Talvez
o maior mérito de Pablo Picasso (1881 - 1973) tenha sido explorar o feio, apresentando-o,
quem sabe, como belo. Salvador Dalí, em seu Libelo
Contra a Arte Moderna destaca essa característica sem se referir a Picasso,
mas ao Modernismo de forma geral. E, sem dúvida, Picasso é o maior esteta do
feio. Sua obra é niilista. Desconstrói , destrói, abrindo espaço para novos
caminhos na arte. É um projeto artístico arriscado, o qual Picasso abraçou com
o ardor do gênio que era. Com efeito, ele por vezes consegue transformar o feio
em belo ou, quando não, ao menos acomoda a estética do feio ao imaginário do
observador. Dessa forma, expandiu as fronteiras da arte como poucos antes
dele o fizeram. Machista, ególatra, um tanto selvagem, Picasso foi um explorador
que se recriou na medida em que evoluiu. Das primeiras pinturas calcadas no
Realismo da década de 1890 à co-invenção do Cubismo nos anos 1920, das colagens
às pinturas de cunho político do pós-guerra, das gravuras e cerâmicas às
esculturas, Picasso deu vasão à sua elétrica inquietação, à qual a arte tanto deve.
Durante
a ocupação nazista de Paris, na Segunda Guerra, oficiais alemães iam com frequência
ao seu estúdio para confiscar algumas das suas obras. Numa dessa ocasiões, o
oficial que avaliava os diversos quadros e esculturas deparou-se com Guernica, obra pintada em 1937 que
representa o bombardeio alemão da cidade do mesmo nome, durante a Guerra Civil
Espanhola. O oficial perguntou a Picasso, num tom jocoso que denunciava sua
desaprovação àquele quadro feio, se tinha sido ele que fez aquilo. “Não”,
respondeu Picasso. “Foram vocês”. De fato, a intenção de Picasso nesse quadro é
retratar o drama e a carnificina perpetrada pelos nazistas em Guernica - um prelúdio à Segunda Guerra. É um quadro cheio de som e de fúria.
Retrata de forma pungente e emocionante a crueldade, a dor, a angústia, a covardia e a insensatez que é a
guerra . É grotesco. Grotescamente belo.
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