terça-feira, 21 de setembro de 2010

Validade de um diploma

Quando comento que a AMBRA College possui diversos alunos que não se preocupam com a revalidação de seu diploma no Brasil, muitos me olham estarrecidos. Por primeiro, há alunos que não têm intenção de regressar ao Brasil e, embora muitos leigos questionem a possibilidade da revalidação do diploma da AMBRA no Brasil, ela é algo plenamente possível segundo a legislação vigente e, em minha opinião, sem grandes complicações. Presenciei várias discussões a respeito de qual é o valor efetivo que um diploma possui. É impressionante a quantidade de pessoas que possui algum diploma de graduação hoje em dia. Eu, por exemplo, graduei-me em Engenharia de Controle e Automação Industrial pela Universidade Federal de Santa Catarina, possuo mestrado em Engenharia Elétrica pela mesma universidade e tenho me dado conta de que utilizei meu diploma de graduação somente uma única vez (como comprovação de pré-requisito para ingressar no mestrado) e nunca utilizei meu diploma de mestrado. Meu diploma e meus estudos não serviram para nada? Meu diploma (o papel propriamente dito) somente me foi útil uma única vez em toda a minha vida profissional, porém os conhecimentos adquiridos durante a graduação são utilizados diariamente.

Inicialmente, é importante diferenciar profissões reguladas na prática de profissões não-reguladas. Dentre as reguladas, cito algumas das mais conhecidas: médico, advogado, contador e alguns ramos da engenharia (civil e eletricista). Dentre as não-reguladas, temos praticamente todas as outras profissões: jornalista, economista, programador, administrador, etc.. Acontece que para exercer plenamente uma profissão regulada é necessário que se tenha posse do diploma propriamente dito para apresentá-lo ao órgão que regula a profissão, não sendo suficiente somente o conhecimento.


De plano, entendo que o diploma para profissões não-reguladas simplesmente não possui quase que nenhuma utilidade prática no exercício pleno da profissão, pois o que vai guiar o sucesso profissional do diplomado serão suas competências e conhecimentos adquiridos durante a graduação. A única utilidade que vejo para o diploma (o papel propriamente dito) nesses casos é para atender a pré-requisito para ingressar em programas acadêmicos (mestrado, pós-graduação) ou em concursos públicos como nível superior. O diploma de uma escola renomada também pode ajudar como vitrine para conseguir um bom primeiro emprego.


Quanto às profissões reguladas, há que se discutir cada uma em separado. Obviamente que não comentarei todas, limitando-me somente às de engenheiro e advogado. Começarei com o meu caso, engenharia. É muito comum em médias e grandes empresas que haja não mais que 5 engenheiros responsáveis, mesmo que a empresa possua mais de 50 engenheiros contratados. Isto é, não mais que 5 pessoas assinam todos os projetos técnicos da empresa utilizando seus registros no CREA. Consultei alguns colegas de formatura se suas empresas cobraram seus diplomas ou CREA quando de sua contratação e, a impressionante maioria, disse que não. Aliás, a grande maioria (inclusive eu) optou por não fazer registro no CREA. Não se pode fingir ser engenheiro por muito tempo, talvez por isso não se cobre o diploma. Ou seja, no caso da engenharia, se o graduado não é quem assina algo, seu diploma não possui muita utilidade prática. Pelo que conheço do meio, a grande maioria dos engenheiros nunca assinou um projeto na vida, tendo se limitado a utilizar seus conhecimentos nas áreas de engenharia, administração ou finanças.
No caso de meus colegas de faculdade, nunca ouvi qualquer reclamação sobre baixos salários ou falta de oportunidades profissionais.

Quanto ao advogado, é importante não restringir o graduado em direito somente à profissão de advogado, pois o graduado pode atuar em diversas áreas. Para exercer a advocacia e assinar petições é obviamente necessário possuir diploma. Para que o graduado possa prestar concurso público para cargos da área também (juiz, procurador, delegado, etc.). Mas é somente isso que faz um graduado em direito? Não, mas se o graduado não possui outra profissão, ele provavelmente pretende se enquadrar em um dos casos que citei anteriormente, pois são as formas mais tradicionais e claras de se obter renda e sustento com essa formação.


Abordando a advocacia em si, quem é da área sabe que, assim com na engenharia, a pessoa que faz o trabalho não necessariamente é aquela que assina. Quem assina pode ser qualquer um com o diploma e o registro no órgão competente, mas quem faz não pode ser qualquer um. Quem faz precisa de conhecimento e isso não é adquirido em qualquer lugar. Mesmo nessa área, é possível atuar indiretamente sem diploma. Porém o que é fantástico sobre o direito é que seu conteúdo se aplica a nossas vidas e engrandece qualquer profissional de qualquer área, seja ele engenheiro, médico, jornalista, etc. Muitos dos alunos da AMBRA já possuem outra graduação e carreiras profissionais consolidadas, não possuindo o mínimo interesse em assinar petições ou em concorrer a cargos públicos da área. Eles querem simplesmente um ensino de qualidade para aplicar em suas vidas pessoais e profissionais, pois sabem que, em seus casos específicos, o diploma propriamente dito não terá a menor utilidade prática.


Independentemente da área de graduação, de nada adianta um diploma sem os conhecimentos necessários para executar a profissão. De nada adianta se formar em engenharia, registrar-se no CREA e assinar plantas de pontes ou prédios que desabam. Ou se graduar em direito e ser necessário fazer cursinho para passar na prova da OAB, ou, uma vez em posse do registro na OAB, perder todas as causas das petições que assinar e prejudicar seus clientes. Com a atual banalização dos diplomas, as pessoas estão percebendo o óbvio: o que interessa de verdade é o conhecimento, e não um papel. Aliás, um papel se consegue em qualquer esquina.


Francisco Neto

Diretor Executivo - AMBRA College.

4 comentários:

  1. Francisco:
    Se você me permite discordar em parte, gostaria de te dizer que o diploma não faz o profissional, não é sinônimo de competência, no entanto, é importante sim. Quando me formar, quero exercer minha profissão plenamente, sem depender do "auxílio" de colegas para atuar. Já trabalhei dessa forma, como estagiária: eu fazia o trabalho todo e o profissional se responsabilizava por ele, "assinava em baixo". Ele levava os louros e quase todos os ganhos financeiros! Sim, é importante o saber, sem dúvida alguma. Mas, sem dinheiro, não se vive...
    Abraços

    Cláudia Mester

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  2. Senhor Francisco,
    Parabéns!
    Magnânima explanação. Creio que agora o senhor acabou de espantar aquele fantasma, que para alguns colegas da AMBRA, que se preocupam mais com a forma que com o fundo, de vez. È por isso Senhor Francisco, que luto, buscando um equacionamento para minha...
    Wandeney oliveira.
    080308-2

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  3. Wandey, obrigado pelos cumprimentos!
    Cláudia, concordo com você. A idéia do texto não foi desmerecer a validade de um diploma, mas sim a busca por se ter um diploma sem considerar o conhecimento. Recebi um comentário de outro aluno nesse mesmo sentido e vou publicar outro texto me explicando melhor.
    Obrigado pela participação.
    Abraços.

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  4. Claro, é isso aí. Na verdade, deveria valer apenas o conhecimento, nossos saberes mas, infelizmente, não é assim. A realidade exige essa burocracia estúpida!
    Abraços

    Cláudia Mester

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