Sematologia e Tiptologia – Elementos de convicção na investigação de Allan Kardec

A forma das manifestações inteligentes possui também a sua história e seus desenvolvimentos acompanham os avanços da investigação espírita empreendida por Allan Kardec. Nesse sentido, ele nos oferece o relato das primitivas formas de comunicação com os Espíritos que, embora sejam um tanto rudimentares, não deixaram de contribuir para o estabelecimento dos primeiros alicerces da Ciência Espírita e imprimir um rumo seguro a metodologia a ser aplicada, uma vez que já colocava em evidência a natureza inteligente da causa.

Naturalmente, constatada a natureza inteligente da causa, a abordagem metodológica avança para os meios eficazes de comunicação com a causa dos fenômenos. Contudo, a eficácia da comunicação com o mundo espiritual é conquistada gradativamente, e seus primeiros estágios, dentro da investigação espírita, assinalam as formas designadas por Kardec como: sematologia e tiptologia. Dizemos – dentro da investigação espírita – porque Allan Kardec não recorreu a qualquer teoria pré-concebida e nem se vinculou a nenhuma tradição religiosa para se comunicar com os Espíritos. Pelo contrário, não partiu nem da afirmação nem da negação da existência dos Espíritos e de suas possíveis manifestações; preferiu não formular juízo definitivo algum enquanto não pudesse empreender uma demorada e rigorosa observação dos fenômenos, por isso deixa claro que a teoria só veio após a observação, que não deixou mais dúvidas quanto a presença oculta de uma potência inteligente a determinar de modo fundamental os fenômenos. Portanto, dentro da investigação espírita, a constatação da realidade espiritual é realizada por um processo de fundamentação racional, sem nenhuma vinculação à tradições religiosas ou teorias pré-concebidas, mas apenas a apreensão sistemática e rigorosa dos dados que essa mesma realidade oferece no seio da Natureza e que permeiam o cotidiano da vida humana.

  • A tiptologia consiste na linguagem das pancadas, isto é, barulhos e ruídos provocados pelos Espíritos com a intenção de expressarem seus pensamentos, por isso dizer que é uma manifestação inteligente, porque há a possibilidade rudimentar de comunicação. De início, convencionou-se um determinado número de batidas para sim e não, mas esse meio evoluiu rapidamente para a tiptologia alfabética, onde cada letra possuía um número correspondente de pancadas. Entretanto, Allan Kardec acentua que por mais que se torne complexos os instrumentos de comunicação com os Espíritos, nada melhor do que os fenômenos espontâneos ou que se dão de maneira simples para evidenciarem de forma patente a presença e independência dos Espíritos: os instrumentos mais complexos reafirmam o sentimento de insegurança quanto a possibilidade de charlatanice, ao passo que o fenômeno ocorrendo da forma mais simples, pela mera imposição das mãos do médium, fazendo a mesa se movimentar de uma tal maneira que não se desconfie que seja deliberação do médium, ainda mais quando ele não tem nem a necessidade de levemente tocar na mesa, então, por essa forma mais rudimentar e descomplicada, colhe-se de modo imediato a evidência de uma força inteligente e, sobretudo, independente do médium e dos assistentes a determinar o fenômeno. Essa é a importante característica da tiptologia: “Quaisquer que sejam os aperfeiçoamentos que se possam introduzir nesse sistema, ele jamais pode atingir a rapidez e a facilidade da escrita, pelo que é hoje pouco usado. Não obstante, às vezes interessa quanto ao aspecto fenomênico, principalmente para os novatos e tem sobretudo a vantagem de provar, de maneira peremptória, a absoluta independência do pensamento do médium. Frequentemente se obtêm, com ele, respostas tão imprevistas, tão surpreendentemente certas, que seria preciso muita prevenção para se recusar à evidência. Assim ele oferece, para muitas pessoas, poderoso motivo de convicção.”

  • A sematologia completa ainda o quadro das evidências da ação de uma inteligência determinando os fenômenos, porque ela consiste precisamente na linguagem dos sinais, ou seja, se as pancadas visam corresponder às letras do alfabeto para formarem frases inteiras, os sinais tentam representar a qualidade das emoções que empolgam o Espírito manifestante. Dessa forma, a mesa pode apresentar movimentos bruscos ou suaves, ou de outras tantas formas quanto são os sentimentos que se quer expressar.

São por essas características; pela maior simplicidade em que o fenômeno pode ocorrer, bastando que um médium apropriado toque levemente a mesa; sem o uso de complicados instrumentos, que esses fenômenos oferecem consideráveis elementos para a convicção. Pois, quando seriamente observados, nenhuma causa puramente material pode explicá-los, uma vez que são a expressão de um pensamento alheio e independente dos assistentes, e que por vezes se faz inteiramente distinto pela elevação ou baixeza das ideias transmitidas.

Mesmo a tiptologia e a sematologia sendo as formas mais rudimentares de manifestações inteligentes, isso não significa que apenas os Espíritos mais imperfeitos façam uso dos sinais e das pancadas para se comunicarem com os homens. Por essas formas rudimentares de comunicação já se obteve muitas páginas de moral elevada e de profundas reflexões filosóficas, o que demonstra que os Espíritos não devem ser julgados tanto pelos meios com os quais se comunicam, visto que há muitos detalhes e obstáculos a serem superados nas relações mediúnicas, mas sim o que comunicam e o objetivo a que se dirigem. O inconveniente das pancadas espontâneas, aparentando pertubação, pode ser o início de uma relação mediúnica com uma nobre entidade, que no começo teve que fazer uso de meios mais rudimentares para notar a sua presença. Temos esse exemplo concreto no caso que ocorreu com o próprio Allan Kardec, que foi surpreendido por pancadas sucessivas em sua casa, em um momento de trabalho intelectual. Descobriu depois que esses ruídos eram provocados deliberadamente pela nobre entidade do Espírito de Verdade, isto é, o Espírito a frente da respeitável falange espiritual incumbida de instaurar a Doutrina Espírita na terra!

Referências:

Sematologia e Tiptologia. O Livro dos Médiuns. Tradução de José Herculano Pires.

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