quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Falta de vagas em asilos públicos de Belém

“Nós aqui no Pará estamos carentes de casas geriátricas, hotéis geriátricos e pousadas geriátricas, em Belém só tem uma casa geriátrica em que o idoso é atendido com dignidade, que é o Pão de Santo Antônio, as outras são deficientes de tudo”, essas são as palavras de Clívia Afonso, 74 anos, paraense, que procurou no Brasil inteiro um lugar decente no qual pudesse viver tranquila com seu marido Amindas Afonso, que tem Mal de Alzheimer, e acabou por ficar em Belém a pedido dele. Mas sentiu a necessidade que há de Entidades de Acolhimento do Idoso.


No dia 1º de outubro foi o dia Internacional e Nacional do Idoso, mas em Belém não houve muito que comemorar nesse dia. O número de Instituições de Longa Permanência para Idosos do Estado é hoje insuficiente para a crescente demanda. Com listas de espera enormes e sem a qualidade de vida e a atenção necessária, muitas pessoas de idade não têm outra saída que não seja recorrer a instituições particulares. Belém conta hoje com três instituições de longa permanência para idosos (nome correto dos asilos), sendo eles o Pão de Santo Antônio, que é particular, o Abrigo Lar da Providência e a Casa Socorro Gabriel, ambas mantidas pelo Estado.

Segundo Valéria Sagica, assistente social do Pão de Santo Antônio, há três situações hoje de entrada na instituição: espontâneo, encaminhamento por orgãos públicos (Ministério Publico, hospitais) e a busca por familiares ou terceiros como vizinhos e amigos; em todos os casos, o idoso passa por uma avaliação clinica e psiquiátrica. Idosos com transtornos mentais ou psicológicos não são aceitos, pois mesmo se tratando de uma instituição particular, o Pão de Santo Antônio não tem estrutura para tratar de casos assim.

O artigo 50 parágrafo 16 do Estatuto do Idoso dá às Entidades de Atendimento ao Idoso o direito de “comunicar ao Ministério Público, para as providências cabíveis, a situação de abandono moral ou material por parte dos familiares”. Quando a família simplesmente “larga” aquele parente por não ter mais condições de cuidar dele ou por que o considera como um fardo, contribui assim para que se repitam hoje as mesmas cenas em hospitais e instituições públicas, com pessoas idosas em macas e cadeiras pelos corredores, maus tratos de funcionários, e escassez de comida e remédios.

Há muitas diferenças no tratamento oferecido ao idoso por uma Entidade pública e uma privada. No Pão de Santo Antônio, por exemplo, os idosos contam com uma boa estrutura não só de moradia, mas psicológica também. Eles pagam uma mensalidade com a própria aposentadoria, recebem visitas freqüentes de seus familiares, têm ao seu dispor uma equipe técnica composta por um clínico geral, professora de educação física, fisioterapeutas, nutricionista e terapeuta ocupacional. Alguns desses profissionais vêm de instituições que disponibilizam os materiais necessários às atividades dos idosos, como a Universidade da Amazônia.

O contrário dessa realidade pode ser vista em Instituições de Longa Permanência públicas, como o Abrigo Socorro Gabriel, localizado na Travessa Padre Eutíquio, no qual a entrevista foi negada. Em instituições como essa, o idoso só é acolhido se realmente não tiver alguém responsável e a estrutura oferecida é precária. Essa é a realidade dos idosos não só no Pará, mas do Brasil inteiro. Pessoas que já trabalharam tanto, já passaram muitas vezes por necessidades, batalharam para educar seus filhos, vivem no final de sua vida à mercê da caridade de uma minoria que se sensibiliza com tal situação.

Mais do que um lugar físico para serem acolhidos, os idosos precisam de afeto. Clívia Afonso, sentiu que no Pão de Santo Antonio o seu marido que tem Mal de Alzheimer obteve uma melhora, pois a comunicação e o bem estar refletiram na sua saúde, como dito por ela, “o ser humano não nasceu pra viver sozinho, aqui no amanhecer você já tem pra quem dar bom dia”.

Matéria feita com Camille Nascimento.
Fotos: Camille Nascimento

8 comentários:

  1. Muito boa essa matéria Debb,é sempre interessante tornar público o que está tão explicíto para a sociedade, mas as pessoas fingem que não veêm o problema!

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  2. Meu nome e Sulamir, minha mãe está no Pão de Santo Antonio, e gostaria de receber fotos dela neste
    belo lugar.Moro no Rio de Janeiro, pois não tenho condições no momento para visita-la.
    Meu E-mail é sulamirsufox@gmail.com

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  3. Excelente sua matéria, e como sugestão gostaria que vc fizesse a comparação dos idosos que moram em asilos como o pão de Santo Antônio com os idosos que moram sozinhos em suas casas,tipo o que seria melhor? Quais as vantagens e desvantagens de cada um. Minha mãe mora sozinha bem perto da minha casa e veio conversar comigo da possibilidade dela ir para o pão de Santo Antônio, estou meio perdida de como aconselhá-la.

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  4. Olá Aninha,
    Estou feliz de ler mais um comentário nesse post,
    infelizmente pouca coisa mudou desde minha visita ao Pão de Santo Antônio.
    Quanto as vantagens e desvantagens de morar só, isso varia de família para família, se o idoso tem parentes que moram próximo, se ele tem o contato do hospital mais próximo, etc.
    O Pão de Santo Antônio é um lugar lindo e bastante acolhedor, mas sugiro que você acompanhe a sua mãe em algumas visitas, isso visitas no plural, em diferentes horários do dia.
    Não esqueça que ela deve se sentir bem lá, e você deve se sentir bem lá tambem para poder visita-la.
    Boa sorte a você e a sua mãe.

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  5. Adorei a materia, faço enfermagem e nossa profissão é de extrema importancia no cuidado aos idoso nessas instituições... estou fazendo uma pesquisa a respeito de ILP do Estado, e sua materia foi muito útil!

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  6. Eu é que fico agradecida. Espero que meus textos possam continuar a fomentar vários debates necessários da nossa sociedade.
    Abraços!

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  7. Parabens pela bela materia que vc fez da Instituição que trabalho e amo muitooooo.Querendo nos fazer uma visita é só aparecer.

    Bjs

    Valeria Sagica

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  8. Nossa Valéria!
    Muito obrigada você, que nos concedeu a entrevista e gostou do que fizemos.
    Compartilhe e mais uma vez obrigada.
    Abraços!

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