Depois de quase um mês passado a última viagem da Trupe Tamboril, trazemos pro blog os vídeos dessa andança.
A programação eram duas apresentações em praça pública durante o Fringe (Festival de Curitiba).
Curitiba, cidade fria. Em tudo, foi bom aquecermos juntos e aquecermos por lá.
Foi bom pra cada vez mais enxergarmos o quanto a rua é isso mesmo. É movimento sem tempo, nem intenção. A não ser aquela que se visa chegar ao ponto em que realmente se quer.
O que a Trupe quer com essas andanças não é levar a rua a arte como solenidade, muito menos como um presente, fruto de um altruísmo inadequado se este julga sua percepeção cultural como superior àquela do transeunte apressado. Não tem motivo, não tem propósito, muito menos viés catequisador ou que categorize as atividades culturais ou não.
Cultura e arte na rua é isso. Não existe ao mesmo passo que está em tudo. Da prostituta ancorada no poste, ao menino que volta da escola e atravessa a rua contando o nº de faixas brancas logo abaixo do semáforo. Queremos atingí-los? Seria essa a intenção da arte de rua? Atingir alguém? Abrir olhos? Chocar?
Tudo isso cabe muito bem no plano demagógico das políticas e políticos culturais. Mas não é isso. A arte na rua apenas sinaliza com cores, sons e faces o trabalho que a própria rua começou.
Talvez trabalhar com a arte na rua tenha uma maior perspectiva de engajamento? Talvez, mas para nós isso não é essencial. A cada dia em que nos propomos a agir e observar essa interação, vem a nossa mente o quanto de rua a arte tem que ter pra poder tocar justamente aquele que passa olhando pro relógio. Não queremos nos engajar, mesmo sabendo que levar o mundo artístico de maneira irrestrita seria uma brecha para nos encaixarem nesse termo. Se assim quisessemos, levantaríamos bandeiras, e como jesuítas partiríamos diante os “selvagens” tentando levar a esses “sem cultura” um pouco de nossa divina e dantesca sabedoria sobre o fazer artístico e cultural. Tentaríamos absorvê-los, mesmo que de maneira amorfa, a discursos que tentam incansavelmente reproduzir a ideia da cultura como chave para o desenvolvimento de uma sociedade como um todo.
Também não queremos entreter ninguém. A responsabilidade de entreter alguém na rua é muito grande.
O que passamos a ver com tudo isso é que engajamento não se compra. Não se ensina. Ele faz parte totalmente do referencial daquela pessoa que o sente ou não. A arte tem que tocar, mas não se colocar como dádiva dentro de um contexto em que as pessoas pouco tem possibilidade de entender suas próprias necessidades em dar, receber e retribuir.
Antes de sermos engajados, vemos hoje que o artista de rua tem muito a aprender para que possa tomar esse título para si. Principalmente aqueles que usam as calçadas como base para o seu discurso pró-acessibilidade. Temos que aprender que não se faz arte na rua tentando lhe impor uma necessidade, ou apelando os olhos alheios para aquilo que falta na vidinha urbana dos seres humanos.
Talvez a lição seria viver da rua para entender que é ela própria que faz toda arte. A gente? A gente apenas ajuda as pessoas a sentirem de maneira lúdica aquilo que as pernas e olhos entre a fumaça dos carros tomam como certeza em meio a multidões na hora do rush: cansar-se do sufoco e perguntar-se sobre a canseira. Se isso acontece, o nosso público, o da rua, já nos sente e nos dá sentido.
Seguimos até a próxima estrada.