A ARTE ETERNA DE FRANCISCO BRENNAND


Francisco Brennand é um artista plástico multifacetado, trabalhando com várias técnicas de pintura, escultura, cerâmica, tapeçaria e desenho. Sua arte já inspirou alguns designers a criar suas coleções. A arte de Brennand, que é mais conhecido fora do Brasil do que pelos próprios brasileiros, tem valor reconhecido e de fundamental importância para o legado cultural brasileiro, possuindo uma vasta área arquitetada para dar vida ao seu museu próprio, onde estão expostos seus mais aclamados trabalhos. Descubra você também a arte desse brasileiro, e inspire suas criações.

BREVE BIOGRAFIA: 

Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand nasceu em 11 de junho de 1927, no Recife, Pernambuco. Desde cedo, seu talento é revelado na escola. Em 1945, Ariano Suassuna, então um colega de classe, o convida para ilustrar os poemas que ele publicava no Jornal Literário do colégio, por ele organizado.Após completar os estudos colegiais, Brennand teve o incentivo da família para cursar a Faculdade de Direito e suceder o pai na direção dos negócios da família. Desistiu, no entanto, e dedicou-se à carreira artística, certamente influenciado pelo convívio que tinha com os artistas Abelardo da Hora e Álvaro Amorim, dentre outros. Em 1947, recebeu o primeiro prêmio de pintura do Salão de Arte do Museu de Pernambuco, com o quadro de uma paisagem inspirada no Engenho São João. Em 1958, inaugura o mural do Aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife; e, entre 1961 e 1962, realiza uma das obras mais significativas da sua carreira: Batalha dos Guararapes, para uma agência do Banco da Lavoura de Minas Gerais, no Recife. O painel trata da expulsão dos holandeses do Brasil.Participou de várias exposições nacionais e internacionais, individuais e coletivas. Sua obra recebeu diversos prêmios, sendo o mais importante deles o Prêmio Interamericano de Cultura Gabriela Mistral, concedido pela OEA (Organização dos Estados Americanos), Washington, Estados Unidos, em 1993.

UM MUSEU A CÉU ABERTO:

A Oficina Brennand surge em 1971 nas ruínas de uma olaria do início do século XX, como materialização de um projeto obstinado e sem trégua do artista Francisco Brennand.  Antiga fábrica de tijolos e telhas herdada de seu pai, instalada nas terras do Engenho Santos Cosme e Damião, no bairro histórico da Várzea, e cercada por remanescentes da Mata Atlântica e pelas águas do Rio Capibaribe, a Cerâmica São João tornou-se fonte inspiradora e depositária da história do artista pernambucano.Lugar único no mundo, a Oficina Brennand constitui-se num conjunto arquitetônico monumental de grande originalidade, em constante processo de mutação, onde a obra se associa à arquitetura para dar forma a um universo abissal, dionisíaco, subterrâneo, obscuro, sexual e religioso.A presença do artista num trabalho contínuo de criação confere à Oficina um caráter inusitado, identificando-a como uma instituição intrinsecamente viva e com uma dinâmica que torna imprevisíveis os rumos da arquitetura e da obra.  Vejamos algumas imagens.

ENTREVISTA COM FRANCISCO BRENNAND NA OFICINA BRENNAND:
http://www.youtube.com/watch?v=ewrrUKXwq94&feature=player_detailpage#t=41s

FORTE INFLUÊNCIA MITOLÓGICA:

Todo o trabalho artístico de Francisco Brennand tem um apelo mitológico arraigado em tradições e mitologias. Em um de seus escritos denominado O Oráculo contrariado escrito em 2005, existem capítulos que falam claramente de sua admiração pela mitologia como expressão em sua arte. Vejamos:

Mitologia ou Recriação?

Procuro desvendar certas fontes de indagação, aquilo que todos os homens sempre buscaram desde a pré-história.Quando se trabalha como barro, lidamos com um dos quatroelementos precisamente a terra da qual somos feitos (de terra e sangue como diz a mitologia sumeriana). Nesse momento começa o feitiço. Trabalhar a terra écomo se deixar levar pela correnteza, rio abaixo, ao sabor de todas as intempéries. É a magia que faz o homem descobrir a possibilidade de transformar as coisas, como um demiurgo. Este, aliás, num sentido bem renascentista, é o homem Deus – Deus na Terra,  aquele que pode modificar a matéria. Para os deuses gregos, a descoberta do fogo pelo homem foi um pecado tão grave que nenhum castigo seria bastante implacável para arrefecer a cólera do Olimpo: eis aí a história de Prometeu. (…) “Foi por isso que o injusto deus um dia,/ Temendo algo maior, aprisionou­te. Mas já no Olimpo todos ouvem trêmulos/Os nossos próprios pas sos.” O que fez, então, o homem? Apressou os ritmos da natureza. Aquilo que ela faz em milhões de anos, o homem descobriu que pode­riafazê-lo em alguns dias e esse processo acelerado de transmutação das coisas, de profundas modificações físicas da matéria, de inesgotá­veis interações químicas, passou a ser uma conquista típica do ho­mem, através do domínio do fogo: repito, o velho oleiro, o mais antigo senhor do fogo. Isso tudo vai nos introduzir ao mundo da reprodução – as coisas são eternas porque se reproduzem – a eternidade é a reprodução – o próprio universo é uma forma de reprodução como se fosse a história de um imenso desejo. E essas formas, uma vez procriadas, se perpetu­am no mundo da sexualidade, que é sobretudo o mundo da reprodu­ção e, por que não dizer, o mundo sexualizado, como conjecturava Mircea Eliade: “Uma valorização do mundo ambiente em termos de Vida e portanto de destino antropocósmico que comporta a sexualidade, a fecundidade, a morte e o renascimento. Trata-se, portanto, de uma concep­ção geral de “uma realidade cósmica” percebida como Vida e por conse­guinte sexuada, uma vez que a sexualidade é um sinal particular de toda e qualquer realidade viva. A partir de certo nível cultural, o mundo inteiro, tanto o mundo “natural” como o dos objetos e ferramentas fabricados pelo homem, apresenta-se na verdade como sexuado..”Vemos no conjunto escultórico da Oficina a presença recorrente de ovos ou casulos abrigando animais que tentam romper a carapaça, romper o ovo. Eu acrescentaria: coitada da forma que não couber dentro de um ovo. O desejo pertence ao ovo e a sua sede encontra-se abaixo do nível da psique. São formas ligadas à sexualidade e à presença de elementos roubados da anatomia do homem e da mulher. Aqui eu criei uma mitologia absolutamente particular, pessoal, que não está relacionada a nenhum tipo de erudição. Cultuo os mitos, não no sentido de um aprofundamento, mas como um artista que desenvolve idéias que aparecem e são surpreendidas de momento a momento, preenchendo, também, lacunas do espírito.

O Hybris

A presença do Hybris – a idéia de não se levar em conta as previsões de um oráculo, de não se acreditar que há um destino ao qual se deve obedecer; esse desafio aos deuses – não reserva ao homem senão a desgraça. Ao se deparar com a cabeça de um pássaro, vendada por uma máscara de couro e, na base, o título “Hybris”, as
pessoas têm o direito de perguntar: “O que tem a ver a cabeça de um pássaro com o destino do homem?” Não tem nada a ver, mas muitas vezes um título insinua
tantos significados, que o todo pode ter uma representação diversa. Como observei, a ave está envolvida por um tipo de disfarce encourado que lhe retira toda possibilidade de reação. Trata-se de um prisioneiro do próprio destino. Daí a intencionalidade que justifica o “Hybris”. Se me refiro a uma mitologia apropriada,
é porque todas essas peças foram criadas com uma sem-cerimônia quase insultuosa, segundo uma série de mitos, que às vezes não se relacionam entre si. Por exemplo: há uma quantidade enorme de citações às mulheres da mitologia greco-romana (sobretudo latina) permeadas por outras figuras femininas retiradas da história que, na verdade, só me atraíram por conta da descoberta de que eram pessoas enormemente desafortunadas. Esse infortúnio parece que acompanha a trajetória histórica da mulher, particularmente como centro de gravidade de um universo passional. Elas são mais atingidas pela desventura, talvez porque estejam diretamente ligadas à terra, à vida, portanto, presas fáceis dos deuses, da sua ira ou da sua vontade de participar. As mulheres são desatentas (?), embora extremamente sensíveis às aventuras dos deuses e, assim, passam por atrozes tormentos. Fiz sem grande esforço uma coleção de esculturas de pelo menos doze
delas. Todas, senhoras absolutamente infelizes, profundamente angustiadas, quase histéricas, usando grandes cabelos negros e cujas cabeças são violentamente lançadas para trás (postura da cabeça no êxtase dionisíaco) ressaltando-lhes as gargantas inchadas e salientes, o que lhes dava aparência de pescoços quebrados ou degolados. Minha escultura Galatea, a donzela branca – aquela que assiste à morte do amante, o belo Acis, e lhe restitui a vida sob a forma de um rio de águas límpidas – mais do que as outras, exemplifica esta imagem de uma dor permanente. Tenho ainda os casos de Antígona,  de Hiera, de Halia, de Lara, esta última – segundo Ovídio – causa de uma inconfidência que fizera a Yuturna (um dos amores de Júpiter) provocou tanta ira nesse deus supremo, que ele mandou cortar-lhe a língua. Ainda não satisfeito com esse castigo, Júpiter entregou-a a Mercúrio para que a levasse ao inferno, onde passaria a ser a ninfa das águas no reino dos mortos. Mercúrio, achando pouco, a estupra, dando-lhe dois filhos que também viveram no inferno. Há, ainda, Maria Antonieta na Conciergerie, mas isso é uma outra história, como disse a poetisa Deborah Brennand no final de seu poema Cadafalso: (…) “E não voltou a face, sabe-se./ A brisa era que em sombras passava./ Ergueu, sim, nos cabelos aromas raros/ para espanto da plebe que uivava./ Que uivasse! Não era bela sua nuca alva?”

O Corpo da Terra

O conjunto dessa série mitológica repleta de figuras infelizes, contudo, nada tem a ver com os chamados filmes de terror de nossa mídia. Fico escandalizado como uma criança, quando me deparo com cenas explícitas de violência gratuita. Simplesmente desapa­reço da frente da televisão. Não suporto. Acusar-me da ausência de um lirismo mais ameno nos meus trabalhos é certamente uma visão crítica apressada. Não há liris­mo nos elementos arcaicos, todavia, nada os aproxima desse hor­ror artificial, uma constante nos filmes ditos de “ficção científica” ou então de “efeitos especiais”. Confesso minha repugnância, sem­pre que o cinema e a literatura exploram, por exemplo, a idéia de mortos-vivos. Acaba num desrespeito aos que partiram. Admiro, no entanto, a saída genial encontrada pelo poeta Charles Baudelaire: “Um dos maravilhosos privilégios da arte é que a expressão de hor­ror e dor pelo artista, se rítmica e cadenciada, enche de calmo júbi­lo oespírito.” A morte, queiramos ou não, está presente em todas as formas que criamos. Vida e morte se confundem, Eros e Tanatos sempre. Não escapamos dessas determinantes, mas isso não quer dizer que a história do homem não continue a despeito de você mesmo. Dia após dia o sol não continuará nascendo no leste? Ainda não fui ven­cido pelo inelutável, mas não deixa de ser curioso as pessoas se preocuparem tanto com a vida depois da morte e não se lembrarem de que, antes de nascerem, estavam vivendo no nada, algo mais absurdo porque não existia, ao menos, a presença da matéria. Acredito na sobrevivência da arte e da condição humana. Poucas vezes encontrei na literatura algo tão apropriado para uma inscrição mural – sugerindo que a vida continuará através do Velho Homem, aquele de quem nos fala a Bíblia como o título de um livro do escritor italiano Carlo Levi: “O futuro tem um coração antigo. Num certo sentido repete Marco Aurélio “Quem olhou o presente olhou todas as coisas: as que aconteceram no insondável passado, as que acontecerão no futuro.” Certamente eu ainda colocarei a inscrição de Levi, quase como um testamento, na fachada frontal da Oficina, que pretendo revestir. Em todo caso, no grande frontispício, para lembrar a imagem soberba da morte, também terão o seu lugar de honra os admiráveis versos de Salvatore Quasímodo: “Cada um está só sobre o coração da terra/ traspassado por um raio de sol:/ e de súbito anoitece”.

DEUSA PALAS ATENA PARA OS GREGOS OU MINERVA PARA OS ROMANOS:

PALAS ATENA POR BRENNAND:

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Deusa grega da ordem, da justiça, da sabedoria, das artes e da estratégia, originalmente uma deusa lunar minoana protetora do lar e da comunidade. Ao incorporar as qualidades de uma deusa guerreira grega chamada Pallas, transformou-se em Pallas Atena, a guerreira defensora da cidade de Athenas, filha de Zeus, virgem e assexuada.
http://www.youtube.com/watch?v=w5IbCaGZ-p0&feature=player_detailpage#t=58s

HÁLIA:

posidon04 com Halia

HÁLIA POR BRENNAND:

Com Hália, Poseidon foi pai de seis filhos e de uma filha chamada Rodos, que deu seu nome à ilha de Rodes. Os filhos homens de Poseidom com Hália eram tão violentos e cometeram tantos excessos, que Afrodite os enlouqueceu. Como tentassem violentar a própria mãe, para não serem massacrados, Poseidom os escondeu no fundo da terra. Desesperada, Hália precipitou-se no mar. Na obra de Brennand ela aparece como se estivesse afogada.

MUDA PARA OS GREGOS E LARA PARA OS ROMANOS:

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LARA POR BRENNAND:

Roma possuía uma Deusa do Silêncio, que era venerada sob os nomes de Lara, Muta e Tácita. O seu culto tinha sido recomendado pelo rei Numa Pompílio, que julgara essa divindade necessária ao estabelecimento do seu novo Estado. Lara era uma náiade do Almon, regato que se atira no Tibre, abaixo de Roma. Júpiter apaixonado por Juturna, não tendo podido encontrá-la, porque ela fugira e se atirara no Tigre, chamou todas as náiades do Lácio, e lhes suplicou que impedissem a ninfa de se esconder nas suas ribeiras. Todas prometeram o seu serviço. Lara, vendo-se só, foi declarar a Juturna a a Juno os desígnios de Júpiter. O deus, irritado, fez cortar-lhe a língua e ordenou a Mercúrio que a conduzisse aos Infernos: no caminho, porém, Mercúrio, sensibilizado ante a beleza dessa ninfa, fez-se amar por ela(a outra versão de que Mercúrio tenha estuprado Lara), e dessa união nasceram Dois Filhos que, por causa da Mãe, foram chamados Lares.

AS OBRAS DE BRENNAND E A MODA:

Como Brennand possui uma obra diversificada, pode-se dizer que qualquer criador ou design tem um leque aberto de informações e inspirações para poder trabalhar. Algumas marcas como Mar Rio já se inspiraram nas obras do artista plástico para criar uma coleção inteira de moda praia.

A nova edição do modelo Arte Brasileira, destaque da coleção 2011/2012 da Dupé, traz a assinatura de Francisco Brennand, mundialmente conhecido pela
ousadia nas obras de arte em cerâmica, pintura, ilustração e escultura. As sandálias de borracha trazem três estampas diferentes, nas cores branco, preto e caramelo, inspiradas nas plantas e árvores típicas da mata atlântica, que circundam a Oficina de Cerâmica na Várzea, no bairro da Várzea, Recife – Pernambuco, onde estão expostas diversas obras do artista. Esse foi um trabalho de cocriação e parceria entre o artista e a empresa. Em breve poderemos comprar galera. Vejam que lindas sandálias:

Já o estilista Jadson Ranieri apostou nas obras de Brennand para criar sua coleção de vestuário  para o evento Casa de Criadores. A coleção também já é para o verão 2012, prova de que os designers estão de olho em Brennand.A força desta coleção reside no tema abordado. O estilista se inspirou no artista plástico Francisco Brennand  e, portanto, a sua interpretação merece louvores. Uma vez que o tema é absorvido, fica evidente o uso excessivo do látex, das pregas, transparências e das formas alongadas. É sexo pra todos os lados. Camisinha, ânus, pele, ereção. O bonde do látex incomoda um pouco por despertar a lembrança de coleções passadas de Alexandre Herchcovitch, mas isso não chega a ser um problema. E também é algo particularmente bonito, sem mencionar desafiador, o trabalho feito neste material que beira o fetiche ao mesmo tempo em que remete à natureza dos seringais do Acre. A re(des)construção da alfaiataria _característica marcante no trabalho do estilista_ encontra seu lugar principalmente nos looks masculinos, que vêm “estufados”, rijos, eretos. Há também uma divertida vontade de tudo total. Total látex, total nude, total vermelho, total amarelo, total pregueado, total estrutura. Essa edição seca, direta e reta do desfile é interessante, confiante e funciona.
Fashion Film da Coleção:
http://www.youtube.com/watch?v=pO3OUhYDrw4&feature=player_detailpage#t=45s

Vídeo do desfile:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=oB5iIEgltdg#t=25s

HUGHS AND KISSES:

CROSS

Comments
2 Responses to “A ARTE ETERNA DE FRANCISCO BRENNAND”
  1. alexandra brenand da silva disse:

    Irei trabalhar as obras de francisco brennand com as criancas na educacao infanti e gostaria de saber como posso fazer para ter artigos de suas obras

    Obrigada.
    Alexandra

    • marcoferrari disse:

      Olá Alexandra.
      As Obras de Francisco Brennannd são um tanto quanto ousadas para a educação infantil. Mas acho que ficaria muito fácil se você trabalhasse com argila e o formato do “ovo cósmico” que é o centro da obra do artista. Procure não trabalhar as formas fálicas. Pode dar problemas com os pais.

Agora quero saber a sua opinião sobre esse assunto: Fique a vontade para expor suas idéias. Atenciosamente: Cross