TARJA PRETA: A filial carioca de Cyclops

Com a previsão de um grande swell encostando no Rio de Janeiro no final de agosto, uma galera insana, que está sempre na atividade, resolveu sair para explorar uma nova laje para o tow-in localizada na costa da Barra, conhecida como “Cartão Postal”. O nome original não condiz nem um pouco com a intensidade da esquerda, que quebra em muitos momentos totalmente “off” sobre a pedra exposta, sugerindo uma comparação maluca com a laje de Cyclops, no oeste australiano. Não é a toa que depois dessa trip o pico recebeu um novo apelido: “Laje do Gardenal”.

A laje fica bem próximo às ilhas Tijucas, a uns três quilômetros da praia da Barra. Nos dias de ressaca, as espumas e até alguns tubos sinistros que quebram por lá podem ser vistos da areia. Anteriormente, a onda havia sido surfada por bodyboarders, como o campeão mundial Paulo Barcellos, que foi levado ao local pelo amigo Marcelo Pedro. Os primeiros relatos desse pessoal já indicavam que a onda era bem pesada.

“Estive lá três vezes. Peguei um dia com 2 metros de onda e me machuquei. Mesmo assim surfamos altos tubos e, detalhe: fomos remando! Uma hora e vinte minutos de remada para comprovar que os tubarões não atacam naquela região (risos), pois voltei sangrando bastante e tive que tomar dez pontos, sem contar o corte na sola do pé que merecia pelo menos mais uns vinte!”

– Paulo Barcellos.

Desta vez o time formado por Felipe “Gordo” Cesarano, Nelson Pinto, Paulo Curi e Felipe “Munga” Senra, partiu para o pico em três jet skis, acompanhados dos fotógrafos André Portugal e Henrique Pinguim, que ficou impressionado com o que viu naquela sessão camicase.

“Algumas ondas explodem na pedra sem água nenhuma. Rola um barulho bizarro! Essas são impossíveis de serem surfadas, pois as quilhas devem arrastar e travar na laje. E outra, se vacar não vai ter água pra amortecer o caldo… mas com ondulação de sul/sudoeste sobram umas que formam um braço mais longo, possibilitando um tubo na baforada, um pouco mais para a esquerda, a uns da 10cm da pedra, eu acho (risos)”

– Pinguim.

Após ficar na terceira colocação na etapa peruana do circuito mundial de ondas grandes, Gordo, logo no primeiro grande swell após sua volta pra casa, não perdeu a oportunidade de conhecer e botar pra baixo nessa onda insana, que fica a cinco minutos da marina onde guarda o jet. Segundo Cesarano, os relatos de amigos como Stephan Figueiredo e a possibilidade de surfar uma nova laje no Rio, ao invés de treinar novamente nas ondas da Barra, o deixaram instigado.

“Uma galera tinha me falado daquela laje e como eu já estava de saco cheio de fazer tow-in na Barra, partimos pra ver se tinha umas ondas em cima da pedra. A parada é sinistra, parece um mini Teahupoo, só que ainda mais perigoso, pois qualquer errinho mínimo é fatal, a pedra fica totalmente exposta. Agora, sempre que o mar subir, vamos dar um confere lá, já que de jet é pertinho da praia e ainda esperamos encontrar condições melhores. Depois dessa sessão, fiquei tão amarradão que quase desisti de ir para o Taiti pegar aquele swell monstro”

– Gordo.

Da galera que esteve na sessão cascuda da Laje Cartão Postal, o freesurfer e designer de pranchas gaúcho radicado no Rio, Nelson Pinto, era o único que já havia estado no local e disse estar bastante impressionado com o potencial assassino do pico nos dois dias seguindos em que estiveram batendo ponto na laje.

“Todos sabem dessa onda, mas ninguém surfa lá por seleção natural mesmo. É muito extrema, pesada e rasa, dá pra morrer fácil ali. Eu já tinha ido lá uma vez com o Ian (Cosenza). Puxei-o em umas ondas mas estava pequeno demais, e acredite: lá, a boa é a pegar as grandes, pois as menores quebram sem escalas, direto na pedra. Eu diria que é uma onda com custo benefício muito baixo, porque o tubo é curto, quase impossível, e não permite nenhum erro. Pode-se dizer mesmo que aquela onda é um mini Teahupoo, em frente de casa. Acredito que com a condição certa de ondulação e vento, o tubo pode ser feito. Basta irmos lá a cada swell para checar as condições.”

– Nelson Pinto.

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