segunda-feira, 18 de maio de 2009

O Ensino da Escrita: dimensão gráfica e ortográfica - Reflexão

Reflexão
O ensino da escrita: dimensões gráfica e ortográfica
11/05/09

Mais uma tutoria PNEP, sem dúvida, muito produtiva.

Em primeiro lugar, quero aqui fazer um apontamento à forma como o PNEP tem vindo a ser implementado. É evidente que este apontamento não é mais que uma mera opinião pessoal. Apesar de existirem algumas resistências e opiniões de que se trata de um estágio, com aulas assistidas, não posso concordar de modo algum com tais opiniões. Este programa não deixa de ser, de facto, também, uma supervisão ao nosso trabalho, mas…viajemos até ao passado.
Recordo-me que a minha orientadora de estágio entrava na sala de aula, normalmente já a aula se tinha iniciado, e sentava-se ao fundo da mesma. Munia-se de papel e caneta, observava-me sem dizer palavra e escrevia, escrevia. Na minha insegurança (aos vinte anos não se é muito seguro!), tremelicava e pensava: «Tanto que ela escreve e nada diz!» Mas, voltemos ao presente.
A minha formadora entra na sala de aula ao mesmo tempo que eu. Já não tremo (também já sou mais crescidinha!) mas vibro! A sua presença é agradável, não se senta, interage com a turma e, como podem ver, aquela senhora com ar simpático que está a ler a história, não sou eu…é a minha formadora! Como podem verificar, há umas ligeiras diferenças que marcam, de facto, a diferença. Quando se trabalha num clima de cooperação e de partilha tudo se implementa com maior facilidade.

Passemos então à reflexão propriamente dita.
No dia 11 de Maio levei a cabo uma aula que teve como objectivo primordial reforçar, nos alunos, a consciencialização da acentuação gráfica. Permitam-me que apresente aqui duas situações distintas que ajudarão por certo à reflexão.

Situação um

O professor pede aos alunos que façam um texto sobre a Primavera. Os alunos redigem o texto. O professor leva os textos para casa e faz a correcção dos mesmos. Na aula seguinte, entrega-os já corrigidos, dá uma reprimenda aos alunos porque deram imensos erros, diz-lhes para olharem bem para aquilo que fizeram…continua a aula, os alunos arrumam os textos e ficam na mesma!

Situação dois

O professor fala com os alunos sobre o tema da Primavera, activando os seus conhecimentos prévios, auscultando o que é que sabem sobre essa estação do ano, o que gostariam ainda de saber, vão-se fazendo registos, mapas de organização das ideias e quando o professor pede aos alunos que redijam o texto e passem à fase da textualização, os mesmos têm já uma bateria de informação, organizada e sem erros, que lhes facilita imenso essa tarefa. Posteriormente, em contexto de sala de aula, o professor analisa os erros e as possíveis causas que levaram aos mesmos.

Qual das situações trará maior proveito aos alunos?
Está bom de ver que será a segunda situação!

E esta situação de analisar os erros não se trata de nenhuma prática recente. Já em 1995 Postic afirmava que o professor «deve tentar analisar os erros do aluno para compreender a sua origem, chegando aos erros precedente àqueles que no momento ele faz, às etapas da sua aprendizagem».
O professor deve interrogar-se sobre o que faz com que os erros se produzam. Sim, porque há de facto causas para que tal aconteça.
Segundo Gomes (1989) podem existir causas de diversas ordens:

Ø psicológicas: memória, atenção, percepção e lateralidade…;
Ø derivadas dos métodos de leitura seguidos;
Ø relacionadas com o meio social do aluno: vocabulário, hábitos de leitura;
Ø relacionadas com um grande contacto com situações predominantemente orais;
Ø dificuldades da própria língua;
Ø interferências.

No caso específico da minha turma posso dizer que da análise feita constatei que, para além de estarem subjacentes problemas relacionados com o meio social, há aprendizagens que não foram adquiridas. Recorde-se que, aquando da temática da consciência fonológica, também eles revelaram imensas lacunas. Ora, é evidente que existe uma relação entre os erros de acentuação e a fraca consciência fonológica, uma vez que é função dos acentos tornar as vogais abertas ou fechadas, diferenciar timbres…Podemos então verificar que já se apresentam aqui diversas causas explicativas do erro.

Na tipologia de Gomes (1989) os erros de acentuação podem ser divididos em três subtipos: omissão ou adjunção, confusão de sinais e deslocação. Tendo vindo a verificar que a confusão de sinais tem sido a tipologia mais frequente, a minha aula teve como objectivo principal, que os alunos verificassem a frequência de utilização de cada um dos sinais gráficos e a forma como os mesmos alteram o som dos grafemas.
A preocupação do professor, segundo Torre (1993), não é tanto a de corrigir o erro, mas conseguir uma certa mudança nos processos de aprendizagem dos alunos. É, portanto, fundamental que conheçamos bem os nossos alunos, que saibamos das suas dificuldades, para que possamos ajudá-los a superá-las.

Raquel do Carmo
Maio de 2009

1 comentário:

margarida disse...

Boa reflexão! É preciso continuarmos a questionar estas situações e procurar respostas...

Beijinhos.