sábado, 30 de agosto de 2008

ESTAÇÃO DE MONTA

É na chegada da primavera que se dá início à temporada de monta, ou sela, quando as éguas se encontram prontas para serem fecundadas. Esse período da atividade reprodutiva, que garante a preservação da espécie, se estende até o verão e tem uma explicação simples: garante que os potros venham a nascer sempre na primavera ou início do verão (a gestação de uma égua é de aproximadamente 11 meses), período em que as pastagens são mais ricas e o clima ameno ajuda na sobrevivência do recém-nascido.
Com conhecimento de causa, alguns cuidados básicos e um manejo correto a sua égua terá, sem problemas, o potrinho que você tanto deseja.

Influência do clima
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A égua e classificada como “poliestrica estacional”, ou seja, ela apresenta sucessivos ciclos reprodutivos (cientificamente denominados de ciclos estrais), que sempre se repetem a cada 19 ou 22 dias durante o período de primavera e verão, quando acontece a estação de monta.
Conheça quais são as vantagens da temporada de monta e os procedimentos de manejo

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A espécie eqüina é muito afetada pelo foto-período, que é o número de horas de incidência solar ao longo de 24 horas. A diferença de foto-período de inverno e de verão (dias curtos e dias longos) é tanto maior quanto mais afastados estivermos do equador. O dia mais curto do ano, no hemisfério sul, é 21 de junho; depois dele, os dias voltam a ficar mais longos, até 21 de dezembro (solstícios de inverno e de verbo). O efeito principal do foto-período sobre os cavalos se dá no aparelho reprodutor - durante o inverno, aproximadamente de abril a agosto, as éguas deixam de ciciar (entrar em cio), e mesmo o interesse sexual dos garanhões é bastante diminuído. Com as correspondentes alterações hormonais (mesmo em cavalos castrados), todo o metabolismo se torna mais lento e menos eficiente, às vezes afetando também o temperamento e o desempenho do animal.

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Nos meses de menor luminosidade (outono e inverno) a atividade reprodutiva cessa, pois uma menor quantidade de luz é captada pela retina e transmitida a áreas cerebrais responsáveis pelo controle da atividade reprodutiva.

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A diminuição da luminosidade reta um bloqueio sobre os ovários e o útero e a fêmea entra numa fase de afuncionalidade reprodutiva, conhecida como anestro sazonal que dura até que a luminosidade diária aumente novamente, o que acontece na primavera subseqüente.

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Nas regiões de clima tropical ou subtropical, como as encontradas em quase todo o Brasil, excetuando-se a região sul, o inverno é menos rigoroso e a queda da luminosidade não é tão marcante; nessas regiões, cerca de 10% a 20% das fêmeas continuam ciclando normalmente, permitindo que sejam emprenhadas em qualquer época do ano.

Benefícios
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Definindo, estação de monta ou temporada de monta é o período do ano estabelecido para a realização das atividades ligadas à reprodução. As vantagens de se trabalhar com uma estação de monta são inúmeras, não apenas do ponto de vista de manejo, mas também financeiramente.

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Permite concentrar o trabalho da mão-de-obra envolvida com a atividade reprodutiva, manejo das fêmeas prenhes e dos potros gerados.

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As fêmeas paridas em data próxima podem ser agrupadas em um mesmo lote, já que a mistura de potros de diferentes faixas etárias num mesmo piquete não é recomendável, pois predispõe a acidentes e disseminação de doenças aos animais menores.

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Na época do desmame, os potros de mesma faixa etária poderão ser agrupados em grupos maiores, facilitando o manejo dentro da propriedade e posterior destino, seja ele a doma, atividade atlética, exposições ou simples venda.

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Há um manejo mais racional 1 dos piquetes, pois havendo menor número de grupos por categoria (por exemplo, éguas vazias, prenhas, paridas, potros desmamados, potros de sobreanos, etc.) também haverá necessidade de menor número de piquetes na propriedade, ou ainda propicia uma maior rotação dos animais pelos piquetes existentes, melhorando a qualidade das pastagens.

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A instituição de uma estação de monta numa propriedade deve ser feita paulatinamente, isto é, no primeiro ano com certeza haverá potros nascidos tardiamente, como por exemplo, março ou abril; considerando-se o período de monta corno sendo de setembro a fevereiro, teremos que deixar a reprodutora vazia até a primavera próxima.

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A diminuição do período disponível aos serviços reprodutivos torna necessário um maior controle sobre aspectos de sanidade reprodutiva e ligados à administração.

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A supervisão do médico veterinário é importante, diagnosticando e tratando as éguas-problema no outono e inverno, para que estas possam receber o macho na primavera diminuindo-se ao máximo a necessidade de tratamentos dentro do restrito período de monta

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A maior parte das reproduções virgens e vazias apresentar-se-ão em anestro sazonal até o início da primavera, passando então por um período denominado de “transição’, que dura de 1 a 2 meses, só então retomando a atividade cíclica normal. Assim, muitas destas fêmeas poderão apresentar-se sem cio no início da temporada, atrasando a rotina instalada.

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Existem maneiras de “burlar” os efeitos da baixa luminosidade sobre a atividade ovariana da égua, como por exemplo, estabulando as reprodutoras ao final do dia e colocando-as em baias iluminadas durante o anoitecer e parte da noite, simulando-se um dia mais extenso.

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A manipulação do ciclo também pode ser feita com a utilização de certas drogas, visando “encurtar” a fase de transição, trazendo mais precocemente o animal ao cio.

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A maneira ideal de utilizar essas ferramentas deve ficar a cargo do médico veterinário responsável pela propriedade, já que envolve um grande conhecimento de fisiologia e clínica da reprodução.

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No que diz respeito ao manejo geral, salientamos que o acompanhamento do plantel durante o outono e inverno é tão importante como aquele a ser realizado durante a estação de monta.

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Animais deixados em piquetes no outono e inverno com certeza ciciarão mais tardiamente, devido não apenas aos efeitos da baixa luminosidade, mas também em decorrência do baixo plano nutricional a que estão submetidos.

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Relatos de trabalhos científicos mostram que reprodutoras que vêm ganhando peso na época em que são cobertas são mais férteis do que aquelas magras ou perdendo peso. O excesso de peso também é desaconselhável, pois éguas obesas têm um menor índice de fertilidade.

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As fêmeas paridas normalmente não atravessam um período de anestro sazonal ou pós-parto, tornando desnecessário o uso de programas de luz artificial ou de hormônios. Algumas delas, porém, podem entrar num período de inatividade sexual, o que ocorre principalmente nas fêmeas que parem em estado nutricional muito ruim ou naquelas que vêm parindo há três ou mais anos consecutivos, parecendo significar uma pausa para descanso ou recuperação.

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Administrativamente deve-se elaborar a estratégia do haras com antecedência, escolhendo os reprodutores a serem utilizados, as respectivas fêmeas e o período provável para o encaminhamento, providenciando o transporte, exame de Anemia Infecciosa Eqüina, indispensável ao trânsito dos animais entre propriedades e verificação das condições de alojamento das reprodutoras na propriedade do garanhão.

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São poucas as raças que têm período de monta fixado pela associação responsável; o mais comum é que cada propriedade fixe seu período de reprodução, que normalmente vai de setembro a fevereiro.

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A raça PSI é aquela que tem a temporada mais rigidamente estabelecida pela associação da raça (Stud Book Brasileiro), a qual é fixada entre 15 de agosto a 15 de janeiro. Além das vantagens citadas anteriormente o estabelecimento de uma temporada restrita para essa raça permite um agrupamento mais homogêneo dentro dos produtos gerados, facilitando o aproveitamento desses como atleta.

O transporte
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É a égua que sempre deixa o habitat para ser colocada junto ao garanhão para a cobertura. Antes de transportá-la ao destino é importante checar novamente o combinado com o proprietário do garanhão, avisando-o que sua égua está sendo transportada para a sua propriedade.

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Se a égua estiver no cio do potro e o potro estiver com diarréia, gripe ou qualquer outra doença, evite transportá-los nessas condições; espere mais 20 dias até a égua entrar em cio novamente, faça uma checagem do potro e se tudo estiver bem proceda com o transporte.

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Não se esqueça de levar consigo toda a documentação da égua bem como os exames: nota fiscal, documentos de registro da égua, exame de AIE (Anemia Infecciosa Eqüina) e histórico reprodutivo.

A cobertura
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O cio, período em que a égua ser coberta pelo garanhão, tem duração de três a sete dias, sendo que a grande maioria das éguas tem cio de cinco dias; em condições normais, são raros os casos de estro (cio) mais prolongado do que sete dias.

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A ovulação, quando o folículo rompe, liberando o óvulo para a fertilização, ocorre no penúltimo ou geralmente último dia de estro. Um erro muito comum entre criadores iniciantes é mandar cobrir a égua assim que o estro começa, quando ela está apenas aceitando o reprodutor, porém ainda não fértil. Já que o esperma sobrevive no trato reprodutor feminino por 48 horas, a prática correta é mandar cobrir a égua em dias alternados a partir do primeiro dia de estro, prosseguindo enquanto ela estiver aceitando o macho, mesmo que isso leve mais do que cinco dias (três coberturas).

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Nos haras que possuem assistência veterinária diária, faz-se o toque (palpação retal) diariamente nas éguas em estro, para começar a cobri-las apenas um ou dois dias antes da previsão de ovulação. Assim evita-se o desgaste do reprodutor e diminui-se o risco de acidentes no momento da cobertura.

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As três possibilidades de se realizar a cobertura são: a campo, no piquete ou à mão. A cobertura a campo, onde o garanhão vive normalmente solto com as éguas, determinando ele mesmo o momento e a freqüência dos saltos, é a mais natural, e obviamente não depende de conhecimento ou ajuda humana para ser levada a termo. No entanto, ela praticamente não é utilizada na criação intensiva de cavalos, limitando-se a raças que ainda vivem em estado semi-selvagem, tais como o Crioulo.

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A cobertura em piquete consiste em colocar a égua solta num padoque ou piquete pequeno, depois conduzindo a ela o reprodutor, que também será solto. Os animais serão separados novamente assim que a cobertura tiver sido realizada. Esta pode ser uma boa opção quando as pessoas envolvidas não tiverem experiência na condução de garanhões durante o ato de monta. No entanto, é importante que ambos os animais sejam experientes, e que a égua esteja realmente em fase de aceitação do macho. O coice de uma égua pode inutilizar um reprodutor, ou mesmo causar-lhe uma fratura, ou ainda traumatizar um reprodutor jovem, que posteriormente poderá se recusar a efetuar novos saltos.

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A cobertura à mão é a mais utilizada nos haras; nela a égua é contida com cabresto, peia e eventualmente cachimbo, e o garanhão é conduzido até ela, numa guia ou corda longa presa ao cabresto ou à embocadura. É o método mais seguro quanto à prevenção de acidentes, porém exige bastante experiência da pessoa que estiver conduzindo o reprodutor. E necessário que o garanhão respeite a pessoa, deixando-se conduzir ao local de monta - e não arrastando seu condutor - e depois aguardando a ‘autorização’ do condutor para proceder ao salto.

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Se a égua estiver com um potro ao pé, é melhor que o mesmo permaneça confinado na cocheira durante a cobertura ou, se o potro for muito pequeno, ou a égua muito nervosa, devemos designar uma pessoa para contê-lo, segurando-o durante toda a cobertura. E muito fácil que um potrinho se machuque durante a cobertura de sua mãe, ou ainda que a mesma fique nervosa devido à agitação de seu filho, passando a rejeitar o reprodutor.

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Devemos evitar que a cobertura se torne um “evento”, com a presença de espectadores curiosos e barulhentos, que deixarão os animais mais nervosos e agressivos. Devemos reduzir o número de pessoas presentes ao mínimo indispensável, e elas devem se comportar com o máximo de silêncio e tranqüilidade.

Colaboradores:
Luís Alberto S. Lopes, veterinário do Posto de Fomento do Jockey Club de São Paulo
João L. Fleury, veterinário da Central de Reprodução 10, Faz. Sta. Amélia, S. J. do Rio Pardo e Claudia Leschonski, veterinária, treinadora e coordenadora técnica desta revista.
Revista Horse Ilimitada, Vol.18, Página 46-49
Outubro de 1995

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