Inclusão Escolar

O lançamento da Constituição Federal de 1988 significou um grande avanço em termos educacionais no Brasil, pois respalda e propõe avanços significativos para educação escolar , elege a cidadania e a dignidade da pessoa humana (art.1º,incisos II e III) como um dos seus objetivos fundamentais: a promoção do bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade, e quaisquer outras formas de discriminação( art. 3º, inciso IV) e também garante o direito a igualdade ( art.5º) e trata no artigo 205 e seguintes , do direito de todos á educação . Esse direito deve visar "o pleno desenvolvimento da pessoa , seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho" . Além disso garante igualdade de condições , e acesso e permanência na escola " (art.206 , inciso I).

Somente esta lei seria suficiente para que as instituições escolares passassem a repensar a educação como um direito inegável à todos , independentemente de suas deficiências. Porém, em 1996 o Brasil passou a ter uma lei exclusiva para educação que é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB DE 1996), que não só garante o acesso e permanencia na escola mas acrescenta que é dever do Estado prover o acesso destes educandos preferencialmente nas escolas públicas. A partir desta interpretação legal é possível notar que estamos vivendo uma nova era educacional.

Professora rede pública municipal formada em Pedagogia – Séries Iniciais pela UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e Pós Graduanda em Psicopedagogia Institucional – Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas – FACISA – CELER, Xaxim (SC) A educação inclusiva é uma força renovadora na escola , ela amplia a participação dos estudantes nos estabelecimentos de ensino regular. Trata-se de uma ampla reestruturação da cultura, da nossa práxis e das políticas vigentes na escola. É a reconstrução do ensino regular que , embasada neste novo paradigma educacional , respeita a diversidade de forma humanística, democrática e percebe o sujeito aprendente a partir de sua singularidade, tendo como objetivo principal, contribuir de forma que promova a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal para que cada um se construa como um ser global.

A instituição escolar precisa redefinir sua base de estrutura organizacional destituindo-se de burocracias, reorganizando grades curriculares, proporcionando maior ênfase à formação humana dos professores, e afinando a relação família–escola , propondo uma prática pedagógica coletiva, dinâmica e flexível , para atender esta nova realidade educacional. A educação inclusiva tem força transformadora, e aponta para uma nova era não somente educacional mas, para uma sociedade inclusiva.

O sistema educacional vigente está calcado na divisão de alunos normais e deficientes, e muitas vezes ignora o subjetivo, o afetivo, e desrespeita a diversidade inerente à espécie humana. O ensino inclusivo respeita as deficiências e diferenças, reconhece que todos somos diferentes, e que as escolas e os velhos paradigmas de educação precisam ser transformados para atender às necessidades individuais de todos os educandos, tenham eles ou não algum tipo de necessidade especial. Se não nos determos nesta nova visão educacional, não conseguiremos romper com velhos paradigmas e fazer a reviravolta que a inclusão propõe.

Para termos um sistema educacional inclusivo, na definição ampla deste conceito, é preciso que partir do princípio de que todas as crianças podem aprender, que se respeite e reconheça as diferenças de, idade, sexo, etnia, língua, deficiências ou inabilidades, que o sistema metodológico atenda às necessidades de todas as crianças. Visar um processo abrangente, dinâmico, que evolui constantemente, não limitado ou restrito por salas de aulas numerosas , nem por falta de recursos adequados. Se pretendemos uma educação inclusiva , é urgente que façamos uma redefinição de planos , traçados na meta de fazermos uma escola voltada para a cidadania global, plena livre de preconceitos , que reconhece e valoriza as diferenças.

Para conseguirmos reformar a instituição escolar, primeiramente temos que reformar as mentes, entretanto, não conseguiremos reformar mentes,sem que se realize uma prévia reforma de instituições. Estamos vivenciando uma crise de paradigmas, e toda a crise gera medos , insegurança e incertezas, mas propõe-se que seja este o momento de ousadia e de busca de alternativas que nos sustente e norteie para realizarmos as mudanças que o momento propõe.
Para que a escola seja um espaço vivo de formação para todos e um ambiente verdadeiramente inclusivo é preciso que as políticas públicas de educação sejam direcionadas á inclusão, que os educadores desacomodem-se, combatendo a descrença e o pessimismo , mostrando que a inclusão é um momento oportuno para professores e a comunidade escolar demostrarem sua competência e principalmente suas responsabilidades educacionais.

Esta mudança de perspectiva educacional, propõe que os educadores façam a diferença buscando conhecimento, e contribuindo com uma prática ressignificada desenvolvendo uma educação baseada na afetividade e na superação de limites, que as crianças aprendam a respeitar as diferenças em sala de aula, preparando-as assim para o futuro , a vida e o mercado de trabalho, pois vivendo a experiência inclusiva serão adultos bem diferentes de nós , e por certo não farão discriminações socias.

À instituição escolar, juntamente com os pais, cabe formar uma rede de apoio para que se possa fazer o melhor por estes educandos, desenvolvendo suas potencialidades e cidadania. A escola é o espaço que pode proporcionar-lhes condições para exercer sua, identidade sociocultural e a oportunidade de ser e viver dignamente.

Recriar um novo modelo educativo com ensino de qualidade, que diga não á exclusão social, implica em condições de trabalho pedagógico e uma rede de saberes que se entrelaçam e caminham no sentido contrário do paradigma tradicional de educação segregadora. É uma reviravolta complexa mas possível, basta que lutemos por ela, que nos aperfeiçoemos e estejamos abertos a colaborar na busca dos caminhos pedagógicos da inclusão.

Nem todas as diferenças necessariamente inferiorizam as pessoas. Elas tem diferenças e igualdades, mas entre elas nem tudo deve ser igual, assim como nem tudo deve ser diferente. Então , como conclui Santos(apud MANTOAN,2003,p.34), "é preciso que tenhamos o direito de sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza e o direito de sermos iguais quando a diferença nos inferioriza."

A luta pela escola inclusiva, embora seja contestada e tenha até mesmo assustado a comunidade escolar, pois exige mudança de hábitos e atitudes, pela sua lógica e ética nos remete a refletir e reconhecer ,que trata-se de um posicionamento social , que garante a vida com igualdade, pautada pelo respeito às diferenças.

Apesar das iniciativas acanhadas da comunidade escolar e da sociedade geral , é possível adequarmos a escola para um novo tempo. Precisamos estar imbuídos de boa vontade e compromisso, enfrentarmos com segurança e otimismo este desafio, enxergarmos a clareza e obviedade ética da proposta inclusiva , e contribuirmos para o desmantelamento dessa máquina escolar enferrujada .

Doença Mental X Deficiência Mental
Para iniciar o trabalho sobre deficiência mental, é preciso esclarecer alguns conceitos que escapam ao senso comum. Para tanto, é imprescindível que seja esclarecida a diferença entre doença e deficiência mental.

Doença mental e deficiência mental são fenômenos distintos, embora haja muita confusão no uso e no entendimento desses dois termos. Esta é, certamente, a questão mais freqüente que se encontra em pessoas com responsabilidades nas mais diferentes áreas da vida social e política.
Importa, portanto, esclarecer que a doença mental ocorre em pessoas com os graus mais variados de inteligência. A doença mental não é uma condição inerente às pessoas com deficiência mental mais do que o é às pessoas com inteligência média ou acima da média. O deficiente mental, embora tenha problemas de comportamento, não tem como causa da sua deficiência esses problemas. O doente mental é aquele que rompe com sua estrutura de vida através de uma doença geralmente de ordem psíquica, como as neuroses, psicopatias, transtornos e esquizofrenia. Nesses casos, a percepção que tem de si mesmo e da realidade encontra-se alterada.

Deve-se enfatizar que o portador de deficiência mental não tem alterada a percepção de si mesmo e da realidade e é, portanto, capaz e tem o direito de decidir o que é melhor para ele. Apesar do fato de que 20 a 30% dos deficientes mentais apresentem associação com algum tipo de doença mental, como a síndrome do pânico, depressão, esquizofrenia, entre outras, isso não significa que deficiência e doença mental seja fenômenos dependentes ou mesmo semelhantes.
As doenças mentais, podem e devem ser tratadas, pois afetam o desempenho dos indivíduos, prejudicando primariamente, outras áreas do funcionamento que não a inteligência, como, por exemplo, a capacidade de concentração, o humor, o pensamento e o bom senso.

1.1 - Conceito de Doença Mental
Nada é mais incerto do que a definição de doença mental. Por não existir uma definição universalmente aceita existem várias correntes teóricas sobre o assunto, que se contrapõem.
Isso pode ser ilustrado por um livro de Szas que fez um certo sucesso, no qual o autor coloca em dúvida a existência da doença mental. Existiriam, sem dúvida, algumas doenças do cérebro, verdadeiras lesões orgânicas das células nervosas. Em todos os outros casos, porém, tratar-se-ia de atitudes do indivíduo sem qualquer base de critérios éticos e psicossociais, e vividas pela pessoa como uma linguagem, a única a que "o solitário, o rejeitado, o pobre e o não instruído podem recorrer na esperança de obter o que não puderam obter por outras vias", isto é, "sua porção de amor humano".

Entretanto, essa teoria é vista pela sociedade médica e científica, como uma proposta radical e infundada, já que também não há uma definição universalmente aceita de saúde cardíaca, mas ninguém nega as doenças do coração. Os critérios de diagnóstico preconizados pela Organização Mundial de Saúde para se reconhecer uma determinada doença mental estão disponíveis para consulta. É com base nesses critérios que os médicos psiquiatras decidem se uma pessoa tem esquizofrenia, transtorno bipolar (psicose maníaco-depressiva), depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, etc.

De acordo com uma definição legal estabelecida pela Lei de Higiene Mental de Nova York, em 1992, a doença mental é uma "condição mental que é manifestada por um distúrbio no comportamento, sentimento, pensamento, ou julgamento de tal forma extenso, que a pessoa requer tratamento e reabilitação".

Segundo Rey, Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde (1999), doença mental é um termo geral para os distúrbios da mente, afetividade, percepção e comportamento, com manifesta incapacidade resultante dessas perturbações percebidas tanto pelo paciente como pelos seus próximos. Alguns exemplos de doenças mentais podem ser destacados, como:
Neurose - termo geral para transtornos psíquicos, sem grave ruptura com a realidade, em que não se evidenciam lesões orgânicas. A neurose é caracterizada por um comportamento anormal, podendo revestir formas múltiplas. Os pacientes neuróticos têm consciência desses transtornos, mas não têm o poder de controlá-los (contrariamente ao que ocorre nas psicoses, em que os doentes não têm consciência de seu estado). A neurose perturba a afetividade, mas não a atividade intelectual.

Psicose - Termo geral para transtornos mentais graves, marcados por flagrante ruptura com a realidade, alterando a percepção e a compreensão da realidade, desorganizando o comportamento afetivo e social, sem que os pacientes tenham em geral consciência do caráter patológico de tais fatos. Entre suas manifestações encontram-se delírios, alucinações, discurso marcadamente incoerente e conduta desregrada ou agitada. O termo é usado também em sentido mais amplo para referir desordens mentais em que o funcionamento da mente se encontra alterado a ponto de interferir grosseiramente com a capacidade do paciente para resolver os problemas comuns da vida cotidiana.

Esquizofrenia - Grupo de afecções mentais crônicas, de causa desconhecida, que constituem o tipo mais freqüente de psicose e cujo quadro clínico é marcado por distorções características do pensamento (delírios) e da percepção (alucinações), assim como por afetos inapropriados ou embotados. A consciência e a capacidade mental permanecem claras, ainda que certos déficits cognitivos possam evoluir com o tempo. Os fenômenos patológicos mais importantes incluem: o eco do pensamento, a importância ou roubo do pensamento, a percepção delirante, as idéias delirantes de controle, de influência ou de passividade, vozes alucinatórias que comentam ou discutem com o paciente, transtornos de pensamentos e sintomas negativos. A evolução desses transtornos pode ser contínua, episódica, com ocorrência de um déficit progressivo ou estável, ou comportar um ou vários episódios seguidos de remissão completa ou incompleta.
Transtornos: psicose-maníaco-depressiva (transtorno afetivo bipolar), transtorno depressivo, transtorno obssessivo-compulsivo, entre outros.

1.2 - A historicidade das doenças mentais.
O aparecimento, a evolução e o diagnóstico da psicopatia estão ligados às condições histórico-sociais, e também à cultura que prevalece em um dado ambiente. A incerteza existente sobre o conceito, o diagnóstico e a evolução das doenças mentais decorre da sua historicidade, das mutáveis relações sociais que influenciam o fenômeno. Mas deriva também do fato de que as lesões orgânicas e as anomalias funcionais do cérebro são numerosas e muito diversas entre si. Do recém nascido que sofre uma lesão cerebral durante o trabalho de parto a um velho atingido pela doença senil, de um alcoólatra a um neurótico, de um epilético a um esquizofrênico, há em comum apenas o rotulo de "doente mental". Mas as causas, os sintomas, a evolução, os prognósticos, têm uma grande diversidade.

Qualquer tentativa de explicar com uma só raiz comum, de fundar uma teoria etiopatogênica única das doenças mentais, ainda que se parta de uma base científica real, corre por essa razão o risco de cair em generalizações arbitrárias. Pode ser útil, contudo, fazer uma rápida resenha de alguns fatores que podem influir nas psicopatias, causando-as ou favorecendo seu agravamento.

As fábricas de doentes: um dos méritos principais do movimento de "negação institucional", daqueles que denunciaram e abriram os manicômios foi o de haver feito, finalmente, uma profunda reviravolta no conceito do doente mental como perigoso para si e para os outros, como ameaça para a sociedade; como um perigo para os sadios e como um fator de agravamento para os doentes.

Tornou-se uma consciência difundida, a opinião que as instituições repressivas, e também aquelas que declaram ter finalidades cientificas, na realidade selecionam, fixam e agravam os desvios do comportamento e são, por isso, fábricas de doentes.

As causas hereditárias: Para algumas doenças uma causa hereditária foi demonstrada com segurança. As generalizações tornaram-se arbitrárias quando a sintomatologia não consiste, por exemplo, em um déficit mental grave, ou em movimentos incessantes, desordenados e repentinos, mas em um temperamento violento e agressivo, cuja origem e valorização dependem dos tempos e das pessoas.

Parece bastante ociosa, e sem dúvida estéril, a contra-posição entre biogênese, psicogênese e sociogênese das doenças mentais. Enquanto pode ser mais útil ver por que hoje, nestas condições histórico-sociais, as predisposições tornam-se mais facilmente doenças, os casos duvidosos são mais amiúde rotulados como desvios irremediáveis, os doentes são mais freqüentemente segregados e seus distúrbios agravados.

1.3 - A Doença Mental Segundo Vygotsky
Para Vygotsky, o conceito de comportamento normal está entre aquelas concepções científicas mais difíceis e indefinidas. Na realidade não existe nenhuma norma, mas se verifica uma multiplicidade infinita de variações, de desvios da norma, e freqüentemente é muito difícil dizer onde o desvio ultrapassa aqueles limites além dos quais já começa o campo do normal. Tais limites não existem em lugar nenhum e, neste sentido, a norma é um conceito puramente abstrato e, na prática, não é encontrada em forma pura mas sempre em certa mistura de formas anormais. Por isso não existem fronteiras bem delimitadas entre o comportamento normal e o anormal.

Entretanto, os desvios às vezes atingem dimensões quantitativamente tão consideráveis que possibilitam falar em comportamento anormal. Formas desses comportamentos podem ser encontradas também em pessoas normais, representando um comportamento provisório e passageiro; mas podem ser encontradas também em pessoas como formas mais duradouras e inclusive constantes do seu comportamento. Desse ponto de vista, todas as formas anormais de comportamento podem ser divididas nos seguintes grupos: Formas breves e casuais – lapsos, omissões, esquecimentos, delírios, embriaguez, etc. Estados duradouros e estáveis – neuroses, psicoses, algumas formas de doenças mentais. Falhas de comportamento constantes e vitalícios.

É importante ressaltar que é incorreta uma antiga concepção segundo a qual as formas anormais de comportamento são algo absolutamente diferente das formas de comportamento normal. As fronteiras que separam o normal do anormal são tênues. O doente mental não difere do individuo são, seja organicamente ou em capacidade intelectual. Os processos apresentados por um doente mental (delírios, paranóias, etc) também são comuns e estão presentes no individuo são. A diferença entre o doente e o são é o papel que esses processos representam para cada um deles.

1.4 - Abordagens em saúde mental
O problema da saúde mental pode ser abordado sob dois aspectos: o científico e o social. Os organicistas alegam que a doença vem, primariamente, do organismo. Quer dizer, o organismo adoece. Isso é verdadeiro e serve, não só para as doenças mentais, como para as orgânicas. Entretanto, um outro fator, é a cura da causa desencadeante, passando a ser fundamental a preocupação com as causas sociais. Na formação da personalidade, normal ou patológica, predomina um fator: o homem é forjado pelo social. A dinâmica diretamente geradora e formadora da pessoa humana não está fundamentalmente centrada no indivíduo biológico (no seu potencial para o sentir, o pensar e o agir), mas, sim, em suas relações com o mundo. O social tem uma abrangência muito grande, e não é só a miséria material, apesar de estar intimamente relacionada a ela, mas, também, a miséria humana, como frustrações, amarguras e insucessos.

Os fatores orgânicos - predisposições hereditárias, congenitismo, lesões ou disfunções -, têm imensa importância para a doença mental, mas, fundamentalmente, o homem adoece socialmente, como conseqüência direta ou indireta da exploração do homem pelo homem. Na verdade, nem todos que enfrentem sérios problemas sócio-familiares adoecem mentalmente. Entretanto, vimos constatando que é muito mais difícil o adoecer psíquico sem tais problemas.

Nem todo adoecer mental vem sendo — social e cientificamente— considerado loucura, pois que o conceito oficial da loucura está intimamente ligado ao estado da consciência, exigindo alguns importantes requisitos para poder ser definida, como o imperfeito funcionamento da consciência, no que diz respeito ao conhecimento, o justo reflexo do mundo objetivo no subjetivo humano. É a perda do equilíbrio, do "senso da realidade", a "perda do juízo". Deverá estar o paciente inconsciente, isto é, fora do mundo real. Terá que estar vivendo e vivenciando um mundo de fantasia, irreal, imaginário, alucinado e delirante. Evidentemente que tal estado — o da loucura — implica, inclusive, profundas alterações do afetivo, o que inclui, além do amor e do ódio, o humor. Para o médico e psiquiatra social Eros Sucena Martins Teixeira, "a sociedade esquizofrênica pode levar um indivíduo à loucura".O médico carioca há três décadas cuida das questões da psicossíntese, um processo de conscientização da realidade global do indivíduo, um processo de desalienação mental e social.

O especialista afirma que a loucura pode ser causada, além do fator orgânico, pelo aspecto social, sendo este de suma importância, já que, em quase cem por cento dos casos, o social aparece como agente desencadeante, ao passo que o orgânico nem sempre está presente. Envolvidos nesta questão, estão a fome, o crime e a auto-realização. Todos derivados de uma sociedade de capitalismo alucinante, que fala em patriotismo, social, comunidades, mas o que realmente ensina é o individualismo e a competição exacerbada, inserindo e cobrando metas e realizações impossíveis, como levar vantagem em tudo e ser o melhor, principalmente através dos programas de televisão e propagandas veiculadas nos principais meios de comunicação. Ao mesmo tempo não garantem tais realizações, causando, com isso, frustrações e amarguras profundas, que podem levar à loucura.

2 - Deficiência Mental
As contribuições relevantes sobre a definição de deficiência mental são numerosas, incluindo enfoques variados. O significado do termo é freqüentemente impreciso e muitas vezes seu emprego é incorreto. As idéias de que se reveste dependem, sobretudo, da formação profissional de quem o emprega e dos propósitos de sua utilização. Especialistas em medicina, interessados na etiologia da deficiência, definem o termo do ponto de vista de suas causas determinantes, colocando em evidência fatores como os transtornos metabólicos e as disfunções neurológicas. Profissionais de psicologia, motivados com o estudo do comportamento humano, destacam a importância do desenvolvimento intelectual e social, com suas mensurações pertinentes. Conselheiros de reabilitação, orientados para o treinamento profissional, acentuam aspectos relacionados com habilidades vocacionais e nível de adaptação `a situação de trabalho. Pedagogos, considerando o grau de educabilidade do indivíduo, relacionam o conceito de deficiência mental com dificuldades de aprendizagem e com deficiências no acompanhamento dos programas escolares. Essas posições demonstram que o conceito varia conforme a perspectiva do profissional que o define, deixando entrever tendências parcializantes advindas da própria formação do seu autor.

Há que se considerar, no entanto, que o conceito em discussão é complexo para ser definido, por tratar-se de uma designação que abrange causas diversas e aspectos múltiplos, dos quais constituem denominadores comuns a capacidade intelectual insuficientemente desenvolvida e as dificuldades de adaptação social.

Com a intenção de buscar uma conceituação de maior abrangência, será analisada uma definição amplamente aceita na atualidade e que parece incluir os aspectos mais importantes da deficiência mental. Trata-se da elaborada por Heber e aprovada pela AAMD (American Association of Mental Deficiency) que vigora como principio orientador das organizações internacionais e da maioria dos trabalhos mais importantes no campo.

Segundo a AAMD e DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), por deficiência mental entende-se o estado de redução notável do funcionamento intelectual significativamente inferior à média, que dá lugar a deficiências no comportamento adaptativo e que tem origem no período de desenvolvimento. O rebaixamento intelectual está associado a limitações pelo menos em dois aspectos do funcionamento adaptativo, tais como: comunicação, cuidados pessoais, competência domésticas, habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários, autonomia, saúde e segurança, aptidões escolares, lazer e trabalho.

Entende-se por funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, em termos quantitativos o desempenho intelectual menor do que um desvio padrão abaixo da média, relativo à população geral. A deficiência mental pode ser caracterizada por um quociente de inteligência (QI) inferior a 70, média apresentada pela população, conforme padronizado em testes psicométricos ou por uma defasagem cognitiva em relação às respostas esperadas para a idade e realidade sociocultural, segundo provas, roteiros e escalas.

Por deficiências no comportamento adaptativo são entendidos os déficits apresentados nos componentes básicos da personalidade, quais sejam: maturação, aprendizagem e ajustamento social.É importante considerar que cada um destes fatores adquire maior ou menor relevância, dependendo da fase do desenvolvimento humano com a qual mais se identificam: o primeiro (maturação), com a idade pré-escolar; o segundo (aprendizagem), com a idade escolar e o terceiro (ajustamento social), com a idade adulta. Por período do desenvolvimento compreende-se os primeiros anos de vida da criança.

Todos os aspectos citados anteriormente devem ocorrer durante o desenvolvimento infantil para que um indivíduo seja diagnosticado como sendo portador de deficiência mental. Percebe-se que o enfoque da AAMD é integrativo e está ligado ao desenvolvimento, ditinguindo-se dos que consideram os padrões relacionados ao comportamento adulto. Por esse ponto de vista, a pessoa portadora de retardo é analisada em termos de seu desempenho nas tarefas apropriadas à sua fase de vida, como qualquer ser humano. Além disso, nessa abordagem, o conceito inter-relaciona-se com a consideração global relativa aos diferentes tipos de deficiência (tendência dos estudos mais recentes). Os mesmos são integrados em um contexto abrangente, referido aos chamados distúrbios do desenvolvimento ou necessidades especiais, presentes no processo de aprendizagem.

A definição adotada confere importância à coexistência dos dois aspectos da deficiência, quer no funcionamento intelectual, quer no comportamento adaptativo, ambos tomados em um processo evolutivo. Nas definições anteriores, esses dois fatores eram considerados de forma independente ou aceitos como unidades isoladas. De acordo com a tendência atual, o importante é o equilíbrio de funcionamento entre os dois elementos. Se um indivíduo situa-se abaixo da média em nível mental e acima dela em conduta adaptativa, a conclusão a que se pode chegar é a de que se colocam em dúvida os resultados da avaliação de suas capacidades mentais. Se, ao contrário, um indivíduo apresenta Q. I acima da média e comportamento adaptativo baixo, a conclusão decorrente é a de que outros fatores, fora da capacidade intelectual, incidem no referido comportamento.

A definição aceita proporciona uma dupla comprovação do funcionamento inteligente. Além disso, as medidas das capacidades intelectuais estão sujeitas a flutuações que atendem à mobilidade do desenvolvimento. O mesmo acontece com a variável "competência social", apesar de basear-se nas influências do meio ambiente, do viver independentemente e do adaptar-se aos padrões socialmente aceitos.

O conceito em pauta atribui importância relativa aos fatores causais e também a apreciações prognósticas do retardo mental. No que se refere à etiologia, esta é, freqüentemente, de difícil determinação. São inúmeras as causas e os fatores de risco que podem levar à instalação da deficiência mental (causas pré-natais, tais como alterações genéticas e malformações cerebrais, causas perinatais, tais como anóxia, prematuridade, infecções e causas pós-natais, tais como infecções do sistema nervoso central, traumas cranianos, subnutrição, entre outras). É importante ressaltar entretanto, que muitas vezes, mesmo utilizando sofisticados recursos diagnósticos, não se chega a definir com clareza a causa da deficiência mental.

O conceito chama a atenção para o emprego de vários critérios a serem utilizados na identificação da deficiência mental, fato que torna o processo cuidadoso e preciso, tendo em mira importantes medidas educacionais e de reabilitação propícias.

Infere-se desse conceito a idéia fundamental de que a DM não é uma entidade nosológica, nem uma síndrome, nem um sintoma, mas sim um complexo sintomatológico , cuja única unidade reside na deficiência intelectual.

Essas considerações levam à conclusão de que a definição de retardo mental é complexa, incluindo várias abordagens por vezes conflitantes. Nessas contribuições está implícita a tendência integradora, até mesmo de natureza interdisciplinar, que procura conjugar diferentes posições e interligar critérios diversos para analisar o conceito, ao invés de adotar apenas uma variável do comportamento para sua identificação.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 10% da população em países em desenvolvimento, são portadores de algum tipo de deficiência, sendo que metade destes são portadores de deficiência mental.

É importante ressaltar que a deficiência mental não implica, necessariamente, lesão cerebral. Enquanto que em alguns casos se sabe ou se suspeita de lesão cerebral, a grande maioria tem causas sócio-afetivo-culturais ou causa desconhecida. Além disso, diferentemente do que se pensa a deficiência mental não implica aspecto físico diferente; Alguns casos mais graves são acompanhados de defeitos físicos evidentes e nos casos de Síndrome de Down ou Mongolismo as características físicas são peculiares, porém a grande maioria apresenta o mesmo aspecto físico de qualquer outra pessoa.

3 - Um breve histórico sobre a Deficiência Mental
Sabe-se que o forte preconceito e discriminação que enfrentam os portadores de deficiências atualmente são decorrentes de um processo histórico. Partindo desse pressuposto, a fim de compreender um pouco melhor este processo, o grupo optou por fazer um breve histórico da Deficiência Mental no mundo.

Os registros mais antigos referentes ao tema são da Grécia Antiga. Como é sabido, neste período, o ideal de homem atlético era o que se reverenciava nesta cultura. Esculturas e pinturas da época comprovam esse fato. Nesse quadro, o portador de deficiência não era considerado humano. Era legítimo o abandono, ou a morte deste, uma vez que fugia dos padrões de normalidade da época.
Esse tipo de tratamento dado aos deficientes foi socialmente naturalizado em todas as regiões até o surgimento do Cristianismo na Europa. A partir de então, eles ganham alma, passando inaceitável o abandono. Passam, por volta do século IV, a receberem abrigo e proteção, além de tolerância, sem que isso signifique serem aceitos como cidadãos.

No século XIII, na Bélgica, surge a primeira instituição para abrigar os deficientes mentais. Em um tempo posterior, surge uma Lei defendendo direito à sobrevivência dos deficientes mentais, capazes de contribuir financeiramente com a Coroa. Nessa mesma época surge uma diferenciação jurídica entre deficientes mentais e doentes mentais.

Além do direito à alma , surgem com o cristianismo, interpretações diversas acerca da natureza das deficiências. "Será assim, ‘I’enfant du bom Dieu’, mas portador de misteriosos desígnios da divindade".(PESSOTTI, pg 5) Interpretações diferentes ocorrem a partir desse mesmo princípio, gerando diferentes formas de tratamento. Por um lado, há quem conceba a deficiência como uma escolha divina aos abençoados responsáveis por pagar pelos males da humanidade, dignos de caridade. Por outro, há os que compreendem a deficiência como um castigo a ser pago por alguns, e ,por isso, nada mais justo que o isolamento. Assim, os deficientes em ambos os casos, têm direito ao asilo e alimentação, mas são isolados, para que a sociedade não precise conviver com as condutas dos deficientes. Nesse sentido, a diferença está em palavras apenas. Tanto em caso de caridade, quanto castigo, o deficiente é isolado da sociedade.

Durante a inquisição, os deficientes mentais, portadores de linguagem eram torturados e queimados. Os bens destes eram confiscados em benefício do inquisidor. Em um documento com regras precisas acerca dos casos de heresia, uma definição clara da compreensão do deficiente como presa de entidades malignas: "nigromantes: podem conhecer-se pelos sinais seguintes: têm vista torta, por causa das visões, aparições e conversas com os espíritos maus..." (PESSOTTI, pg 9). Assim, o Santo Ofício definia os dementes como seres diabólicos.

Durante a Reforma Protestante, o mesmo tratamento era dado. "A rigidez ética carregada da noção de culpa e responsabilidade pessoal conduziu a uma marcada intolerância cuja explicação reside na visão pessimista do homem, entendido como uma besta demoníaca quando lhe venham a faltar a razão ou a ajuda divina." (PESSOTTI, pg 12) Lutero considerava os deficientes como seres tomados pelo demônio, indicando dois caminhos possíveis: que se afoguem os deficientes, ou se reze até que o demônio abandone seu corpo.

A partir de 1526, uma nova visão acerca da deficiência mental começa a surgir, com Paracelso, médico e alquimista que pensa , pela primeira vez, a deficiência como um problema médico e não teológico ou moral. Define então o deficiente mental como doente ou vítima de forças sobre-humanas, ambos merecedores de atenção médica. Nesta mesma época, Cardano – filósofo e médico- desenvolve idéias semelhantes, no sentido de defender os deficientes como merecedores de cuidados médicos. O grande diferencial de Cardano é a preocupação com cuidados pedagógicos aos deficientes. Ele acredita na instrução destes, algo extremamente inovador.

Por mais que inovem sobre o conceito de deficiência, Paracelso e Cardano conservam ainda pensamentos supersticiosos, pois ambos enxergam os deficientes mentais como seres dotados de poderes especiais, sobre-humanos. Em 1534, uma Lei define loucura e idiotia como enfermidades, com intuito de assegurar o direito à herança. Assim, define-se o idiota e o louco: "Esse chamará bobo ou idiota de nascimento à pessoa que não pode contar até vinte moedas nem dizer-nos quem era seu pai ou mãe, quantos anos tem, etc.... de forma que parece não haver possuído conhecimento de qualquer razão da qual se pudesse beneficiar ou que pudesse perder. Mas se tem um conhecimento tal que conhece e compreende suas letras e lê mediante ensino ou informação de outro homem, então não se deve considerar-se bobo ou idiota natural." (PESSOTTI, pg. 17) A boa administração da herança é a preocupação central.
Em 1664, com Thomas Willis, ocorre um grande avanço na compreensão da Deficiência Mental. A partir de um estudo neurofisológico, ele considera a deficiência como produto de estruturas ou eventos neurais. Assim, o louco ou o idiota é caracterizado pela ausência de imaginação e memória, que têm sede no cérebro.

Apesar de revolucionários, os pensamentos acerca da origem da D.M. são pouco disseminados, ficando restritos à uma pequena comunidade de médicos e juristas. Com John Locke, em 1690, ocorre uma grande revolução. Ele desenvolve uma teoria pedagógica para o atendimento do deficiente, até então visto como quase incapaz. Considero o deficiente mental como carente de experiências sensoriais e/ou reflexões sobre as idéias geradas pelas sensações. Considera o deficiente mental, assim como o recém-nascido, uma "Tabula Rasa", valorizando uma didática especial para o atendimento das deficiências. Nessa teoria, considera a capacidade cognitiva de aprendizagem do homem, que nasce vazio e vai se desenvolvendo à medida em que tem contato com as informações. Desse modo, tem-se a primeira consideração do caráter cognitivo do D.M., nunca antes considerado. Antes disso, os deficientes eram mantidos em abrigos isolados, livrando família e poder político do incômodo da presença destes, que se abstinham da tarefa de educá-los.
Mais tarde, em 1746, essa teoria extremamente inovadora foi considerada e valorizada, quando estudada por Condillac. Ele desenvolve uma didática especial para atendimento dos deficientes a partir da didática da educação infantil. Trata-se de desenvolver melhor as idéias de Locke. Para formular sua teoria cria como símbolo a Estátua. Esta simboliza o ser Tabula rasa, capaz de ter sensações, mas ainda sem conhecimento do mundo. Define os conhecimentos como sensações, considerando a imaginação, a memória, o julgamento e o raciocínio como elaborações da mente.

"Tomando-se como exemplo o sentido do olfato, como sensação primeira existe na consciência da estátua somente uma coisa, ou um objeto: o odor, de uma rosa, por exemplo, depois seguido por aroma de jasmim ou de cravo. Se, então, existir na consciência da estátua apenas uma dessas sensações, o odor de jasmim, por exemplo, com exclusão dos outros aromas, o que ocorre é a atenção. Se, afastado o jasmim, persistir a sensação de seu aroma, temos a memória como a impressão persistente de um objeto A estátua pode atentar simultaneamente para a sensação anterior ou para a impressão residual, atual, e assim exercerá a comparação; se nessa comparação percebe semelhanças ou diferenças, produz-se o juízo, ou julgamento (avaliação). As repetições da comparação e do juízo constituem a reflexão e se a estátua, diante de uma sensação desagradável, recorda uma sensação agradável, essa lembrança, mais forte, será a imaginação. Esse conjunto de faculdades, geradas pela percepção sensorial, é o entendimento." (PESSOTTI, pg. 27)

Nessa teoria, a compreensão é de que o entendimento é anterior à linguagem, e o raciocínio elaborado é uma extensão deste. A percepção precede a elaboração de pensamentos. O exercício das funções intelectuais, a partir das oportunidades e experiências, é que determina a capacidade mental do indivíduo.

Em 1800, com Itard, surge uma experiência de educação especial para deficientes mentais. Trabalhando como reeducador de surdos-mudos, lhe é conferida a tarefa de educar o menino selvagem de Aveyron. Levando o menino ao psiquiatra, este considera-o retardado incurável. A partir da discordância desta opinião, Itard se anima a criar formas para educar o menino, considerando a doutrina da tabula rasa, da estátua e também do bom selvagem (Rousseau). Para ele, a deficiência mental é um processo cumulativo, no qual as ações têm relação com aquisições preliminares. Assim, desenvolve um modelo de educação para atender o deficiente. Utiliza a leitura labial e expressão oral , utilizados por ele na educação dos surdos-mudos. À medida em que observa a evolução do menino, ele vai desenvolvendo os aspectos da educação especial, adequando sua experiência anterior, com educação de surdos-mudos à educação dos deficientes mentais.

Historicamente, estes autores são os marcos do pensamento sobre a deficiência mental. A partir daí, certamente, ocorreu uma evolução, mas destacamos estes por serem os precursores. Assim, caminha-se ainda para uma visão cada vez menos preconceituosa da deficiência.

4-O auto-conceito, a auto-estima e a auto-imagem dentro do processo de desenvolvimento do indivíduo.

Na vida do portador de Deficiência Mental, estão relacionados conceitos que podem definir um presente e futuro de melhor qualidade.O auto-conceito, a auto-estima e a auto-imagem podem e devem ser tomados como parte do processo de desenvolvimento do indivíduo.

O portador de deficiência mental é visto, dependendo da cultura em que estiver inserido, como um "objeto" que tem possibilidade de levar uma vida aparentemente normal em relação às suas capacidades específicas. Note-se que, como Vygotsky afirmava, deve-se procurar observar e atuar junto ao indivíduo tido como especial de maneira que este possa ter uma capacidade de desenvolvimento a maior possível. Como isto é proposto se não se atentar para pontos relevantes como a percepção de si que as pessoas têm?

Na verdade o que deve ser observado é que as pessoas com déficit de cognição ainda assim tem a sua rede de emoções/sentimentos em estado de normalidade, ou seja, sentem e com isso podem projetar metas para si mesmas e mesmo serem conduzidas para uma estagnação da capacidade de aprendizagem e desenvolvimento pessoal.Tomando-se a auto-imagem como um retrato ou perfil psicológico de si mesmo em que a ação construtiva do sujeito reorganiza permanentemente e conservaria em sua memória como resultado das interações vividas no passado ao longo de sua história de vida, pode-se concluir que, se tal indivíduo guardar essas lembranças num nível que atinja uma carga emocional negativa (o que ele vê de si mesmo), virá a ser um ser com problemas de adaptação em circunstâncias que exigem uma postura de decisão.

O indivíduo torna-se então uma espécie de nulidade já que seu "ver-se" estará num nível não ideal.Outro ponto é o auto-conceito, ou seja, o conhecimento de si mesmo que a ação construtiva do sujeito estrutura em sua inteligência e expressa como atitude positiva ou negativa diante de sua auto-imagem. Sendo então relacionado de forma direta ao que o indivíduo já carrega em sua memória, podendo então ser fator de auxílio na capacidade de desenvolvimento do indivíduo.E, também, se a auto-estima, que é a carga de afeto, positivo ou negativo, que acompanha o conhecimento e a visão que o sujeito expressa em relação a si mesmo for, na verdade de qualidade mais negativa que positiva é claro que o indivíduo terá seu progresso severamente debilitado.

Isto tudo mostra que as relações que determinada sociedade produz podem atingir as relações de uma pessoa portadora de Deficiência Mental de maneira decisiva já que pode fazer com que ela sinta-se desamparada e menos confiante em si mesma. Deve-se, sempre compreender que o sujeito com Deficiência Mental não é aquele ser insensível ao meio. É, na verdade, participante de todo o conjunto que forma uma personalidade determinada. Se o caso é de se ter uma atenção especial e também de certa forma mais atuante, é conveniente lembrar que, além desse tipo de compreensão pode-se conservar os níveis de aceitação do indivíduo para si mesmo e por outras pessoas que não apresentam déficit mental num patamar ótimo.

Para que isso ocorra é necessário tratar todo e qualquer indivíduo que apresente Deficiência Mental como sendo uma pessoa com capacidade de aprendizado e desenvolvimento abaixo do normal mas que pode e deve ser estimulado para que sua possível inserção no meio social seja feita de maneira positiva.Não é o caso apenas do professor que terá atuação sobre as pessoas com necessidades especiais, é também o caso de familiares, por exemplo, já que o contexto familiar tem importância primordial.

Note-se o caso dos diferentes tipos de pais: alguns são autoritários e podem prejudicar os filhos ao tratarem de maneira aquém da capacidade que os filhos poderiam apresentar em relação ao desenvolvimento julgando-os, na verdade, como sendo capazes apenas de fazer determinadas práticas, em que não se exija uma interação com o meio abrangente; outros pais podem ser permissivos demais e prejudicar o desenvolvimento de seus filhos ao deixarem-nos sem uma estruturação necessária à compreensão de processos organizados; e, os pais que tem uma compreensão melhor da realidade de seu filho especial e conseguem produzir uma carga de afeto com uma comunicabilidade confiável e respeitável.Juntamente com os pais, o contexto social, ou do grupo, deve ser analisado e orientado para que se tenha uma real e significativa resposta.

Quando o ambiente é compreensivo e "exige" do portador de necessidades especiais uma qualidade de processamento de informações que produza um avanço de realizações, este indivíduo pode tornar-se apto a conviver na sociedade de maneira independente ou mesmo semi-independente. Já se a comunidade em que o deficiente mental estiver inserido for declaradamente individualista, tal sujeito será, quase certamente, segregado e não poderá desenvolver todo um potencial e acabará sendo definido dessa forma como alguém que não é útil.Vygotsky propunha que o deficiente mental tivesse estimuladas as funções psicológicas superiores e não somente as elementares. Procuraria se trabalhar com as características positivas, com as virtudes e não os defeitos de cada indivíduo.É papel da sociedade como um todo propor uma maneira de incluir o portador de Deficiência Mental num contexto de vivência que traga dignidade, não conformismo ou uma forma de compaixão simplesmente.O indivíduo quando estimulado corretamente pode contribuir com a sociedade.

Um exemplo de como pode-se conseguir progressos com portadores de Deficiência Mental é o caso de um ator belga Pascal Duquenne, que ganhou o prêmio de melhor ator, juntamente com seu parceiro de filme, o francês Daniel Auteil, em 1996, pelo filme Le Huitième Jour, de Jaco Van Dormael, em Cannes, França. O filme, traduzido como O Oitavo Dia mostra o encontro de pessoas normais com deficientes e além do fato tocante – é do gênero dramático – mostra os conflitos que podem surgir e até como superá-los numa vivência próxima ao ideal. Um exemplo prático obtido com a influência desse filme é o projeto Lês Coupais du 8ème Jour, em que pessoas portadoras de Síndrome de Down convivem numa espécie de república e são assessorados por voluntários "normais" com a proposta de viverem em comunicação e não isolados como se costuma ainda fazer em alguns lugares.

O papel que a sociedade e os profissionais que trabalham com Educação Especial deve ser revisto para se chegar a um posicionamento o melhor possível pois, se a inclusão é positiva deve-se levar em conta o fato de que deve ser feita o mais corretamente possível. E o que poderia ser considerado correto? É simplesmente se colocar todos os deficientes mentais em contato direto com os "normais" em todos os ambientes e, notadamente, na escola? Ou seria o caso de apenas procurar incluir o deficiente que apresente capacidade cognitiva não muito aquém de certo nível? E como medir tal nível de maneira que não prejudique tal indivíduo?Existem maneiras de se cuidar de pessoas com necessidades especiais diferenciadas. Essas maneiras podem tanto incluir como acabar segregando ainda mais o deficiente. É comum pensar em inclusão, mas como e para quem esta deve ser feita é que é necessário ser analisado para não se obter justamente o que se procurar evitar: uma sociedade que, herdeira de uma visão individualizante possa servir apenas para prolongar a rejeição que alguns sentem e promovem para verem-se "livres" de algo "nocivo".

As impossibilidades financeiras das famílias dos alunos com Deficiência Mental também se encarregam de barrar outros benefícios. Mas mesmo entre as famílias que possuem uma condição financeira melhor, há de se considerar a questão da não aceitação da pessoa com Deficiência Mental como membro da família. Isto é um dos fatores que impedem que as pessoas com Deficiência Mental se beneficiem do meio social em que vive.

5 - Analisando o discurso dos professores de alunos com Deficiência Mental

Nosso grupo acredita ser importante, ao menos, pontuar como os professores de alunos com Deficiência Mental enfrentam essa realidade; quais as implicações da formação dos professores; como são as atividades, as avaliações; quais as peculiaridades da inserção de alunos com Deficiência Mental na escola regular ou especial. Enfim, obter, ao menos, um panorama do que acontece diariamente com professores de alunos com Deficiência Mental.

Para conclusão desse objetivo acreditamos que seria necessário: um maior aprofundamento teórico do assunto; um acompanhamento nas escolas regulares com alunos com Deficiência Mental e também nas escolas especiais; a elaboração de questionários; a construção de uma metodologia e outros pontos de uma pesquisa.

Tendo o tempo, como um dos obstáculos e com o objetivo proposto pelo seminário de trazer informações a respeito do tema, e relacioná-las com as aulas anteriores buscamos através do livro: "O professor de alunos com Deficiência Mental: concepções e prática pedagógica" de Luciana Pacheco Marques, a possibilidade trazer esta análise ao contexto do nosso trabalho. Esse livro é fruto da tese de doutorado de Luciana Marques defendida da Faculdade de Educação na Universidade Estadual de Campinas, que contou com a orientação da Professora Doutora Maria Teresa Égler Mantoan. A partir dessa explicação inicial, segue abaixo um recorte dos dados e resultados da pesquisa de Luciana Marques que consideramos importantes para esse seminário. Todas as falas das professoras citadas neste trabalho foram retiradas do livro de Luciana Marques.

5.1 - Os professores dos alunos com Deficiência Mental
Os sujeitos da pesquisa foram doze professoras, tanto do ensino regular como também do ensino especial, com faixa etária entre trinta a cinqüenta e um anos; quatro delas são solteiras e sem filhos; sete são casadas e uma separada e estas tinham de um a três filhos. De imediato nota-se a predominância do sexo feminino. Apenas três professoras tinham em sua família casos de pessoas portadoras de Deficiência Mental.

"... de fato, a experiência anterior, pessoal e/ou profissional, com indivíduos com Deficiência Mental, facilita a aceitação ou leva à rejeição de alunos com essas características. Apenas três das professoras em questão tinham algum grau de parentesco com pessoas com Deficiência Mental, tendo todas elas verbalizado que tal fato contribui para a aceitação de seus alunos com Deficiência Mental, apesar de não ter contribuído para o entendimento de questões relacionadas à educação dos mesmos." ( Marques,2001).

A professora do ensino especial que trabalhava há mais tempo com os alunos com Deficiência Mental o fazia há quinze anos e a mais recente há dois anos. Já as professoras do ensino regular, cinco haviam recebido, naquele ano da pesquisa, pela primeira vez, um aluno com Deficiência Mental.

"Mais uma vez nos deparamos com um sistema despreparado: uma professora nunca entrara em uma sala de aula regular de ensino; três atuavam nos dois tipos de ensino, mas não estabeleciam relação entre eles; outras recebiam alunos com deficiência mental em suas salas de aula sem terem feito nenhuma discussão mais aprofundada sobre suas semelhanças e peculiaridades." ( Marques, 2001).

"Entre as professoras do ensino especial, o conhecimento adquirido para lidar com o aluno com deficiência mental adveio principalmente de cursos, das leituras realizadas e da experiência escolar. Também contribuíram a experiência familiar e a troca com os pais de alunos com deficiência mental. Já para as professoras do ensino regular, o que contribui primordialmente foi a experiência acumulada no magistério e, em segundo lugar, as leituras por elas realizadas. Também foi citada a existência de pessoas com deficiência na família, como fato contribuinte". ( id )

Todas as professoras fizeram Magistério há mais de doze anos, seis tinham concluído o nível superior, sendo duas em Estudos Sociais e quatro em Pedagogia. Apenas uma cursava o mestrado. No que se refere a cursos de aperfeiçoamento e a cursos na área específica de Educação Especial, apenas as professoras vinculadas ao ensino especial já tinham feito algum.

Além da metade das professoras não terem feito uma complementação, o que agrava a situação é que a formação dos professores de alunos com Deficiência Mental, em geral, é calcada na reprodução de conhecimentos e é de má qualidade. Os autores que defendem esta tese são Mansini, Mantoan, Nunes, Ferreira, Bueno e Bereohff.

Somente uma das professoras da pesquisa acreditava que sua formação não interferiu em nada na sua atuação profissional, mas uma das professoras diz: "A falta de conhecimento, de estudo traz insegurança na hora de trabalhar. Eu não sei como agir, como ajudar e avaliar".

A dicotomia entre formação e a atuação profissional é algo que ficou evidenciado nas falas das professoras e também é uma questão que vem sendo apontada por diversos educadores tanto na dimensão da formação inicial quanto na continuada dos professores. Autores como Nóvoa, Schön, Gómez, Zeichnir, Perrenoud, Sacristán e Mantoan sugerem que a formação do professor contemple uma prática reflexiva, não havendo separação hierárquica entre o que se faz e o que se pensa.

Apenas uma das professoras do ensino especial afirmou não estar lendo nada sobre Deficiência Mental e/ou Educação Especial. As demais afirmaram que liam apostilas, revistas e textos, porém, não especificaram. Com isso pode-se levantar a hipótese de que a desvalorização profissional do professor acaba contribuindo para que ele pouco busque complementar a sua formação.

Sobre as turmas do ensino especial saliento que uma das escolas especiais estudadas por Luciana Marques, cada turma tinha duas professoras, sendo uma de linguagem e a outra de matemática. Outro dado relevante, é que em uma das turmas dessas professoras do ensino especial havia alunos com diferentes tipos de deficiências.

5.2 - O ser humano como sujeito do mundo e do conhecimento
Os discursos das doze professoras caminharam na direção de vários sentidos sobre os alunos com Deficiência Mental. Muitas falas de professoras atribuíram o sentido místico, ou seja, uma força externa e superior ao homem, ao fato de ocorrerem casos de Deficiência Mental. A deficiência seria fruto da vontade ou do castigo de Deus. Para ilustrar essas diversas concepções das professoras, abaixo segue uma fala destas:

"Pra mim isso é uma experiência nova. No ano passado eu tive um aluno, mas eu não acompanhava ele não. Esse ano eu tenho a A. (aluna com Deficiência Mental), que eu to acompanhando mais de perto. Para mim é uma surpresa. Inicialmente eu não queria ela na minha sala. Mas não é que eu não queria por preconceito, não é preconceito. Eu tentei explicar para ela que eu já tinha passado um ano com um menino. Ele gritava. Por mais que você não ligue, ele atrapalha, mas eu ia levando assim. Eu não sabia o quê essa menina vai fazer, não sabia se eu ia ter que correr atrás dela, porque o ano passado tinha estagiária para olhar. Não sabia se ia correr atrás, se ia fazer xixi, fazer cocô, não sabia o que tinha que fazer. Aí inicialmente eu fui contra, mas eu acabei aceitando".

Esta professora cristalizou o sentido negativo da deficiência. E para ela pouco caberia fazer já que, pensava que o aluno portador de Deficiência Mental havia nascido assim, e com certeza, permaneceria sem nenhuma evolução. Desse modo, a professora retirava de si a responsabilidade pelo processo educacional da criança com Deficiência Mental. Para a estagiária caberia apenas cuidar do aluno com Deficiência Mental. E aceitar uma aluna com Deficiência Mental sem a estagiária implicava em assumir que ela, professora, deveria educar a criança. Essa atitude entraria em confronto com a posição da professora que acreditava que não restaria nada a fazer quando o indivíduo nascesse com Deficiência Mental a não ser correr atrás dele e cuidar de seu xixi e cocô. No livro não foi especificado se esta estagiária era graduanda de algum curso ou se ela fazia Magistério.

Para a outra professora o aluno com Deficiência Mental era o que mais dá trabalho, ou seja, as peculiaridades do aluno com Deficiência Mental tornavam mais difícil o trabalho escolar para a professora. "Deficiência Mental então, aí que... Aí da mais trabalho né?". Neste momento a professora situou o déficit do aluno como gerador de exclusão.

Já no discurso: "Eu não consigo pensar diferente, achar que é diferente. Não sei se é porque a gente também acostuma, né? Eu não sinto diferença. Por exemplo, as crianças daqui, eu não vejo como se tivesse... Como no caso da J. (aluna com Deficiência Mental). Eu não imagino a J. com 17 anos, seria uma moça, eu vejo J. que é aquela criança...".

A exclusão dos alunos com Deficiência Mental ficou marcada também pela infantilização dos mesmos. E na fala: "Eu procuro tratá-los de forma normal, porque eu sempre tratei os meninos... Que eu trabalhei com ensino especial, eu já trabalho há bastante tempo, eu sempre procurei tratar normal, eu nunca fiquei: - Ah!, coitadinho! Ah! Vamos fazer isso assim porque ele é assim Eu acho que cada um tem o seu limite e o seu potencial.".

O sentido manifestado no discurso da professora de tratar os alunos com Deficiência Mental de forma normal, para Luciana Marques, retratava que a professora em questão acreditava que não haveria nada a se fazer, ou que ela não sabia fazer. Pois se os alunos com Deficiência mental tivessem um limite e um potencial definidos, bastava tratá-los de forma normal e deixar que tais limites e potencialidades os definissem.

No livro há vários discursos, mas Luciana Marques conclui que os discursos das professoras estavam expressando a formação ideológica da exclusão e apresentando o imaginário das mesmas e da sociedade na qual elas fazem parte. Estes discursos foram marcados pala dicotomia de normalidade/anormalidade ou pelo estabelecimento da diferença a partir de um padrão de referência. Luciana Marques acredita que é importante uma ressignificação, tanto da formação inicial quanto continuada dos educadores e também na reconstrução do sentido dado aos seres humanos a fim de que os alunos possam ser considerados na diversidade e igualdade que os constitui.

5.3 - Os processos de desenvolvimento e aprendizagem
As professoras falaram de diversas posições, mas não sabiam explicitar de que posições estavam falando. Para algumas professoras suas metas e as dos alunos com Deficiência Mental já estariam definidas pelas limitações que a deficiência impõe. Ao contrário dessa posição, segue a fala de uma professora de ensino especial:

"Sabe? Porque eu tô te falando, por exemplo, o surdo, como ele vai falar se ele não ouve som? Como você vai pegar um cego e trabalhar com cores? Uma coisa que ele não sabe. Então você tem que explorar o que ele tem, o desenvolvimento dele. Vai ser a partir do que ele tem e não a partir do que ce quer, o que você quer dar, é o que lê também pode corresponder, tá entendendo

Como podemos notar essa fala evidenciou que o déficit biológico deixou de ter um caráter de impedimento, sendo este, adotado como um elemento que indica um outro caminho a seguir, ou seja, explorando o que o aluno tem, seja ele deficiente ou não.
Outra fala de uma professora:

"Eu acredito que existam questões biológicas mesmo, né? Que... que tornam essa questão do tempo diferente, que tornam essa forma de se desenvolver diferente. Mas eu acredito que existem também um pouco da expectativa que esse meio a qual a criança convive coloca em relação a ela. Seja no sentido de subvalorizá-la, quer dizer, te uma expectativa baixa em relação a ela, de achar que não vai muito além mesmo daquilo, seja no sentido de tentar protegê-la demais, que é uma outra postura que às vezes a gente percebe, né? Ou de segregação ou de superproteção. Então eu acredito que isso também em muitos casos possa ser um elemento que vá retardar esse desenvolvimento, que vai impedir que ele desabroche, entendeu? Que vá dar um caráter diferente a essa interação que essa criança tem com o mundo, quer dizer, que vai influenciar nessa integração".

Nessa fala a professora, ao final, faz uma crítica pertinente à sociedade nas mais variadas formas de preconceito contra portadores de Deficiência Mental. Ora reveladas pela segregação ou mascarada na superproteção e desvalorização. Luciana Marques também acredita que esses comportamentos podem retardar o desenvolvimento do sujeito com Deficiência Mental.

Pelos discursos das professoras, Luciana Marques concluiu que quando a professora faz do déficit biológico um impedimento para os alunos com Deficiência Mental aprender, tal concepção pode definir o seu pensamento e sua atuação sobre o processo de desenvolvimento destes alunos. E também quando se considera a existência da limitação imposta pela deficiência algumas professoras se livram da responsabilidade de serem consideradas profissionais mal sucedidas. Dessa maneira, o fracasso escolar é colocado como culpa exclusiva dos alunos e não como também resultado da prática pedagógica.

Então para a "solução" desta questão, Luciana Marques propõe uma ressignificação das concepções de desenvolvimento e aprendizagem e suas relações para que, dessa maneira, a escola atenda à diversidade. A autora também enfatiza que a formação dos professores deve ser pautada nos preceitos da inclusão.

5.4 - Os caminhos da prática pedagógica
Para a autora Luciana Marques a organização das turmas estudadas mostra o sentido da exclusão uma vez que estas estavam organizadas em função da especificidade da deficiência ou a partir de um padrão cognitivo. Outro fator muito importante é que muitos dos alunos com Deficiência Mental vinham sendo submetidos ao mesmo planejamento por diversos anos.

Os objetivos e conteúdos escolares foram observados através das atividades desenvolvidas pelas professoras e através das observações ficou claro que os objetivos e conteúdos eram definidos tradicionalmente para se cumprir um programa e não para possibilitar a aprendizagem da realidade. Esses conteúdos tinham como bases as disciplinas de linguagem e matemática.

Apesar das críticas às práticas pedagógica de algumas professoras, a autora estabelece em seu livro uma ênfase ao exemplo de uma professora que conseguiu construir uma prática integradora dos alunos com diversos tipos de deficiências.

A essa professora do ensino especial ficou claro que as dificuldades desapareciam à medida que, era permitido aos alunos serem "do seu jeito". (A classe inteira tinha Deficiência Mental) A única questão que Luciana Marques ressalta é o fato de que todos os portadores de Deficiência Mental estarem excluídos quando dentro da escola especial.

Sobre a avaliação, apenas duas professoras da escola regular tinham práticas que pressupunham uma avaliação coletiva do desempenho do grupo, sem estabelecer distinção de deficiência e normalidade.

5.5 - O aluno com Deficiência Mental na sala de aula regular
A contraposição do igual e diferente marcou as falas da maioria das professoras entrevistadas e Luciana Marques concluiu que, para essas professoras, o significado da escola especial era, na verdade, como o da segregação social. Ou seja, essa concepção só será superada caso o aluno com Deficiência Mental venha estudar em uma escola de ensino regular. Mas uma das professoras se opõe a visão das demais professoras quando diz: "Não é regular uma criança ficar três, quatro, cinco anos na primeira série em uma escola regular".

Algumas professoras também colocaram a idéia de que existem casos de alguns alunos com Deficiência Mental que podem estar na sala de aula regular e outros casos não podem, dependendo do grau de deficiência. Com essa atitude podemos notar claramente que esta visão reforça o aspecto social da exclusão.

Outro ponto destacado pelas professoras foi a necessidade de ajuda constante e paralela ao professor que recebesse o aluno com Deficiência Mental na escola regular. Seria um acompanhamento à parte com direito a fonoaudiólogo, terapeuta e outros profissionais, além do atendimento pedagógico. Mas Luciana Marques adverte que não se pode permitir que esse acompanhamento retire do professor a responsabilidade pela educação do aluno com Deficiência Mental.

O livro também traz uma informação que na cidade de Juiz de Fora – MG, na época da pesquisa, são adicionados 20% ao salário de cada professor da rede Municipal de Ensino Regular que têm alunos com Deficiência Mental em suas salas de aula. O que está por de trás da aparente aceitação da Deficiência Mental, nesses casos, é o lucro financeiro obtido com ela.

Segundo as professoras, a contribuição que o aluno com Deficiência Mental poderia oferecer aos alunos sem Deficiência Mental nas salas de aulas regulares se restringiria apenas aos aspectos sociais e morais. No aspecto social, a contribuição passaria pelo espírito de ajuda, cooperação dos alunos sem deficiência para com os alunos com algum tipo de deficiência. Já no aspecto moral a contribuição ocorreria, segundo as professoras, pela modificação de valores dos alunos sem Deficiência Mental.

Pensando dessa maneira, fica dado aos alunos com Deficiência Mental o papel limitado de ser somente passivo, ou seja, um objeto dentro da sala de aula regular, que irá despertar sentimentos nos alunos sem deficiência, mas jamais será um ator na construção social, pois somente os sem deficiências e os normais podem agir na sociedade.

5.6 - O desenho feito e os espaços em branco
Podemos observar, através da leitura deste livro, que as diversas concepções sobre o mundo, a sociedade, o homem e a deficiência emergem nos discursos das professoras. Sendo esses conceitos expressos através dos componentes verbais, procedimentos metodológicos e da prática de cada professora. Fica evidente que a imagem que as professoras têm de seus alunos com Deficiência Mental faz parte da imagem que a sociedade tem sobre essas pessoas.

Em relação à questão da inserção do aluno com Deficiência Mental no ensino regular ficaram ressaltadas formas discursivas: normalidade versus anormalidade e a diferença estabelecida por um padrão de referência. Na concepção da autora, as duas formas expressam a formação ideológica da exclusão.

Ao final Luciana Marques conclui que ela, junto com a colaboração de sua orientadora, fez um desenho da realidade dos professores de alunos com Deficiência Mental e que ainda faltam espaços em branco que devem ser coloridos com uma formação ideológica voltada para a inclusão.