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A despedida de Ronaldo Nazário, o Homem Aranha do futebol mundial

14 fev

O Brasileiro é o conflito em pessoa. Consegue idolatrar e desancar os seus ídolos em questão de minutos. Discussões apaixonadas são realizadas e muitas vezes a racionalidade fica em segundo plano. Formulei esse conceito ao ver a reação das pessoas sobre a despedida de Ronaldo dos gramados. Interessante que os mesmos que criticaram e colocaram até em dúvida o caráter do atleta são os mesmos que hoje batem palmas pelos serviços prestados pelo atleta.

Alguns pontos devem ser esclarecidos logo de cara. A entrevista coletiva de despedida do Fenômeno foi emocionante, em que muitas vezes o mito deu lugar ao ser humano. Talvez isso tenha sido o gerador de tamanha comoção e rejeição a qualquer tipo de critica a sua trajetória.

Mas é preciso colocar o pingo nos is. Acompanho futebol desde 1980 e estudo com profundidade o tema desde 1994 e posso afirmar com segurança que Ronaldo foi um dos 10 maiores jogadores ofensivos da história do futebol brasileiro. Rápido, destemido, com faro de conclusão aguçado e dono de um poder de superação comovente para encarar graves contusões, protagonizou instantes memoráveis, como as partidas pelo Barcelona e Internazionale na década de 1990 e a conquista do Pentacampeonato em 2002. Isso é mérito dele. Ponto. Porém, quem conhece futebol, ao fazer a comparação com outros gênios verá que Ronaldo, apesar de espetacular, ainda ficou atrás de ídolos como Reinaldo (Atlético Mineiro), Careca (São Paulo e Napoli) e Romário (Vasco, Flamengo, Fluminense…)…Apenas no final da carreira, Ronaldo tentou corrigir uma de suas deficiências: o cabeceio. Se fosse aplicado para corrigir esse defeito pelo menos em termos técnicos teria ultrapassado Careca e Reinaldo. Romário? Difícil. Ao comparar as fases esplendorosas que ambos viveram no Barcelona chegaremos a conclusão de que o “baixinho” foi acima da média, especialmente porque atuou em uma época que existia limitação para uso de estrangeiros nas equipes europeias. Ronaldo viveu o período em que os clubes europeus viraram verdadeiras seleções multinacionais. Isso faz diferença.

Mais: Romário foi campeão do mundo assistido por um meio-campo formado por Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho. Ronaldo tinha Gilberto Silva, Kleberson, Ronaldinho Gaúcho e alas como Roberto Carlos e Cafu para ajudá-lo. Convenhamos, a missão foi mais facilitada. Mas não apaga seu legado. Como esquecer o gol de bico na semifinal contra a Turquia? Lance de atleta diferenciado.

Ninguém tira o mérito de Ronaldo ser o maior artilheiro da história das Copas com 15 gols. Uma prova de talento e superação. Digno de entrar para a galeria de qualquer seleção do planeta, imagine no Brasil. Ponto para ele. Também é verdade que a sua história em Copas é cheia de altos e baixos. Se por um lado em 2002 ele viveu instantes de glórias, a final de 1998 ainda é cercada de mistério e em 2006 não podemos esquecer que escondeu-se o seu peso. Meses após a eliminação, jornais de São Paulo relataram que durante o mundial, Ronaldo usava dependências do hotel para se divertir quando deveria encontrar-se em concentração ou em treinamento. Ou seja, pisou na bola.

Sua trajetória no Corinthians foi digna de elogios. Superou os dilemas e fez uma bela temporada em 2009. Conquistou a Copa do Brasil e o Paulistão daquele ano e depositou suas forças na esperanças de ir na Copa da África e faturar a Libertadores. Dunga exterminou o desejo inicial enquanto que o Flamengo surpreendeu a todos no Pacaembu. Depois, Ronaldo definhou e nunca mais foi o mesmo. A sua despedida anunciada nesta segunda-feira era o desfecho previsível.

Quando a sua bem sucedida estratégia de marketing é tirada de lado, vemos que Ronaldo é sim, um personagem vital na história do futebol. Mas também teve falhas. Para desgosto de alguns, a missão do jornalista não é bajular. É a de mostrar os fatos. E ao fazer esta retrospectiva, cheguei a seguinte conclusão: se fosse um super herói, Ronaldo seria o Homem Aranha: um sujeito comum, financeiramente quebrado na adolescência, sem rumo, de família pobre e que um dia foi presenteado com um poder descomunal. Soube aproveitar esse poder, enfrentou vilões aparentemente invencíveis e com sabedoria e determinação venceu a todos. Mas nunca deixou de mostrar suas fraquezas humanas, falhas e derrotas. Cativou porque foi um herói com alma e sentimento. Após a extenuante jornada para salvar o planeta bola da mediocridade, chegou a hora de tirar o disfarce Ronaldo. E trilhar o caminho dos mortais. Seja bem vindo.

 

 
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Publicado por em 14 de fevereiro de 2011 em Uncategorized

 

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