Quando o pedalar torna-se viajar

* por Camila Barp

Desde sempre gostei de bicicleta. Desde pouco tempo comecei a enxergá-la também como meio de transporte. E, desde então, tenho tentado adaptá-la à vida cotidiana como uma forma mais divertida e saudável de me movimentar. E assim, comecei a percorrer trajetos cada vez mais longos, querendo sempre um pouco mais.

Desde sempre gosto de viajar. E desde pouco tempo comecei a me interessar por viajar de bicicleta ou de tê-la como um meio de viajar. A junção desses dois verbos – pedalar e viajar – inspirou este relato.

Minha primeira viagem cicloturística foi aqui pela Gondwana; Pedal Ilhas Lagamar. Viagem belíssima; Ilha do Mel, Ilha das Peças, Parque Nacional de Superagui, e, por fim, Ilha do Cardoso. Um pedal de 70km, sendo que quase todo trajeto é realizado em areias planas de praia. É um bom começo, pela leveza da viagem e a beleza das paisagens e vilarejos.

Como tudo o que é bom provoca desejos de bis, fiquei com vontade de mais. Mais tempo, mais distância, mais paisagens, mais diversidade de caminhos. Decidi então pedalar na Rota das Baleias (trajeto entre Florianópolis e Imbituba, no litoral sul de Santa Catarina). Nessa época, as gigantes são uma atração especial para a viagem.

Mesmo com a previsão do tempo não muito animadora, resolvemos seguir viagem. Bikes no carro e a estréia do nosso querido Chicão, filho da Dani – de três anos de idade – que nos acompanhou corajosamente nessa aventura. Ele praticamente não tirou o capacete da cabeça durante as três horas de viagem de carro de Curitiba até Floripa. Estava empolgadíssimo com a história de pedalar por praias, caminhos rurais e, principalmente, com a possibilidade de ver as baleias. Tudo era novidade para ele.

A partir da chegada em Floripa, quatro dias de pedal nos levaram por caminhos belíssimos. Teve de tudo: chuva e sol, lama e areia, nuvens e céu azul, terra firme e mar, baleias, mariscos, estradas rurais do interior, lombas, e retas.

Começamos por Itaperubá, visitando o Museu da Baleia Franca. Lá tivemos uma boa introdução ao importante esforço de conservação que tem sido feito para tirar as baleias-francas da lista de espécies em risco de extinção. Depois, pedalamos por Imbituba e Ibiraquera até chegar à praia do Rosa, onde dormimos na primeira noite.

No dia seguinte, pedal até a praia do Ouvidor – trilha de restinga, dunas e campo – e chegamos ao Projeto Gaia Village que desde 1997 tem a proposta de assentamento humano sustentável (trabalho reconhecido pelo José Lutzenberger) e iniciativas de grande impacto. Chá quente e uma boa conversa para repor as energias.

Seguimos adiante até Garopaba, infelizmente dentro do ônibus, já que chovia muito forte. No final, uma feliz coincidência: conseguimos chegar a tempo da última saída de barco para ver as baleias bem de perto. Nessa época, elas ficam por ali alimentando os filhotes que treinam seus pulos perto do aconchego das baleias mães. Vimos oito mães com seus filhotes, muitos deles bem ativos, exibindo suas caudas e saltos para os ávidos e curiosos turistas do barco. Na sequencia; Siriú, pouso da segunda noite.

O terceiro dia de pedal foi lindo. Começamos com uma boa subida para aquecer e, no topo do morro, uma vista ampla das praias da Guarda, Gamboa e Pinheira. Trechos de áreas rurais, cenários bucólicos, e um delicioso café da tarde no Engenho das Três Irmãs enfeitaram o dia.

Lembro que nesse dia, comecei a sentir algo novo. Um ritmo novo. De caminho, não de chegada.  O ritmo de curtir cada pedalada como um meio de chegar, e não como um fim em si. O prazer de sentir o vento no rosto, observar a beleza do trajeto, conversar com os companheiros de viagem. Sentir a diferença de terrenos, o sol, o sal, a chuva. Enfim, uma certa poesia se instalou ali, nesse novo tempo-espaço de viagem. Acredito que foi a descoberta de um novo ritmo de viagem gerado pela intensidade que queria dar a ele; mais pesado, mais forte, mais leve – dentro das possibilidades – e a vontade de seguir em frente. Tudo muito novo, tudo muito bom. Adjetivos que ainda não consegui nomear por completo. Ainda estão no verbo sentir e não no pensar.

E para completar, o último dia foi de céu azul, mar esverdeado, e a Guarda do Embaú, minha preferida. Travessia de barco, pedal pelo sul da Ilha de Floripa, a histórica Riberirão da Ilha com seus casarios antigos beirando o mar, mariscos, ostras, camarão, mais pedaladas e a viagem chegou ao fim. Mas a vontade não, a vontade era de ficar na bicicleta e seguir adiante. Dizem que a gente nunca quer que as viagens boas cheguem ao final, queremos sempre prolongá-las ao máximo. Começo a acreditar…

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* que vê novas possibilidades sobre duas rodas….

3 Respostas

  1. Josiane Rosa

    Que delícia ler seus relatos Cami. Boas novas aventuras e descobertas para você. bjão

    setembro 19, 2011 às 5:28 pm

  2. Cami. Que viagem !
    Parabéns pelo empreendimento e pelo texto. Lindo !

    setembro 19, 2011 às 6:34 pm

  3. Que delícia!
    O mais divertido foi ver o chicão reinando absoluto entre as mulheres na última foto! O sul de Santa Catarina (com Florianópolis) é uma das regiões mais bonitas e legais pra pedalar do Brasil!!!!!!!!!!!!!!!

    parabéns para vocês pela excelente trip!

    setembro 19, 2011 às 9:06 pm

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