As Ruínas de S. Paulo



Pensamos em Macau e a imagem que imediatamente nos vem à cabeça é a das Ruínas de S. Paulo. As Ruínas são as construções jesuítas destruídas por um incêndio, em 1835, como a granítica fachada da antiga Igreja da Madre de Deus, construída em 1565, a sua escadaria e as ruínas do Colégio de S. Paulo, construído ao lado da Igreja.


As Ruínas de S. Paulo encontram-se inscritas na lista do Património Mundial da Unesco e foram, em 2009, classificadas como uma das 7 maravilhas de origem portuguesa no mundo. Tal não admira: a fachada barroca é cativante e grandiosa; tem 25 metros de altura e 23 de largura e está valiosamente decorada com imagens bíblicas e mitológicas, com inscrições em chinês e em latim, com leões chineses, com uma caravela portuguesa, com anjos e demónios e com esculturas em bronze dos fundadores da Companhia de Jesus, sendo um exemplo único da arquitectura barroca na China. 

É sem dúvida o monumento mais fotografado de Macau, recebendo, ininterruptamente, grupos de visitantes de todas as nacionalidades e os guias, em línguas diferentes, falam-lhes com tanto entusiasmo que parece que acabaram de subir a escadaria pela primeira vez. E raras são as alturas em que não se vêem noivos, acompanhados de fotógrafo e assistentes e que, mesmo rodeados de turistas que, como eu, não resistem a fotografá-los, posam com naturalidade, tendo a fachada da antiga igreja como fundo.





Olhamos para este monumento e percebemos a curiosidade que empurra os turistas para o outro lado. E eu, que me lembro muito bem do que a fachada esconde, penso que não é boa ideia descer a escadaria, como têm que fazer, contrariados, os visitantes com guias apressados. E entro. Vejo a estrutura de metal encostada à fachada e dou por mim a pensar se se trata de uma ajudinha preciosa à corajosa solidez que exibe, não vá o Diabo tecê-las, ou se foi concebida para proporcionar uma vista sobre o Largo porque há também uma escada lateral que nos leva a poder espreitar pelas janelas.



Vertigens dão cabo de mim e obrigam a agarrar-me com todas as forças ao corrimão e a subir, devagarinho e aflita, com a sensação que vou escorregar e estatelar-me no chão, mas, enquanto não começo a descida, não me arrependo desta súbita coragem. Porque posso ver os sessenta e oito degraus da escadaria, o Largo da Companhia de Jesus onde desembocam ruas sempre muito movimentadas, com o casario de traça portuguesa e de cores garridas, largo que consta, também, da lista do Património Mundial. E para mal dos meus pecados, que julgava serem poucochinhos e de pouca monta, posso ver, ainda, as máquinas fotográficas dos turistas apontadas para mim ...


Desço tão devagar e tão amedrontada como subi e deixo, por fim, as Ruínas e o largo e volto, à noite, quando a antiga Igreja descansa em silêncio.


Porque gosto da iluminação. A das Ruínas e a de todo o bairro a seus pés.

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