Manifestações visuais e a aquisição definitiva da visão espiritual

A revelação do mundo dos infinitamente pequenos, de que não suspeitávamos, foi feita pelo microscópio; o Espiritismo, servindo-se dos médiuns videntes, nos revelou o mundo dos Espíritos, que é também uma das forças ativas da Natureza. Com a ajuda dos médiuns videntes pudemos estudar o mundo invisível, iniciar-nos nos seus hábitos, como um povo de cegos poderia estudar o mundo dos que vêem com o auxílio de algumas pessoas que gozassem da faculdade da visão.” – Allan Kardec

Sendo alguns fenômenos determinados por inteligências ocultas designadas como Espíritos, é natural que haja o desejo de poder conhecê-los, de vê-los, uma vez que a ideia de Espírito sempre esteve envolta em definições um tanto vagas, que não precisam a sua natureza ou a torna tão abstrata que fica difícil conceber o Espírito como uma das potências da Natureza, parecendo mesmo algo sobrenatural, oposto à dinâmica do mundo. Entretanto, as manifestações visuais permitem que os Espíritos adquiram variados graus de visibilidade, de modo que, em determinadas condições, os homens possam vê-los. De fato, não é propriamente o Espírito, na sua realidade puramente espiritual, que se faz ver, e sim o seu invólucro semimaterial que adquiri determinadas propriedades quando combinado com outros fluidos, principalmente o que desprende do médium. Todavia, isso já basta para demonstrar que o Espírito não é algo abstrato, sem possibilidade de relação com o mundo fenomênico, pelo contrário, é algo circunscrito, que mantém o tipo da forma humana, em virtude de seu invólucro semimaterial (perispírito), cujas propriedades podem chegar a um grau de pureza para os encarnados, e mesmo para muitos Espíritos, inconcebível.

Assim, a possibilidade de se tornar visível os Espíritos está numa combinação fluídica específica que ocorre no perispírito. Entretanto, o fenômeno da aparição dos Espíritos não ocorre apenas para os homens, ele ocorre também de Espírito para Espírito, porque o perispírito é o órgão sensitivo do Espírito, o seu instrumento de percepção da realidade (não a sede das faculdade perceptivas), é ele que transmite as impressões externas que afetam as faculdades do Espírito, de modo que o grau de pureza em que o perispírito se encontra influencia no processo de percepção da realidade. Por isso, os Espíritos, cujos invólucros perispiríticos são muito grosseiros, não conseguem se dar conta da presença de outros Espíritos cujo perispírito se encontra mais depurado: há uma incompatibilidade vibratória que não permite a paridade de frequências, para que ocorra a afinidade dos fluidos e com isso a afetação recíproca. Desse modo, os Espíritos com o perispírito muito mais sutil se envolvem numa matéria mais grosseira para se fazerem vistos por outros Espíritos que se mantém numa malha fluídica mais compacta. É assim que se dá a aparição dos Espíritos, tanto entre os homens como entre os próprios Espíritos.

Com isso, podemos verificar que o processo de percepção da realidade está intimamente relacionado com o desenvolvimento do Espírito, porque este, continuamente evoluindo, fortalece e adquiri outras faculdades que sempre apresentam novos aspectos da realidade, outrora não percebidos em virtude de um desenvolvimento espiritual insuficiente.

No tocante as manifestações visuais dos Espíritos entre os homens, poderia se perguntar: se para serem vistos os Espíritos necessitam se envolverem numa combinação fluídica específica, que modifica temporariamente o seu perispírito, por que, então, mesmo envoltos em matéria, nem todos podem vê-los, e de forma geral, só os médiuns, e ainda com uma precisão que varia, pois a percepção nunca é uniforme?

Precisamente porque não são os olhos físicos que percebem os Espíritos, mesmo envoltos nessa combinação fluídica específica; a aparição afeta diretamente o perispírito do médium, por isso pode ver os Espíritos mesmo com os olhos físicos fechados. Então, a variação da percepção, partindo do vago ao inteiramente preciso, está no grau de mediunidade que se possui, no nível de suscetibilidade do perispírito para receber as impressões que são produzidas pelo Espírito manifestante: é uma questão de qualidade do instrumento perceptível e o quanto ele está vulnerável às pertubações do organismo físico e do meio.

Portanto, os órgão do corpo físico também funcionam como uma espécie de obliterador das faculdades do Espírito, como uma espessa parede de vidro que torna demasiadamente tênue as irradiações da luz. Com efeito, a propriedade da visão espiritual no estado pleno de vigília será uma conquista gradativa da humanidade terrena, porque o Espírito em evoluindo aperfeiçoa e sutiliza tanto o seu invólucro perispirítico como o invólucro de carne (corpo físico). Assim, a visão incessante dos Espíritos entre os homens será um fato absolutamente natural, como já ocorre em mundos mais evoluídos, e a distância psicológica em que se concebe apartados o mundo visíviel e o mundo espiritual não terá mais razões de ser, uma vez que há um única realidade cujos aspectos material e espiritual se interpenetram incessantemente na dinâmica universal:

10. Nos mundos mais adiantados que o nosso a visão dos Espíritos é mais freqüente?

  • Quanto mais os homens se aproximam da natureza espiritual, mais facilmente entra em relação com os Espíritos. É a grosseria do vosso corpo que torna mais difícil e mais rara a percepção dos seres etéreos.”

Então, a propriedade da visão espiritual no estado pleno de vigília sendo ainda hoje um fato isolado, circunscrito a alguns milhares de homens espalhados pela terra, tende necessariamente a se generalizar, a ser uma propriedade efetiva do gênero humano. Porque o homem é um Espírito encarnado em constante evolução, aprimorando incessantemente seus instrumentos de manifestação e percepção, isto é, os seus dois invólucros, o corpo de carne e o perispírito. A marca patente dessa constante evolução está nos vestígios ancestrais da passagem do homem pela Natureza: vemos como os corpos mais rústicos que a arqueologia até agora descobriu foram se sofisticando num lento trabalho no tempo, adquirindo a postura ereta, ampliando a perspectiva e a experiência do espaço entorno, desenvolvendo continuamente a massa cerebral, permitindo as mais complicada operações da inteligência, da memória, da associação, da abstração do raciocínio em geral. Em tudo vemos o homem, no seio da Natureza, ampliando suas possibilidades de ação e de conhecimento. Primeiro, é necessário dominar o plano das formas físicas, adaptar-se, compreender a realidade sensível, transcender o temporário, o aparente, para, então, começar a perceber de forma consciente o mundo invisível, o mundo das causas, a realidade determinante de toda e qualquer realidade material. Assim, as faculdades espirituais são exercitadas no contato com a matéria, até que o Espírito se torne capaz de penetrar a realidade espiritual de forma lúcida e consciente, podendo abarcar seus mais sutis meandros.

Por isso, os postulados espíritas repousam numa imperturbabilidade inalterável, porque dizem respeito a uma realidade objetiva, independente das elaborações ideológicas e que, portanto, necessariamente serão incorporados ao conhecimento geral da vida, uma vez que a vida é determinada, em última instância, por causas espirituais.

Referência:

Manifestações Visuais. O Livro dos Médiuns, tradução de José Herculano Pires.

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