Voluntariado “entre semelhantes”

Esta semana preparava-me para vos apresentar uma instituição de voluntariado. Porém, perante a alegria demonstrada pelos alunos da minha escola numa nova experiência, mudei de ideias.
Este ano letivo toda a comunidade escolar do Colégio Valsassina foi desafiada a fazer uma experiência de Voluntariado “fora de portas”, um compromisso semanal: colaborar com o Centro Social e Paroquial de São Maximiliano Kolbe na área de intervenção para a infância e juventude.
O Centro desenvolve várias atividades: promover a aquisição de informação nas diferentes disciplinas; desenvolver nos jovens atitudes positivas face ao estudo e à escola; desenvolver nos jovens autoconfiança, autonomia e sentido de responsabilidade face ao seu percurso escolar.
Responderam positivamente, alunos e professores. Mas é do testemunho de alguns dos alunos que vos escreverei nestas poucas linhas.
Para muitos deles, não é novidade fazer voluntariado dentro e fora do colégio. «Já fazia voluntariado e gostava de me envolver em novos projetos», disse-me a Alexandra Pereira. Mas para a Ana Clara era um desejo: «Sempre quis participar em ações de voluntariado e esta interessou-me particularmente porque gosto imenso de crianças» ou para a Inês Graça «O que me motivou a participar neste projeto foi a vontade em participar num projeto de voluntariado, e neste projeto vi essa oportunidade». Para a Catarina Allen Silveira foi a curiosidade: «Este tipo de projeto despertou a minha curiosidade por nos envolver internamente numa associação tão próxima do colégio, mas para mim completamente desconhecida!»
Mas de onde “nasce” esta vontade? É uma questão que “volta, não volta”, dou por mim a pensar. Já faço voluntariado desde muito novo. Recordo o meu primeiro voluntariado consciente: dar catequese a jovens colegas mais novos. Lembro com muita alegria aquela experiência. O entusiasmo de dar alguma coisa a alguém. Tenho bem presente na memória que nem todos os convidados o aceitaram. Portanto, qual a razão ou razões que levam uma pessoa a fazer voluntariado? Ao pensar nisto, lembro-me sempre da parábola do Semeador (Mt 13, 1-23). Então, como é que Deus semeia? Uma das formas está bem expressa na opinião da Laura Seara Cabeça: «Lembro-me que, desde pequena, a minha família, em especial a minha avó materna, me ensinou a olhar para o “outro”. Não como quem julga. Não como quem simplesmente passa e olha. Mas, como quem avalia, conversa, percebe e ajuda. E é esse ensinamento em particular, que me motiva a fazer tudo na vida. É o saber que posso ajudar o outro, mesmo tendo pouco para dar.» Mais uma vez o paradigma da Alteridade. Ir ao encontro do outro… É na família que tudo “nasce”. Claro que não podemos esquecer, a escola, os amigos, as “boas companhias”. O Senhor “serve-se” de todos os que têm bom coração.
Para estes alunos, esta experiência vai ter repercussões nas suas vida. Para a Catarina: «Não só aprenderei a lidar melhor com situações fora do meu ambiente habitual, como também com crianças e com as suas dificuldades educativas.»; a Inês, diz: «acho que me vai abrir os olhos bem como ajudar outros a abrir os olhos.»; a Alexandra, acrescenta: «pelo facto de estar a lidar com uma nova realidade e com novas pessoas.»; para a Ana: «todas as experiências têm algo para nos ensinar.» E a Laura: «Acredito que, o que define uma pessoa são as experiências que a mesma tem. E passo a explicar: No mundo tão competitivo em que hoje vivemos, vigora a lei da selva. O melhor preparado, o com mais experiência fora do comum, o com melhores habilitações é o que sucede na vida. Nesse sentido, acredito que as experiências desta natureza são, em primeiro lugar, de igual importância às de natureza profissional ou académica e, em segundo lugar, são o que definem e uma pessoa como ser humano e membro integrante da comunidade da qual faz parte.»
A realidade que encontraram é bem diferente da deles. A motivação e concentração para o estudo são muito baixas. São crianças e jovens com problemas disciplinares na escola. Muitos dos pais, são “ausentes”. Se não fosse o Centro Paroquial, andariam a deambular pelo bairro até os familiares regressarem a casa no final do dia. 
O trabalho feito por este Centro na “Zona J” de Chelas é fundamental. Será assunto para outra crónica, que esta já vai longa. Bem como a experiência destes Jovens Voluntários e dos outros que entretanto se juntaram e que não “consegui” ouvir o seu testemunho

Paulo Victória

Cronista

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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