Teoria do conhecimento I

1- Quais as principais partes da filosofia? Qual a importância da teoria do conhecimento ou gnosiologia?

O ser e o conhecer se apresentam para a filosofia como a síntese de todos os problemas que motivam seus caminhos de investigação. A ontologia compreende as questões concernentes ao ser, em seu aspecto universal e necessário. Seu desenvolvimento, por vezes, determina uma antropologia filosófica, uma ética, uma política, se considerarmos que os aspectos gerais do ser compreendidos ou ignorados determinarão os rumos de todo um sistema ou escola filosófica.

A gnosiologia reuni todos os problemas referentes ao fenômeno do conhecimento: origem, fundamento, procedimento e legitimidade. Vemos como a filosofia é a busca de um momento superior de compreensão, porque se constitui como autocrítica por excelência: é o pensamento humano se debruçando sobre si mesmo, refletindo sua imagem sob judiciosa inquirição filosófica, pondo-se a descoberto a cada pergunta que lhe vasculha a essência. Nisso está toda a importância da gnosiologia, enquanto autocrítica total da faculdade de conhecer.

O filósofo é o amante da Sabedoria, aspira estar sempre ao seu lado. A Sabedoria é o coroamento dos elevados frutos da cultura que enobrecem e elevam os homens. Como o conhecimento é uma das vias que nos levam a Sabedoria, cabe ao filósofo fazer a crítica do conhecimento, de suas causas, do que podemos conhecer e como conhecer. E, desse modo, aproximar-se o quanto puder da Sabedoria, mesmo se a teoria do conhecimento denunciar impossibilidade de conhecer a essência e o sentido das coisas. Porque saber que não se sabe ou que não pode saber, já é uma aproximação à Sabedoria, e para chegar a essa conclusão, é exigido um grande percurso – o da superação de preconceitos, orgulho, falso saber, deixar o autoengano pelo autoconhecimento e suas consequências.

2- O que é o conhecimento, qual o objeto de conhecimento para Herculano Pires?

O conhecimento, de um modo geral, se dá por em um processo de relação entre aquele que conhece e aquilo que é conhecido: sujeito e objeto. Nessa relação, o conhecimento se constitui, se define, quando o sujeito obtém a representação em sua mente do objeto a ser conhecido, seja por imagem, ideia ou conceito.

O objeto de conhecimento tem dois aspectos: objetivo e subjetivo. O objetivo é referente ao conjunto de fenômenos exteriores à mente do sujeito. O subjetivo é quando o sujeito, aquele que pensa, se torna o próprio objeto de conhecimento. A percepção dos sentidos nos permite captar as impressões dos objetos exteriores; a razão e a intuição permitem a percepção da nossa própria interioridade, o exame dos conceitos presentes em nossa mente – nisso reside o fenômeno da reflexão: refletimos a nós mesmos no espelho da mente pela percepção interior, transformando-nos em objetos de conhecimento, sem deixar de ser, também, o sujeito de conhecimento.

Quando o pensamento desvela o ser na razão e intuição humanas, é filosofia; quando o pensamento descobre a causa e a ordem dos fenômenos no mundo, é ciência.

3- O que é a verdade, de um modo geral, do ponto de vista filosófico?

Um dos conceitos tradicionais de verdade é o que assinala o princípio de correspondência: a conformidade do pensamento com o real. Mas esse princípio de correspondência tem implicações mais profundas do que parece.

A conformidade do pensamento com o real requer a apreensão da realidade última das coisas, e não a mera aparência, a apreensão da epiderme da manifestação, superficial e contingente.

Assim, a verdade tem caráter universal e necessário, porque busca abarcar os aspectos essenciais do objeto de conhecimento, diferente da opinião, que se paralisa na aparência das coisas.

Por isso que a busca pela verdade exige um exame ferrenho de todas as opiniões que dominam a nossa mente, perceber a inconsistência das várias ideias que defendemos, tentando justificá-las ou superá-las por definitivo, passando, assim, de um estado de crença ingênua ou dogmática para um estado de espírito crítico, que discerne e analisa metodicamente as ideias e conceitos que se lhe apresentam na mente.

Alias, boa parte do método maiêutico de Sócrates consiste numa cartase, numa purgação das opiniões que encarceram a mente de seu interlocutor, para só depois, empreender com ele a busca pela verdade.

4- Qual a origem do conhecimento para a filosofia espírita?

Na história, a teoria do conhecimento ora deu ênfase ao objeto como origem das ideias em nossa mente, ora ao sujeito como criador das ideias e conceitos na mente, que tenta organizar de modo mais ou menos sistemáticos as experiências no mundo.

O caráter dialético do Espiritismo reuni sujeito e objetos como elementos fundantes do conhecimento: quem conhece é o espírito, que de início traz em si todas as potências da razão, mas em estado latente, em germens. As categorias da razão, os conceitos e ideias vão se desenvolvendo, se atualizando na relação com o mundo, com os objetos que se apresentam e estimulam o espírito.

Assim, em princípio, a origem das categorias e conceitos da razão estão no espírito, mas esses só podem ser atualizados e aplicados na relação com os objetos, que em última instância é a matéria organizada em um determinado nível de condensação.

Só há conhecimento se houver objetos, e só há objetos se houver sujeito. O próprio conceito de sujeito implica o de objeto, tal como ensina Kant.

Bibliografia

IEEF. Princípios da filosofia espírita. São Paulo: IEEF, 2012.

KARDEC, A . O livro dos Espíritos. São Paulo: Lake, 2010.

PIRES, J. HERCULANO. Introdução à filosofia espírita. São Paulo: Paidéia, 2005.