. Esses produ­tos culturais, como qualquer mercadoria, podem ser comprados e, em alguns casos, até deixados de herança como bens físicos:
A chamada cultura popular encontra expressão nos mitos e contos, danças, música - de sertaneja a cabocla -, artesanato rústico de cerâmica ou de madeira e pintura; corresponde, en­fim, à manifestação genuína de um povo. Mas não se restringe ao que é tradicionalmente produzido no meio rural. Inclui também expressões urbanas recentes, como os grafites, o hip-hop e os sin­cretismos musicais oriundos do interior ou das grandes cidades, o que demonstra haver constante criação e recriação no universo cultural de base popular. .
A ideologia, suas origens e perspectivas - Uma das primeiras idéias sobre ideologia foi expressa por Francis Ba­con (1561-1626). Ao recomendar um estudo baseado na obser­vação, declarava que, até aquele momento, o entendimento da verdade estava obscurecido por ídolos, ou seja, por idéias erradas e irracionais.
Um segundo sentido de ideologia, o de "idéia falsa" ou "ilusão", foi utilizado por Napoleão Bonaparte em 1812. Napoleão afirmou que seus adversários, que questionavam e pertur­bavam a sua ação governamental, eram apenas metafísicos, pois o que pensavam não tinha conexão com o que estava acontecendo na realidade, na história.
Karl Marx se referiu à ideologia como um sistema ela­borado de representações e de idéias que correspondem a formas de consciência que os homens têm em determinada época. Ele afirmou ainda que as idéias dominantes em qualquer época são sempre as de quem domina a vida material e, portanto, a vida intelectual.
Marx desenvolveu a concepção de que a ideologia é a inversão da realidade, no sentido de reflexo, como na câmara fotográfica, em que a imagem apare­ce "invertida".
Karl Mannheim (1893-1947) conceitua duas formas de ideologia: a particular e a total. A particular corres­ponde à ocultação da realidade, incluindo mentiras conscientes e ocultamentos subconscientes e inconscientes, que provocam enganos ou mesmo auto-enganos. A ideologia total é a visão de mundo (cosmovisão) de uma classe social ou de uma época. Nesse caso, não há ocultamento ou engano, apenas a reprodução das idéias próprias de uma classe ou idéias gerais que permeiam toda a sociedade.
Para Mannheim, as ideologias são sempre conservadoras, pois expressam o pensamento das classes dominantes, que visam à estabilização da ordem. Em contraposição, ele chama de utopia o que pensam as classes oprimidas, que buscam a transformação.
A ideologia e o grupo social - Todos nós participamos de certos grupos de idéias. São espécies de "bolsões" ideológicos, onde há pessoas que dizem coisas em que nós também acreditamos, pelas quais também lutamos, que têm opiniões muito parecidas com as nossas.
A ideologia no cotidiano - Em nosso cotidiano, ao nos relacionarmos com as outras pessoas, exprimimos por meio de ações, palavras e sentimentos uma série de ele­mentos ideológicos. Como vivemos em uma sociedade capitalista, a lógica que a estrutura, a da mercadoria, permeia todas as nossas relações, sejam elas econômicas, políticas, sociais ou sentimentais. Podemos dizer que há um modo capitalista de viver, de sentir e de pensar.
A expressão da ideologia na sociedade capitalista pressupõe a elabora­ção de um discurso homogêneo, pretensamente universal, que, buscando identificar a realidade social com o que as classes dominantes pensam sobre ela, oculta as contradições existentes e silencia outros discursos e represen­tações contrárias.
Esse discurso não leva em conta a história e destaca categorias ge­néricas - a família ou a juventude, por exemplo -, passando, em cada caso, uma idéia de unidade, de uniformidade. Ora, existem famílias com constituições diferentes e em situações econômicas e sociais diversas. Há jovens que vivem nas periferias das cidades ou na zona rural, enfrentando dificuldades, bem como jovens que moram em bairros luxuosos ou con­domínios fechados, desfrutando de privilegiada situação econômica ou educacional. Portanto, não existe a família e a juventude, mas famílias e jovens diversos, cada qual com sua história.
Mas existem outras formas ideológicas que são desenvolvidas sem muito alar­de e que penetram nosso cotidiano. Uma delas é a idéia de felicidade. Felicidade, para muitos, é um estado relacionado ao amor, mas também significa estabilidade financeira e profissional, bem-estar existencial e material. É um conjunto de situa­ções, mas normalmente a mais focalizada é a amorosa. E os filmes, as novelas, as revistas, apesar de todas as condições adversas que um indivíduo possa enfrentar, estão sempre reforçando o lema: "o amor vence todas as dificuldades".
Talvez a maior de todas as expressões ideológicas que encontramos em nosso cotidiano seja a idéia de que o conhecimento científico é verdade inquestionável. Muitas pessoas podem não acreditar em uma explicação oferecida por campos do conhecimento que não são considerados científicos, mas basta dizer que se trata de resultado de pesquisa ou informação de um cientista para que a tomem como verda­de e passem a orientar suas práticas cotidianas por ela. Isso aparece principalmente quando as informações e notícias são veiculadas pelos meios de comunicação e se referem à saúde. Da busca do sentido da vida às possibilidades de sucesso, a ciência é vista como uma grande solução para todos os problemas, males e enigmas.
O pensamento científico é histórico e tem sua validade temporária, sendo a dúvida seu valor maior.
Mas o conhecimento científico, quando analisado da perspectiva de um pen­samento hegemônico ocidental, torna-se colonialista, pois o que é particular (oci­dental) se universaliza e se transforma em um paradigma que nega outras formas de explicar e conhecer o mundo. Assim, desqualifica outras culturas e saberes, tidos como inferiores e exóticos, como o conhecimento das civilizações ameríndias, orientais e árabe.








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