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Pessimistas 9 x 2 Otimistas

Postado por: Henrique Rojas

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Brilha, Pacheco!

A Copa está aí. Faltam 8 dias para o início do maior torneio de futebol do Mundo e, ao contrário do que acontece no segundo deles – a Champions –, nós estaremos lá. Aliás, estaremos aqui. E somos favoritos!

Para melhorar, motivos para esse otimismo todo não faltam: o grupo está fechado faz algum tempo (e são poucas as contestações), nosso treinador já ganhou um Mundial, vencemos a Copa das Confederações de maneira incontestável no ano passado e, sim, jogamos em casa.

Não que esteja tudo perfeito (nunca está) e o título seja certo (nunca é), mas, convenhamos, está tudo bem tranquilo, graças aos deuses da bola.

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Deixa com o papai, fera 😉

Só que enquanto eu e você estamos indo rumo aos estádios superfaturados cheios de confiança, alguns anciãos estão vindo na contramão, batendo o cajado do apocalipse na grama e dizendo que #VaiTerCopa, mas que #VaiDarRuim.

Só pra citar alguns nomes famosos, já ouvi José Trajano, Antero Greco e Mauro Cézar Pereira falando que temem esta calmaria toda. Que quando está assim é estranho, que nunca dá certo… e repertório eles têm.

Eu, sinceramente, quero dar um chute a lá Roberto Carlos na boca deles e dizer que isso é besteira. Mas, analisando a história das Copas mais emblemáticas que disputamos, me obrigo a dizer, totalmente a contragosto, que eles têm razão. Malditos.

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Foi esse cara que começou a zoeira sem limites

Comecemos por 1950. Aliás, somente passemos por lá. O assunto é tão incômodo e óbvio que nem vou me estender: 1 a 0 para os pessimistas, gol dele, Ghiggia.

Em 1958 permanecíamos com aquele complexo de cachorro vira-latas. A derrota em casa ainda era dolorida, o fracasso de 1954 era recente e Pelé ainda não era um conhecido e tarimbado craque. No entanto, fomos até a Suécia e sapecamos todo mundo – ajudando na tese de que tudo funciona melhor quando estamos desconfiados: 2×0.

Já em 1962, o papo foi outro. Éramos os melhores do mundo, a Copa foi no vizinho Chile e, apesar da lesão de Pelé (que, aí sim, já era Pelé), confirmamos o favoritismo com um baile de Garrincha e Amarildo. Ponto para os inabaláveis otimistas, que descontam antes do final do primeiro tempo.

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Ninguém parou Garrincha (nem os otimistas)

Em 1970 tínhamos, sem dúvida, um timaço (o medo era Félix no gol). Mas, mesmo com a troca de treinador pouco antes do Mundial e com o país envolto pelo caos da ditadura, a Seleção não se abateu com o fracasso de 66, vencendo e convencendo no México. Os otimistas dançam nas arquibancadas, cantam ser o time da virada e do amor (lelelê lelelê lelelê), e empataram o duelo em 2 a 2.

Foi então que vieram dois golpes duríssimos: 1982 e 1986. São as Copas mais tristes que o Brasil já viveu, tamanha qualidade e má sorte (com uma pitada de incompetência) dos escretes que foram a campo. Pessimistas nadaram de braçada nessa e abriram dois tentos de diferença.

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Deu ruim

1990 era uma Copa pessimistas para todos. Depois de dois fracassos seguidos, com duas equipes da melhor qualidade, nem tinha como ser otimista com Lazaroni. Essa não vai pra ninguém.

Em 1994 mais uma vitória dos pessimistas. Mesmo classificados na repescagem sul-americana diante do Uruguai, com Parreira contestado e Mazinho na vaga de Raí logo no segundo jogo, voltamos com o Tetra.

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Comemora mesmo, Dunga: a gente não acreditava em vocês

Pessimistas 5, Otimistas 2. Tá virando goleada.

Em 1998, mais uma vez, o otimismo estava de pé. Ronaldo era o melhor do mundo, time voando baixo, um campeonato praticamente perfeito até a final e… falhamos. Assim como em 86, caímos para a França, com direito a convulsão e Zidanadas. Meia dúzia pra eles.

Quatro anos depois, veio o sétimo tento dos pessimistas. Mesmo com Felipão chamado às pressas, vitórias sofridas no final das Eliminatórias e uma sonora derrota pra Honduras na Copa América dois anos antes, vencemos! Era o Penta na Ásia, contra todas as expectativas: 7 a 2.

E como sempre acontece quando ganhamos a última edição, chegamos a Copa de 2006 ainda mais confiantes. Era o tal do “Quadrado Mágico” dando resultado em todos os torneios, era Ronaldinho Gaúcho voando baixo e nada tiraria o Hexa da gente. Exceto uma meia ajeitada dentro da área e outro cambal sofrido para os franceses.

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Trio Parada Dura

Já 2010 foi uma coisa meio antagônica: enquanto o time ganhava tudo o que disputava dentro de campo (alimentando os otimistas), Dunga conseguia reunir o ódio da imprensa e dos pessimistas. E no quem é que sobe, trombamos com o Felipe Melo e deu Holanda, amigo. Haja coração partido e 9 a 2 no placar.

Ou seja: no frigir dos ovos, chegamos a 2014 com goleada histórica: 9 a 2 pra turma do “vai dar merda”. O que pode até não dizer nada, mas indiscutivelmente deixa aquele climinha (merda) no ar.

Minha esperança é que o futebol é uma caixinha de surpresas, que nossos jogadores vão dar 110% e, se Deus quiser, sairemos do Maracanã dia 13 de julho com os três pontos. E a taça na mão. Vira esse jogo, Brasil!

Sobre timing e posicionamento

Postado por: Marcos Abrucio

No futebol, timing é tudo, já ensinava o mestre Romário. Como ninguém, ele parecia estar sempre na hora certa, no lugar certo.

Timing que parece ter faltado a jogadores que brilharam em seus clubes, mas que quando chegava a Copa, alguma coisa desandava com eles. O resto do time não era bom, contusões atrapalhavam, a sorte desaparecia na hora H. Resultado: Puskas, Di Stefano e Zico não foram campeões do mundo.

Mas o Anderson Polga, sim.

Zico, zica.

Zico, zica.

Pior é o caso do Zé Roberto. Lateral-esquerdo da Portuguesa vice-campeã brasileira de 1996, foi para o meio de campo na Alemanha, onde jogou no Bayer Leverkusen, Bayern de Munique e Hamburgo.

Na Copa de 98, era reserva de Roberto Carlos – vice-campeão mais uma vez. Em 2006, vivia a melhor fase da carreira. Foi disparado o melhor jogador brasileiro na Copa da Alemanha. Só que mais uma vez a França nos mandou de volta para o aeroporto.

Entre as duas Copas, a de 2002: vitória brasileira, Família Scolari, show de Ronaldo e Rivaldo, olha o Denílson contra a Turquia!, olha o Olodum tocando, ah, que beleza, ah, que saudade… Mas Zé Roberto não foi convocado.

Belletti, Gilberto Silva, Kléberson e Vampeta, sim.

Foi mal, Zé.

Désolé, Zé.

***

A Copa de 2014 no Brasil seria mais um exemplo de falta de timing?

Quem gosta de futebol sempre quis ver uma Copa em casa. E logo agora que ela chegou, putz, o clima tá tenso. Protestos, greves, raiva, indignação coletiva — tudo ao mesmo tempo, fazendo quem quer ver a bola rolar se sentir até culpado.

Como disse no post anterior, tudo isso é legítimo. O que não falta no Brasil é motivo para ficar puto e ir para a rua (® Fiat). Também não acho errado aproveitarem justo essa época para protestar. Faz todo sentido gritar quando todo mundo tá olhando, ora essa. Na África do Sul já foi assim.

Se a Copa (ou melhor, a organização incompetente e corrupta da Copa, por parte do comitê organizador, Fifa, CBF, Governos Federal, Estaduais e Municipais) foi o estopim para a galera se coçar, beleza, azar o dela. Antes agora do que nunca.

Outra coisa: será que teríamos feito tudo diferente em outras épocas? Não teríamos superfaturado, desviado, procrastinado? Será que governos anteriores teriam aberto mão do Mundial frente às exigências da FIFA? Não teriam financiado estádios privados?

Duvido.

Estádios incompletos.

Estádios incompletos.

Em 1950, houve atrasos, gambiarras e dinheiro público derramado à vontade – e ninguém se importou muito com isso. A culpa foi só do Barbosa.

Assim, Copa atual não chegou em hora errada, pelo contrário. Dessa vez, nossa reação foi diferente, indignada com o que houve de errado. Sinal de que o país amadureceu.

***

Outra prova de amadurecimento, dessa vez de cada um de nós, seria conseguirmos diferenciar as coisas.

De um lado, está a vontade de protestar e acabar com tudo que o Brasil tem de errado, injusto, e cruel. Do outro, a paixão pelo futebol e a vontade de torcer pela seleção. Acredite: uma coisa não briga com a outra.

De novo: protestar é legítimo e necessário. E ninguém é obrigado a gostar de futebol, muito menos a torcer pela seleção. Torce quem quer, pra quem quiser. E não faltam motivos para torcer contra.

Mas o cidadão que comprou aquela TV de 95 polegadas nas Casas Bahia porque gosta de futebol, gosta da Copa e gosta do time brasileiro (e tem bastante espaço na sala) não precisa ficar com vergonha. Ele pode torcer pela seleção e ao mesmo tempo reivindicar um país melhor para ela.

Pode parecer difícil achar uma posição entre o oba-oba acrítico e a vontade de arrancar o escalpo do Neymar . Mas já fizemos isso antes.

Uma das épocas mais tristes da história do Brasil.

Tostão em uma das épocas mais tristes da história do Brasil.

Em uma das fases mais críticas da ditadura, fizemos festa para cada um dos 19 gols da seleção de 70. Não porque erámos todos alienados hipócritas. Mas porque sabíamos que uma derrota daquele time não iria soltar ninguém das masmorras.

Eram coisas diferentes.

E olha que o Brasil de junho de 1970 era muito pior do que o de junho de 2014. A tortura e a censura eram corriqueiras, a saúde e a educação eram (ainda) mais precárias e a liberdade era artigo em falta no mercado — não queira se imaginar indo para a rua (® Fiat) naqueles tempos.

Isso não quer dizer que não havia um conflito interno entre os brasileiros. Até entre os jogadores. Para variar, Tostão escreveu um lindo texto sobre aquela Copa. Aí vai um teco:

“Pensei em não ir a Brasília, onde a seleção seria recebida pelo ditador Médici, como protesto. Refleti, racionalizei e achei que deveria ir, pelo compromisso com a seleção, com os companheiros, que deveria separar a política do esporte (…). Freud gostava de repetir uma frase de Shakespeare: ‘A consciência nos faz todos covardes’, no sentido de ser racional, prudente, ético, justo e social. Por outro lado, deixamos, com frequência, de lutar por nossos profundos e verdadeiros desejos, nem sempre compatíveis com nossos deveres sociais.”

Que bom que hoje a gente tem mais liberdade para gritar e ser ouvido. Vamos fazer isso! Mas, ao mesmo tempo. como escreveu o Antônio Prata no último domingo, deixar de curtir a Copa aqui “só deixará sua vida mais chata.”.

Vai-ter-copa-ou-não

***

É possível ser crítico à organização da Copa e ao mesmo tempo curtir o que essa época tem de mais emocionante.

É possível protestar no feice contra os elefantes brancos espalhados pelo Brasil e ao mesmo tempo comprar as figurinhas do Mundial.

E é possível conseguir separar uma vitória sensacional ou uma derrota acachapante da seleção do numerozinho que se vai digitar nas urnas em outubro. Isso sim, seria uma prova de maturidade.

Aposto que vamos conseguir fazer isso. E tomara que eu seja tão preciso nessa aposta quanto ele era dentro da área:

44 anos depois, uma tarde no Azteca

Postado por: Henrique Rojas

41 minutos do segundo tempo. Tostão rouba uma bola na esquerda e recua para Piazza. Piazza toca para Clodoaldo que, cercado, toca para Pelé. Pelé para Gérson, Gérson para Clodoaldo, que deixa quatro zagueiros pra trás e passa para Rivellino. De Riva para Jairzinho, deste novamente para Pelé e, em uma rolada de bola açucarada, Carlos Alberto manda um foguete no canto do goleiro Albertosi.

Deste gol todo mundo se lembra. Do resultado, então, ninguém vai conseguir se esquecer nunca: Brasil, primeiro tricampeão do mundo, 4, Itália, “só” bi, 1. Mas uma da slembranças mais incríveis diz respeito ao palco deste jogo, o Estádio Azteca.

Inaugurado em 1966 para abrigar jogos das Olimpíadas de 1968, o Azteca se consolidou mesmo em Copas do Mundo. Sediou as finais dos mundiais de 70 e 86 (quando a Colômbia teve que desistir de sediá-lo) e, desde então, o gigante com 105 mil lugares se tornou um ícone do esporte.

Eu, do alto dos meus 28 anos, não pude ver nenhum destes jogos nem in loco nem ao vivo pela TV. Mas, felizmente, 44 anos depois do gol que encantou o mundo, posso dizer que pisei no solo sagrado do Coloso de Santa Úrsula.

Eu, o Azteca e minha Corona

Eu, o Azteca e minha Corona

Foi no sábado passado, clássico local entre América e Pumas. O resultado final foi 3×1 para os visitantes universtarios, mas, sendo sincero, o placar importa pouco – ou quase nada – para quem foi lá pelo espetáculo.

A verdade é que o Estádio Azteca tem alma. E você a sente a quilômetros de distância, quando avista aquele gigante no horizonte, e se depara com os milhares de torcedores que cantam em direção a ele. Quando pisa lá dentro, então, é de arrepiar até os poucos fios de cabelo do Canhotinha de Ouro.

Festa dos 25 mil visitantes

Festa dos 25 mil visitantes

As rampas de acesso aos lugares chegam a três andares seguidos e suas cadeiras são bem mais apertadas do que manda o “Padrão Fifa”. As torcidas organizadas ficam separadas em cantos opostos, mas, no geral, todos assistem aos jogos misturados. A  lá Estados Unidos, a cerveja é liberada somente meia hora antes do jogo e existem brincadeiras tanto dentro de campo quanto nos telões – exatamente como na NBA.

Mas, como um todo, a atmosfera e o clima são latinos. E embora bastante reformado e modernizado em relação a sua estreia na década de 60, adentrar o Azteca é como se automaticamente aquele monte de cimento te contasse tantos anos de história em alto e bom som.

Mesmo que seja só por 90 minutos. Mesmo em um jogo pelo Campeonato Mexicano. Imagina na Copa!

O gigante 2h antes da partida

O gigante 2h antes da partida

F-Copa

Postado por: Marcos Abrucio

Engana-se quem acha que na vida existem coisas importantes e coisas desimportantes. Não, senhor. Existem também as Coisas Realmente Importantes (CRI).

E uma dessas CRIs está prestes a dar as caras em 2012. Estou falando da Fórmula 1, óbvio.

O que não é tão óbvio assim é um jeito decente de falar de Formula 1 aqui, em um blog sobre futebol e, mais especificamente, sobre a Copa do Mundo. Não tem nada a ver.

Por outro lado, a próxima Copa ainda está longe (pelo menos é o que esperam os pedreiros dos estádios) e não dá para comentar muito sobre uma seleção que sua para ganhar no último minuto da Bósnia. Enquanto isso, a crise de abstinência para ver uma corridinha depois de meses de espera vai, finalmente, acabar nesta semana.

Sendo assim, vamos fazer um esforço. Com um pouquinho de boa vontade, dá para enxergar uma relação entre a categoria principal do automobilismo e o momento mais importante do futebol.

Podemos imaginar, por exemplo, que campeões de F-1 seriam os campeões mundiais de futebol. Hã? Hã? Que tal? Fraco? Bom, tarde demais.

***

Começando pelo Brasil, pentacampeão mundial. Que campeão de F-1 seria equivalente a ele? Fácil, o que tem mais títulos: Michael Schumacher, feliz proprietário de sete canecos.

Ééééééé... do Brasil! Do Brasil?

O piloto alemão é uma belíssima escolha para melhor de todos os tempos. Assim como a seleção brasileira, que no imaginário mundial se tornou sinônimo de futebol bonito, em especial pelo desempenho fantástico nas Copas de 58, 62 e 70.

Schumi também empilhou atuações de gala em sua carreira interminável. Entre suas 91 vitórias (!), muitas são inesquecíveis. Como a do Grande Prémio da Bélgica de 1995, quando largou em 16o. e passou todo mundo embaixo de chuva, mesmo com pneus para pista seca em boa parte do tempo. Um baile.

Há quem reclame que Schumacher só ganhou tantos títulos porque teve a sorte de, no começo dos anos 2000, sentar no melhor carro (Ferrari), com o apoio do melhor projetista da época (Rory Byrne) e de um dos melhores estrategista da história da F-1 (Ross Brawn). Sacanagem, né?

Mas o Brasil também não teve a sorte de poder escalar no mesmo time Pelé, Garrincha, Didi e Nilton Santos (em 1958) ou Pelé, Tostão, Gérson, Rivellino e Jairzinho (em 1970)? Então.

Como se esgoelaria o Galvão: Michael Schumacher é o Brasil na Formula 1!

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E a Itália, quem seria? Alain Prost. Ambos têm quatro títulos mundiais e estão, sem dúvida, no topo dos seus respectivos esportes. Tá certo que algumas vezes eles venceram sem jogar muito bonito, mas venceram.

A retranca italiana mandou para casa seleções que tinham o futebol muito mais vistoso, como a de Zico, Sócrates e Falcão, em 1982. Prost sempre foi cerebral e preciso como um bom zagueiro italiano. E também derrotou brasileiros que jogavam mais bonito: Nelson Piquet em 1986 e Ayrton Senna, em 1989.

Só que, assim como os italianos, o narigudo também sofreu com os brasileiros. Se a Azzurra perdeu as finais de 1970 e 1994 para nós, Prost levou um chapéu de Piquet em 1983 e apanhou de Senna metaforicamente em 1988 e literalmente em 1990:

O piloto francês e a seleção italiana têm muitas semelhanças. O engraçado é que quando Prost foi pilotar na Itália, ele não se deu muito bem, não. Acabou demitido da Ferrari no meio da temporada de 1991, após ter comparado o carro vermelho com um caminhão.

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Agora a Alemanha. Hmmm. Difícil, hein?

Vamos para a próxima. Depois eu volto aos germânicos.

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Que campeão de Fómula 1 seria a seleção argentina? Sob o risco de levar pedradas dos dois lados da fronteira, Senna.

Explico. Tanto a seleção portenha como o piloto brasileiro têm fãs devotos, ferrenhos e raivosos, que acham seus ídolos os melhores de todos os tempos em seus respectivos esportes (apesar da matemática jogar contra: nem a Argentina nem Senna são os que mais vezes foram campeões do mundo, mas vai falar isso para um torcedor argentino ou para um hincha sennista).

Mais: os argentinos juram que se a Segunda Guerra Mundial não tivesse impedido a realização de duas Copas, eles seriam muito mais do que bicampeões. Faz sentido. Na década de 40, o time deles era quase imbatível.

Já os sennistas sempre vão argumentar que o piloto brasileiro poderia ter ganho mais do que três títulos não fosse a Tamburello. Faz sentido. O talento de Senna era incontestável, e a gana por mais e mais vitórias, também.

E se o ponto alto da seleção argentina nas Copas foi aquela pintura do Maradona na Copa de 86, Senna também fez um golaço em que partiu lá de trás e driblou meia dúzia para chegar na rede, ops, na frente. Foi na primeira volta do GP da Europa, em Donington, em 1993:

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Imagine ser um piloto brasileiro dentro de uma escuderia inglesa ­— e que seu companheiro de time também é inglês. Ele é, naturalmente, o preferido de todos dentro do box. Imagine enfrentar esse cara (e toda a torcida contra do resto da equipe) e ainda se tornar o campeão do mundo.

Piquet fez isso em 87, na Williams, quando bateu um Nigel Mansell em ótima fase. E a seleção do Uruguai fez algo parecido em 1950. O Brasil sediava a Copa, fazia uma campanha cheia de goleadas e na final botou 200 mil torcedores no Maracanã. Perdeu para os uruguaios.

Tem brasileiro que esquece o pilotaço que Piquet foi. Três vezes campeão do mundo na década mais disputada da história da Formula 1. Talvez o melhor acertador de carros da categoria. Inventivo, estrategista, marrento, nunca ligou muito para patriotadas ­­— talvez por isso não seja, até hoje, tão popular quanto mereceria.

Por conta de terem ganho “só” duas Copas, os uruguaios também não são muito lembrados pela sua grandeza. Injusto. O princípio da história das Copas foi todo celeste: vencedores em 1930, boicotaram as edições seguintes (marrentos…) e voltaram em 1950 para serem campeões de novo. E só foram perder uma partida de Copa do Mundo nas semifinais de 1954, contra a Hungria.

Depois de décadas com times medíocres, o Uruguai voltou ao seu lugar em 2010: foi semifinalista na África do Sul. E campeão da Copa América no ano passado. Ei, o Piquet também podia voltar, né?

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E a Alemanha? Aiaiai. Passo.

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A seleção inglesa venceu a Copa do Mundo apenas uma vez, em 1966. Os pilotos ingleses costumam repetir esse roteiro. Nenhum outro pais tem tantos corredores “monocampeões”: Mike HawthornJohn SurteesJames HuntNigel MansellDamon HillLewis Hamilton e Jenson Button.

Qual desses pilotos seria equivalente à Inglaterra? Os torcedores ingleses, apaixonados por ambos os esportes, adorariam que fosse Lewis Hamilton (talentosíssimo, com muitas glórias pela frente). Mas acho que eles estão mais para Damon Hill (ganhou uma vez só e olhe lá.).

***

A França teve grandes momentos nas Copas (como em 1958, terceira colocada com Just Fontaine, ou nos anos 80, com a geração de Platini e Giresse). Mas nunca ganhava o titulo. Também teve alguns episódios lamentáveis (como cair na primeira fase em 2002 e 2010 ou levar o uniforme errado para o jogo em 1978.) E seguia sem ganhar.

Até que em 1998, liderada por Zidane, finalmente foi campeã. No fim, uma lavada em cima dos brasileiros: 3 a 0.

Nigel Mansell teve grandes momentos na Fórmula 1 (foi três vezes vice-campeão mundial nos anos 80). Mas nunca ganhava o titulo. Também teve alguns episódios lamentáveis (como bater a cabeça em uma ponte após uma vitória enquanto dava tchauzinho para a torcida ou deixar o carro morrer na última volta enquanto… dava tchauzinho para a torcida). E seguia sem ganhar.

Até que em 1992, no supercarro da Williams, finalmente foi campeão. No fim, uma lavada em cima de um brasileiro (Ayrton Senna): 108 pontos a 50.

França ————————> Mansell.

Argentina, Itália, França e Uruguai?

***

A Espanha é atual campeã do mundo de futebol. Tem jogado bonito. Tem vencido com autoridade. Tudo igual ao bicampeão Sebastian Vettel. Mas se a Fúria espanhola for mesmo o moleque da equipe do touro vermelho, aí ferrou. Isso quer dizer que a Espanha vai ganhar as 5 próximas Copas…

***

Droga, faltou a Alemanha. Quem poderia ser?

Jackie Stewart, tão tricampeão quanto? Émerson Fittipaldi, um especialista em se aproveitar do erros e dos infortúnios dos adversários, como sempre foi a pragmática seleção alemã?

Ou Jack Brabham? Ele também foi três vezes campeão, uma delas na raça: em 1959, a 500 metros da chegada da última corrida, seu carro ficou sem gasolina. O piloto australiano pulou do carro e se botou a empurrá-lo, chegando em quarto.

(Tá certo que nem precisava tanto suor: seu adversário pelo campeonato, Tony Brooks, precisava ganhar a corrida para ser campeão. E foi só o terceiro. Mas beleza, a história é boa.)

Brabham: valente feito um volante alemão (hã?).

Já sei: o também tricampeão Niki Lauda! Calculista a ponto de ser chamado de “O Computador”, seria ele o equivalente em quatro rodas do “futebol-força” alemão?

Ah, sei lá. Talvez a seleção alemã seja mais afeita a carrinhos do que a carrões.

***

Poderia continuar a brincadeira com os países que não foram campeões do mundo. A Holanda seria Gilles Villeneuve. Tanto uma como o outro encantaram fãs do esporte com exibições fantásticas. Até hoje os torcedores babam pela revolucionária seleção laranja de 1974 e pelas manobras malucas do canadense ao volante da Ferrari. Mas nem o pai do Jacques nem o time de Cruyff nunca tiveram o prazer de soltar o grito de campeão.

Quem mais? O Japão? Moleza: Satoru Nakajima. El Salvador, que levou a maior goleada das Copas? Yuji Ide. E Camarões? E a Suécia? A Tchecoslováquia?

Chega. Melhor parar por aqui. Não porque eu tenha noção do ridículo. Mas porque, ao contrario da Copa, a temporada de F-1 já vai começar.

Eba.

(Re)começo, por escrito

Postado por: Marcos Abrucio
Derby

É jogo de Copa do Mundo, amigo!

Aos poucos, devagarinho, tocando a bola sem pressa feito o Barcelona, o Copawriters vai voltando.

Além de sinalizar que, sim, estamos vivos, esse post serve também para registrar que ontem começou a Copa de 2014.

É sério. Ontem a bola rolou no primeiro jogo das eliminatórias para o Mundial do Brasil: Montserrat x Belize.

A pelada, digo, a peleja foi em campo neutro, no estádio de Malabar, em Trinidad & Tobago. Motivo: em Montserrat não tinha nenhum estádio dentro com as normas da FIFA — aparentemente, o mesmo problema enfrentado por São Paulo…

Montserrat confirmou a fama de “pior seleção do mundo” e apanhou de 5 x 2. Mas se você é um torcedor fanático desta espécie de Íbis da Concacaf, não precisa se preocupar:  domingo tem o jogo de volta, em Belmopan, capital  de Belize. Ainda dá!

***

E em homenagem ao pontapé inicial da Copa tupiniquim, colocamos aqui uma bela campanha de Renata El Dib e Thiago Bocatto para o curso “Futebol e Literatura”, da Casa do Saber.

As peças contam com (muitas) palavras e nenhuma imagem tudo que aconteceu em três fantásticos jogos de Copa do Mundo: Brasil x Itália (1970), Argentina x Inglaterra (1986) e Inglaterra x Camarões (1990).

Foram mais de 60 horas assistindo aos VTs dos jogos (pô, ninguém me chama?) e descrevendo tudo em uma enorme narrativa. O conceito da campanha (e do curso) é: “O futebol para quem gosta de ler”.

Tudo a ver com o Copawriters. E por isso mesmo, esses anúncios marcam nossa volta.

Clique para aumentar (e ler). Bom jogo!

Show de Pelé

Brasil 4 x 1 Itália (1970)

Show de Maradona

Argentina 2 x 1 Inglaterra

Show de Lineker

Inglaterra 3 x 2 Camarões

Mais futebol e propaganda juntos aqui.

Postado por: Marcos Abrucio