Afinal, o que é diversidade?

 Eu nunca tinha me preocupado com diversidade antes de iniciar o MBA. Como médico, minha formação até então havia sido extremamente individualista. Conceitos como diversidade, trabalho em equipe, liderança e outros tantos do mundo corporativo eram completamente alienígenas pra mim. Após quatro anos de vida corporativa, no entanto, ainda não entendo bem o conceito de diversidade. Diversidade são pessoas diferentes que pensam igual ou pessoais iguais que pensam diferente?

 Quando eu me mudei para os EUA, como médico, eu não senti nenhuma diferença. Eu era considerado diferente, pois era de outro país, de outra raça (na opinião dos americanos) e falava outra língua. Mas eu compartilhava quase todos os valores e a cultura do meio médico. A adaptação aos EUA não poderia ter sido mais fácil—eu parecia diferente, mas era igual. Ao mudar para o mundo business, no entanto, mesmo entre iguais, eu era completamente diferente. Ao interagir com os meus colegas no MBA, brasileiros como eu e conversando em português, pude perceber como a nossa cultura e a nossa forma de pensar era diferente.

 No mundo corporativo, diversidade normalmente é medida por atributos facilmente identificáveis (nacionalidade, raça, religião, língua, etc.), mas nada disso realmente importa. Em qualquer meio profissional, o que realmente conecta as pessoas e as torna diferentes ou iguais são os valores e a cultura da profissão. Médico pensa como médico em qualquer lugar do mundo. Profissionais do mercado financeiro pensam da mesma forma em todos os países. Um funcionário do Google, por mais alternativo que seja, vai pensar muito parecido com outro funcionário do Google no outro lado do planeta. E no final das contas, ao atentar para os atributos óbvios, poucas empresas de fato conquistam a diversidade. Na verdade, não acredito que exista empresa com verdadeira diversidade, com diversidade de cultura e pensamento, e tenho minhas dúvidas se uma empresa efetivamente diversa seria produtiva. É muito mais fácil produzir quando todo mundo pensa parecido, quando todos têm a mesma missão e olham na mesma direção.

 Por outro lado, existe um outro tipo de diversidade, que é a diversidade das experiências de cada indivíduo. É a diversidade de um Steve Jobs que, por ter estudado grafia, trouxe a riqueza de fontes e elementos gráficos aos computadores. Mas, como o próprio Steve Jobs aprendeu na prática ao ser expulso da Apple, é difícil para uma empresa assimilar diversidade. Para o indivíduo, pode ser mais seguro desenvolver uma carreira restringindo seu escopo de atuação, assumindo por completo a cultura de uma determinada profissão e ignorando todas as outras. Assimilar muitas formas de pensar desvia do foco. Tanto que muitas empresas fortes são construídas por um líder forte, que difunde uma cultura e uma forma de pensar muito bem delimitada para os seus empregados. E a empresa funciona bem desse jeito. Numa empresa forte, o todo funciona como uma unidade, mas uma unidade, por definição, não pode ser diversa.

 Até que ponto então, vale a pena buscar diversidade de experiências, se essas experiências podem não encontrar aplicação direta na carreira? Essa é uma resposta que devemos buscar internamente e que, no fundo, tem relação direta com a nossa tolerância ao risco (risco de gastar tempo com algo que pode não servir pra nada, mas que também pode trazer grandes oportunidades). Tanto diversidade como foco são conceitos valorizados no mundo corporativo, mas que tendem a ser excludentes. E tanto diversidade como foco podem estar por trás de grandes sucessos e fracassos. Resta ao indivíduo, portanto, se posicionar nesse trade-off entre a diversidade das experiências que enriquecem a vida (mas podem ou não contribuir para a carreira) e o foco necessário para obter respeito e reconhecimento em determinada profissão.

Daniel

Uma resposta para “Afinal, o que é diversidade?

  1. Daniel, é muito interessante essa sua abordagem sobre diversidade. Como profisisonal de Geociências, tenho lido sobre (mas não lidado com) geodiversidade e biodiversidade. Mas, nunca parei para pensar na diversidade humana. E cabe mesmo perguntar: são pessoas diferentes que pensam da mesma maneira ou pessoas iguais que pensam de modo diferente ? Não sei… Um antropólogo deve escolher a primeira opção; um psicólogo, talvez a segunda…

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