Piada para morrer de rir. Ou não.

“Goleiro Bruno na cadeia: nunca um ídolo do Flamengo esteve tão próximo de sua torcida!”
“Quando me referir ao Flamengo, digo “o time do Flamengo” ou “a guangue do Flamengo”?”
“As mulheres dizem que Cristiano Ronaldo e Kaká são lindos de morrer. Elas precisam conhecer o goleiro Bruno. Ele é de matar.”
“Poderiam ter levado para a Copa o goleiro Bruno, estaríamos sossegados nesta fase do mata-mata.”
“Do sonho do goleiro Bruno de ir para a Itália só restou o Macarrão.”
“Flamengo deverá demitir o goleiro Bruno por justa causa.”
“O Goleiro Bruno abandonou o futebol e jogará Vôlei e Basquete. Afinal, ele prefere cortar e enterrar.”
“Qual a diferença entre Loco Abreu e o goleiro Bruno ? O Loco Abreu cava e o Bruno enterra.”
“A diferença entre o Bruno e o Ronaldo é que o que não mata, engorda.”
“Bruno acabou de assinar contrato de 30 anos com o Bangu”.
“O goleiro Bruno nem vai precisar de advogado. Ele mesmo vai fazer a defesa.”

Essas são algumas ‘piadinhas’ espalhadas pelo Twitter sobre o caso do goleiro Bruno. Alguns têm torcido o nariz para esse tipo de atitude, alegando, dentre outras justificativas, o mau gosto e a falta de sensibilidade diante da crueldade com a qual o fato foi consumado. Discordo.

Primeiro porque o humor faz parte da vida, do cotidiano, e se alimenta (muitas vezes) do lado negativo das coisas. É só prestar atenção nas piadas. As melhores Muitas caçoam de ceguinhos, gagos, fanhos, deficientes, políticos, portugueses, etc. Os shows de stand up se caracterizam pela “tiração” de sarro sobre todos os tipos de situações: de uma simples gafe à morte de alguém.

Aí podem dizer: “É, mas tudo tem limite”, “Mas isso é piada de mau gosto”, “Se fosse sobre você, não gostaria”. Ok, tudo bem. Só que, no meu entendimento, essas piadas não colocam em cheque a reputação da ex-amante morta, não maculam a imagem dela, nem fazem pouco caso de sua morte. Pelo contrário, essas piadinhas, mesmo que de uma forma irônica, revelam a indignação da população. A maioria delas se referem e citam exclusivamente o goleiro Bruno, denegrindo, aí sim, a sua imagem. Basta ver as que eu citei acima.

Desta forma, prefiro encarar essas “piadinhas” como mais uma forma de punição ao suposto assassino. Mais uma forma dele se sentir mal pelo ato que cometeu. Mais uma forma de denegrir sua reputação. Mais uma forma da população expressar sua revolta. Mais uma forma de condenar esse ato hediondo, e, quem sabe, até servir como alerta para quem um dia pensar em cometer algo parecido, pois saberá que será motivo de chacota e humilhação nas redes sociais.

Por fim, compreendo os que tomam as dores dos familiares da moça e encaram como ofensa esse tipo de piada. Isso pode ser explicado, de certa forma, pela cultura do povo brasileiro e a sua forma de encarar o humor. Danilo Gentili já falou sobre isso nesse brilhante texto. E pegando o gancho no pensamento de Gentili, lembro do caso O.J. Simpson, repercutido nos anos 1990, quando o jogador de futebol americano matou de forma cruel sua ex-esposa. Na época, o caso teve tiradas sarcásticas em programas de TV americanos, filmes e séries. Tudo depende das lentes com as quais se vê o mundo.

5 pensamentos sobre “Piada para morrer de rir. Ou não.

  1. Sabe o que cansa nessa discussão? Os comendiantes, especialmente os de stand up comedy sempre procuram o caminho mais simples e baixo para fazer rir. Porque fazer uma boa piada, com graça, uma piada inesquecível que será lembrada por muito tempo precisa de cérebro.
    As piadas mais engraçadas são mesmo aquelas que denigrem os ceguinhos, os deficientes, as mulheres, os portugueses? Não há outra forma de fazer boas piadas? O Monthy Pyton não vem há anos criando ótimas piadas com fortes críticas sem apelar para idiotices sem cérebro? Há diversos comediantes que riem da estupidez humana sem pisar naqueles que são diferentes, mostrando o quanto somos bobos.

    É muito fácil fazer trocadilhos com o caso do assassinato de Eliza Samudio porque ela é uma mulher que foi morta de uma forma absurdamente cruel em troca de nada.

    E quando fazemos piadas sobre assasinatos não estamos sacaneando o Bruno, estamos banalizando o mal, estamos fazendo trocadilhos e rindo de um caso de assassinato brutal. Porque tudo é passível de risada, porque para rir não é necessário pensar, não é necessário ter coragem para exigir justiça.

  2. Mas héin?

    Acho que alguém faltou na aula de interpretação de texto na escola. ironia não é isso, fofo. Me mostra onde é que as piadas citadas no começo do teu post denotam indignação. Onde é que há indignação num trocadilho com as palavras “cortar e enterrar” o o vôlei? Por favor, né. Não força.

    Nãohá indignação nenhuma aí. É apenas deboche. Porque todo mundo quer ser engraçadinho e sarcástico no twitter. E o seu post aí é só uma maneira de se desculpar. De dizer: “ah, mas eu quero rir sem culpa, poxa”.

    Ria. Tem toda uma multidão sendo boba e rindo junto com você. Mas isso não muda o fato de que, por considerar que uma moça esquartejada e morta seja material para qualquer tipo de humor, vocês já estão se demonstrando extremamente insensíveis e imbecis.

  3. E, né? Uma pessoa que ache o Danilo Gentili brilhante tá precisando seriamente de melhores referências em humor.

  4. Calma gente, só quis manifestar uma opinião minha, pessoal. Tanto que escrevi o texto em primeira pessoa e usei termos como “no meu entendimento”, “(eu) prefiro encarar”, “compreendo”, etc. Não quis que isso se tornasse uma verdade absoluta. Posso mesmo ter exagerado e cometido alguns equívocos, como até já corrigi. E vocês tem todo o direito de discordar. Mas também tenho o direito de me defender de alguns argumentos. Vamos lá:
    1) “quando fazemos piadas sobre assassinatos não estamos sacaneando o Bruno, estamos banalizando o mal, estamos fazendo trocadilhos e rindo de um caso de assassinato brutal”. – Justamente como eu falei ao final do texto, tudo depende das lentes com as quais se enxergam as coisas…

    2) “porque para rir não é necessário pensar”. – Não acho que é bem assim. Realmente, na comédia estilo pastelão, em que um palhaço joga a torta na cara de outro, não é necessário pensar para rir. Mas a boa piada exige sim uma reflexão para compreensão, motivando o riso. Não encaixo as piadas do “caso Bruno” no “humor pastelão”, muito menos no “humor refinado”, mas entendo que elas, no mínimo, exigem uma compreensão da situação.

    3) “q post mais equivocado. piada ñ revela indignação da população. piada é piada. é pra achar graça, pra rir, pra debochar”(crítica retirada do Twitter). – Não sou dos que valorizam a visão míope, de só enxergar o que está na cara. Não podemos ignorar os pressupostos e subentendidos. Quem pensa que piada é só para rir não deve ser apresentado a uma charge. Sei que piada não é o mesmo que charge. Da mesma forma que existem classificações para o humor em desenho (charge, cartoon, caricatura), existem classificações para o humor em texto (piada, anedota, adivinhações, e essa que vou chamar de “tiradas do cotidiano”). Essas “tiradas do cotidiano” se assemelham ao estilo das charges. As charges são desenhos caricaturizados que utilizam o humor para expressar uma crítica político-social e satirizar um fato específico e atual de conhecimento público. Charge é ironia, charge é exagero, charge é humor, e charge também é crítica. Por que não enxergar um pouco disso nas “tiradas do cotidiano” ? Não acho isso tão absurdo.

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