quarta-feira, 1 de abril de 2009

PERSPECTIVAS DA HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR

De acordo com Romano (1999), humanizar significa individualizar, ou seja, atender e acolher as necessidades de cada um. A humanização é comprometimento, é reivindicação do consumidor e é restauração de preceitos éticos. A humanização nos hospitais deve ser voltada para o processo de treinamento das equipes de saúde, para intervenções estruturais que façam com que a experiência da hospitalização seja mais confortável, principalmente em se tratando de hospitalização infantil (CHIATTONE, 2003c).
Para Jeammet et al. (2000), humanização é reinserir o humano no funcionamento da instituição hospitalar, ou seja, impedir que o paciente seja reduzido a um ser que precisa de reparos em seus órgãos prejudicados. Nesse sentido, a humanização hospitalar tem como objetivo principal a conservação da dignidade do ser humano. Conforme os autores (2000), humanizar é também oferecer a cada doente oportunidade para seguir vivendo como ser humano. Logo, humanização é levar em consideração as verdadeiras necessidades do doente, não descuidando de seus aspectos psicológicos.
Segundo Straub (2005), a humanização só ocorre por meio da comunicação, ou seja, se há uma boa comunicação há humanização. A má comunicação entre a equipe de saúde e o paciente, ocorre devido à “correria” dos profissionais para o atendimento e ao fato de que estes não são ensinados a agirem de forma comunicativa e sim com suas habilidades técnicas.Romano (1999) afirma que o hospital mudou com o tempo, estreitou seu compromisso com a comunidade envolvendo-se não só com os problemas da doença, mas com seus aspectos do futuro, por exemplo, promovendo campanhas de saúde pública.
Chiattone (2003) menciona que a rigidez profissional, as rotinas rigorosas, o excesso de trabalho e a falta de humanidade ainda permanecem, principalmente em relação à internação da criança onde as equipes não percebem que esta tem recursos para compreender e participar do tratamento.
No Brasil, a preocupação com a presença permanente dos pais durante a hospitalização infantil só veio a se tornar mais efetiva após a homologação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990. A partir deste Estatuto, os hospitais foram obrigados a ajustar condições para a permanência de um dos pais no hospital.
O governo federal há pouco tempo, fixou um projeto nacional de humanização da atenção à saúde. O projeto é chamado de Humaniza-SUS, seu foco é a humanização do atendimento e tem por objetivo melhorar as relações entre os profissionais e a pessoas que necessitam do atendimento, deixando-o mais e humano. A partir desses eventos, os hospitais têm mudado, estimulando os familiares a participarem da internação da criança, além de fornecerem serviços como assistência psicológica e atividades lúdicas. Contudo, apesar destas mudanças, ainda nos deparamos com equipes despreparadas para realizarem os trabalhos propostos pelos hospitais (CARVALHO e BEGNIS, 2006).
De acordo com Straub (2005), o que ainda permanece nos hospitais é a esperança por parte dos profissionais de que o paciente permaneça passivo, cooperativo e não se envolva no tratamento, ou seja, não interfira nas decisões tomadas pela equipe, sendo este paciente chamado de “bom paciente”. Já o paciente que é menos cooperativo, faz perguntas, é muito emotivo, nega-se a cooperar e irrita-se é chamado de “mau paciente”.
Para aumentar a garantia de humanização no contexto hospitalar no Brasil, após a década de 70, os psicólogos passaram a atuar neste contexto. Com isso, “a saúde é ressignificada, sendo compreendida não somente como ausência de doença, mas como reflexo das condições sociais, econômicas e ambientais sobre a vida das pessoas” (RUTSATZ e CÂMARA, 2006, p. 56). A partir dessa reformulação, as instituições hospitalares abriram mais espaço para as atividades dos psicólogos, melhorando as condições para os pacientes,seus familiares e melhorando também a sua equipe de saúde.
O papel do psicólogo no âmbito hospitalar será o de ir ao encontro do paciente, no sentido de resgatar a sua vida, que ficou comprometida com a doença e com a hospitalização. Pode se pensar que a humanização no hospital por parte do psicólogo, envolve: observar os aspectos ligados ao adoecer, a fragilidade do paciente e seus familiares, melhorar a relação entre a equipe e usuários,promover uma diminuição na angústia e na tensão e ajudar o paciente a compreender a situação de hospitalização, além de estar também voltada a favorecer um apoio aos profissionais e a orientar os familiares que acompanham o enfermo (ANGERAMI-CAMON et al., 2003a; BARROS, 2002).
No período de internação, as questões psicológicas a serem abordadas devem ser focais, visando à doença, as dificuldades de adaptação à internação e o processo de adoecer. O apoio psicológico no âmbito hospitalar serve, também, para que os familiares que fazem parte do processo de hospitalização infantil possam se adaptar melhor e, com isso, tenham sua saúde mental conservada (CHIATTONE, 2003c; ROMANO, 1999).
Para Sadala e Antônio (1995), na situação de hospitalização a ajuda psicológica surge oferecendo oportunidade à criança para que esta expresse seus sentimentos a respeito das experiências traumáticas vividas dentro do processo de hospitalização. Segundo Chiattone (2003), o psicólogo tem papel importante Barbarói. Santa Cruz do Sul, n. 28, jan./jun. 2008156em se tratando de hospitalização infantil e alguns dos seus papéis são: ajudar a criança a enfrentar a hospitalização, melhorar a qualidade de vida da criança, tentar organizar a vida da criança buscando conviver melhor com a doença e com a hospitalização e fazer com que acriança e a família compreendam a situação de hospitalização. A autora (2003) descreve que o oferecimento de apoio psicológico serve também como medida que possibilita à criança verbalizar suas necessidades e solicitar ajuda, diminuindo o seu medo. Para a autora (2003),o psicólogo pode atuar com a criança quando,[...] esta teme a doença e a hospitalização; esta teme um exame ou o medicamento;esta teme a equipe de saúde e o próprio ambiente; ela quer falar de si, da doença, da família; ela chora a ausência da mãe ou da família; sente-se abandonada; necessita receber orientação no sentido de entender melhor o processo pelo qual está passando; pede explicações sobre um exame; a equipe médica pede que ela seja preparada para um exame; ela necessita fazer dieta, controle hídrico ou repouso no leito; necessita permanecer no isolamento; a hospitalização é prolongada; a hospitalização é agressiva (exames, condutas etc.); dores a incomodam; torna-se apática; apresenta distúrbios de conduta; é um paciente terminal; quer e precisa chorar; não recebe visitas freqüentes; necessita de afeto e apoio; precisa se sentir segura; precisa diminuir seus medos, culpas e dúvidas; torna-se rebelde e agressiva;recusa-se a brincar; necessita eliminar fantasias e falsos conceitos; quer falar,conversar, ser ouvida; quer falar sobre a morte (CHIATTONE, 2003c, p. 56-57).
De acordo com Chiattone (2003c, p. 42), “várias são as medidas preventivas e humanizadoras a serem utilizadas na tentativa de diminuir o sofrimento inerente à hospitalização das crianças.” São medidas que podem ser adotadas por parte dos profissionais no primeiro contato com a criança, sendo essas medidas simples, humanas, valiosas e essenciais para diminuir o sofrimento e os prejuízos que a hospitalização pode causar. Um exemplo é apertar a mão da criança, chamá-la pelo nome e explicar os procedimentos aos quais ela terá que se submeter, isso de acordo com o caso e com a idade da criança. Outra medida que os profissionais que cuidam da criança hospitalizada podem adotar é manter sempre um número limitado de profissionais e, se possível, que sejam sempre os mesmos durante todo o período de hospitalização, permitindo assim que se crie um vínculo.
Conforme Chiattone (2003c), os profissionais devem também orientar os familiares que tragam um objeto querido pela criança, para que esta possa se sentir segura e alegre. Esse objeto querido pela criança é chamado por Winnicott (1975) de objeto transicional, esse objeto tem sua significação e se distingue daquele brinquedo que a criança perceberá comototalmente separado e pode ser uma simples fralda de pano. Para Lindquist (1993, p. 43),“pouco importa o estado do brinquedo, o importante é que tenha “o ar de casa”, sentimento precioso entre todos”. Para se sentir confortável e consolada esse objeto se torna indispensável para a criança no período de hospitalização.
Chiattone (2003c) aponta mais uma medida importante, a de que, quando possível,deve-se preparar a criança para a hospitalização. Esse preparo deve ser realizado pelos pais.Nele serão informadas as reais causas da internação e, se necessário, deve-se repetir sempre que preciso. Outra medida é ficar atento ao acompanhamento dos pais no tratamento da criança. Isso se faz imprescindível, explica a autora (2003c), porque tanto para os familiares quanto para o paciente a hospitalização conjunta traz benefícios, pois, ao acompanharem o tratamento, os familiares desenvolvem habilidades para cuidar da criança durante e após a hospitalização. É importante destacar também, que as crianças hospitalizadas que são visitadas diariamente pelos seus familiares mostram-se mais seguras e confiantes. Para a autora (2003c), os benefícios da presença da família para a criança hospitalizada são: a diminuição do tempo de hospitalização, o declínio da incidência de infecção cruzada, a amenização da tensão e do sofrimento da criança, o aumento da percepção de segurança por não haver mais a angústia da separação e abandono, a maior aceitação ao tratamento, uma maior facilidade de coleta de material para os exames, um declínio nas complicações pós-operatórias e a melhora do comportamento após a alta. Portanto, a atuação junto às famílias dos pacientes deve ser respeitada por toda a equipe, isso porque além de todos esses benefícios citados, as famílias têm um papel importante na humanização do hospital, devend oassim ser consideradas parte integrante do processo de hospitalização.Segundo Straub (2005), as famílias que permanecem unidas, com facilidades de comunicação e habilidades em resolução de problemas tendem a apoiar a criança que está hospitalizada. Logo, torna-se necessário que durante a internação a equipe explique para a família da importância de sua presença nos horários de visitas. Além disso, é importante transmitir também à família informações sobre os procedimentos utilizados e a evolução da criança frente à doença, enfim, criar um vínculo com os familiares, para assim tornar o tratamento coerente e humano. De acordo com Lindquist (1993), a criança, ao entrar no hospital, deve se deparar com um local que seja apropriado a ela, podendo se sentir bem. A humanização dos cuidados à criança internada inclui,também, a criação de um lugar alegre e agradável, incluindo desde a decoração do ambiente físico, devendo ter paredes claras com pinturas e objetos adequados às crianças, podendo entrar também nessa mudança os uniformes da equipe, sendo estes coloridos. Isso se torna importante no sentido de dar estimulação e bem-estar à criança (CHIATTONE, 2003c).
Apesar de certos limites, a humanização dentro dos hospitais deve estar presente em todas as ocasiões, havendo a colaboração de todos. A humanização consiste em promover atividades de valorização do ser humano, com o desenvolvimento de atividades lúdicas, solidariedade e relacionamento entre familiares, profissionais e pacientes. O sofrimento e o desconforto da criança hospitalizada não podem ser minimizados totalmente. Mas os profissionais podem tomar algumas medidas humanizadoras, como foi citado anteriormente,que auxiliem a passagem da criança pelo hospital de maneira menos traumática e prejudicial.Dentro das possibilidades de humanização no hospital encontram-se as atividades do brincar.


Atividades lúdicas no espaço hospitalar



Segundo Mitre e Gomes (2004), o brincar na perspectiva hospitalar se torna um espaço terapêutico que aparece como uma possibilidade de expressão de sentimentos, de preferências, receios e hábitos, servindo como mediação entre o mundo familiar e as situações novas ou ameaçadoras. Isso possibilita a elaboração de experiências desconhecidas e desagradáveis, surgindo como uma possibilidade de modificar o cotidiano da internação, elaborando melhor esse momento específico que vive. Assim o brincar é um importante instrumento para garantir a adesão ao tratamento, capaz
também de promover a continuidade do desenvolvimento infantil.
A palavra brincar origina-se do latim vinculum, que significa união, laço, sendo uma atividade fundamental entre as crianças. Nas enfermarias pediátricas, onde há necessidade de integração entre os profissionais de saúde, a criança e sua família, o ato de brincar é uma forma de fortalecer estes vínculos tão necessários ao bom andamento do tratamento. Ao alterar o ambiente hospitalar, aproximando-o do seu, verifica-se, então, um efeito positivo.
Brincar é valioso não só para as crianças, mas também para as mães que estão acompanhando os filhos. Junqueira (2003) ressalta que a atividade lúdica no ambiente hospitalar facilita a elaboração pela mãe da doença do filho, permitindo a diminuição da angústia, pois o brincar aparece como um sinal saudável e preservado apesar da doença.
Fortalece as relações da criança com outras crianças, com os adultos, incluindo a própria mãe, e neste caso, tem também uma função religante, fundamental para a preservação do vínculo entre a mãe e o filho. Também verificou-se que o tempo destinado ao brincar significou para a mãe um tempo para ocupar-se de outra atividade, ausentando-se da enfermaria, dando-lhe um descanso. Nos casos em que a criança é portadora de algum distúrbio neurológico, o brincar faz diluir as diferenças entre outras crianças, permitindo à mãe ver seu filho aceito, respeitado como qualquer outra criança. E finalmente, também para as mães o brincar significa escoamento de ansiedade, tão necessária no ambiente hospitalar.
A atividade lúdica não deve ser usada apenas como um instrumento de recreação para alegrar o ambiente e ocupar o tempo ocioso das crianças internadas. Os procedimentos médicos invasivos que a criança hospitalizada precisa se submeter, como as quimioterapias, hemodiálises, cirurgias, e outros, causam ansiedade, medo e angústia a elas próprias e a seus familiares. Dessa forma, o brinquedo é um recurso que pode ser usado como instrumento terapêutico a fim de que ela possa expressar seus temores e ansiedades, ser esclarecida e estar mais relaxada e cooperativa com o serviço médico a ser feito, ajudando-a a enfrentar positivamente o sofrimento. Para Chiattone (2003, p.56), “Brincando e conversando, as crianças conseguem exprimir seus medos, falar sobre a doença, sobre o tratamento, o hospital, a saudade da família, sobre a morte, e os acontecimentos e as condutas são elaborados, explicados exaustivamente, conseguindo-se quase sempre aliviar e esclarecer, além de trazer enorme alívio, dando condições a criança de agir por si na situação.”
Uma atividade lúdica muito apreciada pelas crianças hospitalizadas é a presença do palhaço, motivo de descontração, sorriso e alegria. O trabalho mais conhecido é o dos Doutores da Alegria. Eles trabalham em duplas, visitam leito a leito, duas vezes por semana, por 6 (seis) meses aproximadamente, quando então se revezam entre as instituições. Visitam as UTIs e também estão presentes nos procedimentos ambulatoriais. As características do trabalho dos Doutores da Alegria é a regularidade da dupla, para criar cumplicidade entre eles e as crianças, cooperação com os profissionais de saúde, desenvolvendo relacionamento cooperativo entre os diferentes grupos profissionais da
instituição hospitalar, e têm como princípio a permissão da criança, a caracterização, as rotinas prévias e a improvisação. São profissionais por excelência, com treinamento e formação continuada.
O trabalho recreativo também pode ser feito através da leitura. Ao ler, contar ou ouvir histórias, a criança identifica-se com personagens, ri, se emociona, amplia o seu repertório sócio-cultural, e seu universo intelectual. Esta atividade pode ser desenvolvida tanto nos ambulatórios, como nas enfermarias. Os pequenos pacientes, como também os seus pais, tornam-se mais calmos, facilitando a recuperação, com a possibilidade de levarem para os seus lares os bons hábitos de leitura adquiridos no hospital. A partir da leitura, do uso de fantoches, e de outros brinquedos, pode surgir a
oportunidade de dramatizar, atividade muito apreciada pelas crianças, e que oferece oportunidade de vivenciar e elaborar situações difíceis do cotidiano hospitalar. Atividades artísticas com o uso de lápis de cor, tinta guache, canetas coloridas, massinhas são outras formas ricas de ajudar aos pacientes a minimizar as perdas de laços afetivos, facilitando a verbalização e a elaboração dos seus sentimentos, em decorrência de longos períodos de internação.
A música também pode servir como um importante elemento no ambiente hospitalar ao propiciar momentos alegres e descontraídos, sendo também muito apreciados pelos bebês. Nas atividades de música os pacientes podem tanto ouvir, quanto cantar e ainda dançar se ele puder sair do leito. Também pode oferecer momentos de tranqüilidade, tão
necessária ao ambiente hospitalar. A atividade musical também pode se tornar terapêutica. Ruud (1990) aponta sobre a influência benéfica da música como uma força terapêutica ou harmonizadora, afirmando que o “conceito de música como terapia tem recebido na atualidade grande credibilidade científica” (p.16).
Segundo Nordoff e Robbins (1971 apud RUUD, 1990, p.72), “A música é uma linguagem e, para as crianças, ela pode ser uma linguagem estimulante, uma linguagem confortadora. Ela pode encorajar, animar, encantar e falar com a parte mais interna da criança. A música pode fazer perguntas estimulantes e dar respostas satisfatórias. Ela pode ativar e, em seguida, manter a atividade por ela evocada. A música certa, utilizada com discernimento, pode retirar a criança incapacitada dos limites de sua patologia e colocá-la num plano de experiência e reação, onde esta estará consideravelmente livre de disfunções intelectuais ou emocionais.”

Segundo Mitre e Gomes (2004), o brincar na perspectiva hospitalar se torna um espaço terapêutico que aparece como uma possibilidade de expressão de sentimentos, de preferências, receios e hábitos, servindo como mediação entre o mundo familiar e as situações novas ou ameaçadoras. Isso possibilita a elaboração de experiências desconhecidas e desagradáveis, surgindo como uma possibilidade de modificar o cotidiano da internação, elaborando melhor esse momento específico que vive. Assim o brincar é um importante instrumento para garantir a adesão ao tratamento, capaz
também de promover a continuidade do desenvolvimento infantil.
A palavra brincar origina-se do latim vinculum, que significa união, laço, sendo uma atividade fundamental entre as crianças. Nas enfermarias pediátricas, onde há necessidade de integração entre os profissionais de saúde, a criança e sua família, o ato de brincar é uma forma de fortalecer estes vínculos tão necessários ao bom andamento do tratamento. Ao alterar o ambiente hospitalar, aproximando-o do seu, verifica-se, então, um efeito positivo.
Brincar é valioso não só para as crianças, mas também para as mães que estão acompanhando os filhos. Junqueira (2003) ressalta que a atividade lúdica no ambiente hospitalar facilita a elaboração pela mãe da doença do filho, permitindo a diminuição da angústia, pois o brincar aparece como um sinal saudável e preservado apesar da doença.
Fortalece as relações da criança com outras crianças, com os adultos, incluindo a própria mãe, e neste caso, tem também uma função religante, fundamental para a preservação do vínculo entre a mãe e o filho. Também verificou-se que o tempo destinado ao brincar significou para a mãe um tempo para ocupar-se de outra atividade, ausentando-se da enfermaria, dando-lhe um descanso. Nos casos em que a criança é portadora de algum distúrbio neurológico, o brincar faz diluir as diferenças entre outras crianças, permitindo à mãe ver seu filho aceito, respeitado como qualquer outra criança. E finalmente, também para as mães o brincar significa escoamento de ansiedade, tão necessária no ambiente hospitalar.
A atividade lúdica não deve ser usada apenas como um instrumento de recreação para alegrar o ambiente e ocupar o tempo ocioso das crianças internadas. Os procedimentos médicos invasivos que a criança hospitalizada precisa se submeter, como as quimioterapias, hemodiálises, cirurgias, e outros, causam ansiedade, medo e angústia a elas próprias e a seus familiares. Dessa forma, o brinquedo é um recurso que pode ser usado como instrumento terapêutico a fim de que ela possa expressar seus temores e ansiedades, ser esclarecida e estar mais relaxada e cooperativa com o serviço médico a ser feito, ajudando-a a enfrentar positivamente o sofrimento. Para Chiattone (2003, p.56), “Brincando e conversando, as crianças conseguem exprimir seus medos, falar sobre a doença, sobre o tratamento, o hospital, a saudade da família, sobre a morte, e os acontecimentos e as condutas são elaborados, explicados exaustivamente, conseguindo-se quase sempre aliviar e esclarecer, além de trazer enorme alívio, dando condições a criança de agir por si na situação.”
Uma atividade lúdica muito apreciada pelas crianças hospitalizadas é a presença do palhaço, motivo de descontração, sorriso e alegria. O trabalho mais conhecido é o dos Doutores da Alegria. Eles trabalham em duplas, visitam leito a leito, duas vezes por semana, por 6 (seis) meses aproximadamente, quando então se revezam entre as instituições. Visitam as UTIs e também estão presentes nos procedimentos ambulatoriais. As características do trabalho dos Doutores da Alegria é a regularidade da dupla, para criar cumplicidade entre eles e as crianças, cooperação com os profissionais de saúde, desenvolvendo relacionamento cooperativo entre os diferentes grupos profissionais da
instituição hospitalar, e têm como princípio a permissão da criança, a caracterização, as rotinas prévias e a improvisação. São profissionais por excelência, com treinamento e formação continuada.
O trabalho recreativo também pode ser feito através da leitura. Ao ler, contar ou ouvir histórias, a criança identifica-se com personagens, ri, se emociona, amplia o seu repertório sócio-cultural, e seu universo intelectual. Esta atividade pode ser desenvolvida tanto nos ambulatórios, como nas enfermarias. Os pequenos pacientes, como também os seus pais, tornam-se mais calmos, facilitando a recuperação, com a possibilidade de levarem para os seus lares os bons hábitos de leitura adquiridos no hospital. A partir da leitura, do uso de fantoches, e de outros brinquedos, pode surgir a
oportunidade de dramatizar, atividade muito apreciada pelas crianças, e que oferece oportunidade de vivenciar e elaborar situações difíceis do cotidiano hospitalar. Atividades artísticas com o uso de lápis de cor, tinta guache, canetas coloridas, massinhas são outras formas ricas de ajudar aos pacientes a minimizar as perdas de laços afetivos, facilitando a verbalização e a elaboração dos seus sentimentos, em decorrência de longos períodos de internação.
A música também pode servir como um importante elemento no ambiente hospitalar ao propiciar momentos alegres e descontraídos, sendo também muito apreciados pelos bebês. Nas atividades de música os pacientes podem tanto ouvir, quanto cantar e ainda dançar se ele puder sair do leito. Também pode oferecer momentos de tranqüilidade, tão
necessária ao ambiente hospitalar. A atividade musical também pode se tornar terapêutica. Ruud (1990) aponta sobre a influência benéfica da música como uma força terapêutica ou harmonizadora, afirmando que o “conceito de música como terapia tem recebido na atualidade grande credibilidade científica” (p.16).
Segundo Nordoff e Robbins (1971 apud RUUD, 1990, p.72), “A música é uma linguagem e, para as crianças, ela pode ser uma linguagem estimulante, uma linguagem confortadora. Ela pode encorajar, animar, encantar e falar com a parte mais interna da criança. A música pode fazer perguntas estimulantes e dar respostas satisfatórias. Ela pode ativar e, em seguida, manter a atividade por ela evocada. A música certa, utilizada com discernimento, pode retirar a criança incapacitada dos limites de sua patologia e colocá-la num plano de experiência e reação, onde esta estará consideravelmente livre de disfunções intelectuais ou emocionais.”

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