Saudade dói no peito

Publicado: julho 1, 2007 em Declarações

Saudades.

Essa é uma das coisas com as quais não sei lidar muito bem.

Não é que eu seja saudosista, ou que não saiba me libertar do passado. Não, não, eu faço questão de pensar sempre que tudo o que vivi foi fundamental para me tornar a pessoa que sou: não alguém perfeito ou realmente incrível, mas uma pessoa que se esforça para estar atenta a realidade a sua volta e as coisas que lhe são importantes.

A parte disso, eu acho que as saudades me mostram uma realidade diferente da que eu imaginei pra mim. Pessoas das quais nunca imaginei que estaria distante. Algumas das mais especiais que encontrei, com certeza. Outras que eu nunca achava que o tempo poderia afastar. Pessoas que estão perto, mas muito além do meu alcance.

A saudade (a verdadeira saudade, não aquela que podemos terminar com um simples telefonema), é como um tiro no peito, a sensação de perda, a vida sussurando em seu ouvido: resigne-se, a dor é inevitável, você deve senti-la, isso é o certo.

É como um filme com final triste. Você gostaria que fosse diferente, mas soa tão intangível. Você tenta esquecer, pensar em outras coisas, mas vez ou outra isso volta. E quase sempre nos momentos de maior vulnerabilidade.

Bom, é um perfume suave e constante que está sempre na minha vida. Por mais que outros perfumes possam me dar a sensação de que estou livre deste, tão logo fique um pouco mais distante destes, ou mesmo quando estou mais sensível aos cheiros, lá está: a vida novamente sussurra me lembrando das ausências que eu não gostaria que existissem.

A única coisa que me consola (não diminui a saudade, mas ajuda a suportá-la) é saber que grande parte das ausências foram motivadas por circunstâncias diversas, e os caminhos tomados foram bonitos e condizentes com os sonhos e desejos de cada um.

Nessa música parece que Renato Russo estava falando sobre a morte. Mas eu acho que não. Acho que ele estava falando sobre a saudade.

Love in the afternoon
Legião Urbana

É tão estranho, os bons morrem jovens
Assim parece ser quando me lembro de você
Que acabou indo embora… cedo demais…

Quando eu lhe dizia: – me apaixono todo dia e é sempre a pessoa errada
Você sorriu e disse: – eu gosto de você também
Só que você foi embora cedo demais
Eu continuo aqui, meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim
dia de chuva, dia de sol
E o que sinto eu não sei dizer

– Vai com os anjos, vai em paz
Era assim todo dia de tarde, a descoberta da amizade
Até a próxima vez, é tão estranho
Os bons morrem antes
Me lembro de você e de tanta gente
Que se foi cedo demais

E cedo demais eu aprendi a ter tudo que sempre quis
Só não aprendi a perder
E eu, que tive um começo feliz
Do resto eu não sei dizer

Lembro das tardes que passamos juntos
Não é sempre, mas eu sei
Que você está bem agora

Só que este ano o verão acabou
Cedo demais.

comentários
  1. bella disse:

    a saudade pode ser motivo de extrema felicidade ao nos apontar as coisas incríveis que fomos capazes de viver.

    acredito que entender esse ciclo natural da vida, onde as pessoas simplesmente se ausentam das nossas vidas porque outros caminhos lhe pedem mais atenção, nos traz a oportunidade de conhecer a saudade serena, a saudade não-exigente, a saudade capaz de libertar…

    🙂

  2. bella disse:

    esqueci de dizer: esse foi um dos seus textos mais bonitos!

  3. Luiza disse:

    Gabriel, obrigada pelas palavras! Lindo blog o seu =)
    Tenho saudade de minhas certezas…

  4. Japinha disse:

    Gabs! Eis que, para sua felicidade plena, resolvi, espontaneamente, comentar no seu blog. =p
    Esse seu textículo me fez lembrar as sábias palavras do Sr. Buarque: a saudade é o revés de um parto, a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu…
    Espero jamais sentir tamanha dor, tamanha ausência, tamanha saudade!
    Estranho esse sentimento diante da falta de pessoas queridas, não acha? Como podemos pensar que as perdemos se elas não são coisas para um dia as termos possuído…

  5. Colombina disse:

    A gente tem saudade de algo que não acontece ou não existe mais. Saudade é consequência da morte. Pode ser morte de uma pessoa, pode ser morte (fim mesmo) de uma época da vida, pode ser uma distância enorme entre a gente e alguém vivo que não há como diminuir, uma amizade que acaba, uma relação que morre. Não podemos determinar quais as dores que sentiremos na vida e quando elas chegarão, mas podemos controlar por quanto tempo sentimos. Sofrer é tão edificante quanto ser feliz, são provas pelas quais nosso espírito passa para evoluir… NÃO, NÃO SOU ESPÍRITA! Mas se a gente caiu no mundo, tem mais é que saber experimentar e suportar tudo que ele nos oferece.

  6. Kellyene disse:

    Gostei também: da saudade, dos livros, das vontades e referências. Retribuindo a visita lembro o Baleiro Zeca …

    “A saudade
    É prego parafuso
    Quanto mais aperta
    Quanto mais difícil arrancar

    A saudade
    É um filme sem cor
    Que meu coração
    Quer ver colorido”

    Beijos.Kelly

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