Nota pós-Notícia

Globalização...o sentido da palavra não está associado apenas a unicidade com que as notícias percorrem o mundo com o advento da informática. O complexo sistema disponibiliza, mas também controla o que deve ou não ser publicado. "pós-Notícia" é o discorrer dessa informação, o intercalar das inúmeras notícias que recebemos todos os dias e as desconsideramos ao final deste. Você já pensou que estas, por mais estranhas e opostas que pareçam, possam estar interligadas?

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sexta-feira, junho 30, 2006

TIMOR LESTE - "O Retorno dos Conflitos" - 3ª de 3

Após o curto período de relativa paz denominado pós-guerra, os conflitos estão de volta em Timor Lorosa’e e apesar de não serem comparados aos atos de violência do sangrento passado timorense, os atuais conflitos tendem ser muito mais contundentes que outrora. Desta vez o inimigo é interno. Quando o maior opositor faz parte da própria gente, detê-lo significa cortar na própria carne!

Timor é um país jovem e, como tal, passa por muitas dificuldades. Como adendo às crises, está o fato de que Timor é um país que passou por muitos outros conflitos em sua conturbada história e isso se refletiu ao longo desta, dando margem para que suas guerras ganhassem proporções sem iguais. Antigos conflitos pegam carona nos atuais e isso resulta em múltiplos conflitos em que nunca se sabe em qual esfera brigas, incêndios e assassinatos, estão ocorrendo.

Apesar dos contra-tempos o povo timorense é apaixonante. Mesmo os ex-guerrilheiros carregam no olhar um temor que o fazem parecer acuados. Um timorense não atravessa sua frente sem que, com um dos braços esticados e a cabeça baixa, pronuncie: “licença, senhor”. Sua baixa estatura e timidez constroem uma imagem de fragilidade que nos faz imaginar o quanto já sofreu. No entanto, pensar em sua imagem não fornece real idéia da força na luta por sua liberdade.

Após vencer a grande batalha, no entanto, enganou-se quem pensou que todos os obstáculos estavam vencidos. Como um vulcão que gera grande parte de sua potência de forma calma e silenciosa, os atuais conflitos encarados por Timor também só despertaram o clima inconstante quando já estavam próximos da erupção. A guerra nasceu silenciosa, mas, ao contrário do que possam pensar, não oculta. Talvez menosprezada.

Na verdade não deram devida importância a razão do descontentamento de militares e policiais timorenses por vislumbrarem uma carreira que só era permitida aos pertencentes de determinadas regiões. Mas como questionar medidas preventivas de um governo que conhece bem os indícios, os traumas e as conseqüências de uma guerra? Por outro lado, como aceitar medidas que quase explicitam manifestações racistas e preconceituosas? Timor vive um drama patrocinado por um inimigo que não mais exerce reação e, no entanto, deixou cicatrizes que se abrem e sagram por feridas do passado.

Cerca de 600 militares timorenses organizaram manifestações de protestos às políticas de efetivação de carreira no exército e na polícia de Timor. Os manifestantes estavam insatisfeitos porque afirmavam ser desmerecidos quando na ocasião de promoções de carreiras que seriam destinadas a militares de regiões leste do país. O governo não titubeou e demitiu os manifestantes. Com a demissão, os manifestantes iniciaram ondas de roubos, incêndios e atentados, com o intuito de pressionarem o governo a reintegrá-los e incluí-los nas promoções. Apesar de negar a existências de prevaricações nas fileiras militares, o governo timorense teme a ascensão de timorenses originários de regiões oeste do país, devido a influência exercida pela Indonésia nessa área. Sabe-se que muitos dos componentes das milícias que assolaram o país com ações quase terroristas, eram provenientes dessas regiões e muitos, atualmente, podem estar usando fardas.

As ações dos manifestantes se reduziram depois que o Presidente Xanana Gusmão, por intermédio de manobra política na qual declarava “estado de emergência”, reassumiu o comando das forças militares e policiais. A popularidade do presidente não só acalmou o ânimo dos manifestantes como também derrubou o então Primeiro-Ministro Mari Alkatiri, responsável pelas demissões e alvo de fortes críticas do povo.

Novamente Timor vive clima de reconstrução e nós brasileiros que conhecemos de perto sua realidade esperamos que a sonhada liberdade e paz almejadas, lhe sejam, em breve, possíveis. Lembro-me agora da pequena Letícia. Com seus não mais que 9 anos dominava o português e nos servia de intérprete. Deixo aqui um beijo, com a esperança de que um dia, não distante, possa receber.

Daniel Lopes