Carta do Leitor é um gênero textual em que o leitor se dirige a um jornal ou revista para comentar, criticar ou elogiar uma matéria ou carta publicada em edições anteriores.
Na maioria dos jornais e revistas, há uma seção destinada a cartas do leitor ― em geral conhecida como "Cartas à Redação", "Painel do Leitor", entre outros títulos.
Essa seção oferece um espaço para que o leitor faça elogios ou críticas a uma matéria publicada, ou mesmo sugestões. Os comentários podem referir-se às ideias de um texto, com as quais o leitor pode concordar ou não; à maneira como o assunto foi abordado (neste caso, um leitor mais conservador pode afirmar que determinada questão foi tratada de forma muito liberal); ou à qualidade do texto em si (pode-se achar que o autor abusou de clichês, por exemplo).
É possível também fazer alusão a outras cartas de leitores, para concordar ou não com o ponto de vista expresso nelas.
A linguagem da carta do leitor costuma variar conforme o perfil dos leitores da publicação. Pode ser mais descontraída, se o público é jovem, ou ter um aspecto mais formal.
Esse tipo de carta apresenta formato parecido com o das cartas pessoais: data, vocativo (a quem ela é dirigida), corpo do texto, despedida e assinatura. Porém, quando necessário, a equipe de redação do jornal ou revista adapta as cartas do leitor a seu estilo e as reduz para encaixá-las na seção reservada a elas, mantendo apenas uma parte do corpo.
Quando publicadas, as cartas costumam ser agrupadas por assunto. Assim, reúnem-se as que se refiram à mesma notícia ou reportagem em um mesmo bloco, que recebe um título. Leia, abaixo, as cartas do leitor.
Em "Natalidade livre", o leitor afirma concordar com duas leitoras que defendem o controle da natalidade e depois expõe seu próprio ponto de vista; na mesma carta, ele discorda de outro leitor e expõe um argumento que justifica sua posição.
Nas cartas sobre o problema dos "Limites ao fumo", apresentam-se posicionamentos diferentes com relação à proibição do fumo em algumas situações. Os dois leitores expõem argumentos que sustentam o que afirmam.
Veja também que os critérios que um grande jornal brasileiro usa para selecionar os textos que aparecerão em sua seção de cartas. Note que os extensos podem ser resumidos pelo jornal.
Bezerra (2005) afirma que o gênero cartas do leitor são uma espécie
de subgênero carta. Isto porque as cartas têm em comum a estrutura
básica, (como por exemplo, o núcleo da carta). No entanto, as cartas são variadas em suas formas de realização, em seus objetivos, intenções,
propósitos (carta pedido, carta resposta, carta pessoal, carta ao leitor...).
As cartas do leitor diferenciam-se um pouco das cartas tradicionais por abordarem diretamente o assunto a ser discutido, por serem curtas e não apresentarem as saudações (prezado senhor, querido amigo), nem as despedidas tradicionais (um grande abraço).
Nos jornais e revistas, há um espaço próprio destinado para que as cartas dos leitores sejam publicadas. Quando uma carta é enviada para a publicação, o leitor precisa identificar-se colocando nome completo, o nº.de identidade e endereço e é responsabilizado pelo que escreve. Nem todas as cartas são publicadas, pois passam por uma seleção e podem ser resumidas ou parafraseadas. Cada jornal ou revista segue critérios
próprios de publicação.
O propósito comunicativo de uma revista ou jornal pode variar. Os temas podem ser diferentes, assim como um mesmo assunto pode ser abordado de formas variadas. Cada um tem um público alvo (homem, mulher, jovem, criança). Estes fatores influenciam os leitores frente às reportagens, notícias, em outras pedem conselhos, orientações, sobre assuntos relacionados à adolescência: gravidez e relacionamentos pessoais.
A publicação das cartas segue normas, que variam de acordo com cada revista ou jornal, como por exemplo, as que são enviadas à Revista Veja devem trazer assinatura, o endereço, o número da identidade e o telefone do autor. A seleção das cartas parte de alguns critérios como clareza, conteúdo, que são adotados pela direção da revista. Também, não há espaço para a publicação de todas as cartas recebidas. Assim, são lidas, analisadas e somente publicadas as selecionadas pelo editor da
seção Cartas e pela direção da Veja.Além disso, os objetivos das revistas ou jornais devem ser observados. Não se escreve para uma revista de informação como a Veja
da mesma forma que se escreve para a revista Capricho, como podemos verificar nas seguintes cartas publicadas em julho de 2008:
Galeraa, Capricho, eu gostariaa de pedir novamente que
vocês façam uma matéria sobre a luta livre (WWE). Sou
fanática e gostaria de saber mais, muito mais desse esporte.
Obrigadaa, Bzo Laizinha Hardy
Laizinha Hardy
Campinas-SP
(Revista Capricho, julho de 2008)
A escola de tempo integral melhoraria muito a condição do
ensino no Brasil, mas essa não é uma premissa para nossos
governantes que alegam falta de recursos financeiros, o que
nem sempre é verdade.
Luiz César Pessoa Pinto
Formiga-MG
(Revista Veja, ed. 2069, ano 41, nº. 28, 16 de julho de 2008, p.37)
As cartas dos leitores definem-se como gêneros na medida elas compartilham um determinado propósito comunicativo e estabelecem
uma interlocução do leitor com o meio de informação.
Para fins de exemplificação, reproduzimos a seguir alguns títulos
utilizados por jornais e revistas para denominar a seção que traz as cartas
dos leitores:
Jornais:
• Folha de São Paulo: Painel do leitor;
• Gazeta do Povo: Coluna do leitor;
• O Estado do Paraná: O mural do leitor;
• Folha de Irati: Opinião do leitor.
Revistas:
• Revista Veja: Cartas;
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• Superinteressante: Desabafa, solte o verbo;
• Capricho: Diz, AÍ.
Enfim, a produção deste gênero proporciona um espaço para que o leitor possa expor seu ponto de vista a respeito de qualquer assunto,apresentar críticas, fazer sugestões, discordar de um ponto de vista,participar da formação da opinião pública.
Bezerra (2005) afirma que as cartas do leitor atendem propósitos comunicativos de elogiar, criticar, opinar, reclamar, retificar, comunicar,agradecer, solicitar, como mostram os exemplos abaixo retirados da Revista Veja em 2008.
• elogiar:
A reportagem especial “A vida com instruções“ (09 de janeiro)
foi um presente para todos que buscam entender a arte da
convivência e superar os desafios para iniciar 2008 de bem com
a vida.
Hugo Lins Coelho
Recife-PE
(Revista Veja, ed. 2043, ano 41, nº. 2, 16 jan.2008, p. 24)
• criticar:
Gostaria de deixar registrada a minha indignação com a postura
do governo Lula de mais uma vez aumentar os impostos, sendo
que, com a maior cara-de-pau, disse que não iria fazê-lo, mas,
sim, diminuiria os gastos públicos.
(“Pacote de maldades” 9 de janeiro”)
Alexandre Cavalcanti
São Paulo-SP
(Revista Veja, ed. 2043, ano 41, nº. 2, 16 jan. 2008, p. 24)
• opinar:
Concordo plenamente com Gustavo Ioschpe e cumprimento pela
oportunidade e clareza com que trouxe à baila um assunto que tem sido omitido nos debates educacionais. O fato de os sindicatos terem como primeiríssimo objetivo defender os interesses salariais dos professores contradiz tudo aquilo que o Brasil mais necessita na área educacional: professores competentes e motivados a ensinar aos alunos os conteúdos que eles precisam aprender e ajudá-los a se organizar para o estudo,
tudo isso em ambiente prazeroso, fruto do bom diálogo entre professor e aluno.
Ignez Martins Tolli
Ph.D. em Educação pela Universidade de Londres Brasília-DF
(Revista Veja, ed. 2044, ano 41, nº. 3, 23 jan.2008, p. 25)
• retificar:
Leio toda semana a coluna de Millôr, que considero um ótimo escritor. Mas na desta semana (“As maravilhosas maravilhas da natureza”, 16 de janeiro) percebi um equívoco. Ele se refere às Sete Quedas do Iguaçu, porém elas não existem mais, sumiram com a instalação de Itaipu. O ponto turístico que hoje pode ser visitado se chama Cataratas do Iguaçu.
Leticia Corioletti
Joinville-SC
(Revista Veja, ed. 2044, ano 41, nº. 3, 23 jan.2008, p. 26)
• comunicar:
Em complementação ao quadro “Por que as latas de óleo
sumiram” (Veja essa, 16 de janeiro), destaca-se o fato de que a substituição da lata de metálica pela embalagem plástica para o acondicionamento de óleo alimentício decorreu da preferência 13 do consumidor brasileiro. Além de resistente e transparente, a
embalagem PET é escolhida pela dona-de-casa por ser prática e higiênica, contando com a tampa e bico e dosador da quantidade. A maioria dos fabricantes de óleo combustível garante o mesmo prazo de validade para o produto
acondicionado em ambas as embalagens, e muitos não utilizam conservantes.
Carlo Lovatelli
Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de ÓleosVegetais (Abiove)
São Paulo-SP
(Revista Veja, ed. 2044, ano 41, nº.3, 23 jan. 2008, p. 26)
• agradecer:
Há cerca de três anos fui a uma dermatologista e, entre outras coisas, ela me disse que o sol só servia para dar câncer , que nem brancos nem negros deveriam se expor a ele, jamais! Que esse negócio de absorção de vitamina D é uma bobagem etc.
Eu saí da sala dessa médica totalmente chocada e arrasada, principalmente porque sou apaixonada pelo sol. Portanto, foi com muita alegria que li a reportagem. Os estudos só vieram confirmar o que já sentia na própria pele: o sol me faz muito bem do que mal. Agora, sim, vou poder tomar o meu solzinho com 90% de proteção e 0% de paranóia. E viva o sol, viva o verão, viva o calor!
Adriana Domingues
Diadema-São Paulo
(Revista Veja, ed. 2044, ano 41, nº. 3, 23 jan. 2008, p. 22)
• solicitar:
Roberto Civita se expressou com maestria sobre 2007. Cabe à classe dominante seguir ao menos 50% desse formidável escrito , e melhorará muito o nosso país. Que seja respeitada a opinião pública de forma contínua e que nossos políticos
honrem seus cargos e assumam suas personalidades em prol da sociedade.
Diógenes Pereira da Silva
(Revista Veja, ed. 2043, ano 41, nº. 2, 16 jan.2008, p. 31)
Por meio destes exemplos, podemos verificar que as funções reais de uma carta do leitor são variadas, já que podem atender a diversos propósitos comunicativos. Em vista disso, compreendemos que o gênero cartas do leitor é capaz de promover o ensino da língua materna dentro de uma concepção de língua como interação entre usuários e de ensino como trabalho produtivo (não repetitivo).
A literatura atual elege o texto como o objeto de ensino de língua portuguesa. No entanto, não é suficiente apenas colocar o foco do ensino e continuar trabalhando com propostas inertes ou mecânicas. É preciso que o professor oportunize o contato dos alunos com os variados gêneros que existem efetivamente na vida em sociedade. Também é necessário
que o texto seja compreendido como a concretização da língua, por meio do qual os interlocutores interagem.
Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008) os gêneros textuais devem orientar a ação pedagógica na sala de aula, uma vez que constituem práticas sociais, ou seja, são atividades humanas exercidas com e na linguagem.
Em vista disso, analisamos a seguir algumas atividades práticas, editadas em livros didáticos sobre o gênero cartas do leitor, que são sugeridas aos alunos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SARGENTIM, Hermínio. Montagem e desmontagem de textos. 1ª ed.São Paulo: Ibep, 1999.
Entao esse comentario que estou fazendo é uma carta ao leitor?
ResponderExcluir=D
tenho duvida como começar uma carta de leitor
ResponderExcluirSão Paulo dia ● de ● de ● meu nome é ● tenho ● e estudo na escola ● e vim dar a minha opinião sobre o ou a ●
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