segunda-feira, 2 de abril de 2007

O Teatro Inglês a partir de 1955

“Inovação e Conservadorismo”
[...]
Sem grande importância em termos de estilo e não tendo desafiado os limites do género dramático, Wesker foi importante enquanto reformador do teatro. Os temas e as personagens ligados às classes trabalhadoras não estiveram totalmente ausentes do palco inglês antes de 1955, mas as peças de D. H. Lawrence [que tratavam estes temas e personagens] não tinham tido grande impacto no teatro dos anos vinte e até mesmo o próprio Lawrence não tinha cortado fatias de vida da classe trabalhadora tão grandes nem as tinha empilhado de forma tão pouco cerimoniosa em cima de um palco como fez Wesker que, na realidade, estava a dizer: “Vejam como foi preciso mexer em tão pouco para vos dar drama”. Nem em 1955 alguém pensaria possível que fosse possível alcançar um sucesso em larga escala com uma peça em um acto, com 29 personagens e com a totalidade da acção a desenrolar-se dentro de uma cozinha. Ninguém teria acreditado que uma trilogia de peças sobre os comunistas judeus e os agricultores de Norfolk [Trilogia de Wesker] tivesse a mínima possibilidade de ser levada à cena. E ninguém teria adivinhado que o West End saudaria uma peça de elenco exclusivamente masculino que parece ser sobre o serviço militar obrigatório [Batatas Fritas com Tudo] mas que evolui para um feroz ataque ao nosso sistema social. Termina com o hino nacional, a ser tocado para uma plateia sentada.
Assumidamente A Cozinha, que foi levada à cena em 1959, fora escrita em 1956, para televisão e foi do encenador John Dexter a ideia de estruturar a versão de palco com um interlúdio lento, calmo, sonhador, entre os dois episódios de actividade frenética. Wesker tinha arranjado um guião em que as acções produzem os efeitos mais importantes: os cozinheiros e cozinheiras a fazerem o seu trabalho, uma dança, um acidente, uma partida, uma disputa, um cozinheiro que perde a cabeça. [...] Wesker mostra como o ritmo de uma rotina de trabalho pode determinar não só o ritmo das relações que são possíveis nesse contexto como também o ritmo da vida das personagens. Não é só que tudo o que fazem tenha de se acomodar em torno do seu trabalho: são o que são por causa do seu trabalho e a maneira mais directa de se expressarem é através da forma como trabalham. A decisão de Dexter de eliminar a comida teve o resultado de concentrar a atenção na mímica dos cozinheiros e estes caracterizavam-se com maior clareza através da forma como amanhavam peixe inexistente ou tendiam massa imaginária. Ao mesmo tempo, o estilo de produção fez com que esta peça naturalista parecesse experimental.
A principal fonte de irregularidade nas peças de Wesker é a separação entre a acção e o argumento. O seu objectivo não consistia apenas em contar histórias mas destruir “os argumentos cegos e simplistas, as expressões banais que são as barricadas que o homem da rua ergue contra tudo o que seja novidade”. Queria “dar às pessoas uma visão de um aspecto da vida que nunca tivessem visto antes; mais ainda, transmitir-lhes algum do entusiasmo que sinto pela vida. Quero ensinar.” [1]

[1] “Let Battle Commence”, Encore, vol. V, Nº 5 (nov.-Dez. 1958), p. 19.
HAYMAN, Ronald, British Theatre since 1955. A Reassessement, Oxford, OUP, 1979.
(Pp. 44-6)

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