Outubro 2008
Tamboril, urubus e perdas
Em outubro de 2008 sofremos perdas importantes de bezerros, provocadas por planta tóxica e predador. Pensamos que haveria interesse em divulgar os motivos dessa ocorrência.
Registramos 3 abortos, 5 natimortos e 3 prematuros que não sobreviveram. A taxa de perda, da prenhez ao nascimento, que normalmente é da ordem de 3%, foi duplicada.
As condições do tempo em nossa região foram muito adversas ao longo do ano agropecuário 20007/08. Nossas observações indicam que no período out-dez, início das águas, acumulada média é de 476mm. No ano em foco foi de apenas 284mm, prejudicando o crescimento das pastagens; no período jan-mar, fim das águas, a precipitação acumulada foi de 775mm, próxima da média de 789mm, mas as pastagens não conseguiram se recuperar satisfatoriamente; em abr-jun e jul-set, período normal de seca, as precipitações acumuladas foram de 134mm, muito inferiores á média de 239mm. Esse comportamento das chuvas resultou péssimas condições das pastagens. Em conseqüência, mesmo suplementado com cana picada, o gado passou por restrição alimentar muito severa que o levou a ingerir alimentos normalmente rejeitados.
Na Bacuri, ao longo dos últimos 20 anos não tivemos problemas com plantas tóxicas. Foi uma desagradável surpresa a ocorrência de abortos, natimortos e prematuros no lote de matrizes que estavam no pasto onde se encontra a belíssima árvore acima, cujos frutos já tínhamos ouvido dizer que eram tóxicos mas nunca haviam provocado problemas na fazenda.
Não houve perdas anormais nos lotes de vacas que estavam em outros pastos, onde não havia árvores de Tamboril. O rebanho da Bacuri está livre de brucelose desde o início da seleção; as vacas afetadas foram examinadas e estavam todas negativas. Tudo indica, portanto, que a causa das perdas realmente foi a ingestão das favas de Tamboril. A solução, cara, mas eficaz, foi cercar cuidadosamente a árvore, para impedir os animais de ingerir suas folhas e principalmente seus frutos. Preservar é preciso. Entretanto, esse procedimento seria economicamente inviável se houvesse muitas árvores dessa espécie na fazenda.
Na Bacuri, urubus convivem com bovinos e normalmente não são predadores, alimentando-se de placentas, excrementos de bezerros novos e eventualmente de animais mortos, ainda não enterrados. Acredita-se que os urubus, com seus hábitos alimentares normais, realizam tarefa sanitária importante.
Nos últimos anos, a população de urubus parece estar crescendo muito e essa convivência está se tornando menos pacífica. As vacas Nelore são muito cuidadosas com suas crias, sabem defendê-las, mas os urubus estão se tornando agressivos. Tornou-se comum ver 10, 20, 30 em torno de uma vaca durante e após o parto.
A rápida redução do rebanho na região de Barretos, associada à expansão da cana de açúcar, é provavelmente uma das causas dessa mudança. Além dessa, com origem no meio rural, tudo indica que outra causa, com origem no meio urbano, está se tornando mais importante: o aumento dos lixões, que estão se tornando criadouros de urubus. Qualquer mudança no manejo dos lixões pode significar fome para centenas, talvez milhares de urubus, que então lutam para se alimentar nas fazendas de criação. Tornam-se predadores.
Isso parece ter ocorrido, em novembro-dezembro de 2008, quando a Bacuri perdeu 5 bezerros e uma vaca (em trabalho de parto) por ataque de urubus. Essas aves, protegidas pela legislação, foram responsáveis pela duplicação da taxa de perdas do nascimento à desmama.
Em economês, está caracterizada uma externalidade negativa atuando sobre a pecuária. Um criador não tem como se compensar do prejuízo que lhe é imposto pelos moradores da zona urbana, que produzem lixo, e pela autoridade municipal, que não lhe dá o devido tratamento.
Tamboril, urubus e perdas
Em outubro de 2008 sofremos perdas importantes de bezerros, provocadas por planta tóxica e predador. Pensamos que haveria interesse em divulgar os motivos dessa ocorrência.
Registramos 3 abortos, 5 natimortos e 3 prematuros que não sobreviveram. A taxa de perda, da prenhez ao nascimento, que normalmente é da ordem de 3%, foi duplicada.
As condições do tempo em nossa região foram muito adversas ao longo do ano agropecuário 20007/08. Nossas observações indicam que no período out-dez, início das águas, acumulada média é de 476mm. No ano em foco foi de apenas 284mm, prejudicando o crescimento das pastagens; no período jan-mar, fim das águas, a precipitação acumulada foi de 775mm, próxima da média de 789mm, mas as pastagens não conseguiram se recuperar satisfatoriamente; em abr-jun e jul-set, período normal de seca, as precipitações acumuladas foram de 134mm, muito inferiores á média de 239mm. Esse comportamento das chuvas resultou péssimas condições das pastagens. Em conseqüência, mesmo suplementado com cana picada, o gado passou por restrição alimentar muito severa que o levou a ingerir alimentos normalmente rejeitados.
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| Tamboril ou Orelha de macaco - Enterolobium contortisiliquum no pasto 7. |
Na Bacuri, ao longo dos últimos 20 anos não tivemos problemas com plantas tóxicas. Foi uma desagradável surpresa a ocorrência de abortos, natimortos e prematuros no lote de matrizes que estavam no pasto onde se encontra a belíssima árvore acima, cujos frutos já tínhamos ouvido dizer que eram tóxicos mas nunca haviam provocado problemas na fazenda.
Não houve perdas anormais nos lotes de vacas que estavam em outros pastos, onde não havia árvores de Tamboril. O rebanho da Bacuri está livre de brucelose desde o início da seleção; as vacas afetadas foram examinadas e estavam todas negativas. Tudo indica, portanto, que a causa das perdas realmente foi a ingestão das favas de Tamboril. A solução, cara, mas eficaz, foi cercar cuidadosamente a árvore, para impedir os animais de ingerir suas folhas e principalmente seus frutos. Preservar é preciso. Entretanto, esse procedimento seria economicamente inviável se houvesse muitas árvores dessa espécie na fazenda.
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| Tamboril ou Orelha de macaco - Enterolobium contortisiliquum - frutos, muitos parcialmente comidos. |
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| Tamboril ou Orelha de macaco - Enterolobium contortisiliquum - folhas e frutos inteiros. |
Na Bacuri, urubus convivem com bovinos e normalmente não são predadores, alimentando-se de placentas, excrementos de bezerros novos e eventualmente de animais mortos, ainda não enterrados. Acredita-se que os urubus, com seus hábitos alimentares normais, realizam tarefa sanitária importante.
Nos últimos anos, a população de urubus parece estar crescendo muito e essa convivência está se tornando menos pacífica. As vacas Nelore são muito cuidadosas com suas crias, sabem defendê-las, mas os urubus estão se tornando agressivos. Tornou-se comum ver 10, 20, 30 em torno de uma vaca durante e após o parto.
A rápida redução do rebanho na região de Barretos, associada à expansão da cana de açúcar, é provavelmente uma das causas dessa mudança. Além dessa, com origem no meio rural, tudo indica que outra causa, com origem no meio urbano, está se tornando mais importante: o aumento dos lixões, que estão se tornando criadouros de urubus. Qualquer mudança no manejo dos lixões pode significar fome para centenas, talvez milhares de urubus, que então lutam para se alimentar nas fazendas de criação. Tornam-se predadores.
Isso parece ter ocorrido, em novembro-dezembro de 2008, quando a Bacuri perdeu 5 bezerros e uma vaca (em trabalho de parto) por ataque de urubus. Essas aves, protegidas pela legislação, foram responsáveis pela duplicação da taxa de perdas do nascimento à desmama.
Em economês, está caracterizada uma externalidade negativa atuando sobre a pecuária. Um criador não tem como se compensar do prejuízo que lhe é imposto pelos moradores da zona urbana, que produzem lixo, e pela autoridade municipal, que não lhe dá o devido tratamento.
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| Incontáveis urubus pousados na Farinha Seca e no chão. |
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| Bezerros recém nascidos predados por urubus. |