Meio ambiente é o foco do blog produzido por alunos do 6º período de Jornalismo da PUC-Campinas, resultado da disciplina Jornalismo On Line.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Cemitérios oferecem risco à saúde e ao meio ambiente

O necrochorume, líquido liberado com decomposição do cadáver, contamina lençóis freáticos

Paula M. Guerreiro
Mesmo depois de mortos, os seres humanos ainda podem poluir o meio ambiente. Nos cemitérios onde não há mecanismos de proteção ambiental, o líquido liberado pela decomposição do corpo humano, chamado necrochorume, contamina o solo e os lençóis freáticos, podendo transmitir doenças como hepatite A, tuberculose e escarlatina.
Apesar dessa ameaça, que atinge principalmente pessoas de baixa renda que fazem uso de poços clandestinos, cemitérios públicos e particulares ainda ignoram a gravidade do problema. Essa é a conclusão a que chegou o hidrogeólogo Leziro Marques Silva, que nos últimos 35 anos pesquisou mais de 900 cemitérios no Brasil e no exterior. “Desse universo de cemitérios pesquisados, de todos os municipais, 75% apresentam problemas de ordem tanto ambiental quanto sanitária”, afirma.
O pesquisador explica como o cadáver humano pode representar risco à saúde dos vivos. “Porque o necrochorume é vertido pela matéria orgânica em decomposição, ele é rico em nutrientes que proliferam uma assembleia de vírus e bactérias, inclusive as bactérias patogênicas, que são as causadoras da maior parte dos óbitos. Se esse necrochorume escapa do túmulo, entra na circulação do lençol freático. Se no meio do caminho desse lençol freático, existe um poço escavado, uma captação, uma fonte, uma pessoa que inadvertidamente consuma essa água, e se ela estiver com a imunidade natural baixa, ela pode ser acometida por uma dessas doenças infecto-contagiosas”, explica Silva.

Fiscalização - A irregularidade dos cemitérios em todo o país deve ser sanada logo. Faltam dois meses para chegar o prazo determinado pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), do Ministério do Meio Ambiente, para que todos os órgãos estaduais e municipais de meio ambiente estabeleçam critérios para adequação dos cemitérios existentes desde abril de 2003, de quanto data o primeiro texto da resolução.
Até dezembro deste ano, os cemitérios terão que adotar medidas que garantam um sepultamento ecologicamente correto, além de se comprometerem a reverter a contaminação que já tenha sido causada. Caso contrário, correm o risco de serem lacrados.

Cemitério de Cosmópolis, que foi o primeiro da RMC a adotar um mecanismo de proteção ambiental

Solução possível - Cosmópolis foi o primeiro município da Região Metropolitana de Campinas (RMC) a adotar um mecanismo de proteção ao meio ambiente e à saúde. Desde abril deste ano, todos os cadáveres enterrados no cemitério municipal são colocados sobre uma manta protetora, que forra o caixão, impedindo o vazamento do necrochorume.
Segundo o supervisor técnico do cemitério, Maurício Jorge, o invólucro é constituído de um material absorvente, que retém o líquido liberado durante a decomposição humana. “É uma forma de proteger o meio ambiente, sem causar constrangimento à família, diferente de propor qualquer outro tipo de sepultamento que exigisse preocupação dos familiares, em um momento tão delicado”, afirma.
O invólucro ainda não tem produtos similares no mercado e seu preço varia entre 28 e 57 reais, dependendo do tamanho do cadáver. “Mas não mudou a taxa que é cobrada pelo cemitério. Só a partir do ano que vem, que vai haver um reajuste se realmente for necessário”, explica Jorge.

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