Arquivo | Moda RSS feed for this section

Beatles today

17 nov

Hoje abriremos uma exceção à programação normal desse blog. Um post praticamente só de imagens. Justifico. Hoje e amanhã estarei louca finalizando alguns trabalhos, antes de viajar para O EVENTO. Além disso, peguei uma gripe que tem 24 horas pra se curar e me deixou com uma moleza do cão. Nem arrumar as malas eu arrumei, pra você ver.

Então, sejam legais comigo e aproveitem as imagens. Tudo de coisinhas atuais ou de um passado recente que você pode associar aos Beatles. Algumas mais óbvias, outras menos. Enjoy!

Óculos redondinhos Chilli Beans

Sobretudo e jaqueta Burberry


Jaquetinhas militares da Balmain. Lembra delas?

Calças flare, as famosas adotaram

 

Gravata slim, só o que se viu no Oscar

Consumo de luxo na revista Conexão Net

16 nov

Era pra eu ter postado antes. Leseira minha. Mas enfim… na revista Conexão Net do mês de novembro tem uma matéria sobre consumo de luxo, em que eu falo sobre as mudanças desse conceito no decorrer da história. Obrigada às jornalistas Grazielle e Samaísa pelo contato.

A Conexão Net é entregue aos assinantes da Net em Fortaleza. Se não for o seu caso, dá para ler online. É só clicar na figura para ser encaminhado ao site.

Casa Moda Sebrae: imagens reunidas em livro

16 nov

Mark Greiner


Lindebergue Fernandes


Só uma amostrinha do livro-catálogo Casa Moda Sebrae, que será lançado hoje, para convidados, na Casa Cor Ceará. Acompanhada de um DVD, a publicação apresenta imagens que representam o trabalho de profissionais como Mark Greiner, Ruth Aragão e Cláudio Quinderé, entre outros que expuseram suas peças no espaço. Numa simbiose entre arquitetura, moda e design, o espaço Casa Moda Sebrae é uma criação da arquiteta Andréa Dellamonica. O livro foi coordenado por Ana Naddaf, Gustavo Almeida-Santos e Mark Greiner. As fotos são de Caio Ferreira.

Estilistas e designers participantes: Alysson Aragão, Ana Vilela, Anastácio Jr., Anderson Cleyton, Ayres Jr., Cândida Lopes, J. Cabral, Carlos Capucho, Catarina Mina (Joana de Paula e Celina Hissa), Cláudio Quinderé, Fabiana Maurício, Francisco Matias, Iury Costa, João Sobarr, Kalil Nepomuceno, Lindebergue Fernandes, Mar Del Castro (André e Rafa Castro), Marco D`Julio, Mark Greiner, Melca Janebro, Ruth Aragão, Sei Barros e Sérgio Gurgel.

O estilo de Paul McCartney

13 nov

A trajetória de Paul McCartney em relação ao estilo foi um pouco confusa, tanto nas roupas quanto nos cabelos, com alguns momentos pouco inspirados e até decepcionantes, com vários looks do tipo “tiozinho”. Tenho que admitir, Sir usou mullets. Mas na virada dos anos 2000, ele parece ter encontrado um equilíbrio interessante. Básico, clássico, mas bem mais jovem do que 15 anos antes. Influência da filha Stella?

Vamos lá, recordar é viver (e às vezes se arrepender).

Quando os Beatles se separaram, em 1970, Paul continuou com praticamente o mesmo visual do último show, aquele clássico no telhado do prédio da Apple Records, em Londres: os cabelos ficaram um pouco mais curtos, mas a mesma barba e estilo de paletó, sem gravata. Depois, com os Wings, usou uns mullets, vagou pelo folk com coletes e mangas volumosas, pelo look de camisetas sobrepostas e por uma onda esporte de jaquetas de nylon. No fim da década, adotou um visual mais sóbrio, com cabelos curtos, camisa social e sobretudos.

No início dos anos 80, voltou às jaquetas de couro, calças jeans, camisas xadrez, num visual bem mais jovem. Não se sabe o que aconteceu que antes da década de 90, lá estava ele todo tiozão, de malhas de tricô, calças frouxas e coletes. Na turnê de 1993, que veio ao Brasil, ele vestiu camisa larga de botões e coletinho étnico e os mullets estavam maiores do que nunca. Quando o novo milênio chegou, vimos um novo Paul: paletós alinhados, ajustados, com camisetas básicas, tudo com ar mais jovial. Influência de Stella? Ou o fim do casamento que fez bem?

Enfim Paul parece ter se encontrado, mantendo esse estilo, com pequenas variações, no últimos 10 anos. Calça social reta ou jeans mais largo com camisa social e blazer. As gravatas às vezes são mais largas ou mais slim. Mas o que ele realmente não larga mais são os tênis, que vem usando em quase todas as ocasiões, exposições, avant-premières até fotos de divulgação e flagras de paparazzi. Tem predileção pelo All Star pretinho básico. Particularmente gosto muito desse visual usado na estréia do musical Love (Cirque de Soleil), em que ele foi fotografado com Ringo.

Este é o Paul no Brasil, no show de Porto Alegre

Moda Cor Ceará de olho no novo consumidor

11 nov

A partir de 2011, a tradicional Casa Cor Ceará contará com uma plataforma de moda, a Moda Cor Ceará, com foco no empreendedorismo. Com o selo Fresh Brands, fica bem clara a proposta de investir em marcas capazes de entender o mercado global e as necessidades desse novo consumidor, imerso nas redes sociais e interessado por sustentabilidade, por exemplo.

Além dos desfiles em passarela de 30 metros, haverá mesas redondas e debates para discutir a moda em suas diversas vertentes (arte, cultura, negócios). Alguns nomes estão sendo sondados e são tidos como certos pela organização do evento. A intenção é trazer Jackson Araújo, Lula Rodrigues e Carol Garcia. Se der tudo certo, promete, né?

A idealização e produção do evento conta com o know-how de Iorrana Aguiar (ex-Santana Textiles, Dragão Pensando Moda e Decode Office) e Cláudio Silveira (Dragão Fashion, Iguatemi Mix).

No lançamento da Moda Cor Ceará, ontem, as atenções se voltaram para a palestra de Ângela Hirata, responsável pelo case de sucesso das sandálias Havaianas, que passou de sandália popular à moda pop, calçando pezinhos como os de Gisele Bundchen e Madonna. Ela contou as dificuldades que encontrou quando assumiu o departamento de comércio exterior da Alpagartas: vendas baixas, equipe desmotivada, poucas verbas e o descrédito dos seus próprios chefes.

Em vez de investir em marcas como a Topper (que também faz parte do grupo), que fabrica chuteiras e teria que competir com gigantes como Nike e Adidas, Ângela deu o pulo do gato com um produto praticamente sem concorrência e com cara de Brasil: chinelos coloridos de borracha. Deu um up de auto-estima na equipe, mexeu na identidade visual do produto e com ações precisas junto a celebridades e lojas de referência, como a Galeries Lafayette, conseguiu mídia espontânea e emplacar as Havaianas praticamente no mundo todo.

A idéia estava em seu próprio corpo: Ângela usava um vestido de renda filé comprado no Ceará. Colorido, com informações de moda, étnico sem ser folclórico e a nossa cara. Você não vai encontrar um desses em qualquer lugar por aí.

Para encerrar, nada como um bom exemplo. Mark Greiner apresentou um pocket-desfile com suas noivas dramáticas e teatrais.

(foto de celular, relevem a qualidade)

Quase toda banda tem um pouco de Beatles

10 nov

Os Beatles estrearam nas paradas em 1962, com Love Me Do, e a cultura jovem viu nascer um novo fenômeno, só comparável a Elvis Presley naquele momento: The Beatles. Inicialmente os quatro rapazes de Liverpool se tornaram uma febre com um iê-iê-iê dançante e descompromissado. Foi o maior sucesso da indústria fonográfica, um dos melhores exemplos de produto da cultura de massa e sociedade de consumo da época. Até borrachas escolares e jogos de mesa com a cara de John, Paul, George e Ringo eram vendidos. Os ternos e cabelos moptop eram copiados à exaustão.

Em 1967, gravaram aquele que foi considerado o álbum mais revolucionário da história do rock: Sgt. Peppers’ Lonely Hearts Club Band, que foi mais fundo no experimentalismo e psicodelia iniciado em Revolver (meu disco favorito deles, só pra constar mesmo). Embora pouco tocado nas rádios da época, é um dos discos definitivos do rock. Marca também uma saturação da banda com a frebre que eles causavam. Após as roupas paródias dos uniformes militares em cores berrantes, abraçaram as manifestações religiosas do oriente e um estilo de viver e de vestir hippie oposto à imagem anterior deles.

A banda, que foi entertainer e vanguardista, artigo de consumo e contestadora da sociedade, continua sendo lembranda incessantemente. Mais do que influenciar a moda da época, criou um estilo tão atemporal que reverebera até hoje.  Musicalmente isso é óbvio. E esteticamente? Em um ou outro momento, muitos se inspiraram no vestuário, nos acessórios e até nas posesinhas fotográficas dos Beatles.

Beatles

Franz Ferdinand

Killers

Oasis

Coldplay

Amapô em Fortaleza

9 nov

Pra quem mora em Fortaleza e curte os jeans da Amapô, eles estão à venda no Salão das Ilusões. A marca surgiu em São Paulo e ficou conhecida ao participar do Amni HotSpot. Hoje, faz parte do line up da São Paulo Fashion Week.

 

www.salondelasilusiones.com

A evolução do estilo dos Beatles

9 nov

É praticamente um consenso: os Beatles são a melhor banda de rock de todos os tempos. Alguns poucos gatos pingados discordam, eu sigo com a manada e defendo a supremacia de Paul, John, George e Ringo com unhas e dentes. #fandetected

Mesmo dissolvida em 1970, segue influenciando milhares de bandas mundo afora. Musicalmente e esteticamente. Até nas poses para as fotos, repara. Vejamos a evolução de estilo do Fab Four.

Em 1960, quando surgiram em Liverpool, o uniforme era o de todo bom roqueiro, jaquetas de couro. A gente nem chegou a conhecer essa fase direito e as fotos são raras:

Quando o grupo passou a ser empresariado por Brian Epstein, o cara achou que aquele visual era igual o de 500 outras bandas da época e botou ternos de alfaiataria nos Beatles. Tcharam! Eis o visual clássico, com o qual eles tocaram pela primeira vez nos Estados Unidos e ganharam o mundo:

Mais uma mudança no visual: o terno clássico passou de preto para cinza e o paletó perdeu colarinho e lapela, numa clara referência de seu alfaiate Douglas Millings ao collarless jacket de Pierre Cardin. As gravatas também ficaram mais finas.

Menos bom mocismo. As roupas já não formam mais conjuntos combinandinhos e os cabelos ficam maiores. Até as crianças adotam o corte a la Beatles. Meu irmão mesmo tem umas fotos assim, obra e graça de minha mãe, que nos passou o meme beatlemaníaco. Obrigada, mãe. =]

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, Magical Mistery Tour, Yellow Submarine… Ainda mais experimentações musicais do que em Revolver. Os Beatles começaram a trabalhar com a animação em seus clipes, gravaram mais filmes. Tudo muito psicodélico, muitas cores. Uma viagem.

Daí eles foram pra Índia conhecer o Maharishi, fazer meditação transcendental e compor o clássico White Album. Voltaram encantados com toda a cultura do local e adotam batas, pantalonas e coletes artesanais, tudo bem colorido e estampado, um visual que eles mantiveram por um tempo após o fim da banda, principalmete George.

Fim da década de 60. A banda grava Abbey Road e Let it Be, faz aquele mini-show nos telhados da Apple e ACABA. Muita tristeza no mundo inteiro, mas cada um segue seu caminho, com mais ou menos sucesso. Enfim aquele visual anos 70, com cabelos compridos, barba, calças boca de sino, que nossos pais usaram. Ao menos o meu usou, mesmo sem gostar muito de Beatles.

O que a gente ainda vai ver nos próximos dias?

– Uma retrospectiva mais focada nele, Sir Paul McCartney.
– As musas do grupo.
– Bandas que bebem da fonte.
– Resgates de elementos dos Beatles na moda atual.
– Um close de MY PRECIOUS — o ingresso pra pista prime do Morumbi.

 


Roupa é subjetividade

5 nov

Tinha postado esse conto da Marina Colasanti no ano passado, antes do Blogueisso me deixar na mão e apagar boa parte do meu passado bloguístico. Consegui recuperar os rascunhos de alguns posts e irei postá-los pouco a pouco. Resolvi começar com esse, nem sei por quê.

Analisamos o percurso narrativo desse texto em uma aula de semiótica discursiva no primeiro semestre de curso. Não se preocupem, deixarei os quadrados semióticos de lado e postarei apenas o conto. Curto e contundente. Prestem atenção no papel da vaidade (expressa pelas roupas, maquiagens, cabelos) na construção da auto-estima e dos relacionamentos.

Marquei algumas passagens em negrito, não à toa. Tirar seus cortes de seda e batons é também silenciá-la, atacando sua subjetividade. De sujeito, ela passa a animal, a objeto, a uma pálida sombra do que fora.

 

Para que ninguém a quisesse
In: Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.

Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse a bainha dos vestidos e parasse de se pintar. Apesar disso, sua beleza chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora os sapatos de saltos altos. Dos armários tirou as roupas de seda, da gaveta tirou todas as jóias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos.

Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum se interessava por ela. Esquiva como um gato, não mais atravessava praças. E evitava sair.

Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse em silêncio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras.

Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade da mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela.

Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite tirou do bolso uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos.

Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe agradar. Largou o tecido em uma gaveta, esqueceu o batom. E continuou andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.

 

* * *

PÓS POST: Pra quem gosta de moda e literatura: Um dia antes, o super Oficina de Estilo fez um post delícia relacionando a teoria de construção do conto (de Edgard Allan Poe) com o processo do vestir.

Plus size, desinformação, preconceito e o “rodeio de gordas”

27 out

Esta semana as Lojas Renner anunciaram que duas de suas marcas, Cortelle e Marfinno, iriam disponibilizar suas coleções em numerações maiores, até o manequim 54. Coisa a se comemorar, principalmente ao ver as primeiras fotos de divulgação, como essas ao lado. Roupas coloridas, estampadas e com modelagem variada. Uma das reclamações mais constantes que escuto de amigas com manequim acima do 44 é que normalmente só encontram roupas muito sérias ou muito retas — a temida silhueta de máquina de lavar ou botijão de gás. Sim, infelizmente o mercado de confecções leva milhões de mulheres a tratarem a si mesmas dessa forma depreciativa.

Foram apenas duas marcas, em somente uma rede de lojas, mas foi um passo importante. Já há alguns meses vemos revistas fazendo editoriais com modelos chamadas “plus size” ou “curvy” (que, vá lá, são o “size” da maioria, nada de “plus”). Bacana para a auto-estima, mas faltava encontrar as peças nas araras. As meninas viam, mas não podiam vestir. O mais legal da iniciativa da Renner é que eles não criaram uma linha à parte, mas incorporaram as numerações maiores a linhas que já existiam, naturalizando os mais diversos manequins que encontramos no Brasil. Diferente do que acontece no mundo das revistas e sites, em que os editoriais e conteúdos são sempre segregados e ganham o odioso rótulo. Mas isso é assunto pra outro post.

No último Colóquio de Moda, conheci a Fabiana Medeiros, de Porto Alegre, que pesquisa o assunto. Olha só: praticamente metade da população tem sobrepeso ou obesidade. Ela entrevistou 400 mulheres com numeração acima do 44 e mais de 90% delas não estavam satisfeitas com as opções de vestuário disponíveis no mercado brasileiro para o seu manequim. Claro. Ela esteve em 40 lojas e apenas 24 vendem o manequim 46. À medida que a numeração vai aumentando, as opções vão desaparecendo. Três lojas tinham o manequim 50, duas o 52 e uma o 54. E ter o manequim não significa variedade, às vezes trata-se de uma ou duas peças. Tipo pegar ou largar, gostar é secundário.

Infelizmente pessoas com muito prestígio na moda contribuem para que essa engrenagem continue empacada para uma enorme parcela da população. Desculpe, chamar uma pessoa fora de um padrão estabelecido (por quem?) de “anomalia” não é opinião, não é liberdade de expressão ou de imprensa, é simplesmente, além de deselegante e desrespeitoso, uma tremenda irresponsabilidade com a informação que está passando e com as opiniões que está formando. Porque estamos falando das “papisas” da moda, que muita gente segue cegamente como inquestionáveis. Gloria Kalil não é a única. Já vi muitos jornalistas, blogueiros e consultores falando da “apologia à obesidade”, do risco de se encorajar um comportamento pouco saudável, etc.

Pois bem, adivinha o que a Fabiana fez em sua pesquisa? Em vez de ficar no achismo, foi ouvir quem entende do assunto, os profissionais da área de saúde, psicólogos, nutricionistas, educadores físicos. Vamos lá:

1. Sobrepeso não é necessariamente sinônimo de doença, principalmente se o caso for de massa muscular e não de acúmulo de gordura (lembro de uma amiga descendente de alemães, cuja estrutura óssea de toda a família é larga, ela nunca será 38)

2. Existe o sobrepeso por origem genética, sem ligação alguma com maus hábitos, em pessoas que se alimentam bem, fazem exercício físico regular, não bebem, não fumam (então não culpe alguém por sua gordura)

3. Se ver representada na mídia e conseguir comprar roupas do seu tamanho não incentivam o descaso com a própria saúde, pois a auto-aceitação é o fundamental para uma mudança comportamental (roupas que a valorizem ajudam no processo)

É muito triste constatar que vivemos uma época em que a própria saúde é espetacularizada na forma do corpo, pois não é só a saúde que importa, mas a imagem do corpo saudável (que a mídia, o mercado e a sociedade elegeram como sendo o corpo magro, como se não houvesse milhões de magros doentes por aí).

Sim, nós, jornalistas (e blogueiros também) temos nossa parte de responsabilidade nisso. A cada vez que cobramos que uma cantora, cujo trabalho é com a voz, retome a forma após um parto. Quando colocamos uma foto de uma atriz e destacamos, não seu trabalho, mas seus culotes. Ou se chamamos atenção para uma “apologia da obesidade” que não faz sentido.

Nos acostumamos tanto a esse pensamento e a metáforas baratas com baleias e elefantes (aparentemente tão inocentes, né?) que alguns acham “normal” tratar suas colegas como gado, desde que sejam “gordas”, claro.

Entre a palavra e o gesto há menos diferenças do que podemos imaginar.

Calor, aperto, hostilidade e status

25 out

“Compro, logo existo”
(Colin Campbell: Cultura, Consumo e Identidade)

 

Na minha última viagem a São Paulo a curiosidade meio jornalística, meio acadêmica falou mais alto. Quando me dei conta, estava naquele shopping da região central da cidade, famoso por seus produtos “paralelos” (ou “réplicas”) e “originais sem nota”. É assim que comerciantes e frequentadores chamam os bens falsificados e contrabandeados.

Se sofrer de claustrofobia, não entre. São quatro andares, centenas de estandes e um formigueiro humano carregado de sacolas. Eletrônicos, óculos, relógios, perfumes e bolsas. Muitas bolsas. As campeãs são Louis Vuitton, Victor Hugo, Prada, Chanel e – surpreendemente – Carmim. Entre as mochilas, Diesel, Oakley e em menor escala Kipling.

Reebok está em baixa e Adidas não vale mais a pena – no outlet da Teodoro Sampaio, com sorte, se compra a original por 70 ou 80 reais. Puma e Nike andaram “pegando pesado” na fiscalização e o pessoal resolveu “dar um tempo”. Foi o que me contou uma brasileira que trabalha por lá. Nativos são poucos. “Não confiam em nós, preferem manter as coisas entre eles”, disse. Eles, no caso, chineses e coreanos, em sua imensa maioria.

Se já falam um português monossilábico ou confuso, ao primeiro sinal de barganha ou pergunta mais comprometedora, avisam logo que “português não” e “só dinheiro”. Conversam entre si no próprio idioma, inclusive na nossa frente. Ou seja, podem estar falando qualquer coisa, o que é uma situação bem constrangedora. Às vezes anotam o preço num pedaço de papel ou digitam na calculadora. Estão sempre atentos a câmeras fotográficas e quando fazemos muitas perguntas logo questionam se somos jornalistas. Desconfiança no ar.

Assim como as bolsas, os óculos também seguem uma hierarquia. Expostos quase no corredor as cópias – ou “paralelos” ou “segundas linhas”, como preferem chamar – de Ray Ban Wayfarer das cores mais variadas, por 20 a 25 reais. Protegidos em vitrines réplicas de Ray Ban Aviator, Dior, Chanel, D&G e Cavalli, além de modelos esportivos Oakley. Os perfumes variam mais, geralmente são mais visados os “testers” (aqueles frascos de amostra das lojas) e ninguém se importa com a falta de embalagem.

Na esquina, guardas municipais são presença constante. Mas eles estão ali apenas para manter a ordem urbana, agindo em brigas e tumultos, por exemplo. Não é inoperância, apenas não é da competência deles a fiscalização da legalidade do comércio. Isso fica a cargo da Polícia Federal, que vez por outra aparece por lá e sai com caminhões abarrotados de mercadoria apreendida. Ações como essa costumam acontecer no fim do ano, quando o movimento aumenta por causa do Natal, reveillon e férias.

Logo depois eles voltam ao mesmo comércio. A prática é ilegal, mas as penas são brandas, de 1 a 4 anos de prisão para o crime de contrabando. Como as fiscalizações são poucas e o lucro alto, consideram que o risco vale a pena. É o que me contou outro brasileiro, antes de perceber o olhar recriminador do colega. Estava falando demais. Nem tanto, pois isso não é nenhuma novidade, né? O lugar está sempre cheio de gente em busca do preço mais barato, sem imposto. Mesmo quem já caiu no golpe do iPod recheado de papelão acaba voltando.

Certamente o lucro é alto. Para falar apenas das bolsas, há produtos “paralelos” para todo tipo de poder aquisitivo. As mais baratas “gritam” que são falsas, mas existem outras, bem mais caras, com acabamentos relativamente bons, tanto em costura quanto em ferragens (que é o que mais denuncia bolsas falsificadas, ao oxidar e manchar o couro ou lona), forros e materiais que enganam e até data codes. Vi “réplicas” de Victor Hugo a 300 reais, preço de uma boa peça de couro legítima de uma marca nacional menos famosa. Mas, ah, o brilho do logo… Quem disse que o consumo se dá por necessidade, né?

Todos os dias, multidões enfrentam calor, aperto e hostilidade em troca do poder simbólico de portar uma Louis Vuitton, ainda que não seja autêntica. Incrível o semblante de vitória ao sair do shopping com o “prêmio” em mãos, dentro de sacos de plástico opaco. Embora a mídia estigmatize como consumo popular, não são apenas pessoas de pouco poder aquisitivo que recorrem a essa prática. Cheguei a ver duas irmãs que frequentam os melhores salões de beleza da minha cidade, sempre bem vestidas, com celulares caros nas mãos e Honda Civic no estacionamento. E várias outras parecidas com elas. Fora as que compram de terceiros e de sites que se multiplicam.

Cada vez mais semelhantes ao produto original, as réplicas ganham o status de legítimas, de acordo com quem as usa. Afinal quem desconfiaria dessas moças no salão tão badalado? Mesmo que o monograma seja um pouco mais amarelo ou alça pareça um pouco torta, contextualizado ainda será um marcador social. Muito diferente da moça que porta a mesma bolsa no ônibus, com calça jeans de confecção local e unha descascada de trabalhadora.

A dona legitima a bolsa que legitima a dona.

Ou seja, na experiência de consumo o sistema simbólico se torna cada vez mais importante do que o bem em si.

Lino Villaventura apresenta segunda linha

6 out

Vestido de fashion week

Todo mundo está super acostumado a ver na passarela aqueles vestidos lindos do Lino Villaventura (um equilíbrio de conceito e red carpet). Muita gente sonha em fazer parte do universo sempre tão onírico que o estilista constrói a cada coleção, mas esse tipo de trabalho artesanal, super especializado, com matérias-primas nobres e muitas vezes exclusivo custa caro, não raro vários milhares de reais. E aí — puff — a gente acorda.

Mas se você se encaixa ali naquela turma que pode gastar uns 1.000 reais numa jaqueta, por exemplo, o estilista tem uma novidade que vai te agradar: ele está lançando uma segunda marca, a Villaventura, uma linha mais casual, com preços a partir de 300 reais. O melhor da notícia é que as características mais interessantes da marca principal continuam presentes: o trabalho feito à mão, os bordados, nervuras, texturas e plissados que fizeram a fama de Lino.

A boa notícia me chegou pelo Facebook, no grupo dedicado ao estilista. Rolou uma curiosidade? Pois bem, a Villaventura está disponível nas lojas de Fortaleza e São Paulo e multimarcas pelo Brasil, além da loja online do estilista e do shopping virtual Farfetch.com.

Ampliação de público

Interessante reparar que Lino Villaventura optou por uma estratégia diferente de ampliação de público no âmbito nacional. O que a gente tem visto é a associação de estilistas e marcas de prestígio a redes de fast-fashion, a exemplo do que acontece no exterior. Hoje mesmo soubemos da parceria de Oskar Metsavah (Osklen) com a Riachuelo. Mas Lino preferiu seguir por um caminho digamos “solo” e não se aproximar da base da pirâmide. Nada de classes C e D, só um pessoal um pouco menos abastado e certamente mais jovem e despojado. Um Villaventura mais voltado para o dia-a-dia.

Espero um update para breve nesse post, pois ainda não tenho imagens dessa nova marca. =/

Só lembrando que isso é muito comum com várias grifes de luxo no mundo: Prada/Miu Miu, Marc Jacobs/Marc, Versace/Versus, Donna Karam/DKNY, Dolce & Gabbana/D&G… No Brasil, os casos mais conhecidos de marcas com segunda linha são Gloria Coelho/Carlota Joakina e Zoomp/Zapping.

Vogue Paris: 90 anos em 50 capas

2 out

A Vogue Paris está completando 90 anos. Para mim, 90 anos super bem vividos, já que é a minha Vogue favorita. Enfim, como parte das comemorações, a publicação fez uma galeria com suas 50 capas mais importantes. Acho que todas as modelos, atrizes e cantoras que importam já bateram ponto lá, de Audrey Hepburn a Lara Stone. As francesas então, nem se fala, Catherine Deneuve, Brigitte Bardot, Jane Birkin…

Todas registradas pelo crème de la crème da fotografia de moda: Helmut Newton, William Klein (um dos meus favoritos TOUJOURS), Bert Stern (aquele que fez as últimas fotos da Marilyn), Mario Testino, Patrick Demarchelier…

Enquanto conferia as fotos, foi inevitável pensar nas diferenças da Vogue Paris e suas primas americana e brasileira. Parece que o perfil da publicação, hoje sob o comando de Carine Roitfeld (SUA LINDA!), sempre foi mais avant-garde. São as mesmas celebridades na capa, mas o foco é completamente diferente: mais ousado tanto nos “temas” quanto no tratamento estético.

Adoro a Vogue Paris e separei as capas mais queridas:

Audrey Hepburn, de Givenchy, por Bert Stern (Maio/1963)

Twiggy entre borboletas, por Henry Clarke (Maio/1967)

Hors-concours: Intervenção de Salvador Dali em foto de Marilyn Monroe, por Philippe Halsman (Dezembro/1971-Janeiro/1972)

Outra fantástica: Caroline de Mônaco, por Andy Warhol (Dezembro/1983-Janeiro/1984)

Karen Mulder, em edição especial ao cinema, por Michael Thompson (Dezembro/1994-Janeiro/1995)

Madonna, fotografada por Steven Klein, seu favorito (Agosto/2004)

Sofia Coppola por Mario Testino (Dezembro 2004 - Janeiro 2005)

Essa é outra capa master: Drew Barrymore, por Nick Knight (Dezembro 2006-Janeiro 2007)

A edição comemorativa dos “90 anos de excessos” também merece um espaço nessa galeria.

Lara Stone, atual número 1, por Mert & Marcus (Outubro/2010)

As mudanças no visual de Dilma

27 set

Há cerca de um mês, Dilma Rousseff conta com a assessoria de estilo de Alexandre Herchcovitch. Apesar da repercussão dessa notícia e da expectativa em torno dos resultados, não temos uma Dilma “super fashion” — e provavelmente não teremos. Esse é o tipo de trabalho em que as pesquisas de tendências contam pouco, muito mais importante é saber interpretar as pesquisas eleitorais.

O modelo que a candidata usou no debate da Record, ontem à noite, foi alvo de piadas no Twitter: estilo "Nosso Lar"

As pesquisas eleitorais sinalizam o que o público-alvo (os eleitores) espera do candidato. A intenção é ajustar a linguagem aos canais de comunicação e aos contextos de recepção. Então é claro que roupa não ganha eleição, mas é mais uma forma de comunicação não-verbal. Uma parte do “pacote” e que precisa ser coerente com o todo (discurso verbal, postura corporal, gestual, etc), de modo a conquistar novos eleitores e não perder os que já ganhou.

Embora o sentido seja vago e pessoal, o SIGNIFICADO é coletivo. Algo tem um certo significado quando uma comunidade de intérpretes atribui a esse algo um mesmo sentido. No caso das roupas, isso pode ser explícito (como os uniformes) ou uma convenção social (no caso vestir-se para o cargo que pretende ocupar).

Vamos ver alguns exemplos na prática. Segundo as primeiras pesquisas, a Dilma tinha dificuldade de obter votos entre os mais jovens. Além de uma linguagem mais coloquial, repara na mudança do modelo nos comícios.

Antes:

Depois:

Antes visual de tia ou professora, com babados e braços de fora. Depois a jaquetinha colorida virou curinga nos palanques. Não sei o material, mas é bem cortada, prática (sem risco de brechas descuidadas ou gordurinhas aparentes) e jovem (sem ser juvenil). As  cores mais claras também deram uma suavizada ao semblante da candidata, que tem fama de brava (quem já a entrevistou, bem sabe!).

Antes:

Depois:

O corte do blazer não apenas alonga a silhueta da Dilma (repara nesse decote), como é mais moderno e sóbrio do que a blusa de babados quando se trata de uma ocasião mais formal (na primeira foto ela está discursando para empresários na Federação das Indústrias do RS e na outra em um encontro com médicos em Brasília). Se a Dilma tem mesmo mais credibilidade por causa de um blazer? Não, mas esse é o lado cruel do código do vestuário: para a maioria dessas platéias, esse é um símbolo de credibilidade.

O fato é que o vestir é simbólico. Não é apenas um pedaço de pano, mas um pedaço de pano que adquire valor. Uma das estratégias de Carla Bruni para “apagar” seu passado é justamente investir num figurino clássico, elegante e sóbrio. O próprio Lula é outro exemplo de mudança de perfil vestimentar. Mas o melhor exemplo ainda é o da última eleição americana.

Sarah Palin, candidata a vice-presidente de John McCain era uma típica dona de casa caipira do Texas, com seus Rs puxados e defensora da família e da tradição, e que tinha entre seus eleitores pessoas que se identificavam com aquele espírito. Quando Michele Obama apareceu como ícone de estilo e elegância, a campanha de McCain quis transformar Palin em Michele.

Foi um tiro no pé. Para os eleitores parecia uma traição com o que ela era (que também era o que ELES eram) e uma imitação. Outra: a campanha gastou milhares de dólares para repaginar seu visual com marcas como Dior e Chanel. Isso no auge da crise econômica mundial que tinha origem nos EUA. Leitura fácil, né? “Nós pagando mais impostos e ela comprando roupas caras!”. Pra piorar, as roupas caras eram de grifes européias. Ou seja, o dinheiro estava indo para lá, não para o país que ela queria representar.

Na mesma época, Michele declara que compra roupas em lojas de departamentos. Entendeu a mensagem, né? É como se ela própria estivesse dando o exemplo de economia e ainda alimentava a esperança de que a americana comum, sem tantos recursos, poderia ter um estilo marcante. Além disso, dava aquela força na divulgação de novos estilistas e de designers de origem estrangeira, mas todos americanos. Acho que agora dá pra entender o que quis dizer por “pacote” imagético lá em cima: era um casal novo, uma nova visão política, novas formas de consumo… O novo que o slogan “Yes, we can” sintetizava aparecia também nas roupas.

Ou seja, só a roupa, descontextualizada, não adianta muita coisa.

>>> PS: Esse post não tem nada a ver com intenção de voto. Primeira Fila não revela seus candidatos. ;)

>>> Pós-post > CONSERTANDO: Apesar de comentadíssima, a consultoria de Alexandre Herchcovitch à Dilma Rousseff não se concretizou. Segundo a assessoria de imprensa do estilista, “devido à agenda de campanha e aos compromissos internacionais do estilista, o projeto de consultoria acabou não sendo efetivado. Devido a isso, em nenhum momento foram usadas criações ou sugestões de Alexandre Herchcovitch”. Erro meu, comi bola, sorry. Mas o resto do post continua válido, gente, porque é evidente que alguém fez uns ajustes no figurino da candidata. E tudo sobre o valor simbólico das roupas permanece.

Fotos: Portal R7, site oficial de Dilma Rousseff e NY Daily News

Desfiles dos anos 50 registrados pelo Última Hora

22 set

Adoro quando passado e presente se encontram e mostram que a relação entre eles não precisa ser de oposição. Vejam só o exemplo do jornal Última Hora, um dos mais importantes do jornalismo brasileiro, que circulou em diversas cidades do país nas décadas de 50 e 60. Graças à tecnologia, o jornal fundado por Samuel Wainer teve seu arquivo de imagens, com 54.600 fotos e 1.200 ilustrações, digitalizado e disponibilizado ao público no site do Arquivo Público do Estado de São Paulo.

O Última Hora tinha entre seus articulistas os “monstros” Paulo Francis e Nelson Rodrigues e ficou mais conhecido pela sua cobertura política (era assumidamente pró-Vargas e não resistiu à ditadura militar). Mas não era só isso, o jornal também cobria a vida econômica, artística e cultural do país. Fiz uma rápida pesquisa sobre o meu tema de pesquisa e achei maravilhada um monte de fotos incríveis dos desfiles dos anos 50. Vem comigo!

Um desfile da famosa Casa Canadá, a primeira grande maison de alta costura do Brasil. (1952)

Outro desfile da Casa Canadá. Olhem a riqueza desses vestidos! (1953)

Mais um desfile da Casa Canadá. Dessa vez uma passadinha na primeira fila. (1954)

Uma apresentação de roupas vindas da França, no Copacabana Palace. (1954)

Sim, é isso que vocês estão vendo na faixa: um desfile de verão da finada Mesbla! (1954)

Outra do Copacabana Palace. Olha o pessoal em mesas e DE COSTAS pra passarela! (1956)

A cereja do bolo! Um desfile de maiôs a céu aberto em cima de carros na praia do Leblon. A sereia veste Mesbla! (1956)

De onde vieram essas tem muito mais. Acho que vou passar a noite nesse site. Como pesquisadora do tema, estou me tremendo todinha com essas fotos. Obrigada, Arquivo Público!

50 vestidos que mudaram o mundo, segundo o Design Museum de Londres

20 set

Sei que o blog ficou abandonado nos últimos dias, mas foi por uma boa causa: estava em São Paulo, participando do Colóquio de Moda e fazendo algumas pesquisas. Aos poucos vou colocando aqui as minhas impressões das melhores palestras e GTs — teve muita coisa boa! Por causa do corre-corre que passei por lá, não deu tempo de preparar o “Bora prestar atenção?”, mas semana que vem ele está aqui.

Na sexta-feira conferi a feira de livros da PUC. Não é tão grande e famosa quanto a da USP, mas deu pra fazer um pequeno estrago. Comprei três livros mais “cabeçudos” e um que é puro encantamento, que foi o primeiro que li, ainda no avião, voltando pra Fortaleza: “Cinquenta Vestidos que Mudaram o Mundo”. É uma compilação feita pelo Design Museum de Londres de 50 vestidos icônicos do cinema, das passarelas, dos editoriais — e da vida! Em comum, o fato de que todos eles impactaram substancialmente o mundo do design, com reflexos econômicos, sociais e sexuais.

Na capa, o famoso pretinho básico Givenchy imortalizado por Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo. Dentro, o branco esvoaçante que Marilyn Monroe usou em O Pecado Mora ao Lado, o vintage Valentino com que Julia Roberts recebeu Oscar, o Modrian de Yves Saint Laurent, o vestido envelope criado por Diane Von Fürstenberg, o traje de noiva da princesa Diana, o curioso vestido topless e até um não-vestido, o terninho Chanel… Tudo em ordem cronológica, começando pelo vestido Delphos (1915) e terminando nos LEDs tecnológicos  de Chalayan (2007).

Como toda lista, a gente sempre sente falta de um ou outro vestido, que na nossa cabeça deveria estar ali. Eu, por exemplo, acrescentaria o vestido de noiva usado por Madonna em Like a Virgin e algum vestido usado por Michelle Obama. Só fico em dúvida entre o vestido preto e branco da White House/Black Market, que ela usou no programa da Oprah e que fez a americana comum acreditar que pode ser tão elegante quanto a primeira dama, e o branco Jason Wu, do baile da posse e que representava o novo e o multiculturalismo definido pelo casal presidencial.

>>> PS: Fazem parte da coleção ainda os livros sobre os 50 carros, 50 cadeiras e 50 sapatos que mudaram o mundo. Folheei o de sapatos e vi na lista as sandálias Melissa, os chinelos Havaianas e a plataforma que Salvatore Ferragamo criou para Carmem Miranda.

Serviço:
Cinquenta Vestidos que Mudaram o Mundo
Coleção 50
Autêntica Editora
R$ 34,00 (na feira, paguei R$ 27,00)

“Bora prestar atenção?” Edição de luxo e o pensamento de moda

6 set

Uma das coisas mais legais da internet é que ela facilita a aproximação de pessoas com idéias afins. Caso da Aline Botelho, que conheci primeiro pelo blog Duo de Luxo e pelo twitter e só depois encontrei pessoalmente. Nesse dia ela me entregou o número de estréia do Edição de Luxo, zine mensal editado por ela e Thiago Félix, colegas de faculdade com interesse comum por moda e cultura pop. A eles se juntou o namorado da Aline, Diego Almeida, responsável pelo projeto gráfico, inspirado nos livros franceses do século 18. Na contramão da blogosfera, imagem, sim, mas muito texto (adoro!). Com a intenção de explorar as facetas da moda enquanto fenômeno cultural, o zine está agora na terceira edição (sobre moda masculina) e conta com colaboradores de peso. Conversei com a Aline sobre esse projeto super bacana, que espero que tenha vida longa.

Primeira Fila – Qual o propósito de vocês com o zine? Que visão de moda querem difundir?
Aline Botelho – O zine foi uma necessidade nossa de ter um espaço onde a gente pudesse colocar em prática nossa visão de moda, atingindo um público mais específico que o do blog. Nossa ideia essencial é a de integrar mais a moda com a área de cultura, entendendo-a como um campo simbólico rico de possibilidades. Acho muito pobre pensar moda apenas como indústria.
PF – Enquanto se fala da “revolução da web”, por que lançar um zine em papel?
AB – Cada meio possui uma linguagem e um conjunto de características próprias, o que faz com que a evolução não implique no desaparecimento de meios mais antigos. Escolhemos o papel porque acreditamos que ele retoma o prazer da leitura, além de ser um espaço mais apropriado para textos longos e reflexivos. O tempo da internet é muito rápido e totalmente contrário ao que a gente propõe. Criamos todo o projeto editorial e gráfico pensando no meio impresso. Certamente ele não teria o mesmo impacto se fosse apenas virtual.
PF – Vocês conseguiram textos de nomes de peso, como Sylvain Justum, Xico Sá, Dudu Bertholini. Os profissionais da área estão receptivos a esse tipo de proposta?
AB – Todos que já conheceram o zine foram bastante receptivos. Até agora não tivemos dificuldades em chamar colaboradores da área, as pessoas se mostram bastante abertas, é muito bacana.

PF – Embora seja uma mídia alternativa, o zine tem um custo, ainda que baixo. Como o Edição de Luxo se banca mantendo a periodicidade?
AB – Por enquanto nós mesmos bancamos o zine, não é nada fácil. Mas estamos negociando parcerias para que o projeto cresça e tenha durabilidade.

PF – Aceitam colaborações? Quais os critérios? Pode adiantar o tema da próxima edição?
AB – Sim, sempre trabalhamos com colaboradores que a gente seleciona cuidadosamente. Acho que os critérios básicos são ter afinidade com o nosso projeto editorial, dominar o tema proposto e ter uma boa bagagem cultural. Ainda não sei ao certo qual será o tema da próxima edição, mas acho que será sobre cultura pop, assunto que a gente ama.

>>> Apesar de nascer no papel, as Edições de Luxo fazem o maior sucesso na internet, com a divulgação sendo feita basicamente pelo twitter @edicoesdeluxo e repassada nas redes sociais, sites e blogs por quem aprova. Além disso, todas as edições podem ser lidas na íntegra em issuu.com/edicaodeluxo.

Vestir mestiço brasileiro na IARA

5 set

Este artigo propõe uma reflexão teórica sobre a moda de rua brasileira e sua representação na mídia especializada na primeira década do século XXI. Nosso foco se detém sobre o hibridismo ou mestiçagem que constitui a formação cultural da América Latina e caracteriza o vestir em nosso país, mas que é quase sempre ignorado pelos meios de comunicação. A partir de um recorte sobre alguns dos principais sites de moda do Brasil no decorrer de seis meses, investigamos, à luz dos conceitos de cultura de autores como Bhabha, Canclíni e Martín-Barbero, aspectos simbólicos e ideológicos dessa invisibilidade midiática.

Esse é o resumo do artigo acadêmico que escrevi para a IARA, Revista de Moda, Cultura e Arte editada pelo Senac. Interessou? Se chama “Que rua é essa? Um passeio (não registrado) pelo vestir mestiço brasileiro” e pode ser lido na íntegra no site da IARA.

A boa de sábado

2 set

Já que falei em bazares ontem, a boa do sábado é o Ruiva’s Bazar. Eu vou, minhas amigas vão e acho que você também devia ir (mas depois de nós, de preferência #brinks). Ouvi dizer que uma fina da cidade deixou um guarda-roupa todinho da Farm por lá, mas pode ser boato também. Pelo sim, pelo não, vou conferir. Já estou até de olho num sapatinho e numa blusa.

Mais informações:  ruivasbazar@hotmail.com

Entre o hiper consumo e a sustentabilidade

1 set

Hoje tem um pequeno texto meu no Diário do Nordeste, com a minha opinião sobre moda e sustentabilidade. Fiquei super feliz com o convite da Iracema Sales, minha ex-colega de redação e amiga, que assina a matéria principal com a Gilvânia Monique, do Brechó Reivenção, e o pessoal do Bazar Emaús.

Já trabalhei em redação de jornal e sei que, muitas vezes, o espaço no papel é ingrato e temos que recorrer à edição (ou seja, cortar o texto, pra quem é de fora da área) e foi isso que aconteceu. Mas a gente tem blog pra quê, não é mesmo? Então aqui vai o texto na íntegra:

Entre o hiper consumo e a sustentabilidade

Fibras naturais, materiais reciclados e a quase onipresente “ecobag”. Sem dúvida, a indústria da moda está atenta ao desejo da sociedade em contribuir para a preservação do meio ambiente. Mas até que ponto temos práticas sustentáveis de fato na hora de nos vestirmos? Ou estamos nos protegendo atrás do rótulo “ecologicamente correto”? Você já se viu justificando uma compra cara ou desnecessária com um “mas é de algodão orgânico”?

Sem querer desmerecer as inúmeras pesquisas de material e de processos, com descobertas fascinantes, mas tem uma peça nessa engrenagem que não encaixa. Assim como a tecnologia torna celulares obsoletos a uma velocidade que mal conseguimos acompanhar, a indústria da moda tem na novidade seu principal motor. Hoje mais do que nunca, afinal as informações circulam a uma velocidade surpreendente e por espaços antes impensados.

Desfiles duas vezes por ano e delay de meses pra moda chegar as ruas? Passado!

Não espanta o avanço das redes de fast-fashion, com coleções novas nas lojas a cada semana – ou até menos. No Brasil, alguns fatores favorecem esse modo de produção: uma economia em expansão (que sobreviveu até as intempéries de uma crise internacional), a ascensão das classes C e D no mercado de consumo e a grande oferta de crédito. Um cenário tão propício que atraiu não apenas os magazines, mas também lojas de grife, para esse modelo que podemos resumir como “vi ontem – comprei hoje – uso amanhã – semana que vem começo tudo de novo”.

Certamente duas coleções por quinzena movimentam a economia e geram empregos bem mais do que duas coleções por ano. Então qual é o problema? Essa transitoriedade tem seu preço: ao sabor das tendências, esgotam-se os recursos naturais, gera-se desperdício e cresce a poluição. A indústria da moda já dá sinais que elegerá o mocassim como o must have da próxima estação, e o clog que hoje calça os pés de 9 entre 10 it girls voltará a ser um tamanco como outro qualquer e será esquecido no armário – com todo o couro, madeira, água, energia e mão de obra empregados na sua fabricação.

Longe de mim pregar um boicote às novidades, aos estilistas, à moda. Muito menos há intenção de defender um mundo 100% funcional, onde o simplesmente belo e desejável não tem vez. Mas é fundamental que tenhamos consciência do paradoxo que vivemos: a pressão pelo hiper consumo e a necessidade de adotar posturas ecologicamente corretas. Antes de puxar o cartão de crédito para comprar a última it bag, tentar responder algumas perguntas. Quanto estou pagando? Por quanto tempo vou usar? Com que material foi produzido? Em que condições foi fabricado? Vale lembrar que as pessoas fazem parte do meio ambiente e que não são raros os casos de marcas que terceirizam sua produção em países onde as leis trabalhistas são mais frouxas.

Podemos ainda pensar em formas alternativas e sustentáveis de consumo, fazendo uma roupa mudar de aparência ou de dono. Nos Estados Unidos, a crise ressuscitou os famosos garage sales, onde aquelas peças descartadas são vendidas mais baratas na garagem de casa para amigos e vizinhos. Por que não fazer um bazar de trocas informal com as amigas ou explorar a customização? Outra opção é procurar brechós para vender aquela roupa que já caiu no enjôo e adquirir outras. Dá para fazer isso no meio físico e também no virtual, aproveitando todos os revivals que a moda tanto aprecia. Não se trata apenas de uma forma de pagar pouco para se vestir, mas de evitar o desperdício fazendo os objetos circularem e ganharem sobrevida.