TV: Tribuna no Futebol – RIC TV

ric.com.br

por Fábio Mandryk Ferreira

Tribuna no Futebol é um formato alternativo das tradicionais “mesas redondas” futebolísticas. O programa vai ao ar pela RIC TV desde 26 de Janeiro de 2010. Contudo, a estrutura do programa existe desde 2002, quando um jovem jornalista resolveu ousar e mudar o formato tradicional dos programas esportivos paranaenses. A discussão e o debate desse programa lembram em tudo o futebol, inclusive na hora da troca de técnicos e jogadores – aqui, âncoras e torcedores.


Para quem gosta de futebol regional, as discussões servem para pegar dicas de como cutucar o adversário e aprender novas piadas sobre o momento que os clubes paranaenses vivem. Mas se você não aguenta ouvir discussões e repetições dos mesmos assuntos durante uma hora, fuja desse tipo de programa.

O debate funciona assim: um âncora, neutro, media temas e intervêm nas discussões apresentadas por um representante de cada torcida dos três clubes de futebol de Curitiba. Atualmente, o âncora é o jornalista Napoleão de Almeida e os clubes são representados por Leandro Requena (Coritiba), Sérgio Bello (Paraná Clube) e Binho (Atlético).

Apesar de Sérgio Bello, representante do Paraná Clube, ser jornalista por formação, a intenção inicial não foi ter torcedores intelectuais ou estudados, mas sim pessoas capacitadas para defender seu clube com unhas, dentes e até sangue – se precisar. O idealizador do formato do programa no Paraná foi o jornalista Alexandre Zraik, inspirado no programa Alterosa Esporte, da TV Alterosa, afiliada do SBT em Minas Gerais.

Na realidade, Zraik foi o responsável direto pela revolução que aconteceu na transmissão esportiva curitibana nos anos 2000. O jornalista começou suas modificações inovadoras no rádio, quando, inspirado na imprensa paulista, implantou nas transmissões esportivas da rádio Transamérica FM a figura de um personagem, que acompanhava as jornadas. O primeiro implantado foi o “boy”, um office-boy interpretado pelo então iniciante humorista Diogo Portugal. Com a assenção meteórica de Diogo – que lhe rendeu inclusive um contrato com a Rede Globo no programa Zorra Total – a rádio teve que implantar outro personagem. Com igual sucesso, Rafael Bahr interpreta o “ET”. A rádio, que antes não transmitia futebol, é hoje a líder de audiência.

Na TV, Alexandre inovou trazendo para Curitiba a idéia bem sucedida do programa de debate esportivo que havia em Minas Gerais. No início, em 2002, ele foi o âncora e único “neutro” do programa, que tinha três verdadeiros fanáticos como torcedores: Mauro Singer (Atlético), Alphonse Voigt (Paraná Clube) e Luizão Stelfeld (Coritiba). Na época, as discussões pegavam fogo e as informações passadas por eles eram mais relevantes, uma vez que todos os torcedores tinham alguma ligação com o clube de coração, sendo conselheiro, sócio ou outra função.

O humor era obrigatório, e tornou-se a marca registrada do programa, que ia ao ar no SBT das 12h  às 12h30. Mauro Singer, por exemplo, que representava o torcedor atleticano, certa vez entrou no estúdio pedalando uma bicicleta, pois o Atlético havia ganho do Coritiba com um gol de bicicleta do atacante Ilan – hoje na França. Nelo, o paranista, gostava de fazer apostas no ar. Como o tricolor ia mal das pernas, volta e meia ele vinha vestido de mulher, pintado, etc. Luizão era o presidente da maior torcida organizada do Coritiba, a Império Alviverde. Sua dedicação em defender o clube lhe rendeu uma vaga na Câmara Municipal de Vereadores.

Uma das caracterírticas que marcou negativamente o programa foram as mudanças que houve nos participantes após o primeiro ano no ar. Quando o torcedor acostumava-se com um personagem, algo acontecia e ele tinha que ser trocado. O primeiro foi Mauro Singer. Carismático e adorado até por torcedores adversários, era referência por saber informar e ao mesmo tempo ‘tirar onda’ com o adversário. Mauro era empresário e tem até hoje uma churrascaria nas dependências do estádio do Atlético. Como ele não tinha “papas” na língua e criticava abertamente a diretoria atleticana, recebeu um ultimato do então mandatário do clube, Mário Celso Petraglia: “Ou você sai do programa ou fecha a churrascaria”. Mauro saiu do programa. Com o lugar aberto, houve um concurso para escolher o novo atleticano. De início, Marcelo assumiu, mas sem o mesmo carisma de Mauro. Pouco depois acabou deixando a vaga, que foi ocupada por Binho, empresário e participante ativo na maior torcida organizada do Atlético, Os Fanáticos. Há seis anos Binho defende as cores do Atlético no programa.

Situação parecida aconteceu no Paraná Clube. Nello Merlotti participou da segunda fase do programa como paranista, saiu durante a campanha eleitoral, e teve sua vaga ocupada após um teste feito com outros 19 paranistas, e vencido por Sérgio Bello. Mais tarde, Nello e Sérgio Bello desintenderam-se publicamente por questões ligadas á torcida Fúria Independente Tricolor, a maior do Paraná Clube.

Luizão foi o grande nome de torcedor do Coritiba. Sério e sarcástico, divertia o público. Sua vaga hoje é ocupada por Leandro Requena.

Além da troca dos participantes, os apresentadores também necessitaram ser mudados ao longo da história do programa. Pela forma como analisava o governo Requião no Jornal do Estado, onde também trabalhava, o criador do programa e primeiro apresentador, Alexandre Zraik foi demitido da tevê. Não contente com o afastamento do programa, o Palácio baixou uma ordem no mercado jornalístico curitibano, no qual quem abrisse as portas par Alexandre perderia verbas oficiais. Zraik não desanimou e já preparava-se para uma nova etapa, com um programa esportivo na rádio 96 Rock, quando sofreu um acidente com sua moto e faleceu, em 2004.

Outros apresentadores passaram pelo programa, como Carlos Kleina, Cristian Toledo, Napoleão de Almeida, entre outros, mas nenhum com a magia e a juventude de Zraik. Alexandre era jornalista por formação, e além da dignidade do jornalista, era uma bandeira, um exemplo de tolerância e respeito ao próximo, à liberdade de expressão. Pedia desculpas quando algo de errado acontecia, principalmente quando alguma matéria apresentava-se muito tendenciosa e poderia gerar desconforto em alguma das torcidas. Era um ferrenho defensor do futebol paranaense.

Brigas, discussões e politicagem fizeram o programa entrar e sair do ar várias vezes, em emissoras diferentes, e até em rádios. Hoje, além da RIC TV na hora do almoço, o programa, ou melhor, o formato do programa também está na Rádio Banda B nas segundas-feiras ás 20h. Tribuna no Esporte, Tribuna na TV, Tribuna na Massa, Tribuna no Futebol, foram alguns dos nomes que o programa teve ao longo de seus oito anos de existência.

Contudo, apesar dos problemas extra-programa, segundo os próprios participantes atuais, Binho, Sérgio e Leandro, a convivência entre eles é pacífica, amigável e de amizade verdadeira. Binho afirma que, se não fosse essa amizade, o programa não teria o sucesso que tem. Hoje os participantes dão exemplo de como as torcidas devem portar-se. Independente de vitória ou derrota, tirar sarro faz parte do futebol, mas o respeito com os adversários sobressai a qualquer coisa, e nisso esses rapazes dão exemplo.

Tribuna do Futebol vai ao ar de segunda a sábado ás 12h20, após o telejornal RIC Notícias.

Classificação de programa Esportivo: ☻☻☻☺☺

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