domingo, 23 de novembro de 2008

NOVAS DESCOBERTAS ARQUEOLÓGICAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO






NOVAS DESCOBERTAS ARQUEOLÓGICAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO



(PANORAMA ATUAL DA ARQUEOLOGIA).



CLUBE DE ENGENHARIA



DIA 25 DE NOVEMBRO DE 2008

MESA REDONDA COORDENADA PELO
CENTRO BRASILEIRO DE ARQUEOLOGIA



Na sua versão tradicional, a arqueologia é uma disciplina mítica, que se tornou popular graças aos pioneiros do século 19, do início do século 20, e aos personagens aventureiros e glamurosos de Harrison Ford e de Lara Croft. Mas na sua versão moderna, dita "preventiva", ela é dificilmente aceita por tomadores de decisão e pelo mundo econômico, suscitando por vezes propósitos de uma virulência sem equivalente a respeito de uma disciplina científica, lembra Nicole Pot, em artigo publicado na França.
O conhecimento trazido pela pesquisa arqueológica de modo mais geral pode contribuir para evitar, em todas as comunidades, o sofrimento de não possuir um passado e de possuir um futuro sem memória coletiva. Não é possível preservar um patrimônio desconhecido. O Brasil - o maior país em extensão da América do Sul - possui áreas pouco conhecidas do ponto de vista da Arqueologia e há necessidade urgente de se saber aonde e como estão os sítios.
A mesa redonda comemorativa dos 47 anos do CBA tem por objetivo colocar em evidência as novidades da arqueologia fluminense e ao mesmo tempo realçar o papel do CBA para o desenvolvimento da ciência no Estado do Rio de Janeiro, tanto na Arqueologia Histórica quanto Pré-Histórica.
Papel do CBA para o desenvolvimento da Arqueologia no Estado do Rio de Janeiro
O Centro Brasileiro de Arqueologia, fundado em 21 de novembro de 1961 é uma associação civil, de caráter técnico-científico, sem fins lucrativos, declarada de utilidade pública pela Lei 910 de 04/02/1966, tendo como objetivo congregar estudiosos em Arqueologia, Pré-história e Ciências afins, promover a realização de cursos, estudos, debates, seminários, projetos culturais, encontros, levantamentos e pesquisas em conformidade com a Lei Federal 3924 de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre a proteção de monumentos históricos e pré-históricos nacionais.
Giselle Manes, abordando o tema “História do CBA - da fundação aos dias atuais”, discorre sobre os acontecimentos mais importantes que marcaram os 47 anos de existência do CBA na sua trajetória de divulgação da Arqueologia como ciência, realizando expedições, pesquisas, palestras, exposições e seminários, convênios e parcerias, além de um incontável número de cursos, chegando a contar, na década de 80, com mais de 500 associados, alguns deles ilustres.

Destaca a popularidade dos cursos que o CBA promovia notadamente os introdutórios à Arqueologia, realizados a partir de 1964, com sucessivas edições anuais, que visavam o ensino da metodologia da pesquisa arqueológica, e contavam com grande afluência de interessados (associados ou não). Além das aulas teóricas, o CBA promovia atraentes excursões anuais com os alunos dos cursos e os associados, dentro e fora do Estado do Rio de Janeiro, sendo a mais procurada, a de Lagoa Santa, Maquiné e Cerca Grande.

Dentre as atividades desenvolvidas pela entidade no passado, realça as famosas expedições realizadas de 1961 a 1970 à Paraíba, para documentar a Pedra Lavrada do Ingá e de Picuí, e à Roraima, para documentar a Pedra Pintada e as ruínas do Forte São Joaquim do Rio Negro. Ressaltou que, em uma dessas expedições à Paraíba, a equipe técnica do CBA encontrou um sítio paleontológico, na cidade de Taperoá, em cujas cacimbas foram encontradas fósseis de mamíferos do Quaternário, sendo parte desse material encaminhado ao Museu Nacional, Divisão de Geologia e Paleontologia.

Outra realização memorável do CBA foi a “1ª Semana do Egito”, de julho de 1964, em cooperação com a Embaixada da República Árabe Unida –RAU, ocasião em que foi lançado, pelo CBA, o primeiro número da “Revista Brasileira de Arqueologia”, hoje obra rara, patrocinada pela Embaixada, na qual há extensa matéria referente à Pedra Lavrada do Ingá, na Paraíba.

Menciona, ainda, a importante aquisição pelo CBA, em 1974, de um sítio em Magé, hoje município de Guapimirim, onde há um sambaqui, que foi batizado de “Sambaqui Arapuan” e começou a ser pesquisado em 1975 pela equipe técnica e alunos dos cursos, com autorização do IPHAN. Em 1978, o CBA montou um laboratório com subvenção aprovada pelo Conselho Estadual de Cultura e apresentou uma Nota Prévia das pesquisas na “I Jornada Brasileira de Arqueologia”, realizada no Museu do Índio nesse mesmo ano.

Dentre outras importantes realizações do CBA no presente, a realização do “I Encontro Latino-Americano de Arqueologia”, em 19 e 20 de setembro de 2005, pelo CBA em parceria com o Clube de Engenharia, e patrocínio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), Museu Nacional (da UFRJ) e a Fundação José Bonifácio, contando ainda, com o apoio do CREA-RJ. A Dra.Maria Beltrão exalta a importância deste evento para a Arqueologia Brasileira.
Uma recente conquista do CBA em 2007 foi o reconhecimento do “Dia do Arqueólogo” pelo Município do RJ (pela Lei 5.450, de 09/07/2007) e também pelo Estado do RJ (pela Lei 5.121, de 07/11/2007.
Julio Vaz realça que a efetivação do Dia do Arqueólogo em 2007, a pedido do CBA, pelo Estado do Rio e pela Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, foi um grande avanço da categoria dos arqueólogos. Atualmente, encontra-se em trâmite o projeto de efetivação do Dia do Arqueólogo a nível nacional. No decorrer desses anos, o CBA colecionou parcerias para o desenvolvimento de algumas de suas pesquisas. No passado foram importantes as parcerias com o Museu do índio, Museu Nacional, Universidades Gama Filho e Unisuam. Atualmente o CBA desenvolve parcerias com o SINPRO, o CREA-RJ, o Clube de Engenharia, o Parque Paleontológico de Itaboraí e o Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro onde está sendo instalada a nova sede.
Rondon Mamede Fatá menciona projetos em andamento no CBA, como a atualização do livro de Maria Beltrão, sobre o mapeamento dos sítios arqueológicos no Estado do Rio de Janeiro e a publicação da memória do CBA, desde sua criação em 1961 até os dias de hoje. Segundo Rondon, ao todo foram listados 539 sítios arqueológicos no Estado do Rio de Janeiro. Os registros encontrados junto ao IPHAN somam 320, os outros 219 são citados em várias fontes, mas não há registro oficial dos mesmos.
Homenagem ao prof. Francisco Octávio da Silva Bezerra
Catherine Beltrão, presidente do CBA, relembra a trajetória vitoriosa do CBA na gestão do Professor Francisco Octavio da Silva Bezerra e as dificuldades surgidas na instituição com o seu falecimento. Apresentação de slides mostrando a atuação do prof.Francisco Octavio da Silva Bezerra na área da Arqueologia, mais especificamente, como fundador e algumas vezes presidente do CBA. A trajetória percorrida por Francisco Octávio, o grande e último presidente do CBA, deixou marcas indeléveis por onde passou: Petrobrás, Museu Nacional da UFRJ, Sociedade de Arqueologia Brasileira, Instituto de Arqueologia Brasileira, Centro Brasileiro de Arqueologia, Instituto Histórico e Geográfico de Niterói, Clube de Engenharia. Incansável na luta em defesa da arqueologia no Brasil, conseguiu ver em 2007, à frente do CBA, a realização de uma de suas lutas: a instituição do Dia do Arqueólogo, a nível municipal e estadual. Deixou para serem concluídos os sonhos do reconhecimento da profissão de arqueólogo e do levantamento da história do CBA no contexto da história da arqueologia brasileira.
O prof. Octávio deixou de estar de corpo presente entre nós em 14 de fevereiro último. “Mas, como acontece com as estrelas deste nosso magnífico Universo, sua luz continuará chegando até nós no futuro por milhares, milhões de anos afora.”
A expansão do CBA através da Internet
Catherine Beltrão, desta vez, fala de como a arqueologia no Brasil está utilizando a Internet, com apresentação de slides sobre alguns sites mais importantes na área.
A Internet, ano após ano, vem sendo utilizada para a geração de conteúdo, disseminação de informações e comunicação entre pessoas, a níveis crescentes e jamais dantes imaginados. Hoje em dia, quem não utiliza a Internet em pelo menos uma dessas três formas, está fora de qualquer contexto social.
Desde 2005, por ocasião do I ELLA, o CBA dispõe de um site próprio, com gerenciamento de conteúdo, que vai sendo acrescido com o passar do tempo. Contando atualmente com álbum de fotos de sítios arqueológicos e personalidades em Arqueologia, além de pré-inscrição de associados e de notícias atualizadas diariamente, o CBA já pensa em oferecer a quem acessa o seu site um curso a distância, um fórum e uma biblioteca, contendo informações sobre livros, artigos, teses, dissertações, entrevistas e depoimentos na área de Arqueologia. O site do CBA também deverá abrigar o projeto FOSSIL, visando catalogar de forma virtual o acervo dos sítios arqueológicos do estado do Rio de Janeiro.
As mais recentes descobertas arqueológicas no Estado do Rio de Janeiro
No início da década de 90, a arqueóloga Nanci Vieira de Oliveira, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), tentava encontrar sinais de aldeias Tupinambás e da prática de antropofagia na região da Costa Verde, mas acabou descobrindo, em Piraquara de Fora, enseada na entrada da baía da Ribeira, em Angra dos Reis, vestígios arqueológicos referentes a indígenas que habitaram a região antes da colonização portuguesa. O sítio está localizado em terreno pertencente à Eletronuclear, que o transformará em museu e o abrirá à visitação pública até o fim deste ano. Nanci coordena as pesquisas, em parceria com o Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com a participação de um grupo de 35 alunos do ensino médio de escolas da região, entre eles, onze índios da aldeia de Bracuhy, como parte do Projeto Jovens Talentos do CECIERJ/FAPERJ. Até o fim de 2008, o sítio-museu deverá ser aberto à visitação pública, onde será possível, por meio de trilhas arqueológicas, redescobrir o passado, segundo a professora Nanci V. Oliveira.
Novas descobertas arqueológicas no Estado do Rio de Janeiro surgem com os estudos realizados por Alfredo José Altamirano em Cabo Frio. Esse pesquisador solicitou parecer técnico ao CBA sobre o objeto de suas pesquisas, no sentido de determinar sua possível origem arqueológica. Para Altamirano uma área do litoral de Búzios onde ocorre rocha com formas denominadas morcego, coruja e cobra, além de pedras sulcadas, seria um centro de religiosidade dos antigos habitantes construtores de sambaquis.
O Instituto de Arqueologia Brasileira-IAB, dirigido por Ondemar Dias, vem realizando intensas pesquisas no campo da Arqueologia Histórica e desenvolvendo uma série de pesquisas em antigos engenhos do recôncavo da Guanabara, em especial na área da cidade do Rio de Janeiro, em cooperação com o antigo Departamento de Cultura (engenho do Viegas, Conceição da Pavuna, Cemitério dos Pretos Novos, Catedral da Antiga Sé e outros).
Novas datações absolutas então em andamento, com destaque para os arenitos da Praia de Jaconé, provável área fonte dos artefatos de rocha arenítica encontrados pelo prof. Benedicto Francisco nos sambaquis de Saquarema, durante o desenvolvimento do Projeto Saquarema, coordenado por Lina M..Kneip. Destaque para as novas datações absolutas realizadas por Lúcia Guerra, usando uma nova metodologia em sambaquis do fundo da baia da Guanabara e no litoral de Sepetiba.
Benedicto Francisco informa que o Departamento de Identificação e Documentação do IPHAN vem desenvolvendo um projeto de formação de banco de dados de todos os sítios arqueológicos do Brasil. Através do Sistema de Gerenciamento de Patrimônio Arqueológico-SGPA, será possível acessar toda e qualquer informação acerca do patrimônio arqueológico brasileiro. O banco de dados inclui fichas relativas aos sítios arqueológicos e suas propriedades tais como localização, dados relativos ao meio ambiente circundante, informações sobre as pesquisas anteriores realizadas, documentação relativa aos sítios tais como relatórios de pesquisa, projetos de pesquisa, fotografias, desenhos, mapas, croquis e descrição minuciosa do sítio que engloba desde o tipo de sítio, tipo de solo, material encontrado até o seu estado de conservação. O acesso ao banco de dados ainda está em desenvolvimento e sua conclusão permitirá não só maior agilidade do trabalho dos arqueólogos em seus levantamentos, mas possibilitará que o IPHAN atue efetivamente na preservação de nosso patrimônio.


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