As bolsas de valores do Mercosul

Marçal Alves Leite*

Consideradas caixas de ressonância das finanças, da economia e da política regionais, as bolsas de valores dos integrantes do Mercosul não representam com fidelidade a dimensão dos mercados de capitais nos países do bloco comercial. O tamanho de cada uma e a influência de forças entre elas também não mostram com precisão o peso do comércio no conjunto dos parceiros no continente e tampouco do fluxo de negócios com outras partes do mundo.

Mas, independentemente do porte ou da importância no cenário local ou internacional, todas estão em constante transformação e cada vez mais tornam-se imprescindíveis ao desenvolvimento social e econômico nacional. Numa época em que o elevado endividamento público e privado provocou no mundo uma das maiores crises das últimas décadas, o financiamento das empresas por meio do lançamento de ações em bolsa ainda é uma das alternativas mais baratas e eficientes para se buscar capitais no mercado financeiro.

Mais antiga em funcionamento entre os quatro membros do Mercosul, fundada em 1867, a Bolsa de Valores de Montevidéu, no Uruguai, negocia em grande parte títulos públicos e privados de renda fixa. Uma dezena de papéis de empresas de capital aberto, sendo a maioria de setores de infraestrutura, mantém negócios diários no pregão, que alcança giro entre US$ 3 milhões e US$ 10 milhões, chegando no máximo a US$ 15 milhões em seus melhores momentos.

Afamado como a Suíça latino-americana dos anos 50 até o começo dos 70, o Uruguai ainda atrai capitais externos para o setor bancário, mas principalmente para produtos de renda fixa e com rendimento atrelado ao câmbio. Mesmo assumindo acordos internacionais quanto à regularização da atividade financeira, o Uruguai ainda é visto por muitos como um paraíso fiscal e, inclusive, para outros, como exportador de ouro sem possuir reservas compatíveis com as remessas do produto ao Exterior.

Na relação de comércio, com base em dados de 2008, o Brasil e a Argentina são os maiores destinos para produtos uruguaios, enquanto o Paraguai é apenas o 17º na pauta das remessas. Membro em processo de adesão ao bloco econômico, a Venezuela está na sexta colocação no ranking das exportações do país. A situação se inverte, e a Argentina supera o Brasil quanto às importações do Uruguai, que tem a Venezuela na quinta posição e o Paraguai somente na 20ª na ponta de venda de sua deficitária balança comercial.

Apesar da possuir a menor economia entre os integrantes do bloco, o Paraguai é fiel aos parceiros do Mercosul ao manter o Brasil, a Argentina e o Uruguai, nesta ordem segundo números de 2007, na liderança das exportações, nas quais a Venezuela aparece na oitava posição. O Brasil também lidera, e com larga margem, as remessas de produtos para o Paraguai. A Argentina, porém, cai para a terceira posição, espremida entre a China e os EUA. A Venezuela é o sexto, e o Uruguai, o nono país em volume de importações no Paraguai.

Com um mercado financeiro bastante dolarizado, no qual cerca de 42% dos depósitos bancários são em moeda norte-americana, o Paraguai ainda engatinha em termos de mercado de capitais, uma vez que são tradição no país as empresas familiares. Criada em 1993, justamente em uma década marcada pela instabilidade econômica e pelo baixo volume de investimento, a Bolsa de Valores de Produtos de Assunção (BVPASA) ultrapassou em 2005 o montante de US$ 20 milhões em valor de mercado, pouco acima do volume diário de uma boa jornada da bolsa uruguaia.

Assim como em Montevidéu, a negociação de títulos públicos e privados de renda fixa é predominante no país. Menos de 10 ações de companhias de capital aberto mantêm transações diárias no pregão. Dentro de um contexto em que o Paraguai ainda é associado à sonegação, ao contrabando e à lavagem de dinheiro, mesmo que incipiente, as operações da Bolsa de Assunção significam esperança de modernização da sociedade paraguaia e alternativa de capitais acessíveis em um mercado dominado por bancos estrangeiros.

Ainda dependente do voto do Paraguai para aderir definitivamente ao Mercosul, a Venezuela dispõe de uma economia maior, baseada fundamentalmente na produção de petróleo, mas complicada em questões jurídicas em decorrência de constante interferência governamental. Apesar do discurso político contrário e até de ameaças do governo venezuelano, os EUA e a Colômbia são seus principais aliados comerciais. Conforme dados de 2007, os norte-americanos receberam cerca de um terço das exportações, ao mesmo tempo que responderam por um quarto das importações da Venezuela. Com números mais modestos, a Colômbia é o segundo exportador e quinto importador de produtos do país.

Ao contrário dos demais integrantes do Mercosul, que têm os parceiros de bloco entre os primeiros na balança comercial, a China é outro aliado importante da Venezuela, sendo o segundo destino e o terceiro em remessas ao país sul-americano. O Brasil é apenas o vigésimo na pauta de exportações e o quarto em importações, enquanto a Argentina nem aparece na lista dos 30 maiores destinos, ficando na nova posição dos fornecedores. O Uruguai está no 12º lugar na pauta de exportações e no 26º na de importações, enquanto o Paraguai ocupa a 26ª posição nas exportações e não integra a lista dos 30 maiores fornecedores de bens e serviços ao país.

Reconstituída por uma reforma da lei de mercado de capitais, a Bolsa de Valores de Caracas passou a operar em 1976 com 43 papéis de companhias de capital aberto, além de títulos públicos e privados de renda fixa. Atualmente, supera em volume de negócios as bolsas de Montevidéu e Assunção, perdendo para as de Buenos Aires e São Paulo. Apesar da necessidade de financiamento por companhias nacionais, esse mercado não consegue se desenvolver devido à permanente instabilidade entre governo e empresários. Sem influência externa, o desempenho da Bolsa de Caracas destoa totalmente da tendência dos centros do continente mesmo em momentos conturbação da crise financeira mundial.

Titulada na década de 90 por Mariano Grondona, um dos mais influentes colunistas de jornal e televisão de Buenos Aires, como uma província do Brasil, a Argentina realmente depende do parceiro do Mercosul para sobreviver economicamente. Oitavo país em extensão territorial e ainda um dos grandes produtores de commodities agrícolas do mundo, com Produto Interno Bruto (PIB) e população similares ao do Estado de São Paulo, as relações de comércio e as influências financeiras da Argentina pesam mais com o Brasil do que com os EUA.

Conforme dados da balança comercial de 2007, a Argentina exporta um quinto dos produtos ao Brasil, seguido no ranking pela China e pelo Chile, antes dos EUA, na quarta colocação. Bem abaixo na pauta das exportações, a Venezuela, na 10ª posição, supera os vizinhos Uruguai (11º) e Paraguai (16º). A Argentina tem déficit na balança comercial, mas, em números absolutos, importa mais do que exporta ao Brasil, que responde por cerca de um terço dos bens ingressados no país. Com fatia de cerca de um décimo do total, os EUA ficam na segunda, e a China, na terceira posição na pauta das importações. O Paraguai amarga o nono lugar, e o Uruguai, o 13º. Apesar de o governo venezuelano ser um dos financiadores da dívida externa argentina, o país caribenho não integra a lista dos seus 30 maiores fornecedores de produtos e serviços.

Fundado em 1929, durante uma das piores turbulências financeiras de todos os tempos, o Mercado de Valores de Buenos Aires (Merval) chegou a movimentar em torno de US$ 100 milhões por dia nos anos 90, durante o período da paridade cambial da moeda argentina com o dólar. Constantes crises políticos e econômicas, sem falar na crônica escassez de crédito, que atinge todos os segmentos da sociedade, entretanto, acabaram encolhendo a Bolsa de Buenos Aires, que movimenta atualmente entre US$ 20 milhões e US$ 50 milhões por dia.

Terceira na América Latina _ onde lideram as de São Paulo e da Cidade do México _ e na 44ª posição em volume entre 53 pregões monitorados em 2008 pela Federação Mundial de Bolsas de Valores, a Bolsa de Buenos Aires funciona com atenções totalmente voltadas ao Brasil, em vez dos mercados norte-americanos, europeus e asiáticos, como ocorre na maior parte dos países em desenvolvimento ou de economias emergentes. Atrás apenas do Brasil na América do Sul (10 contra 33) em número de companhias com American Depositary Receipts (ADRs) em Nova York, a bolsa argentina sofre pequena influência dos acontecimentos de Wall Street no rumo dos negócios.

Com giro diário de cerca de US$ 3 bilhões _ outros US$ 3 bilhões são movimentados em ADRs por companhias brasileiras nos EUA e um montante ainda maior em negócios com derivativos _, a Bolsa de São Paulo, hoje BM&F Bovespa, é o principal parâmetro de preços da Bolsa de Buenos Aires. A Argentina, porém, não dispõe de empresas listadas na Bovespa. Entre os 15 papéis do índice Merval, dois são de controladora brasileira. A Petrobras argentina está na segunda posição, com 11,3%, em volume de negócios, perdendo apenas para a siderúrgica Tenaris, responsável por 26,7% da movimentação diária, enquanto a Petrobras Energia aparece em 11º lugar, com 2,8% do giro total.

Mais do que relações de comércio ou dependência econômica entre os países, a influência de São Paulo sobre as transações acionárias em Buenos Aires decorre da efetiva negociação de papéis. A participação dos dois papéis da Petrobras na composição do Ibovespa, em torno de 13%, por exemplo, é similar ao peso no Merval das ações das duas controladas da estatal brasileira no mercado argentino. A tendência na Bovespa costuma destoar frequentemente de Wall Street, seu principal indicador de preços, mas raras vezes o Merval perde o ritmo das transações no Brasil. Aliás, isso só ocorre quando há virada brusca de tendência em pouco tempo na Bovespa, geralmente no final das operações, e o índice de Buenos Aires não consegue acompanhar devido à pequena liquidez dos negócios naquele mercado.

Fundada em 1890, com 120 anos de existência completados no dia 23 de agosto, a Bolsa de São Paulo é a maior da América Latina e a 20ª do mundo, conforme ranking da Federação Mundial de Bolsas de Valores. São cerca de 300 empresas com ações negociadas diariamente no pregão, das quais 65 integram o Ibovespa. Além da forte participação de capital estrangeiro, que é essencial para a liquidez dos negócios, os investidores pessoas físicas vêm crescendo nos últimos anos graças à estabilidade econômica do país e às campanhas de popularização do mercado de capitais. Segundo dados da Bovespa, as investidores individuais e clubes de investimento representaram 27,56% da movimentação da bolsa em julho, quando os investidores institucionais lideraram a participação, com 36,17%, e os estrangeiros responderam por 27,72% dos recursos aplicados em ações.

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*Editor de finanças e responsável pela coluna Mercado em Dia do jornal Zero Hora.

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