Quando você abre seu MSN e vê no nick de alguém algo como “FELIIIIIIIZZZZZZ”, ou “AMOOOO MINHA VIDAAAAAAAAAA”, você realmente acredita que há toda essa felicidade ali? Ou em um grupo de amigos, aquele cara que sempre se diz o “comedor”, que fez isso, fez aquilo outro…que pegou não-sei-quem e que tem N fulanas apaixonadas por ele. Você bota uma fé?
É psicologia simples. Não precisa ser especialista em Freud ou fazer análise por anos a fio para entender que existe aí um forte comportamento compensatório. Um mecanismo de defesa.
Me intrometendo um pouco no lado psíquico da história, dei uma pesquisada em alguns blogs e achei uma definição interessante aqui. Compensação é o processo psíquico em que o indivíduo se compensa por alguma deficiência, pela imagem que tem de si próprio, por meio de um outro aspecto que o caracterize, que ele, então, passa a considerar como um trundo.
Isto é: me sinto triste, preciso anunciar que estou feliz. Não para convencer o mundo, mas para convencer a mim mesmo. Trata-se de um processo totalmente inconsciente, é bom frisar.
Partindo da esfera individual para a coletiva, temos diversos exemplos disso no nosso dia a dia. E saber identificar tendências de compensação podem criar mercados amplos e lucrativos.
As redes sociais talvez sejam o mais óbvio dos exemplos, mas que dificilmente reparamos. O mundo hoje se conecta via Facebook, Orkut e tantas outras ferramentas e, me pergunto: isso faria tanto sucesso há 30, 40, 50 anos (se houvesse tal tecnologia)? Talvez as pessoas se sintam cada vez MENOS conectadas umas com as outras, e as redes sociais preenchem parcialmente uma lacuna vazia em termos de conexão humana.
Vejo muito nitidamente o exemplo do filme Crepúsculo, febre entre adolescentes do mundo todo. O sucesso certamente não é pela história de um vampiro, mas pelo resgate do amor acima de todas as dificuldades. Ele devolve o amor à uma geração que, por diversos motivos, talvez não nunca se sentiu amada.
Veja a onda dos emos, que se espalhou pelo mundo na última década. Jovens anunciando seus sentimentos e sensibilidade, talvez porque eles busquem algo que simplesmente não sentem. Mas gostariam.
São pessoas normais, querendo ser mais que isso. Por isso os filmes de super-heróis jamais fizeram tanto sucesso quando hoje em dia. Homem Aranha, Superman, Batman, Homem de Ferro, Thor…Hollywood produziu nos últimos 10 anos uma quantidade inigualável de filmes de super-heróis, e isso reflete a nossa carência por símbolos de força, superação e exemplo.
Posso escrever parágrafos e parágrafos sobre este tema aqui, mas o que me inspirou a fazer este post foi a assustadora quantidade de carros que vejo todos os dias com o tal adesivo da família feliz. Sem contar o lado da segurança pessoal (esses adesivos são um Menu Sequestro, no meu ponto de vista), essa nova moda traz à tona o anseio social de fazer parte de uma família “normal” e feliz.
É, como a pessoa que anuncia a explosão de felicidade no MSN, a compensação por aquilo que o indivíduo gostaria de experienciar. E seja você um psicólogo ou um marketeiro, o incrível fenômeno da compensação proporciona um mercado cheio de oportunidades.
Tags: Adesivo, Amor, compensação, comportamento, Crepúsculo, cultura, Freud, Marketing, Moda, psicologia
2 de março de 2011 às 10:56 |
Muito bom, Deivis, tem realmente bastante nexo isso.
Minha reflexão sobre as redes sociais, no entanto, é um pouco diferente da tua. Até me animou a escrever um pouco sobre isso, valleuz pelo insight!
2 de março de 2011 às 11:18 |
Uma coisa curiosa, que se nota nas redes sociais, é a variação de humor que permeia cada rede, especificamente: no Facebook, todos estão felizes, para ganhar “likes” (ou se sentirem amados e correspondidos); no twitter, todos reclamam, para ganhar retwitts ou ganharem mais posts na timeline; e no MSN, todos estão ocupados, tentando se preservar ou simplesmente barrar os contatos que adicionou por conveniência em um determinado momento.
Há muita compensação, mas mais que isso, ferramentas que possibilitam que haja esse tipo de expressão e que, no cômputo geral, dizem muito mais que sessões incontáveis de psicanálise.
Mas isso é um post à parte.
Quanto a este, fenomenal.
2 de março de 2011 às 13:16 |
Muito boa sacada e ótima dica para nos atentarmos.
Bjus
2 de março de 2011 às 15:25 |
hahahaha
Primo, confesso que tb notei esta febre de adesivos de famílias super felizes (não tem como não notar)…vai de fusca à Corolla!
Não havia pensado por este lado psicológico, muito interessante =D
* Irei mandar para o teu e-mail uns desenhos de adesivos bem criativos
que fizeram relacionados a tal febre!
Bjoksss
2 de março de 2011 às 16:16 |
Sinceramente considero a questão do adesivo da família um caso à parte em relação aos demais. Para todos os outros exemplos, o motivador provavelmente é mostrar para a sua própria rede, uma determinada imagem que você queira e acha que consegue passar… Já no adesivo da família, não há exposição específica, isto é, a sua rede não é comunicada disso…
Seguindo este raciocínio, acho que é mais uma modinha mesmo… Como o maldito Rayban Wayferer.
2 de março de 2011 às 17:53 |
A questão dos adesivos é muito mais pra instigar o debate do que efetivamente o foco da discussão, Foca.
Só acho que modinhas vão existir e, em um certo ponto, todos nós faremos parte de uma ou de outra.
2 de março de 2011 às 18:39 |
profundo, né?
isso demonstra-se tbm em carros, viagens… ou naquele aplicativo de iPhone que não servia para NADA – http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&langpair=en|pt&u=http://techcrunch.com/2008/08/06/the-worlds-first-luxury-iphone-app-99999-of-pure-bliss/
3 de março de 2011 às 07:23 |
Possivelmente o melhor texto que li no blog, Davi. Profundo demais o tema.
Questao toda é a necessidade da autoafirmacao. igual a epoca dos adesivos nos carros “consulte sempre um advogado, psicologo, etc”, adesivos de universidades, e por ai vai,
por instinto, todos buscam algum tipo de valorizacao, um “lugar ao sol”, e nesse processo, com instinto primitivo e animal, acham sempre que os mais fortes se sobressaem.
A questão toda caminha numa tenue linha que separa “querer aparecer” do “expressar uma opinião, uma conquista, crença, etc.”, e, por serem conceitos subjetivos, cada individuo age conforme a propria consciencia.
O problema central é que o “sucesso” de uma ideia, seja o adesivo da familia feliz, ou tatuagem de carpa, estrelinha atras da orelha, poderá, quando muito disseminada na sociedade, perder a individualidade da atitude.
Parabéns pelo texto.
à bientôt!
9 de março de 2011 às 15:29 |
Davi,
Excelente texto elaborado. Por esse motivo estou mandando esse video do YouTube para agregar ao seu texto:
Abraços,
Calasso
22 de março de 2011 às 19:29 |
muito legal este insight!!!adorei!!!
29 de março de 2011 às 14:23 |
Super interessante o recorte das suas observações, Davi!!
Claro que, como vc mesmo comenta aqui, vc poderia escrever e/ou falar trocentas outras vias de observação, outros olhares que sei que vc reflete, porém o texto ficou de um nível excelente de reflexão e conciso, ou seja, sem exagerar na dose.
Os comentários dos seus leitores tb estão mto bacanas, cada um com seu prisma e caleidoscópio, compondo bons níveis de leitura e comunicação.
Gostei muito de te ver assim produtivo, analítico, profundo!
Fico bem feliz em perceber que há possibilidades de união e reuniões via internet, numa continuidade dos papos animados que vcs têm pessoalmente em tantas ocasiões.
Abraço!