Análise do conto: A Partida, de Osman Lins

O conto fala sobre a história do rapaz-protagonista que morava com sua avó. Basicamente, retrata um conflito interno do rapaz, que vê na possibilidade de sair de casa, a chance de provar a sua própria maturidade: “Eu queria deixar minha casa, minha avó e seus cuidados. Estava farto de chegar a horas certas, de ouvir reclamações, de ser vigiado, contemplado, querido”. Nesse momento, até o fato de ser “querido” causa ojeriza no rapaz, pois isso só reforça a imagem imatura da qual ele está querendo desvincular-se.
O tempo cronológico do conto é progressivo e o período de duração é um dia, exatamente o dia em que o rapaz vai embora da casa de sua avó. Quando o rapaz fala de seu passado, o conflito fica latente, pois a imagem do presente, que está prestes a ser a imagem de um rapaz maduro, se contrapõe com a antiga imagem, que era a de alguém adolescente e totalmente dependente de sua avó.
A narrativa, dessa forma, está na voz em primeira pessoa. A narrativa do jovem remonta a questões do passado, fazendo com que fique a impressão de que, no momento presente, ele já é alguém maduro. Um exemplo disso é quando ele fala do tratamento que sua avó lhe dava: “Ela vivia a comprar-me remédios, a censurar minha falta de modos, a olhar-me, a repetir conselhos que eu já sabia de cor”. A voz da narrativa utiliza-se, por vezes, de discurso indireto livre, como no momento em que a avó entra no quarto: “Por fim, ela veio ao meu quarto, curvou-se: – Acordado?”.
Durante o conto, algumas marcas do conflito interno do rapaz “adolescência x maturidade” são percebidas. Ao mesmo tempo em que ele queria sair de casa o mais rápido possível, marcas de nostalgia já o cercavam. Em outras palavras, mesmo querendo atingir o mais rápido possível seu lado maduro, ele não conseguia ignorar seu passado. Nesse fragmento, podemos perceber isso:

Percebi que minha avó não me olhava. A principio, achei inexplicável ela fizesse isso, pois costumava fitar-me, longamente, com uma ternura que incomodava. Tive raiva do que me parecia um capricho e, como represália, fui para a cama.. Deixei a luz acesa. Sentia não sei que prazer em contar as vigas do teto, em olhar para a lâmpada. Desejava que nenhuma dessas coisas me afetasse e irritava-me por começar a entender que não conseguiria afastar-me delas sem emoção.

Com relação ao enredo, temos a narrativa de um menino que morava no interior e que vislumbrava, na oportunidade de migrar para a cidade grande, uma libertação das amarras familiares, que lhe podam as asas e não permitem alçar vôos livres. A sensação de liberdade é, por vezes, conflitante com o momento adolescente do rapaz, que se mostra, em muitos momentos, aflito, ansioso, saudoso, indeciso etc.
Podemos entender, também, que além das amarras familiares existiam amarras financeiras, pois a família, que era composta por ele e a avó, era muito humilde, o que não lhe permitia maiores luxos de consumo. A possibilidade, então, de migrar para a cidade grande tendo emprego e dinheiro, trazia ao jovem uma perspectiva de um futuro melhor.
Na seqüência do conto, a imagem da avó que choraminga a partida do neto nos traz uma ideia do conflito adolescente x maturidade na perspectiva da avó. O rapaz diz: “Eu sabia que (a avó) desejava beijar-me, prender-se a mim, e à simples ideia desses gestos, estremeci”. Para a avó, ele jamais deixaria de ser a criança pueril, sempre sob seus tratos, e a sensação de partida se mescla com a sensação dela imaginar o evoluir do então menino para adulto com a sensação de perda de sua criança.
No final, um último olhar do rapaz para a mesa traz a lembrança nostálgica de seus aniversários. Seria esse o último momento ainda “imaturo” do narrador, dentro do que ele próprio almejava.

Vida e obra de Osman Lins

Osman Lins nasceu a 5 de julho de 1924, em Vitória de Santo Antão (PE). Publicou seu primeiro romance, O visitante, em 1955 e, em 1957, Os gestos. Em 1960, concluiu o curso de dramaturgia na Escola de Belas Artes, da Universidade do Recife. Estreou peça de sua autoria, Lisbela e o prisioneiro, no Rio de Janeiro, em 1961. No mesmo ano, editou o romance O Fiel e a Pedra. Em seguida viajou para a Europa como bolsista da Alliance Française. Em 1962, transferiu-se para São Paulo. Publicou, em 1966, Nove, novena, narrativas e Um mundo estagnado, ensaios sobre livros didáticos de português e a peça Guerra do “Cansa-Cavalo”.
Em 1970, ingressou no ensino superior como professor de Literatura Brasileira. Em 1973, publica Avalovara, romance, traduzido posteriormente para o espanhol, francês e alemão. Obtém o grau de Doutor em Letras pela Faculdade de Filosofia e Letras de Marília (1973), com a tese “Lima Barreto e o espaço romanesco”, publicada em 1975. Foi professor titular de Literatura Brasileira na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Marília (SP) até 1976, quando deixa o ensino universitário dedicando-se exclusivamente à atividade de escritor.
Obras do autor: O visitante (1955) romance, Os gestos (1957) contos, O fiel e a pedra (1961) romance, Marinheiro de primeira viagem (1963) notas de viagem, Lisbela e o prisioneiro (1964) teatro, Nove, Novena (1966) narrativas, Um mundo estagnado (1966) ensaio, “Capa Verde” e o Natal (1967) teatro infantil, Guerra do “Cansa Cavalo” (1967) teatro, Guerra sem testemunhas: o escritor, sua condição e a realidade social (1969) ensaio, Avalovara (1973) romance, Santa, automóvel e soldado (1975) teatro, Lima Barreto e o espaço romanesco (1976) ensaio e A Rainha dos Cárceres da Grécia(1976), romance. Seu conto “A ilha no espaço” foi adaptado e apresentado no programa “Caso Especial”, da TV Globo.
A partir de 1976, começa a colaborar ativamente na imprensa e a escrever para televisão, além de redigir ensaios em colaboração com Julieta de Godoy Ladeira: Do Ideal e da Glória e Problemas Inculturais Brasileiros. Recebeu os prêmios literários: “Fábio Prado” (SP),1955, “Monteiro Lobato” (SP), “Coelho Neto”, da Academia Brasileira de Letras (1955), “Vânia Souto Carvalho” (Recife), 1957, “Nacional de Comédia”, “Mário Sette” (Recife), 1962 e “José de Anchieta” (SP), 1965. Faleceu em São Paulo a 8 de julho de 1978.

~ por Rick Fiel em 15/07/2009.

9 Respostas to “Análise do conto: A Partida, de Osman Lins”

  1. eu quero falas dos autores do filme lisbela e o prisioneiro

  2. o burra daí de ciima , é atoor e não autor
    e não é assim dizendoo q quer , vaii procurar preguiçosa ! ¬¬

  3. mto obrigada pela matéria , me ajudou mto ‘:)

  4. adorei a analise
    vc poderia me dizer qual o climax do texto?

  5. mto obrigada pela matéria , me ajudou mto ‘:) no estudo

  6. o texto e muito bom pra alguns e pra outros nao

  7. mt obrigado…..me ajudou a compreender muitas questões das quais tinha duvidas ….é uma obra literária realmente fascinante….

  8. A partida, é um conto de uma sensibilidade tal, que estimula a leitura de outras obras do autor !

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