Karl Marx – Parte III

Produção do Valor de Uso e da Mais Valia

O uso da Força de Trabalho é o Trabalho. Este deve ser útil para realizar valores de uso. O processo de trabalho é composto por: atividade do homem, objeto de trabalho e meios de trabalho

Uma matéria prima é um objeto já trabalhado. O que distingue uma época economica de outra são os meios de trabalho, verificando-se que a quantidade de mão de obra diminui com a evolução dos meios.

O capital compra pois o valor de uso da força de trabalho, sendo esta sua pertença. Contudo, ela não quer apenas produzir uma coisa útil, quer acima de tudo uma mais valia, que o valor desta mercadoria ultrapasse o das mercadorias necessárias para o produzir».

O valor desta mercadoria é determinado pelo tempo socialmente necessário à sua produção (se for despendido mais tempo ou usados instrumentos mais caros, o capitalista só estará a perder dinheiro). Para Marx só o trabalho humano cria valor, as matérias e as matérias primas não criam apenas o transferem quando são trabalhadas pelo homem.

Como é que se forma exatamente a mais valia?

O capitalista comprou a força de trabalho por um valor (valor que permita a subsistência do trabalhador, a sua reprodução, instrução, manutenção e que varia de sociedade para sociedade).

Passa a ser detentor de uma mercadoria, adquirindo o seu valor de uso, criando esta mercadoria uma valor superior ao que ela vale.

é através do chamado Sobretrabalho (por exemplo, nas 5 primeiras horas ele reproduz o valor do seu salário, mas acaba por trabalhar mais tempo). é neste tempo extra (que o capitalista tenta prolongar ao máximo) que ele trabalha e não é pago que é criada a mais valia.

Ou seja, a mais valia surge do fato do trabalhador trabalhar mais do que o socialmente necessário, e é este excedente não pago que o capitalista se apropria e se chama MAIS VALIA. A produção da Mais valia não é mais do que a produção de valor, prolongada para além de certo ponto. Se o processo se trabalho só durar até ao ponto em que o valor da Força de Trabalho paga pelo capital é substituída por um novo equivalente, haverá simples produção de valor, quando ultrapassar este limite haverá produção de mais valia

A taxa de Mais Valia

Acabada a produção obtemos uma mercadoria igual a c+v+c (sendo c o capital constante, v o capital variável, e p a mais valia).

A mais valia proporcional (relação de quanto ganhou em valor o capital variável) é nos dada pela relação da mais valia com o capital variável (p/v). Esta é a taxa de mais valia.

A parte do dia em que o trabalhador produz o valor da sua força de trabalho é menor ou maior consoante o valor da sua subsistência diária. Marx define «Tempo de trabalho necessário à parte do dia em que se realiza a reprodução da sua força de trabalho, e trabalho necessário ao trabalho dispendido neste tempo, necessário para o trabalhador e para o Capitalista».

O período extra não constituiu nenhum valor para o operário mas é essencial ao capitalista, chamando-lhe Marx de Sobretrabalho. Para Marx as diferentes formas económicas da sociedade, apenas se distinguem pela forma como este sobretrabalho é imposto. A Taxa de Mais valia pode também ser Sobretrabalho/Trabalho necessário.

A é pois «a expressão exacta do grau de exploração da força de trabalho pelo capital». A soma do trabalho necessário com o Sobretrabalho constituiu o Dia de Trabalho.

Capital Constante e Capital Variável

Para Marx importa distinguir entre dois tipos de capital:

Capital Constante: Capital Investido em Meios de Produção, Constante porque o seu valor não muda no processo produtivo.

Capital Variável: Capital Investido na Força de Trabalho, Variável porque produz um valor diferente consoante a intensidade da sua utilização.

Os meios de produção só transmitem valor na medida em que perdem valor, ou seja, não podem acrescentar ao produto mais do que possuem, daí Marx defini-los como Capital Constante que sendo condição de criação de mais valia, não produz per si Mais Valia.

Por outro lado, o Trabalho conserva e transmite o valor dos meios de produção ao Produto. Reproduz o seu próprio equivalente e além disso gera uma mais valia engendrada no trabalho extra que pode ser maior ou menor consoante a sua duração. A Mais Valia depende pois, do Grau de exploração da Força de Trabalho.

Sendo a taxa de Mais valia dada por (Sobretrabalho/Trabalho necessário) ela não nos daria de forma nenhuma reciprocamente a grandeza do dia de trabalho. Se a taxa de Mais valia fosse de 100% apenas nos indicaria que as 2 partes do dia eram iguais, não nos indicaria o tempo de cada uma dessas partes.

O dia de trabalho não é fixo e possuiu limite.

Teoricamente o limite mínimo é o tempo em que o trabalhador opera para a sua conservação , contudo no «modo de produção capitalista» o trabalho necessário nunca pode formar mais do que uma parte do dia de trabalho, e o dia de trabalho não pode ser reduzido a este mínimo (caso acontecesse não haveria trabalho extra e consequentemente nenhuma mais valia seria engendrada).

Contudo o dia possuiu um limite máximo, que é duplamente determinado, por um lado fisicamente (o homem tem necessidades a satisfazer e limitação, precisando de se manter apto para o trabalho), por outro moralmente (o homem precisa de tempo para satisfazer necessidades intelectuais, sociais, etc…).

Tais limites variam de sociedade para sociedade, e são muito elásticos (daí haverem dias de trabalho com os mais diversos comprimentos.

Mas « O capitalista tem a sua maneira de ver sobre este último limite necessário do dia de trabalho». Há pois interesses antagónicos quanto à duração do dia de trabalho, podendo cada lado invocar as suas razões. «Quem decide sobre direitos iguais? A força. Eis porque a regulamentação do dia de trabalho se apresente como uma luta secular entre capitalista de trabalhador»

Opto agora por não proceder a uma análise exaustiva de todas as página dedicadas por Marx a esta questão, fazendo uma pequena súmula dos aspectos referidos.

Contudo aconselho a sua leitura pois contem muitos exemplo bem ilustrativos que são um reflexo do que muito mau aconteceu e ainda continua a acontecer

A luta entre as duas facções é secular, sendo muitas as tentativas de regular o mercado de trabalho (por exemplo, «Code de la Corvée», da Rússia; «Règlement Organique» das provincias danubianas, os diversos «Factory Acts» da Inglaterra, etc…), que «refreiam a paixão desordenada do capital na absorção do trabalho, impondo limitação oficial ao dia de trabalho.

Nomeadamente depois dos «Factory Acts» na Inglaterra foram nomeados inspectores para verificar a aplicação dessas leis, podendo-se ler algumas das conclusões (nalguns casos terríveis) a que eles chegaram.

Mesmo com as limitações ao dia de trabalho, o capitalista sempre achou forma de as contornar, permitindo manter a tão desejada mais valia e até mesmo aumentá-la.

Uma dessas formas era e é a exploração das horas dedicadas às pausas (Retirando pequenas partes destinadas ao repouso do trabalhador, em que esta final continua a laborar). Tais situação como os próprio inspectores reconheceram são difíceis de detectar e combater «Os inspectores deparam-se com dificuldades quase invencíveis para comprovar os delitos e estabelecer as respectivas provas».

Outra das formas era e é a exploração da mão de obra infantil. O que obviamente era mau para a saúde dos jovens e tem consequências nefastas para as gerações futuras que serão cada vez mais fraca. Marx em «O Capital» é fertil a mostrar estas situações, com depoimentos, mostrando também a insipiência de muitas das respostas dadas pelos «capitalistas» então.

Outra das formas utilizadas pelo «capitalista incipiente» é o Sistema de Turnos.

Também nesta situação são muitos os exemplos que demonstram que o capitalista não ficava a perder.

Tomemos o exemplo de um dia de 8 horas.4 de Manhã e 4 à Tarde. Na realidade nesses descansos o trabalhador ficava a trabalhar e acabava por entrar mais cedo, ou então era obrigado a permanecer no local de trabalho(por exemplo se tivesse que dormir lá, ou demorar muito nas deslocações, etc…) e obviamente por necessidade e dependência, sempre que lhe pedissem para trabalhar mais ele aceitava.

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Mais informações:
http://economiabr.net/economia/1_hpe8.html

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