Skip to main content

Há seis meses, eu jogava sempre que possível. Normalmente, esse “sempre que possível” significava “sábado das 11 da noite até as 2 da manhã – e sempre com o volume no mínimo possível – e uma hora nos portáteis de noite”.

Hoje moro sozinho, sem preocupação de incomodar ninguém com meus hábitos. Isso significa mais tempo para videogame, pensei. Aí comprei um PS3, aproveitei o câmbio baixo da libra (eu moro na Espanha) e comprei vários jogos e também um Wii Balance Board, que eu sempre tive vontade de ter.

E eu realmente estava certo, meus consoles passaram a acumular uma grande quilometragem. O PS3 é um Blu-Ray e DVD player bastante prático (já que comprei uma Sony Bravia, e posso usar o próprio controle remoto da TV para controlar o PS3) e o Xbox 360 virou uma espécie de MP3 player, com o Rock Band 2 rodando em background (e com as opções certas ativadas) sempre que estou fazendo alguma coisa.

Agora, jogar? Nunca mais liguei o Wii depois que testei a Balance Board. O PSP está acumulando pó desde que fiz a sincronização de Remote Play com o PS3. O DS, nem lembro quando foi a última vez que liguei (acho que foi quando terminei o Zelda: Spirit Tracks). A última vez que joguei com o Xbox 360 foi quando fiz uma horinha de Rock Band 2 no domingo, e o PS3 foi na quinta-feira passada, quando chegou meu Super Street Fighter IV direto da Game UK. Antes disso, o último jogo em disco que coloquei nele tinha sido há um mês, quando encontrei o Legends of Wrestlemania por menos de 5 euros no supermercado (aliás, jogo honestíssimo!). E, antes dele, foi quando dormi (sério!) vendo um dos curta-metragens entre fases do Metal Gear Solid 4. Hoje, devo ter mais de 30 jogos que não fiz mais que colocar no console pra ver como eram, quando cheguei a fazer isso.

E o pior: não é que tenha perdido o interesse. Ainda acompanho as notícias. Ainda procuro ofertas interessantes por aí (mas menos, que o dinheiro tá curto). Ainda tenho aquele saudável (às vezes) hype. Ainda estou esperando as notícias da E3.

O que mudou? Não sei. Talvez minha vida seja muito mais estressante agora. Agora tenho muito mais responsabilidades no trabalho. Tenho que conciliar meu tempo de fim de semana entre o passeio com o filho no sábado (isso quando ele não fica pra dormir desde a sexta-feira) e a limpeza da casa no domingo (porque pode não parecer, mas viver num chiqueiro não é legal). Depois de sair do trabalho, tenho que lembrar do que falta em casa, passar no supermercado, guardar tudo quando chego em casa, me trocar, arrumar a mala, ir pra academia, voltar da academia, fazer a janta, limpar tudo depois, colocar na lavadora, pendurar a roupa…

Depois de tudo isso, o que eu menos quero é mais stress. Não quero ficar nervoso com um chefe de fase que tem a mania de usar uns golpes ladrões, ou procurando a maneira de resolver um quebra-cabeças. Quero algo simples, tranquilo e burro. Vejo a televisão, acesso a internet, coloco algum filme… Videogame, só se tem algum jogo arcade pequeno, simples e rápido.

Será que isso significa que o que esse pessoal fala é verdade? Videogame é coisa pra criança, e agora eu estou finalmente virando adulto e deixando isso para trás, como deixei os gibis quando meu filho nasceu? Não, acho que é outra coisa: o principal problema é que videogame não é uma maneira de relaxar. É, de certa forma, uma maneira de criar stress.

Videogame é como um parque de diversões: você não vai na montanha-russa para relaxar, vai para ter um shot de adrenalina na veia. E os videogames são a mesma coisa. Se você não tem stress suficiente em sua vida cotidiana, o videogame é um passatempo divertido. Mas, se você gasta sua cabeça e seu corpo com atividades que te deixam cansado física e mentalmente, os videogames não vão te interessar.

Bem, pelo menos não os VIDEOGAMES, essa indústria com produtos que custaram milhões de dólares pra fazer e muitos outros para promover. Os videogames simples e honestos continuam tendo lugar. Eu consigo jogar Shatter, Final Fight, After Burner, Rock Band, mas não consigo jogar God of War, Super Mario Galaxy, Batman Arkham Asylum, Brutal Legend… Não consigo, depois de gerenciar uma equipe de oito pessoas durante todo o dia e depois fazer uma hora de academia, pegar o controle e ficar horas procurando a saída de um labirinto. Quero descansar, e a melhor maneira de fazer isso é desligando o cérebro.

Até que saia o próximo Zelda, claro.