Matéria da Revista Saque sobre a História da Seleção Brasileira de Vôlei

seleção brasileira de volei 1980

Houve um tempo que o voleibol era divulgado por uma revista chamada SAQUE, criada por Montanaro e William. Dentre muitas reportagens inteligentes da época uma delas será relatada aqui como uma nostalgia e conhecimento da história do voleibol brasileiro.

Nostalgia é sinonimo de piada no voleibol brasileiro. Ou ainda tem gente que sente saudade da época em que jogador era obrigado a secar uniforme em cima de abajur para nao ficar sem roupa na próxima partida? Dos tempos da improvisação  a era dos títulos, nosso volei transfigurou-se para melhor com uma receita infalível que inclui organização, craques, patrocínio e muito trabalho.

Jogo Brasil e Russia no Estadio Maracanã.

No início dos anos 60, o vôlei nacional resumia-se a duas equipes: como no futebol, Santos e Botafogo dividiam títulos e a melhor infra-estrutura do País, com os atletas sendo submetidos a treinamentos sistemáticos visando aperfeiçoar a parte física e técnica.

Era um trabalho sem seqüência, já que não era complementado na Seleção Brasileira. Dificilmente os jogadores  podiam se dedicar aos exercícios dias seguidos, preocupados com o colégio, a faculdade ou o emprego. A improvisação era comum a todos os esportes amadores, contaminava os dirigentes, que não tinham dinheiro nem para organizar um calendário. As competições limitavam-se aos torneios regionais e os Campeonato Brasileiro de Seleções, este ultimo quase sempre vencidos pelos paulistas.

O talento individual dos atletas brasileiros superava algumas dificuldades a nível sul-americano, onde o esquema de preparação era idêntico ao nosso. Assim alguns jogadores como Quaresma e Feitosa, por exemplo, eram decisivos para que a Seleção vencesse sem problemas todos os Campeonatos Sul-americanos masculino em que participou. No feminino as peruanas eram a pedra no sapato das brasileiras, ameaçando nossa supremacia a cada dois anos.

Em 1964 o voleibol estreou nos Jogos Olimpicos e lá se foi o Brasil com uma delegação de dez pessoas, duas a menos que o normal. O técnico era Sami Mehliskin e os atletas Feitosa, Nuzman ( atual presidente do COI), Décio Viotti, Hamilton, Zé Maria, Jósias, Marco Antonio, Newdon, Pedro, e Victor. Com apenas oito jogadores, (um deles adoeceu e o outro contundiu-se) a Seleção conseguiu superar-se, conquistando o sétimo lugar.

Nos campeonatos mundiais, o Brasil não fez um papel melhor: no primeiro em que tomou parte- 1956, em Paris- a Seleção masculina ficou em décimo primeiro lugar, mesma classificação para o feminino. Só em 1960, quando foi realizado no Rio de Janeiro, a colocação foi honrosa: quinto lugar no masculino e quarto lugar no feminino. Mas foi uma exceção, já que em 1966, em Praga, a Seleção masculina exagerou e ficou em décimo terceiro lugar.

Nos Jogos Olimpicos de 1968, no México, entrou uma nova safra que se misturou aos mais experientes craques da seleção masculina: ao lado dos veteranos Feitosa, Victor e Décio Viotti, foram convocados os jovens Moreno, João Jens e Sérgio Telles, do São Paulo, além de Paulão e Mário Dunlop, do Rio. Os convocados ficaram concentrados em Campos do Jordão até embarcar para Cidade do México, onde pretendiam iniciar a recuperação do voleibol brasileiro, contando com a força dos novos valores.

Começou o Torneio e tudo deu errado: os jogadores se recusavam a obedecer as determinações do técnico, os veteranos não se sentiam bem ao lado dos mais jovens e ninguém cooperava. A Seleção foi um desastre, perdendo sucessivamente para Bélgica, União Soviética, Estados Unidos, Tchecoslováquia, Bulgária, Polônia, Alemanha Oriental e Japão. Só não ficamos em último porque conseguimos vencer o México por tres set´s a um. Mais uma vez, a falta de intercâmbios foi um dos fatores que determinaram o fiasco da Seleção masculina. Sergio Telles, que jogava pelo Santos e foi um dos jovens convocados, dá um exemplo: “no dia anterior ao nosso jogo contra o Japão, fomos assistir o jogo deles contra os Tchecos. Os japoneses começaram ganhando mais Tchecoslováquia conseguiu virar para tres set´s a dois, diminuindo a velocidade da recepção do adversário com a utilização do “saque tcheco”, uma espécie de antecessor do nosso “jornada nas estrelas”.

Quando entramos na quadra, no dia seguinte, tentamos fazer o mesmo, mas os japoneses já estavam previnidos e ganharam de tres set´s a zero. Era tudo assim, a gente só conhecia o esquema do adversário na hora.”

16 Respostas to “Matéria da Revista Saque sobre a História da Seleção Brasileira de Vôlei”

  1. Prezado Professor,
    Como lhe disse, terminei uma alentada obra histórica, adjetivada como enciclopédica e memorialista, que relata a História do Voleibol no Brasil no séc. XX. O primeiro volume já está no prelo e deverá ser lançado no início de 2010. Fico feliz por estar contando estas histórias neste blog, pois desperta a atenção dos jovens e contribui para a sua evolução na vida. Todavia, como todos somos passíveis de enganos, ainda mais quando não vivenciamos os fatos, permito-me fazer um pequeno reparo no que se refere aos jogadores brasileiros presentes à primeira olimpíada do voleibol. Aliás, isto gerou um sem número de comentários e providências que relato no livro. Mas aqui, neste momento, repasso-lhe a constituição de nossos bravos guerreiros:
    Delegação de Volley-Ball que representará o Comitê Olímpico Brasileiro nas Olimpíadas de Tókio, ficará assim constituída:
    Chefe de Equipe – Sr. Roberto Moreira Calçada
    Técnico – Sr. Sami Mehlinsky
    Atletas – Newdon Emanuel de Victor, Victor Mário Barcellos Borges, Carlos Eduardo Albano Feitosa, Carlos Arthur Nuzman, Décio Viotti de Azevedo, João Cláudio França, Josias Ramalho, Marco Antônio Volpi, Hamilton Leão de Oliveira e José Maria Schwartz da Costa.
    O Pedro (paulista, de Santos) foi cortado pelo telefone quando estava em casa despedindo-se de familiares. Em seu lugar entrou o João Cláudio. O Nuzman ainda é do COB e viajaram na ida com pelo menos um atleta machucado.
    http://www.robertoapimentel.blogspot.com

  2. Acrescento ainda um pequeno grande detalhe sobre a nostalgia, piada e anos 1960 reduzido a duas equipes.
    O atual estágio do voleibol nacional não foi conseguido por obra e graça do Espírito Santo. Muitos anônimos trabalharam para que isso acontecesse. Como o brasileiro não tem memória (daí o meu livro) as coisas são contadas (e mal contadas) por pessoas que não pesquisaram e não têm qualquer compromisso com a ciência História. Muitos querem é vender revistas, cheias de fotos coloridas. Os campeonatos brasileiros (1ª Divisão) tiveram início em 1944, com equipes do Distrito Federal, Estado do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande so Sul, Pernambuco e Bahia, sempre com jogadores formados nas respectivas capitais. Em 1951, realizou-se o 1º campeonato sulamericano no Rio de Janeiro, no ginásio do Fluminense. As representações brasileiras, masculina e feminina, tinham representantes do Distrito Federal, Estado do Rio de Janeiro, Minas Gerais e de São Paulo, os quadro maiores centros de praticantes.
    Em 1960, foram realizados na cidade do Rio de Janeiro e Niterói, as finais dos Mundiais masculino e feminino. Nesta época, os campeonatos cariocas tinham a participação de pouco mais de 500 atletas, o mesmo número em 1970. Neste anos, as seleções estaduais cariocas quase sempre predominaram nos embates com outros estados. O atual presidente do COB, Carlos Nuzman, e o presidente da CBV, Ary da Silva Graça Filho, são legítimos representantes desta época. Eles e muitos antes deles, ajudaram a construir tudo que está aí. Como vocês estão fazendo em São Luiz.
    Voltando ao ano de 1960, peço que corrija a classificação do Brasil no feminino: ficamos na quinta posição, mesma posição do masculino.
    A História nos ajuda muito a ver o futuro com mais clareza. Dessa forma, tirem ensinamentos dos relatos (os mais confiáveis) para traçar novos caminhos, olhando sempre para o futuro de seus filhos (e atletas). Assim, percebam as políticas impostas pela direção da entidade atual (que em nada se diferencia das que combatia antes de 1975) e no que ela faz para desenvolver o esporte entre as 27 federações. O Biguá, presidente maranhense e diretor de Relações Públicas da CBV enaltece aquela entidade. Mas não creio que o voleibol no Maranhão tenha a atenção e o empenho da CBV para a sua realização plena. Aliás, tenho dúvidas se alguma tenha qualquer coisa.

    • Decio Gurriti Pessoa Says:

      Roberto,
      Sou meio primo do Hamilton Leão de Oliveira, gostaria de passar a triste notícia do falecimento do nosso querido amigo em 23/12/2015, no Rio de Janeiro. Maiores detalhes ligar, à noite, (73) 3288-2121, Porto Seguro.
      Gostaria de adquirir seu livro sobre Voleibol.
      Décio Gurriti Pessoa.

  3. EXISTEM BONS LEVANTADORES ÓTIMOS ETC . MAS ( ARTISTAS QUE SE PODE CHAMAR DE GÊNIOS ) DO VOLEIBOL, O GRANDE DE TODOS OS TEMPOS É O VITOR BARCELOS.

  4. Cláudio,
    Você e seus leitores poderão acompanhar uma história do voleibol brasileiro inédita contada em detalhes no meu blogue http://www.procrie.com.br . Além disso, temas para discussão sobre o ensino do voleibol principalmente para crianças e adolescentes. Roberto Pimentel.

  5. Lamento muito que os nossos heróis de 1964, sejam lembrados apenaas com a figura do Nusmam. Como pode uma federação esquecer de hamilton Leão, Décio Viotti, Zé Maria, Jósias, Marco Newdon, Pedro, Victor.
    não figuramos neste senário de conquista hoje devido ao bom desempenho dos nossos atletas e sim porque no passdo, alguns jogadores se redobraram para conquistar o seu espaço.
    Hoje tenho um grande orgulho de conviver com um desses jogares que beira seus 80 anos e ninguém se lembra de homenagiálo de forma séria.
    o |Nusmam´foi mais um desse grupo.
    Estou a disposição para seempre que possíveel valorizaar o nome de hamilton Leão de Oliveira, o maior e o meelhor profisional de educação que já conheci na minha vvida.
    lamento que sua foto não esteja estampada junto com a dos outros nas páginas da CBV.
    Nossos heróis olímPicos.

  6. GUstavo Maciel Says:

    Newdon Emanuel de Victor. Ótima pessoa. Coneci na semana pasada. Me apresentou uma placa que recebeu por ser o melhor jogador de 1962. Esses caras deveriam ser lembrados e homenageados

  7. Wilson Rodolfo Ferreira Says:

    Porque a CBV não homenageia de fato os verdadeiros pioneiros do melhor voleibol do mundo na atualidade….coisas de Brasil, pois se isso acontecesse em qualquer outro país mais sério que leva em sonsideração suas raízes, jamais o trabalho pioneiro desses heróis anônimos teria sido esquecido, é lamentável a falta de momória e valorização do povo brasileiro em relação a sua história de um modo geral.

  8. MARIA CELESTE MENDONÇA VIANA Says:

    Hamilton Leão de Oliveira tem uma história de vida maravilhosa! Foi pai de seus irmãos, orientador de seus alunos, através do exemplo, pessoa sem vaidades. Foi um homem muito bonito! E ainda é, nos seus quase 80 anos! Deveriam fazer uma grande homenagem a esse ser humano MARAVILHOSO. Hoje, ele está aposentado, não tem riqueza, vive modestamente, mas compartilhou tudo que teve com seus alunos, parentes e amigos.
    Sinto-me privilegiada, por fazer parte da grande legião de amigos que ele tem. Deus o abençoe imensamente, PROFESSOR HAMILTON!!!

  9. MARIA CELESTE MENDONÇA VIANA Says:

    Hamilton Leão de Oliveira tem uma história de vida maravilhosa! Foi pai de seus irmãos, orientador de seus alunos, através do exemplo, pessoa sem vaidades. Foi um homem muito bonito! E ainda é, nos seus quase 80 anos! Deveriam fazer uma grande homenagem a esse ser humano MARAVILHOSO. Hoje, ele está aposentado, não tem riqueza, vive modestamente, mas compartilhou tudo que teve com seus alunos, parentes e amigos.
    Sinto-me privilegiada, por fazer parte da grande legião de amigos que ele tem. Teve milhares de alunos, que se transformaram em seus admiradores, amigos e discípulos, na sua filosofia de vida simples. Deus o abençoe imensamente, PROFESSOR HAMILTON!!!

    • Obrigado por ter lembrança muito linda de alguém tão importante em sua vida.Me repasse todos os dados possíveis do professor Hamilton Leão junto com fotos dele e de seus alunos. Terei o maior prazer em prestar essa homenagem.

      • Olá, gostaria de informar que meu querido amigo HAMILTON LEÃO DE OLIVEIRA, faleceu no dia 23 de dezembro de 2015, no Hospital Evangélico, no Rio de Janeiro.
        Tenho apenas fotos e o histórico dele com minha família, as vezes que fui a Porto Seguro a seu convite, pois ele tinha uma casa lá, herdada da sua mãe, que foi tombada pelo Patrimônio Histórico.
        Para onde posso enviar as fotos? Você pode misturar o seu depoimento com o meu. Certamente, você conhece mais alguns ex-alunos e colegas de Hamilton e pode avisá-los sobre seu falecimento. Mande um e-mail para eu responder e enviar as algumas fotos.
        Grande abraço
        Maria Celeste Mendonça Viana
        celesteviana@hotmail.com

  10. Margareth Rose Guterres Cardoso Says:

    Faço minhas as palavras de Maria Celeste Mendonça Viana com relaçao ao QUERIDO PROFESSOR HAMILTON. Aguardo essa justa homenagem a quem sempre estimulou seus alunos e nos fez além, de conhecer o Volei amar esse esporte. Hamilton Leão eternamente em nossos corações!!! “PAIZÃO” HAMILTON MUITAS SAUDADES QUE DEUS LHE ABENÇOE HOJE E SEMPRE, OBRIGADA POR TUDO!
    PS.: Fico feliz em saber que o professor Hamilton está bem, gostaria de obter mais informações sobre ele. Meu nome Margareth Rose Guterres Cardoso email mguterres@ig.com.br

  11. Dey Vieira Rodrigues Neto Says:

    Boa noite,

    Tudo o que temos hoje no voleibol foi construído por esses caras. Esse pessoal deveria ser bem tratado hoje. Assim como esse Nuzman é presidente do COI, tem vários outros que não tiveram a mesma sorte e hoje estão esquecidos entre a sociedade. Meu Tio, Hamilton Oliveira Leão, fez parte da seleção Brasileira de Voleibol de 1964, está em uma situação deplorável hoje em dia. Morando em um quartinho alugado em Bangú, no Rio de Janeiro. Está com um problema na perna, sem poder caminhar direito. Peço encarecidamente que quem puder e quiser ajudá-lo, reconhecer o esforço que fez pelo seu país, entre em contato comigo através do e-mail deyneto@hotmail.com que terei o prazer em conversar com quem quer que seja. Nós, familiares, já pedimos pra ele sair do Rio e vir morar conosco mas ele é uma pessoa que sempre se preocupou com todo mundo na vida, botava o interesse de todos acima do dele. Por favor, quem puder, ajude!

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