Por Luciana de Oliveira Vilanova Chueri e João Marques Rosa Neto
Esta é a terceira e última parte do artigo sobre teoria e prática em Comunidades de Práticas em grandes organizações, onde relatamos os desafios e fatores críticos de sucesso de implantação desta técnica de Gestão de Conhecimento.
A implantação de uma Comunidade de Práticas envolve diversos fatores críticos de sucesso, dos quais os mais significativos estão descritos a seguir:
- Mudança de cultura. Incluir o hábito de participar da Comunidade de Práticas na rotina da força de trabalho envolve uma mudança de cultura, que se torna mais crítica no que se refere à troca de experiências negativas. Dedicar um tempo para consultar e utilizar práticas criadas por outras pessoas também envolve uma mudança de processos organizacionais;
- Seleção de pessoas com perfil adequado para compor os papéis-chave da estruturação e implantação de uma Comunidade de Práticas. Estas pessoas deverão ser reconhecidas corporativamente pelo excelente relacionamento inter-pessoal com seus pares e equipes, e pelo papel de formadores de opinião que exercem na sua área de atuação. Caso a Comunidade envolva atividades de validação de práticas, estas deverão ser realizadas por membros notoriamente reconhecidos na comunidade e que tenham experiência no assunto;
- Necessidade de criação e manutenção de uma estrutura para o planejamento, implantação e continuidade da Comunidade. É fundamental que esta estrutura envolva pessoas desde a alta gerência até os responsáveis pelo treinamento e disseminação. Esta estrutura deverá ter a representatividade de diversas áreas da empresa a saber, Gestão de Conhecimento, Processos, Recursos Humanos, Tecnologia de Informação e as áreas técnicas que serão o foco da Comunidade de Práticas;
- Obtenção do Patrocínio e comprometimento da alta e média gerência. Uma vez que a utilização da Comunidade de Práticas envolve mudança de cultura, criação e manutenção de uma infra-estrutura de suporte e dedicação parcial da força de trabalho da organização, a obtenção e manutenção do patrocínio é um fator crítico de sucesso (ROSA NETO, 2006);
- Transformação do conhecimento implícito em conhecimento tácito, para que este possa ser registrado de forma a conter informação suficiente para possibilitar a disseminação dos benefícios na organização (MCELROY, 2003);
- Treinamento adequado: Segundo Koenig (KOENIG,2004), o treinamento não costuma merecer a atenção adequada na maior parte das organizações. Muitas vezes erra-se em focar o treinamento apenas na ferramenta a ser utilizada como suporte à metodologia, sem considerar o treinamento no processo e nos aspectos humanos que envolvem a gestão do conhecimento. Outras vezes, há a preocupação de se treinar apenas os membros da Comunidade, sem se preocupar com os demais perfis da governança;
- Comunicação com os componentes da governança de forma eficiente e com qualidade: existem diversas formas que podem ser utilizadas para divulgar uma comunidade ou obter feedbacks sobre sua utilização. Contudo, deve-se tomar cuidado com o excesso de informação para que os membros não percam o interesse.
Conclusões
A transferência de conhecimento é um processo que não envolve apenas a aplicação de técnicas ou utilização de ferramentas. Envolve também uma mudança de cultura organizacional, na qual as experiências geradas, sejam elas positivas ou negativas se convertem em capital da empresa. A criação de uma Comunidade de Práticas viabiliza um meio através do qual é proporcionando à empresa a retenção do conhecimento e a troca de conhecimentos entre os mais experientes e mais jovens.
Como toda técnica, ferramenta ou processo que se deseja utilizar em uma organização, a utilização de Comunidades de Práticas deve considerar como aspecto essencial o foco em Pessoas, uma vez que todos os fatores críticos de sucesso listados anteriormente estão relacionados, de uma forma ou outra a pessoas.
Referências Bibliográficas
KOENIG, MICHAEL D. & SRIKANTAIAH, T. KANTI. (Eds.) Knowledge Management – Lessons Learned: what works and what doesn’t. Medford, NJ: Information Today, Inc., 2004. ISBN 1-57387-181-8
MCELROY, M.W. The New Knowledge Management. Complexity, Learning, and Sustainable Innovation. Butterworth Heinemann & Knowledge Management Consortium International Press, 2003.
ROSA NETO, J. R. & VILANOVA, L.O. et al, “Lições Aprendidas em Projetos de E&P”. In: II Seminário Internacional de Gerenciamento de Projetos da Petrobras.Salvador. Bahia, 05 a 07 de Dezembro de 2006.
Sobre os autores
Luciana de Oliveira Vilanova Chueri é uma das autoras deste blog e atua na equipe de Cordenação Corporativa da Comunidade de Práticas de Gerenciamento de Projetos.
João Marques Rosa Neto, concluindo MBA em Gerenciamento de Projetos pela FIA/USP, graduado em Engenharia Civil pela UFRGS. Engenheiro de Petróleo da Petrobras, onde atuou no Projeto de Implantação da Comunidade de Práticas de Gerenciamento de Projetos da empresa, onde faz parte da Coordenação Corporativa, Validador de Registros e Coordenador Local em uma Unidade de Negócios desta Comunidade. E-mail: jmrneto@petrobras.com.br
Perfeito, Lu.
Entender o conceito e a aplicabilidade de uma Comunidade de Práticas é fundamental. Mas implantar uma e esperar que, por si só, ela seja bem sucedida é realmente algo que não funciona e compromente todo o processo de transferência de conhecimento.
Muito bem citados os fatores de sucesso. Adorei o artigo!
Bjks
🙂