segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Lenda do jabuti e do veado. Eis a magnífica inteligência indígena... interpretem


“O pequeno jabuti foi procurar seus parentes e encontrou-se com o veado. O veado perguntou a ele: “Para onde que tu vais?” O jabuti respondeu. “Eu vou chamar meus parentes para virem procurar minha caçada grande, a anta”. O veado assim falou” “Então tu mataste a anta?! Vai; chama toda tua gente. Quanto a mim, eu fico aqui; eu quero olhar para eles”. O jabuti assim falou: “Então eu não vou mais; daqui mesmo eu volto; eu espero que a anta apodreça, para tirar seu osso para minha gaita. Está bom, veado; eu vou já”. O veado assim falou: “Tu mataste a anta; agora eu quero experimentar correr contigo”. O jabuti respondeu: “Então me espera aqui; eu vou ver por onde eu hei de correr”. O veado falou: “Quando tu correres por outro lado, e quando eu gritar, tu respondas”. O jabuti falou: “Me vou ainda”. O veado falou a ele: “Agora, vais demorar-te... Eu quero ver tua valentia”. O jabuti assim falou: “Espera um pouco ainda; deixa-me chegar à outra banda”. Ele chegou ali, chamou todos os seus parentes. Ele emendou todos pela margem do rio pequeno, para responderem ao veado tolo. Então assim falou: “Veado, tu já estás pronto?” O veado respondeu: “Eu já estou pronto”. O jabuti perguntou: “Quem é que corre adiante?” O veado riu-se e disse: “Tu vais adiante, miserável jabuti”.
O jabuti não correu; enganou o veado e foi ficar no fim.
O veado estava tranquillo, por fiar-se nas suas pernas.
O parente do jabuti gritou pelo veado. O veado respondeu para traz. Assim o veado falou: “Eis-me que vou, tartaruga do mato!” O veado correu, correu, correu, depois gritou: “Jabuti!” O parente do jabuti respondeu sempre adiante. O veado disse: “Eis-me que vou, ó macho!” O veado correu, correu, correu, e gritou: “Jabuti!” O jabuti respondeu sempre adiante. O veado disse: “Eu ainda vou beber água”. Aí mesmo o veado se calou: O jabuti gritou, gritou, gritou... Ninguém respondeu a ele. Então disse: Aquele macho pode ser que já morreu; deixa que eu vá ver a ele ainda.
O jabuti disse assim para seus companheiros: “Eu vou devagarinho vê-lo”.
Quando o jabuti saiu na margem do rio, disse: “Nem sequer eu suei”. Então chamou pelo veado. “Veado!” O veado nem nada lhe respondeu.
Os companheiros do jabuti, quando olharam para o veado, disseram. “Em verdade, já está morto”. O jabuti disse: “Vamos nós tirar o seu osso”.
Os outros perguntaram: “Para que é que tu o queres?”
O jabuti respondeu: “Para eu assoprar nele em todo tempo”.
“Agora eu me vou embora daqui. Até algum dia”

"O Selvagem" de Couto de Magalhães. Lenda de índios do tronco linguístico Tupi.

Um comentário:

  1. Amei a história, assim como amo os cágados, jabutis, tartarugas e suas mais de 150 espécies, espalhadas pelo mundo.

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